johnathan-silva-oliveira Johnathan Silva Oliveira

Um singelo conto de fada cheio de simbologias. Em um reino próspero surgiu um amor inabalável, e desse amor nasceram três crianças gêmeas. O tio, por inveja irracional, persegue a família. Ele parece conseguir seu intento. No entanto, o poder que os mantinha unidos age de um modo inesperado e sutil, mas invencível. Pois, milagrosamente, a essência deles é transmitida para árvores e livros, à procura de corações sequiosos de conhecimento. Essas árvores raras foram imbuídas da capacidade de produzir só um galho que pudesse escrever a localização de cada membro daquela família. Sete pessoas são selecionadas e atraídas a essas árvores. Com o lápis mágico, eles escrevem um poderoso livro feito das folhas. Depois escondem-no em alguma biblioteca, onde o próximo escolhido o encontrará. Quando os sete livros estiverem escritos e reunidos, a família será trazida novamente, pondo fim ao império maléfico de Oief.


Fantaisie Épique Tout public.

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Os trigêmeos

O mais antigo de todos os reis, Ayon, teve inicialmente um filho, chamado Aysú. O garoto tinha pele intensamente pigmentada, cabelos vermelhos e olhos dourados. Decorrido três anos, o benévolo rei teve outro filho. A esse chamou de Oief. Ele tornou-se forte e belo, assim como seu irmão, porém, com um brilho pálido e frio.




À idade adulta, Aysú tomou por esposa uma encantadora e disputada princesa, cuja afeição ninguém ainda havia granjeado. O nome dela era Estesia, graciosa como o alvorecer da vida. Era filha de Tzedek e Aletheia, rei e rainha do continente sul. No entanto, o ciumento Oief ressentiu-se do sucesso do irmão, pois ele mesmo havia desejado Estesia, sendo rejeitado por ela.




— Por que não te agradas de mim? Não tenho beleza na medida da tua? — inquire Oief.




— Não é isso, Oief. Tu és muito formoso e tens muitas aptidões. Mas não fazes o meu tipo.




— Teu tipo? E que tipo seria esse?




— Não quero que fiques magoado.




— Não ficarei — mente Oief.




— Não gosto de teu apreço excessivo por grandeza e quantidade. Me assusta um pouco.




— Ora! Que tolice! Todos se preocupam com essas coisas. Quem não deseja muitas roupas e comida. Até as árvores se preocupam em crescer, e disputam entre elas quem chega mais alto.




— Está vendo! É disso que estou falando. Teu irmão não é assim.




— Ah! Então é isso. Já entendi tudo. Sempre o perfeitinho do meu irmão. E para onde ele olha, você pode me dizer?




— Para baixo; para as coisas pequenas. É dessas coisas que a vida começa.




— Pois irei atrás de outra pretendente, já que meu irmão venceu-me mais uma vez.




— Espere!




Estesia tentou consolá-lo, mas não teve jeito: Oief não apenas magoou-se dela, como passou a ver no próprio irmão um adversário.




A união de Aysú e Estesia foi comemorada em todo o reino com alegria, adivindo dela três filhos: Cauabori, Tarkus e uma menina, chamada Ilméria. Cauabori era branquinho e loiro, de acalentadores olhos azuis. Tarkus, por outro lado, tinha pele rosada, cabelos e olhos de tons quentes e aconchegantes, mas como era sisudo, apelidaram-no de Hazim, nome pelo qual ele ficou mais conhecido. Contudo, era Ilméria a que mais se destacava dos três, pois tinha a cor castanha da terra e um verde exótico no olhar.




Sua mãe, Estesia, era uma mulher sábia e previdente, tendo desde o início pressentido algo de ruim a respeito de Oief. Em virtude desse receio, ela se precaveu, tecendo roupas especiais para os três filhos, feitas com os fios de cabelo deles, de Aysú e do seu próprio. Enquanto tecia, ela cantava sobre o que sentia especificamente por cada um dos três filhos. Desse modo, quando os meninos atingiram a idade de oito anos, ela os presenteou com as túnicas que havia cosido com tanta dedicação.




