best_frund Felipe Belarmino

A coisa sobre Thomaz acompanha os sentimentos e interações de um grupo de amigos interligados pelo limbo da transição da juventude para a vida adulta, em especial Thomaz, que vivência uma confusão emocional ao mesmo tempo em que tenta manter seu próprio escape através das noitadas com seus amigos, regado a álcool, cigarros e, principalmente, a beleza caótica de cada um desses elementos. Obs: a presente narrativa pode conter elementos considerados gatilhos.


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Thomaz pega uma cerveja

Havia uma certa peculiaridade naquele chão, algo que refletia o olhar abatido e silencioso de um jovem de 23 anos prestes a encarar a si mesmo e não mais enxergar a mesma pessoa de 15 minutos atrás. Seu rosto, antes pálido, de olheiras notáveis e lábios na maior parte do tempo comprimidos pela insegurança e timidez (com exceção das noites sob o efeito do álcool), de um nariz marcante e cabelos negros ondulados que oscilavam entre o popular e a invisibilidade, agora refletia no piso carmesim sem estes traços. Agora, Thomaz encarava alguém que a princípio ele não conhecia, mas que depois de um longo silêncio e a pressão do gotejar que ecoava perfurantemente através do banheiro, ele sabia que só não lembrava. Aconteceu de novo, e dessa vez ele tinha idade o suficiente para entender e refletir acerca disso; idade para não reverberar a dor, mas causá-la, porque não havia nada até aquele momento que o machucaria mais do que ele mesmo. Thomaz quase se confundiria com os azulejos perolados das paredes se não fosse seu peito, que se enchia e esvaziava lentamente (ainda que os azulejos também parecessem respirar sob os olhos do jovem), mas principalmente pelos tons de vermelho que em um canto ou outro destronavam o perolado - em especial no piso.

Em menos de 48h, Thomaz esteve bêbado. Nesse exato momento, ele também está. Seu olhar procurava por algo no interior reluzente da geladeira, uma garrafa de água para ser mais específico, porém seu olhar pousou em uma latinha de Tiger que ele não tomava fazia meses, não importava de quem eram três dolorosas latas de cerveja, uma agora era dele.

- Acho que você precisa pedir permissão pra pegar isso aí. - Ele ouviu a voz por trás dele assim que tocou na superfície gélida da latinha.

Pedro estava bem atrás dele, com o olhar sob seu ombro, analisando o mesmo cenário que Thomaz: uma geladeira semi-vazia de um jovem solteiro cuja renda mensal era duvidosa.

Ele tirou a cerveja da prateleira e fechou a porta, virando-se para Pedro que o fitava, esperando uma reação.

- Permissão?

Pedro sorriu, pousando a mão sobre o ombro de Tom.

- Eu tô zoando.

Aquela seria a segunda vez que os dois estavam sozinhos no mesmo cômodo e, como da primeira vez, aquilo também fazia borboletas voarem dentro do estômago de Thomaz que nunca se sentia confortável o bastante sozinho com alguém que não fosse sua melhor amiga, Rita. Para completar, Pedro tinha um tom de voz que parecia reduzir os 1,76 metros de altura de Thomaz à metade perto dele, assim como sua postura e o olhar azul penetrante. A regata deixava a mostra os músculos bem desenhados, mas não era pra eles que Thomaz geralmente olhava; eram os lábios que mais pareciam ter sido desenhados por algum pintor-gênio ao estilo "o sorriso de Monalisa", com traços delicados e uma tinta rosada com óleo sobre a tela.

- Quer uma também? - Thomaz quebrou o gelo, tentando distrair sua mente do quadro.

Pedro sorriu, se posicionando só lado de Thomaz e abrindo a geladeira novamente, o que fez Thomaz se afastar para que ele pudesse concluir o ato. Tom respirou fundo e puxou o lacre da latinha de cerveja, dando um longo e silencioso passo em direção à sala.

- Ei - chamou, Pedro, fazendo Thomaz parar por um momento. - O que a Rita disse... É verdade?

Thomaz engoliu em seco.

O cafofo era um solo sagrado para Rita que, graças ao espírito de equipe de Saulo, poderia se refugiar naquelas paredes para se encher de vodca barata, cigarro, um som gentil, um pouco de sexo e outras drogas em geral. Ainda que Saulo não fosse tão próximo daquele grupo de amigos em especial, ele era o cara que buscava as drogas e que sempre arrastava todos para sua casa, apelidada romanticamente - sob um clichê nada romântico - de "cafofo". Rita havia se tornado mobília da casa nas sextas-feiras, assim como Elise, Gabriel, Otto, Lucas e, especialmente, Thomaz. Rita e Thomaz eram melhores amigos desde que se pegaram dividindo uma garrafa de coquetel de uva barato e duvidoso na praça da cidade, em um fim de festa onde apenas eles restaram de seus próprios círculos de amigos. Elise e Gabriel entrariam no esquema graças à Rita; Otto e Lucas graças à Thomaz. Saulo surgiria de um meio termo, durante um esbarrão qualquer na mesma festa onde ele e alguns amigos viriam a conversar com Elise que, por mais que tivesse plena certeza de que preferia buceta, deixou que o garoto criasse um pouco de espectativa.

