Aí, chegou um agente do banco aqui, na minha casa. Veio trazer-me uma proposta de investimento da minha agência no Metaverso. De brinde, o tal óculos de realidade virtual.
- Não, obrigada.
Disfarçando certa indignação, falou-me sobre vantagens, benefícios... Números, números.
- Não, querido, obrigada.
Para me convencer,
forçando o entusiasmo, discorreu sobre as maravilhas da nova vida em um mundo prazeroso que me oferecerá oportunidades formidáveis: conforto, lazer, shows, restaurantes divinos, aventuras impressionantes, conquistas inauditas.
- Meu bem (aprendi a ser delicada com a minha mãe), não me interessa.
Insistiu:
- A senhora não está entendendo. Poderá criar um avatar novinho em folha, participará de festas incríveis, fará amigos perfeitos.
- Lindinho, não quero.
- A senhora vai abrir mão dessa extraordinária experiência? Pense no carro excelente, na casa deslumbrante, nos eletrodomésticos fantásticos... Tudo informatizado, tudo a funcionar conforme o seu desejo e simples comandos das mãos.
- Realmente, meu caro, tentador.
- Então! Invista agora e usufrua depois!
- Tenho algumas perguntas. Pode ser?
- Responderei a todas com o maior prazer.
- Neste novo mundo, haverá uma enorme biblioteca com as grandes obras da literatura universal?
- Acho que não.
- Salões de arte com exposições de quadros dos maiores pintores de todos os tempos? Dos gravuristas, desenhistas? Dos escultores?
- Nã... Não.
- Salas de concerto para Música Erudita? Os vários compositores magistrais, orquestras fabulosas. Ópera!
- Creio que não.
- Teatros e a representação das peças que fizeram história na dramaturgia mundial?
- Penso que não.
- Cinemas com todos os filmes já produzidos?
- Não. Não.
- Auditórios onde os poetas poderão apresentar-se?
- Não!
- Bares acolhedores com Jazz, Blues, bons cantores, cantoras sublimes?
- Nunca! A senhora... Veja bem, estamos falando de uma plataforma futurista.
- O meu avatar, então, não poderá, por exemplo, fazer um Curso de Filosofia?
- Dona Bibi... Ô Dona Bibi! Serão shows monumentais com novos artistas. E raves, luaus... Muita farra, muita gandaia. Alegria, alegria!
- Só brincadeira, só esbórnia?
- Taí! Não. Terá trabalho também. A senhora, quer dizer, o seu avatar poderá empreender, se dar bem, enriquecer, tendo, assim, acesso ao que haverá de melhor, de mais chique, mais sofisticado no Metaverso.
- E se o meu avatar se der mal?
- Haverá empregos. Vida que segue.
- Não quero, não. Meu rapaz, não quero mesmo!
- Conselho de amigo: queira.
- Na-na-ni-na-não! Ficarei por aqui na minha. Quietinha, de boa.
- Eis o problema. Este seu mundo será desativado. Chave em off, compreende?
- Oi? E eu?!
- Lamento lhe informar, mas a senhora também será desligada.
- Darão um off em mim?
- Com certeza.
- Meu Deus!!!
- Será, igualmente, desligado.
Merci pour la lecture!
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