johnathan-silva-oliveira Johnathan Silva Oliveira

Grupos de crianças e adolescentes, a maioria orfãos, formam clubes secretos na calada da noite, em diversos lugares do planeta Terra, em busca de respostas a intrigantes indícios de uma civilização anterior a todas as outras que já houveram, e que aponta para origens extraterrestres. Os contos são de caráter inconfundivelmente cottage com uma pegada hygge: passeios na floresta; exploração do reino vegetal e animal; um mistério a ser desvendado debaixo de cada pedra ou folha seca; e muito companheirismo. Inocentes aventuras juvenis, passadas nesse mundo e em outros mundos imaginários, inspiradas em uma infância repleta de experiências ricas, que adormece e desperta o tempo todo, brotando como um manancial poético que não para de fluir, pulando e saltando feito crianças no meu recreio existencial. São filetes de uns olhos que não cansam de verter a água de um coração cheio de reverência e amor pelas belezas naturais. Essas 'aventuras' não passam de escapes ao ambiente das minhas paixões mais latejantes: a natureza com suas estruturas vegetais criativas folhas, musgos, flores e corações lenhosos com cheiro de resina. Tudo transpirando prazer pela terra e pelo o que dela emana. Para quem não está acostumado a esses termos botânicos, essas pequenas e despretensiosas aventuras serão ótimas refeições ao espírito faminto por verde. O pano de fundo desses contos é A Noz Dourada.


#12 Dan Aventure #8 Dan Fantaisie historique Tout public.

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As origens

Era primavera no hemisfério sul. Nessa época, no Piauí, a população costuma embrenhar-se no meio do mato, nas plantações de cajueiros, à coleta da preciosa castanha de caju.


Daniel e seu grupo de amigos tinham feito exatamente isso a tarde inteira. Em seguida eles fazem uma fogueira e assam os primeiros frutos do trabalho. A noite já vinha baixando as densas pestanas.


_ Existe castanha mais gostosa que essa no mundo? _ formula um dos colegas, quebrando a casca carbonizada e jogando a deliciosa castanha na boca.


_ E se houver uma ainda mais gostosa, em outro mundo além desse? _ instiga o parceiro, igualmente distraído com a degustação.


_ E se o caju não tiver se originado nesse mundo? _ aborda, por fim, Daniel.


_ Lá vem ele, com essas histórias de ET de Varginha e Chupa-cabras _ zomba o quarto integrante, com dedos e boca sujos de carvão.


_ Mas e se eles não forem assim? Se forem como nós, porém mais belos, sábios e evoluídos em todos os aspectos? _ argumenta Daniel.


_ Isso explicaria porque a castanha de caju é tão sublime. Parece mesmo coisa de outro mundo _ conclui o companheiro, enquanto mastigava.


Daniel deu uma escapulida mais para longe, afastando-se do grupo uns duzentos metros. Ele passa por arbustos de sabiazeiros e depara-se com um baixio pedregoso. As pedras em volta eram cinzentas e cobertas de líquen e samambaias.



— O que será aquilo?



Daniel vê uma pinha no chão. O que lhe atraiu não foi bem o fato de ter um fruto de floresta temperada em pleno Cerrado brasileiro, mas o estranho brilho azul que ela emanava na sombra.



Ele pega a pinha e a ergue contra o palor das estrelas. Agora, ela era apenas uma pinha qualquer, como todas as outras.



— Eu podia jurar que vi você brilhando; um brilho hipnoticamente azul. Acho bom guardá-la em segredo.



Uma coruja pia entre os galhos tortuosos dos cajueiros. Daniel bate os olhos em uma estrela intensamente vermelha e exclama:


_ Aldebaran!



Então, ele ouve a voz dos amigos chamando:



— Depressa, Dan! Vem logo! Nós já estamos indo.



