1
1.2mille VUES
En cours - Nouveau chapitre Tous les jours
temps de lecture
AA Partager

Mães

Estou internada numa maternidade, pela especialidade em ginecologia e referência do estado, eu precisava estar aqui. Me defrontei com tantas ironias desde que cheguei, questionaram minhas escolhas, invalidaram minha forma de pensar por mais sensata que seja, e ainda estou aqui, um pouco melhor essa semana, sim, fazendo exames, procurando respostas, fiquei contente de descobrir que meu organismo não está tão deteriorado como todo mundo disse a vida inteira por ser gorda. Mas não é sobre isso que quero falar, é sobre as mães que já encontrei aqui. As que tive um contato mínimo de alguns dias, conhecendo um pouco de suas vidas, suas histórias. Particularmente duas me impressionaram, uma perdeu o bebê por escabrosos erros médicos, a segunda por uma gravidez ectópica, depois de fazer uma cirurgia dupla o marido em vez de chorar a perda do filho e o risco corrido pela esposa estava com ciúmes por ela estar longe, e ir se recuperar com a irmã, o canalha sequer veio no hospital ver a mulher, nem mencionou o filho que morreu, tipo, que qualidade de cabra safado pode ser esse, a mulher em cima de uma cama e ele perguntando se ela estava na praia, não foi uma brincadeirinha não, foi sério. Ela me contando com uma cara de choro, de quem ia desabar a qualquer momento... É óbvio que eu xinguei horrores, que falei um monte sobre a falta de respeito e de sentimento dele. Nada mais que isso porque não pude, pensei em como eu reagiria diante disso, e a minha revolta imaginária está aqui.

A outra mãe, tecnicamente não poderia parir naturalmentedevido a problemas de diabetes e algum outro que não me recordo agora, seu parto não poderia ser induzido, uma cesárea faria o trabalho corretamente, mas não foi assim que fizeram, induziram o parto, o bebê morreu no ventre da mãe, e só depois dele morto fizeram a cesárea,

e mesmo não entendendo nada de conduta médica isso foi mais do que errado, passados alguns dias eu cheguei e ficamos no mesmo quarto, conversamos bastante, ela foi me contando o que aconteceu e eu ainda não sei como ela suportou isso tudo, a dor, o luto, a impotência sabe. Não imagino como ele teve forças pra sair desse hospital e seguir a vida.

Mas o que me deixou realmente surpresa veio a seguir, a mãe e a acompanhante super nervosas ainda com o que aconteceu tiveram que resolver problemas de casa num quarto de hospital, imagine você perder um filho, sentir dores horríveis e lidar com contas pra pagar. Sim isso aconteceu diante dos meus olhos, mas a parte mais triste e solitária da maternidade que vi aqui foi na hora de providenciar o sepultamento do bebê, ninguém da família dela se prontificou pra resolver isso, nem o pai, ou os irmãos mais velhos. Quando o homem do necrotério chegou pra avisar sobre isso ela estava sozinha, e como ninguém veio tratar do funeral do bebê o hospital ficou responsável pelo sepultamento. Foi o fim de tarde mais triste que já presenciei, o homem do necrotério veio, trouxe alguns papéis, ela agarrada na mantinha e o pôr do sol laranja passando pela janela, o choro convulsivo por não poder sepultar o bebê, o abandono de parte da família, e outros problemas.A acompanhante, filha caçula não deixava ela sozinha mas nesses minutos arrastados ela foi chamada na recepção, assinar algo, pegar um papel, não sei. Aquele choro e toda dor estão impressos na minha memória, presenciei essas duas mulheres tão sofridas, e não consigo me ver nessa situação. Que pais são esses incapazes de chorar a perda de um filho, que famílias são essas que com nada se comovem, que relações doentias e tristes para se voltar ou continuar. E depois disso eu sou criticada por não querer que qualquer coloque um filho no meu bucho, por escolher me cuidar, me policiar desde cedo quanto a isso. Talvez seja um medo infundado, talvez eu tenha atropelado o destino mas cada dia mais sinto que não. As duas estavam acompanhadas de mulheres, nesses 12/14 dias só vi 2 homens acompanhando as esposas ou namoradas, parece que essa área da vida e da saúde continua reservada apenas as mulheres, só elas podem se solidarizar e ajudar, acompanhar e apoiar pela vida. Dessa vez eu sou só a espectadora, mas jamais vou esquecer o que vi e ouvi. Vai ficar pra sempre em mim, definitivamente, ser mãe é sim padecer, sem nenhum paraíso.

19 Juin 2022 19:07 1 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
4
À suivre… Nouveau chapitre Tous les jours.

A propos de l’auteur

Siph Ferreira Nerd de maquiagem, amante de música, livros e quadrinhos, amiga de Meia Noite e Qliph, viciada em podcast e buscando seu rumo nesse mundo.

Commentez quelque chose

Publier!
Norberto Silva Norberto Silva
Sou um pai presente e faço de tudo para estar presente sempre, tanto para minha esposa, como para minha filha. Jamais deixaria qualquer uma deles de lado como esses caras que se dizem pais que, para mim, de pais não tem nada.
June 20, 2022, 02:12
~