Escrito por: @LadyofSomething/@RedWidowB
Notas iniciais: Olá! Primeiramente, agradeço a minie_swag/ minie_swag pela betagem e por ser a adm incrível desse projeto, e gukxcviie / gukxcviie pela capa e banner lindíssimos! Muito muito obrigada mesmo!
Também agradeço a quem quer que resolva ler essa coisinha. Muito obrigada e boa leitura <3
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— Os gatos não podem tomar paracetamol porque é tóxico para eles.
Esse era o tipo de informação — junto com muitas outras coisas — que Min Yoongi gostaria que os tutores de gatinhos soubessem antes de adotá-los, pois aquele era o quinto gato, em duas semanas, que precisava de atendimento emergencial por conta de gente que medicava animais sem procurar profissionais ou ao menos pesquisar antes de fazê-lo.
Lily, a paciente de pelagem bege e sem raça definida, era uma bolinha de pelos que estava ali em sua primeira consulta da vida inteira, e a quantidade de desinformação que sua dona tinha na cabeça sobre a espécie dela chegava a assustar o veterinário.
— Mas doutor…
— Não pode. Também não pode dar banho com muita frequência, nem deixá-la no ar-condicionado o tempo todo e nem dar as coisas que você normalmente come e bebe. — Yoongi virou para a gata e começou a apontar e fingir que a bronca era para ela. — Nada de café, chocolate, leite, ovo, enlatados, docinhos… muita coisa, mocinha. — Voltou a olhar a tutora. — E nada de medicar sem recomendação médica!
Pela expressão que a mulher fez, de desgosto, Yoongi conseguiu imaginar claramente que veria muito em breve a pobre Lily novamente.
Aquela era mais uma situação cotidiana: tutores que queriam humanizar os animaizinhos, dando comida, remédio e outras coisas de consumo humano. E aquilo, diferente do que eles imaginavam, não era demonstração de amor pelos pets.
Cães, gatos e outros bichinhos de estimação não deveriam ser tratados como crianças humanas, e sim como criaturas amadas de acordo com suas próprias espécies, respeitando sua base alimentar e expressão de comportamentos naturais, pois isso sim proporcionaria bem-estar físico e emocional a eles, não os transformar em substitutos de nenéns e esperar que se comportassem como eles.
Alegar que um animal amava isso ou aquilo, que ficava feliz consumindo o que a família consome, não diminuía o fato de que o único que sofreria as consequências seria aquele que nem entende que aquilo faz mal. Aquele tipo de tutor só trazia vícios e coisas ruins para o pet em prol do próprio divertimento.
Yoongi não pensava e/ou falava isso diminuindo "pais de pets" — ele mesmo era um —, mas sim tentava deixar claro que ser responsável por um bichinho era mais do que dar roupinhas, os achar fofos e chamar de filho.
Afinal, era uma vida em suas mãos, não um bonequinho.
Logo no início de sua carreira, ele dizia mais: brigava com tutores irresponsáveis, denunciava-os em alguns casos, e até chegou ficar com alguns animais que se recusou a devolver para o antigo lar.
Porém, oito anos naquele lugar o fizeram perceber que nem todo mundo sabia o certo ou tinha condições de fazê-lo.
É claro que ele ainda denunciava, fazia doações para ONGs e tentava salvar o máximo de bichos que encontrava, porém enxergava que nem todos os casos eram questão de descaso, e sim de falta de conhecimento e condições financeiras.
E quem era ele para dizer para uma família que eles amavam mais ou menos um cachorro ou gato só porque não entendiam o que ele aprendeu em cinco anos de faculdade?
Ser veterinário era complicado, tanto do ponto de vista ético-profissional quanto social, então por mais que se revoltasse com determinadas atitudes e circunstâncias, também entendia outras, e assim buscava equilíbrio em como lidar com cada cliente de sua clínica.
Por isso, torceu para que a dona de Lily fosse mais cuidadosa daquela vez, entretanto, caso não fosse e a gatinha retornasse ao seu consultório, ele tomaria as medidas corretas.
Viu-as saírem pela porta de vidro espelhada do consultório, enquanto sua recepcionista, Jung Wheein, ria baixinho.
— Acho engraçado que o senhor fica balançando a cabeça desse jeito sempre que alguém fala alguma besteira dentro da sala de atendimento — a mulher comentou.
Yoongi a fitou com um sorriso divertido.
— Não sei como meu pescoço não dói então.
A curta conversa foi finalizada com mais risadinhas e o veterinário voltou ao consultório para higienizar e descartar tudo o que usou com a gatinha.
Por ser um dia no meio da semana, era comum ter poucos pacientes. Geralmente, aproveitava para marcar retornos em dias como aquele, para evitar o contato entre animais em meio ou final de tratamento com outros que estavam recém-infectados ou muito mal.