— Vocês devem usá-las sempre.




— Por que, mamãe? — pergunta Ilméria.




— Por segurança. Essas vestes carregam um pedacinho de cada um de nós. Eu também pûs nelas, os fios que nos mantém unidos e inseparáveis. Assim, eu e seu pai estaremos sempre com vocês.




— A senhora e o papai irão nos deixar? — indaga Hazim.




— Nunca, meu amor. Isso é apenas uma prevenção. Não quero que temam. Estejam sempre unidos, que nada os vencerá. Vou ensiná-los uma canção de poder, para os momentos em que sentirem-se fracos.




— Eu sou invencível! — exclama Hazim.




— Sim. Você é mesmo — diz a mãe.




— Eu também sou danada. Sempre dou meu jeitinho de passar a perna nos obstáculos — diz Ilméria.




— É verdade, minha flor.




— E eu, mamãe, o que sou? — pergunta Cauabori, o mais tímido dos três.




— Você tem uma força secreta, que ainda vai conhecer.




Cauabori sorri, conformando-se com o elogio estimulante e repousa a cabeça dourada no colo da mãe, ao passo que Estesia começa a entoar uma melodia muito sutil, mas que penetrava fundo como a bruma orvalhando as raízes do mundo. Após a conclusão, a mulher diz aos filhos:




— Com o tempo cada um de vocês desenvolverá a própria canção. O seu cântico, Hazim, será o de maior alcance; todos irão erguer as vozes para enaltecê-lo. Mas assim como você é grande e pesado, se chegar a cair, vai ser mais difícil levantar-se novamente.




A mãe toca o queixo de Ilméria e profere:




— Você também terá um canto poderoso, porém, mais difícil de aprender, e, por esse motivo, muitos se esquecerão da sua música. Consequentemente, com o longo passar do tempo, quase ninguém conseguirá mais escutá-la; somente aqueles em cujo íntimo meu nome ainda ecoar irão ouví-la.




— E eu, mamãe? Terei uma melodia forte? — pergunta Cauabori.




— Sim, meu sonho. Teu canto é como o meu: tímido e diluído. Entretanto, por ser o mais imperceptível e subestimado de todos, será a centelha que acenderá a chama da voz de teus irmãos. Nada poderá subjugá-lo, pois você assumirá diversas formas e matizes.




Oief, para festejar a idade adulta dos jovens sobrinhos, fez uma festa particular, quando os trigêmeos fizeram dezoito anos. Aysú foi a contragosto e tentou persuadir a esposa a que não comparecessem.




— Não é decente fazermos essa desfeita com teu irmão. Não tema! Nada, jamais, poderá quebrar nosso vínculo. Estamos ligados como família de modo permanente — assegura Estesia.




Infelizmente, ocorreu como eles já tinham previsto. Tudo não passava de uma emboscada. Aysú e Estesia foram aprisionados e levados para lugares diferentes, cada um em um planeta distante do outro. Todavia, quando Oief procurou os três sobrinhos, não os encontrou em lugar nenhum, pois haviam acatado a advertência da mãe, não separando-se um instante das túnicas de Estesia.




Por milhares de anos, Oief tentava achá-los, sem nunca ver sequer um rastro. Os irmãos empreenderam uma viagem ao reino de seu avô, Ayon. Chegando lá, eles atualizaram o bom rei de tudo o que havia acontecido.




— Eu já sabia de tudo. Índigo, minha coruja, mantinha-me informado das perversidades de teu tio. Eu fiquei profundamente pesaroso com o que Oief se tornou — lamenta o bondoso ancião.




— Todo o nosso reino foi assolado. Imperam a desordem, o ódio e a tristeza; as florestas e tudo o que é verde foi extinto. O ar tornou-se pestilento e cinza; e em cada lar e coração residem o vazio e coisas más, disformes e pavorosas.