Thomaz foi o primeiro a sair do banheiro, quase esbarrando em Saulo que estava parado ali fora esperando que o cômodo fosse liberado.

- O que houve? - Ele questionou, tentando olhar pela fresta da porta.

- Nada, precisei lavar o rosto e a Eli tá fazendo xixi.

- Ah, tudo bem. Eu aguardo ela sair.

- Humrum. - Tom murmurou. - Sabe dizer se tem água na geladeira?

Saulo encostou as costas na parede, hesitando na resposta, e então respondeu:

- Só se o Pê colocou, dá uma olhada lá.

Thomaz mrmurou novamente em concordância, e então se dirigiu até a cozinha. Elise saiu do banheiro quase no mesmo instante.

Otto curtia mais pop, tinha decorado praticamente todas as músicas de Lady Gaga, Beyoncé, Rihanna, mas o que ele gostava mesmo era de rappers femininas como Nicki Minaj e Doja Cat. Isso o diferenciava muito de Lucas que, por sua vez, era viciado em K-pop. Ele pediu para pôr a próxima música e, assim que Pedro o entregou o controle, Lucas ergueu-se do sofá.

- Eu acho que já vou. - Disse, olhando para Rita e Otto, que relaxavam os músculos ao tempo em que processavam o que Lucas havia dito.

- Sério?

- O que? Agora? - Otto segurava o controle como se sua vida dependesse daquilo.

- Eu disse que precisava voltar cedo - continuou Lucas, a voz embargada pelo álcool e pelo sono. - e já me extendi mais do que o necessário.

- Pooxa, Lu, mas tá tão cedo. - Rita choramingou, tateando propositalme te o rosto do amigo como se não o reconhecesse.

- Eu tenho que ir, sério.

- Eu vou com você.

Lucas encarou Otto. Poderia insistir para que ele ficasse, sabia o caminho de volta e preferia não ter que ficar a sós com o namorado no caminho para casa. Mas o caminho para casa era um tanto longo para um cara magrelo em uma cidade pequena às 2 da manhã.

- Tem certeza?

Otto acenou com a cabeça.

Otto e Lucas namoravam desde o ensino médio. Thomaz acompanhara basicamente todos os dramas do casal e, para a felicidade dele, todos os dramas do casal terminavam em álcool, e isso era a única parte boa de ter amigos de maturidade emocional duvidosa que não sabiam sentar e ter uma conversa - de verdade. Mas Thomaz não costumava falar abertamente sobre o que pensava, afinal não era o mais psicologicamente saudável de todos, principalmente quando o amigo de Saulo também estava.

- Está com sono? - Elise sussurrou para Thomaz, que não tirava a expressão de descontentamento com a qualidade do último tiro.

- Ironicamente. - Ele respondeu.

Era a terceira música seguida de poesia acústica que Saulo colocava na smartv e, estranhamente, Elise não estava criticando. Rita dançava no meio da sala de estar, segurando uma garrafinha de Ice que já havia acabado fazia horas e que, agora, estava preenchida com uma mistura de vodca, refrigerante de laranja e energético. Otto fazia par com a garota, com um cigarro entre os dedos de uma das mãos e um copo descartável com a mesma mistura na outra. Lucas já observava todo o cenário sonolento, sentado no sofá ao lado de Saulo, que estava escolhendo a quinta música seguida e, do lado dele, Pedro.

- Muda essa playlist, porra! - Ele disse, tomando o controle da Smartv das mãos de Saulo.

- Ei?!

- É... mudan... - Rita concordou, enrolando as palavras enquanto as proferia - Não dá pra... daaançar com isso não...

Thomas ergueu-se da cadeira onde estava e caminhou até o corredor, indo em direção ao banheiro. Elise o seguiu.

O som mudou para um funk anos 2000, o que pareceu surtir um grande efeito dos movimentos de Rita. Otto cambaleou, derramando um pouco da sua bebida no piso, se desculpando logo depois.

- Não, relaxa, man. - disse Saulo. - Vou pegar um pano, calma.

Lucas fechou os olhos por alguns segundos e se imaginou em casa, em sua cama, longe da música e das pessoas com quem não tinha afinidade, mas também longe de Otto. Principalmente longe de Otto.

- O que ela disse? - Questionou Thomaz, após um longe gole em sua cerveja.

- Ah, não mete essa. Você ouviu, cê tava lá.

Thomaz hesitou. Queria realmente não saber do que ele estava falando, mas ele nunca foi bom mentiroso, ainda mais com o olhar de Pedro sobre ele, dissecando-o.

- Ela exagerou.

Pedro abriu um sorrisinho de canto, destacando o traço mais importante do combo que era seu sorriso de Monalisa: a covinha. Era quase imperceptível na meia-luz da cozinha, mas estava lá e Thomaz conseguia enxerga-la perfeitamente bem.

- A cerveja tá legal?

Thomaz assentiu, e então Pedro abriu a própria latinha sem tirar o olhar dos de Tom.

27 Novembre 2022 06:06 1 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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