Naquele dia em específico, nem retornos tinha marcado. Era simplesmente um dia calmo de trabalho, sem nenhuma gritaria, reclamação, cachorro latindo e gato miando. Era apenas Wheein e ele, pois nem internações tinha.
Até que, de repente, Wheein viu a porta de vidro ser aberta com tudo e por ela passar um rapaz loiro aos prantos.
— EMERGÊNCIA!!! — gritou o recém-chegado. — SOCORRO!
— YOONGI! — chamou a recepcionista.
O Min, alheio a quem chegou gritando, imediatamente correu em direção à recepção, preparado para o pior.
Porém, no momento em que alcançou a sala de espera, percebeu três coisas: a expressão de estranhamento da Jung, um loiro muitíssimo bonito e, em seu colo, um american pit bull super relaxado, balançando o rabo como conseguia.
Seu rosto mudou de atenção para confusão.
— O que houve? — indagou olhando para o rapaz bonito.
— Emergência, moço! — o desconhecido repetiu. — Eu literalmente gritei o que houve!
Mais uma vez, Yoongi olhou para a cara fofa do cachorro, que estava deitado com as patinhas para cima e abriu a boca como se estivesse sorrindo, deixando a língua escorregar para o lado.
Uma fofura.
— Ok, pode entrar no consultório. — Apontou em direção à porta do lugar e, em seguida, encarou Wheein para esclarecer: — Eu faço a ficha deles lá dentro, não se preocupe.
O loiro não tão educado, passou direto para a sala de atendimento, falando baixinho com o cachorro que tentava lamber seu nariz sempre que ele se aproximava demais.
Daquele jeito, de longe e sem ver devidamente o animal, o veterinário poderia jurar que o escândalo fora desnecessário. Todavia, tentou não julgar a situação antes da consulta.
Fechando a porta atrás de si, Yoongi encarou novamente o rapaz e seu animalzinho. Achou uma graça como mesmo sobre a mesa de exames, o pit bull ainda estava grudado ao tutor, olhando com todo carinho que um cachorro poderia demonstrar por alguém, enquanto loiro acariciava a pelagem branca com manchas laranjas dele.
Ver pit bulls sendo bem tratados aquecia seu coração.
— Podemos pesá-lo primeiro? — Yoongi perguntou ao homem.
Os olhos dele, que o encararam no exato instante em que o Min começou a falar, também eram bonitos, relativamente grandes e, de alguma forma, pareciam doces, redondinhos como os do próprio cachorro.
Diferente do desespero inicial, o tutor acenou positivamente, com calma.
— É ela — o loiro corrigiu baixinho, carregando a cadela em direção à balança no canto ao lado da maca. — O nome dela é Sansa.
Somente quando Sansa foi colocada na plataforma de pesagem que o veterinário enxergou o machucado relativamente pequeno na traseira dela, acima do rabo longo que balançava para eles.
— Sansa porque ela é ruiva? — indagou, sorrindo e anotando mentalmente que a cadela pesava vinte e sete quilos e quinhentos gramas. — Ela é muito calma. Fazia semanas que não conseguia pesar um pit bull tão rápido.
O rapaz carregou novamente Sansa, colocando-a sobre a mesa, e só então encarou o veterinário por cima do ombro.
— Ela foi bem-criada.
Yoongi percebia que sim, mas algo no tom de voz meio ríspido do outro e a forma como sua primeira pergunta foi ignorada fizeram com que o veterinário apenas concordasse com a cabeça e fosse fazer a ficha do animal de uma vez.
— Seu nome? — inquiriu ao sentar-se à mesa com o computador onde digitava os dados da cadelinha.
— Park Jimin.
Era um nome bonito também.
— Idade? — continuou Yoongi.
— 28 anos.
Os dois se encararam. O Min confuso, e o Park julgando a demora.
— Ela tem 28 anos?
Os olhos de Jimin se arregalaram e ele começou a negar com as mãos e cabeça.
— Não! Ela tem dois anos.
A agitação do tutor fez Sansa se animar e latir para ele, e a situação inteira fez o veterinário sorrir.
— Ele está tentando te envelhecer na marra, Sansa — brincou falando com a paciente, que balançou o rabinho e latiu em sua direção. Era realmente uma boa cachorrinha.
As perguntas continuaram, desde a castração da pet até históricos de doenças, para enfim chegarem à pergunta que não queria falar:
— O que houve com ela?
— Ela levou um tiro.
Foi a vez do veterinário arregalar os olhos. Sua vista desviou da cachorra para o dono e vice-versa mais do que deveria.
— Como assim? — Levantou de supetão, logo tirando luvas descartáveis de um dos depósitos guardados no armário atrás de sua mesa.
Vestiu-as já no caminho em direção ao animal, ficando lado a lado com o tutor.
— Teve um tiroteio na minha rua, uma bala ricocheteou em uma das paredes e acertou a bunda dela.
Sansa encarou o veterinário com seus olhos verdes e a boca aberta com a língua pra fora.