O idoso monarca baixa a cabeça, cobrindo o rosto vincado pela amargura de ver a que estado tinha chegado o filho. Mas tão logo ele muda o semblante, ao bater-lhe uma ideia.




— Índigo trouxe das longínquas ilhas do oeste alguns filhotes da mesma raça que a sua. É um cervo com galhada florida, para minha encantadora neta, Ilméria; um imponente urso dourado, para meu fervoroso Tarkus; e uma majestosa águia azul, para meu doce Cauabori. Agora, preciso mandá-los a outro planeta, caso contrário, Oief irá destruir todo o mundo à caça de vocês. Nessa nova realidade, as pessoas são pequenas, de vulto, mente e coração. Em virtude disso, vocês serão gigantes e assustadores para a maioria. Portanto, mantenham-se escondidos debaixo do véu. Eu vos abençoo!




Aproveitando a oportunidade, Nefesh, a rainha, também os presenteia antes da despedida.




— Para você, minha querida, eu dou as sementes da Dhea, a árvore da vida, e um de seus galhos. Usea-as em ocasiões especiais; para Hazim, eu deixo minha luminária, cuja luz jamais se apaga; por fim, mas não menos importante, eu falo a ti, meigo Cauabori: herdarás a harpa que pertenceu a teu pai. Eu a usei para niná-lo; Aysú, por sua vez, usou para cortejar Estesia, vossa mãe. De modo que os acordes de nossas vozes permanecem no instrumento. No fim, você saberá usá-lo. Agora partam depressa! E levem nossas bençãos. Índigo os vigiará.




Dizendo isso, o rei e a rainha os enviou a um mundo totalmente novo.




Todavia, Oief tinha vassalos que espiavam todos os cantos de seu mundo e acabou descobrindo que os sobrinhos haviam fugido para outro globo. Em vista disso, começou a investigar seu paradeiro.




Enquanto isso, o trio inseparável caminhava por sobre as novas terras, trajados com as mantas bordadas pelos dedos de Estesia.




Dos três, Cauabori era quem mais sentia falta da mãe. Certa vez, eles estavam vagando por um vilarejo e fizeram uma pausa para se alimentarem. Cada qual foi para uma direção, à procura de comida.




Cauabori aproveita o momento a sós para chorar, enquanto dedilhava suavemente as cordas da lira. Embora permanecesse oculto pelo capuz, um jovem o viu, tendo sido atraído pelo murmúrio de sua música. Cauabori foi pego de surpresa quando o rapaz falou com ele.




— Que belíssima melodia! Não pare, por favor!




— Você consegue me ver?




— Claro! E ouvir também. Poderia tocar mais um pouco? Eu estava concebendo os sonhos mais lindos que já tive.




Cauabori põe-se a cantar, à medida que deixava escorrer um fio prateado dos olhos azuis.




— Por que choras? — pergunta o jovem, recolhendo uma lágrima de Cauabori.




— Minha mãe foi tirada de mim. Ela está presa em outros domínios e não sei como resgatá-la.




No momento que falava, Ilméria aparece entre eles e estranha que o irmão estivesse conversando com aquele humano. Ela, porém, se assusta quando o rapaz lhe dirige a palavra.




— Que moça deslumbrante! — exclama ele, impressionado.




Ilméria também sentiu algo especial por aquele jovem, e ambos enamoraram-se. A gota de lágrima que ele recolhera, deu-lhe a capacidade de reproduzir a beleza de modo visível e palpável. Assim, nasceu o primeiro artista. Seu nome era Dárek.




O pai do rapaz não aprovou o novo ramo de seu filho, por isso saiu espalhando resmungos e maldizeres pela aldeia. Infelizmente, por causa disso, Oief ficou sabendo onde os trigêmeos estavam escondidos.




O primeiro que Oief encarcerou foi Hazim, pois ele dizia:




— Vou prender o mais forte, antes de mais nada. Desse modo, os outros dois ficarão vulneráveis, pois eu não consigo percebê-los com clareza, a menos que estejam fracos.




