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Arthur Morais


Os humanos foram extintos. Os neoprimatas, seus descendentes - similares aos antecessores - vivem em Taptoplay, uma ilha solitária no 'Planeta Água'. Eles são governados pelo Estado, um regime "democrático" que prega o progresso e a igualdade, mas que persegue rigidamente minorias étnicas, oprime classes e afoga oposições. Ninguém sabe nada sobre a origem dos neoprimatas e de Taptoplay, nem sobre o que fez os humanos desaparecerem, e o ensino nas escolas sobre a história do Estado e sua formação é controlado pelo governo. Entretanto, uma onda de terremotos assola o interior da ilha, e a busca por soluções acaba desenterrando verdades que ameaçam abalar o equilíbrio político e pôr um fim na tirania velada da elite social.


Aventure Tout public.

#fantasia #aventura #luta #racismo #machismo #desigualdade
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Briga de bar

Box está sentado numa banqueta, os cotovelos sobre o balcão, a mão segurando a alça de uma caneca de xarope de milho. É o seu café da manhã habitual. E, como sempre, ele está de máscara – uma caixa de papelão que lhe cobre a cabeça inteira, com dois buracos para os olos. Seu corpo musculoso e monstruoso de 2m de altura é amedrontador até quando não está de pé.

O bar tem as janelas fechadas, apesar de ser manhã, e está um tanto lotado e barulhento. Um grupo de jovens sentados a uma mesa a poucos metros do balcão encaram Box e gargalham de alguma coisa relativa a ele. Atrás do balcão, o servente, de pouco mais que 15 anos, enxuga copos, abre e fecha gavetas no armário. Ele está com as mãos trêmulas pois sabe quem está sentado a sua frente, com a caixa de papelão.

De repente, as portas são abertas de supetão. A luz do sol penetra o bar escuro e por um instante todos ficam cegos. Uma comitiva militar está na entrada. Os soldados entram, em marcha. Todos usam a armadura branca com o brasão do Estado no peitoral – um triângulo vermelho com um “E” branco e grande. Na vanguarda está o capitão Bernardes, com seu cabelo grisalho e seu tapa-olho no lugar do olho esquerdo. A essa altura, o bar estava em profundo silêncio e totalmente estático. Apenas Box continuava movimentando o braço para cima e para baixo, tomando o seu xarope com um gole de cada vez. Bernardes para bem atrás dele, e põe as mãos na cintura.

— Você de novo, hein, Box? — diz ele, sorrindo. — Nossos reencontros estão ficando sem graça. Você tem que aprender a perder de vez em quando.

Box deixa a caneca no balcão. Permanece sentado, e dá uma pequena gargalhada ao reconhecer a voz.

— Capitão... — diz ele, se levantando e virando-se para Bernardes — Está cansado de me deixar vencer, é isso?

— Engraçadinho. — o capitão ri baixinho, e se volta para os demais civis — Senhores do bar, é melhor se retirarem. Este é Box, ‘O Piromaníaco’, um criminoso procurado altamente perigoso. Estamos aqui para detê-lo.

Num segundo, todos saltam de suas cadeiras e o bar ficou vazio, com apenas os guardas do Estado, o capitão e Box ali dentro.

Box fecha suas mãos em punho. Em poucos segundos, as luvas de couro começam a ficar incandescentes. Uma fumaça começa a sair dos orifícios da caixa na cabeça, e sua pele, com todas as suas veias à mostra, ficam cada vez mais vermelhas de calor. É fogo que corre pelo seu corpo. Uma luz vermelha se ascende nos buracos da máscara, como dois olhos de um animal selvagem.

Do outro lado do bar, perto da entrada, os soldados formam um paredão, armados e mirando seus revólveres no alvo. Atrás deles está Bernardes, ainda sorrindo, que sussurra:

— A milhoglobina presente nele é surreal!

Ciente de que são chamas que escorrem dos seus punhos, o homem da cabeça de papelão começa a avançar na direção de seus inimigos. O paredão de infantaria inicia um assalto de tiros. Os projéteis chegam perto do corpo de Box, mas são derretidos, tamanho é o calor que emana dele. Um segundo assalto de tiros. Um terceiro e um quarto. Nenhum efeito diferente.

— Ok, deixem comigo, rapazes. — Bernardes tira uma adaga do bolso que, balançando, se transforma numa grande lança resistente a calor. — Fiquem de guarda do lado de fora enquanto eu cuido dele. É uma ordem!

— Sim, senhor! — responderam os guardas, levantando os revólveres e abrindo caminho para o capitão, que agora corria de encontro com o adversário.

— É hora da diversão! — grita ele, dando um salto na direção de Box.