O primeiro Clube da Noz começou há inacreditáveis sessenta e cinco milhões de anos. Sim! A palavra 'milhões' não foi escrita equivocadamente. Pois toda essa história de clubes secretos no meio de florestas penumbrosas, bosques cravejados de cogumelos ou vales e desertos com passagens obscuras que dão acessos a lugares ainda mais misteriosos, sim, essas atividades foram implantadas nesse planeta.


Dheanel foi o príncipe, filho de Ilméria, quem deu início a essa divertida maratona. Ele fundou o Clube do Brilhante. Na verdade foi o primeiro e único Clube a usar uma pedra como símbolo. Todos os demais que sucederam-se a este usavam elementos botânicos, que chamaremos de adereços. Podia ser uma Pinha, como fez a Turminha da Pinha; uma concha, como no caso do Clube da Concha; ou simplesmente uma castanha, uma amêndoa, ou qualquer dos muitos pixídios que existem na flora.


Faltou dizer que essas Trupes nasceram no planeta Aleph. Mas também houveram o planeta Alaranil, Vatany, Maana, Aysú e Jurássico que contribuíram para esse exercício saudável e estimulante no conhecimento da vida vegetal, e que por vezes não deixa de incluir animais. Mas nesse caso, não é qualquer animal...


Bem... Deixemos de falar e voltemos meros sessenta e cinco MILHÕES de anos, ao planeta Aleph, a uma cidadela denominada Ioni.


Em uma ravina, no fundo de um bosque denso de abetos, Akebia e Genipa aguardavam a terceira integrante da equipe.


— Que tipo de Gutu você acha que me escolherá? — Akebia pergunta à irmã, enquanto debulhava amendoins.


— Sei lá. Talvez um com olho doces e azuis como os seus.


— Ah, Genipa! isso é muito vago. Todos os Gutus são azuis: de pelagem azul, de asas azuladas e olhos ainda mais.


Vendo que irmã parecia estar imersa em outro assunto, Akebia pergunta:


— Por falar em olhos, por que essa expressão vazia e olhar distante? É o efeito do amendoim? Alguns estavam falando que em Vatany ele é muito consumido, por isso eles têm muitos filhos.


Genipa volta ao presente e faz cara de quem levou um beliscão.


— Que bonagem, Akebia. Não sei o que levou você a dizer um disparate desses — ela volta a divagar: — Só estou pensando com quem irei irmanar-me.


— Com quem? Estamos falando de Gutus ou de pessoas?


Genipa impacienta-se com o próprio deslize na troca de pronomes.


— Sim... com QUEM. Os Gutus são quase pessoas, não é? Falam, sentem e raciocinam como pessoas. Então é 'QUEM'. Pare de me apoquentar.


— Nossa! Tudo bem. Não precisa falar igual à nossa avó, usando essas palavras esquisitas e velhas.


— Lá vem você com essa história de 'velhas' novamente. Não prestou atenção ao que os Androceus disseram sobre as folhas rejuvenescedoras da Dhea? Não vai mais existir isso de velho ou antigo para nós.


Sim. É exatamente como a imaginação instantânea do leitor está concebendo: a Dhea é uma árvore, cujas folhas tem propriedades rejuvenescedoras. Por isso que essas histórias renderam milhões de anos. Se eles continuam vivos? Obviamente que sim.


Porém, agora, voltemos ao instante em que Akebia desvenda o verdadeiro motivo da distração da irmã e introduz o contexto que nos trará de volta à época atual.


— Mas com essa sua cara de boba derretida, duvido que esteja pensando nos efeitos rejuvenescedores da Dhea, muito menos nos Gutus. Mas creio que o tema das suas divagações comece com o prefixo 'Dhea' e termine com o sufixo 'nel'.


Genipa retorna novamente à realidade, mas dessa vez com cara de quem levou um tapa.


— AKEBIA! — exclama bem alto a irmã, flagrantemente vulnerável. — Você é chata! Intrometida! — ela acerta a outra com almofadas e se levanta, indo até a janela da casinha na árvore.