Os dois irmãos restantes entraram em desespero. Cauabori tentou resgatar Hazim, montado em sua águia azul, de nome Cauã.




Quando Cauã estava prestes a romper as cadeias que prendiam Hazim, Oief aparece por trás, decepando-lhe as duas asas com uma espada de fogo. Antes, porém, de dar-se por vencido, Cauã arranca-lhe em troca as duas mãos com uma bicada certeira. Ilméria aparece montada no grande cervo e leva Cauabori e Cauã.




— Voltaremos para te buscar, irmão amado — clama Ilméria.




Oief fez naquele mundo pior do que havia feito no seu planeta de origem. Milhares de anos decorreram, até Ilméria lembrar dos presentes que havia ganhado da avó. Imediatamente ela saiu plantando as sementes, montada no cervo, à medida que arrastava seu manto florescedor e entoava uma canção junto com seu esposo e o irmão, Cauabori. Hazim continuava preso e cada vez mais fraco. Isso deixou Ilméria muito abatida. Por fim, ela também adoeceu, ficando prostrada em uma floresta impenetrável que haviam plantado juntos. Da união com Dárek, ela teve vários filhos, mas à medida que ela enfraquecia, eles nasciam debilitados também, sendo incapazes de ouvir sua música ou contemplar seu semblante.




Supondo que finalmente atingira seu intento, Oief comemora:




— Enfim, venci meu irmão e sua família! O outro sobrinho é um desprezível insignificante, um fracote como a mãe. Não perderei meu tempo com pouca coisa.




Cauabori foi então para os confins do mundo. Chegando na ribanceira de falésias altíssimas, ele se lança. Todavia, antes de atingir os penedos e as ondas que rebentavam com violência, ele começou a flutuar, como se pesasse apenas uma pluma.




Com ânimo revigorado, ele sai apressado atrás de Hazim, levando consigo sua harpa. Ao chegar, ele desfere nas cordas o canto mais penoso que o mundo já pôde conter. Sua música falava da beleza de sua mãe e do amor de seu pai. As correntes na mesma hora se soltaram, além de produzir uma dor indescritível em Oief, deixando-o paralisado e lançando-o em um abismo de inconsciência. A pulsação da melodia foi tão intensa que acordou o planeta inteiro, desatando todas as fechaduras e abrindo olhos e destapando corações. Ilméria despertou de seu sono mortal, avolumando-se como gigantesca montanha verde acima das nuvens mais altas. Ela também começou a cantar. Entretanto, sua música era aterradora e carregada de angústia e revolta por tudo o que havia sofrido. Isso fez todos os homens se apossarem de um terror alucinante. Sua voz retumbou em todos os calabouços profundos, alvoroçando forças até então desconhecidas. Essas torrentes varreram furiosamente toda a superfície da terra. Sua ira só foi aplacada e sua voz só tornou-se meiga novamente quando Hazim abraçou-lhe e Cauabori pôs-se de joelhos, banhando seus pés de lágrimas.




Os únicos sobreviventes foram os filhos que ela havia tido com aquele jovem artista, protegidos por plantas e animais que reagiram à voz de Ilméria. Após a desolação, Cauabori entoou novamente o seu canto triste, e o mundo voltou a sorrir e florescer, pois Ilméria arrastava o seu manto e lançava novas sementes, enquanto Hazim fazia lampejar sobre elas uma luz pura e renovada. Ilméria prendeu Oief com raìzes inexpugnáveis e o selou em uma geleira escura no fim do mundo.




Depois que tudo voltou a raiar com uma nova beleza, tanto sobre a terra, como dentro dos corações, Estesia e Aysú retornaram para o convívio deles.




Dizem que depois disso, os trigêmeos passaram a ser chamados de Sabedoria, Sonho e Natureza, aguardando o tempo em que Oief irá despertar com ira redobrada. Estesia profetizou que nesse tempo não só ela seria aprisionada, mas os três filhos também.



11 Octobre 2022 17:56 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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