A lança se choca com os braços de Box, que ele cruza para se defender, e os dois saltam ligeiramente para trás, afastando-se um do outro.

— Você realmente não se cansa de perder. — diz Box, correndo para cima de Bernardes e investindo uma joelhada.

Bernardes se defende com o cabo da lança, dá um salto e gira no ar, mirando a lâmina em Box, que desvia e lhe soca com força contra a parede. O corpo de Bernardes é jogado como um pedaço de madeira contra a parede oposta à entrada. Os escombros do armário o afogam por alguns segundos.

— Não se sinta lisonjeado, Box, — diz o capitão, debaixo dos escombros. — mas você é o único criminoso que eu nunca gostaria de ter que prender um dia.

Box ri com vontade.

— Acha que eu demoraria quantos dias até fugir de qualquer masmorra?

— Tem razão, isso já aconteceu dezenas de vezes. É por isso que eu nem me preocupo em prendê-lo de novo.

Um estalido vem dos escombros. O capitão salta debaixo deles, de súbito, com um semblante ainda mais sombrio do que antes, como se houvesse um toque agudo de insanidade em seu olho direito.

— Isso não significa que eu deixarei você vencer dessa vez!

Ele voa com rapidez pelo ar, sua lança apontada sempre para a frente. Box tenta pará-lo com um soco, mas recebe uma estocada feia antes disso. Antes que ele se vire para contra-atacar, Bernardes dá-lhe outra estocada, nas pernas. Havia algo na lâmina da lança que não era ferro. Box sente sua temperatura baixar. Tenta contê-la. Aplica um gancho no ar pensando estar batendo no oponente, enquanto Bernardes salta como um macaco sobre seu cangote e, em seguida, salta de novo, na direção do teto, erguendo a lança no ar, pronto para usá-la a seu favor e vencer a luta. Box olha para cima logo antes de receber a nova estocada. Desvia-se do capitão e tenta aplicar um cruzado nele. Bernardes salta antes do primeiro golpe, mas Box o pega no ar pela perna e, com uma velocidade semelhante à dele, o joga contra o chão. Prende o seu corpo pondo o solado de sua bota sobre o peito dele e o presenteia com uma sequência de cruzados, até ter certeza de que ele está desacordado.

Box se levanta. O corpo de seu amigo está estirado no chão, com sangue pela face toda. Uma fumaça densa cobre todo o bar, e as paredes estão começando a queimar graças às chamas do corpo dele, que já está esfriando de novo. Box olha para Bernardes mais uma vez.

— Tem ketchup no seu capacete, colega.

Box olha ao redor assim que escuto essa voz. É de alguém jovem. Parece masculina. Tenta ver através da fumaça, sem muito êxito, até que consegue visualizar uma silhueta a poucos passos dele. Parando para pensar, a voz foi audível demais para que quem quer que a tenha dito estivesse mais longe que 2 metros de Box.

— Quem é você?

A silhueta não responde nada, apenas se aproxima um pouco mais. É alguém que não tem mais que 1,7m de altura.

— Me diz quem você ou acaba como ele. — Box aponta para Bernardes.

— Eu procurei por você esse tempo todo. — responde a silhueta, com uma voz claramente masculina. — Eu venho de um clã que precisa ser reerguido.

— Reerguido? — Box ri. — Eu não luto para reerguer clãs. Todos eles foram perseguidos faz um bom tempo e é provável que não exista mais nenhum.

— O meu existia até pouco tempo.

Box tenta processar a informação. Passos de soldados são ouvidos. A silhueta tira alguma coisa do bolso e joga em direção ao teto, rasgando o telhado. Um clarão ilumina o bar novamente. Ele salta pela abertura no teto, e Box o segue, enquanto os guardas vistoriam o estabelecimento. A voz masculina que foge com Box o guia pelo telhado de algumas casas até um beco. Ele usa um manto marrom de tecido pesado, e tem o rosto coberto pelo capuz.

— Até que enfim um lugar seguro, pelo menos por hora.

— Por que está fugindo junto comigo? — pergunta Box. — Além do mais, ainda não me disse quem é você.

O encapuzado se aproxima de Box, que está encostado na parede, e tira o capuz, revelando o rosto pardo de um jovem. Um moicano rosa traceja sua cabeça da ponta da testa até o início da costa. E seu semblante é determinado como qualquer um que fizesse parte do clã daquele rapaz ousado. Clã que Box reconheceria de longe. Um clã de lembranças.

— Eu sou Kalel, — disse o jovem — aquele que irá fazer renascer o clã dos Navalhas!


17 Octobre 2022 17:57 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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