— Posso ser chata e intrometida, mas também amo você, e por isso digo que escolheu um bom partido.


Genipa tenta segurar o riso e encarar Akebia com seriedade. Antes de ceder, ela repete:


— Chata! — depois se vira e entrega-se ao sorriso bobo dos apaixonados. — Acha mesmo ele legal?


— Claro! Não por ele ser o filho da rainha de Kayolius, mas por exalar um perfume distinto de príncipe da árvores.


— Deixe de falar criancices, Akebia! Mas que ele é lindinho, isso é — fala Genipa suspirando.


— Veja! Samira está vindo — ela para e percebe que havia mais alguém com ela. — Ela trouxe alguém. Consegue ver quem é?


— Não vejo nada, só folhas. — Genipa fica paralisada quando a identidade da figura revelou-se emergindo dos arbustos.


— É Dheanel — balbucia Genipa, completamente travada.


— Calma, maninha! Você está gelada — comenta Akebia, ao tocar na pele da irmã.


— É? O que eu faço, Kebinha? Eu estou despenteada?


— Não. Espera...


— Eu estou fedendo?


— Claro que não. Com o banho de rosas que mamãe nos faz tomar todas as manhãs, ele vai sentir seu cheiro antes de subir a escada.


— Não fala isso, que eu fico mais nervosa.


Samira grita lá debaixo:


— Trouxe uma visita do Clube do Brilhante. Estamos subindo.


Genipa começa a suar e dar voltas no vão da casinha.


— E se eu me esconder? Você diz que eu passei mal de tanto comer amendoim... Não, isso vai ficar um pouco cômico.


— Um pouco? Relaxa e respira.


— Verdade! Talvez não seja nada demais.


— Ou talvez eu tenha vindo pedir você em casamento — fala Dheanel, mostrando a cabeleira dourada na abertura próximo ao tronco do pinheiro.


— O que você disse? — pergunta Genipa, saindo do estado catatônico para um difícil de definir, entre o hilário e o afetado.


— Eu vim pedir Genipa, filha de Ivaí e Inia, em casamento. Conhece ela? É uma moça bonita, segura de si e muito sábia. Você lembra muito ela, se não estivesse se comportando como alguém que não previu isso.


— Eu tive motivos para prever? — pergunta Genipa.


— E todos aqueles olhares que lançei a você, quando estivemos em Jugend?


Jugend era a cidadela dos Androceus. Lar da juventude e da beleza perenes.


— Achei que você olhasse assim para todos — pontua Genipa.


— Se ele olhasse daquele jeito pra mim, eu que já teria pedido ele em casamento — Akebia queria quebrar o clima tenso da irmã.


— Sai. Ele é meu — diz ela, arrependida de não ter pensado antes de falar.


Dheanel e as outras duas riem da afirmação inesperada e súbita.


— Bem... então isso quer dizer que a sua resposta é sim? — certifica-se Dheanel.


— Foi automático. Desculpa! — fala Genipa, muito desconcertada.


— Não desculpo. Já disse. Agora tem que assumir.


Ela fica olhando para cada um dos três, tentando achar um escape para aquela situação constrangedora.


— Eu não esperava por isso assim, tão de repente.


Dheanel se aproxima e, sem mais rodeios dá-lhe um beijo.


— Desculpa! Foi automático — diz Dheanel.


— Não desculpo. Agora tem que assumir.


Os três riem.


— Você veio aqui especialmente por mim?


— Especialmente, sim. Exclusivamente, não.


— Ah, Dheanel! Você estragou o clima romântico — diz Samira.


— E o que mais você veio fazer? — pergunta a desenrolada Akebia.


— A irmanação com seus Gutus. Todos estão aguardando vocês em Jugend.


Elas se abraçam e pulam de animação.