— Mas ela parece ótima! — comentou sem pensar muito antes.
Jimin, que aparentemente não era uma pessoa muito calma, bufou.
Ignorando a reação do rapaz, Yoongi segurou a cara da cadela, vendo se de perto havia palidez. Ela estava corada, então a perda de sangue provavelmente não fora tão alta. Em seguida, retornou ao armário para pegar seu termômetro.
— Preciso ver a temperatura dela.
O Park franziu o cenho.
— Se o senhor colocar isso na boca dela, ela irá mastigar igual pão.
Era naquelas horas que parte do Min se arrependia de ter se formado médico veterinário.
— Então… — Riu sem graça. — Eu preciso que você a distraia e segure direitinho, porque a temperatura é medida via retal.
Segundos de silêncio se passaram, até Jimin entender o que Yoongi estava falando.
— VOCÊ VAI ENFIAR ISSO NO CU DA MINHA CACHORRA?
Acostumado com a reação, o Min apenas balançou a cabeça e se aproximou de novo.
— Por isso preciso que você a distraia.
A face do Park se tornou desolada.
— Não tem outro jeito? Por que você não usa aqueles de pistolinha?
Yoongi pensou em dizer que a pobre cachorra não precisava de mais uma pistola por perto, mas se conteve.
— Ainda não tive a chance de comprar, então só tenho esse.
Sem responder, Jimin apenas fechou os olhos e abraçou a cadelinha pelo pescoço, sofrendo por antecipação.
É claro que o procedimento — se é que poderia ser chamado assim — não era terrível como parecia para os seres humanos.
De fato, Sansa nem ao menos reagiu muito mais do que tentar olhar para trás e ver o que tinha ali.
Foram segundos de constrangimento para ambos os humanos e de curiosidade para o cachorro.
— A temperatura dela está normal — avisou o veterinário assim que o termômetro apitou.
Deixando o aparelho de lado para higienizar depois, Yoongi voltou ao armário para pegar uma focinheira.
Assim que viu o objeto nas mãos do Min, Jimin fechou o cenho.
— Sansa não precisa disso.
O veterinário começou a achar que o outro tinha sido programado para testar sua paciência.
— Não é questão dela ser brava ou calma — esclareceu, já imaginando o tipo de coisa que passou pela cabeça do Park. — É normal que a reação à dor seja agressiva, e eu terei que examinar onde a bala pegou, então é proteção para nós dois.
— Eu não preciso ser protegido da minha cadela — afirmou Jimin, começando a realmente deixar o veterinário chateado.
Respirando fundo, Yoongi andou até a maca e parou em frente a Sansa. Sorriu para ela e brincou com seu focinho claro e úmido.
— Eu entendo seu sentimento. Sei que muita gente fala besteira sobre a raça dela, só que esse não é o caso aqui. Eu não acho que ela irá atacar porque é uma pit bull, mas sim porque qualquer animal sofrendo pode reagir assim.
Seus olhos se encontraram. A face de Jimin suavizou, mas não se tornou satisfeita.
— Tudo bem — concordou por fim.
O Min, então, prosseguiu com o que tinha que fazer: colocou a focinheira na cadela e pediu para que o tutor dela a segurasse. Jimin, por sua vez, abraçou Sansa e pediu desculpas baixinho para ela.
No exame, a pit bull realmente ficou inquieta, tentando alcançar o médico e ver o que estava acontecendo em seu machucado, e o Park começou a lagrimar de preocupação e pena.
Por sorte, não havia algo alojado na ferida, muito menos indícios de que o machucado geraria traumas piores ou consequências futuras.
— A bala acertou apenas de raspão — afirmou Yoongi, enquanto limpava a ferida para medicar e fazer um curativo. — Ela teve muita sorte.
Jimin permaneceu calado, observando tudo, mas deixou um som rouco sair de sua garganta, apenas para deixar claro que estava ouvindo.
Era nítido que o loiro cuidava bem da cachorrinha e que sua preocupação com ela era genuína. Nenhuma parte da situação fez o veterinário crer em qualquer coisa diferente.
Assim que o curativo foi feito, as instruções dadas e a consulta foi finalizada, o Park voltou a pegar Sansa no colo, e só então Yoongi percebeu o quanto deveria ser pesado para o tutor carregar para todo lado aquela coisinha musculosa.
— Daqui uma semana você retorna com ela, ok? — pediu, sorrindo.
Em seguida, aproximou-se dos dois e novamente fez carinho na cabeça com manchas laranjas da cachorrinha. Não percebeu que, com isso, havia invadido um pouco o espaço pessoal do Park.
Seus olhos se encontraram novamente, e Jimin o encarou com as bochechas levemente vermelhas e uma tentativa de sorriso.
— Obrigado — praticamente murmurou. — Voltaremos sim.
— Estarei esperando.
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Notas finais: O que acharam do Jimin e sua pit bull?
Merci pour la lecture!
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