— Vocês festejam a escolha dos Gutus, mas nem sequer aplaudiram meu pedido de casamento? Só porque eu ainda não tinha mostrado essas castanhas de nosso enlace?


Ele falava isso ao mesmo tempo que mostrava duas amêndoas abertas, com um diamante incrustado dentro de cada uma e presas por uma corrente. É assim que o casamento é oficializado no planeta Aleph, e passou a ser assim desde então, entre os demais planetas.


— É muito lindo. Essa corrente é de levitate? — pergunta Genipa, emocionada.


— Sim. Virou moda usarem o levitate como pingente. É maleável e tem resistência ao mesmo tempo. Você gostou de verdade?


— Mas é claro — sua voz fica embargada pelo choro. — Você me ama de verdade? — choraminga ela.


— Pra toda a eternidade — diz ele, dando-lhe mais um beijo.


Samira e Akebia estavam escoradas uma na outra, olhando enlevadas para o casal.


Genipa, com os lábios grudados, vira os olhos para as duas e comenta:


— Que horror, minha gente! Pelo menos disfarcem. Parem de ficar nos encarando desse jeito. Eu imaginei que meu primeiro beijo fosse acontecer em um lugar florido, mais romântico e com a quantidade de pessoas que se espera em um realcionamento a dois.


— Chata! Tá, nós já vamos descer — pronuncia Akebia.


— Não precisa — diz Dheanel. — Depois que os Gutus escolherem vocês (Sim. Não é o inverso) eu pretendia levar Genipa ao Domo.


— Pois vamos logo! Agora fiquei ansiosa. Quero um momento só nosso — conclui Genipa, empurrando a irmã e a amiga, mas puxando delicadamente a mão do amado.


O resultado final disso, vocês já podem prever. O Gutu de Akebia foi uma raposa vermelha com asas de borboleta monarca. Já o de Genipa é um tamanduí com asas de pétalas de sâmara. O casamento deles foi realizado em Jugend, durante o outono, quando a floresta inteira celebrava alegremente com os confetes coloridos a união não só de Genipa e Dheanel, mas também de sua irmã Akebia com Azraq, filho de Cauabori.


Quem é Cauabori? Ora! É só o fundador de toda essa iniciativa. Foi ele, junto com o trio I — Ilméria, a rainha das árvores e mãe de Dheanel; Ivaí e sua esposa Inia, que formaram o triângulo da Aliança, selado com o sangue deles( lê-se uma gotinha). Mais tarde o triângulo virou Losango. Fazem ideia de onde e como foi feito esse pacto? Eles desenharam o losango com um brilhante pontiagudo na casca da árvore Dhea, pondo em seguida o sangue de cada um dentro da gravura. Desde então, o losango tem sido usado como símbolo dos Clubes da Noz, cujo fruto de poderes inimagináveis a Dhea produziu. Mas esses assuntos condizem à história da Noz Dourada. Por aqui basta que perfilem os detalhes concernentes aos Dheanes. Pois assim eram chamados todos os grupos que se entremeavam com a Aliança da Noz. Esse também foi o motivo para o filho de Ilméria receber o nome de Dheanel. Ah! Quase ia me esquecendo: a árvore Dhea na verdade era um rapaz, de nome Dheam. Acho que agora deu para visualizar o quadro como um todo.


Aquele Cauabori tornou-se trisavô do líder de outro clube: a Turminha da Pinha. O nome do jovem é Dimitri, cujo Gutu ele encontrou naquele Domo, mencionado por Dheanel. Era um jardim imperecível que dava frutos e flores o ano todo. Esse jardim fora plantado pelo pai de Cauabori, que herdou o cultivo e passou a compartilhar com todos os Dheanes. Inclusive, esse Domo fazia ponto com outros lugares secretos de Aleph, respectivamente relacionados a Ivaí e Inia, e que pelo motivo de suas posições geográficas formavam um triângulo.





Passemos agora à Turminha da Pinha.

5 Septembre 2022 15:20 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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