Estou internada numa maternidade, pela especialidade em ginecologia e referência do estado, eu precisava estar aqui. Me defrontei com tantas ironias desde que cheguei, questionaram minhas escolhas, invalidaram minha forma de pensar por mais sensata que seja, e ainda estou aqui, um pouco melhor essa semana, sim, fazendo exames, procurando respostas, fiquei contente de descobrir que meu organismo não está tão deteriorado como todo mundo disse a vida inteira por ser gorda. Mas não é sobre isso que quero falar, é sobre as mães que já encontrei aqui. As que tive um contato mínimo de alguns dias, conhecendo um pouco de suas vidas, suas histórias. Particularmente duas me impressionaram, uma perdeu o bebê por escabrosos erros médicos, a segunda por uma gravidez ectópica, depois de fazer uma cirurgia dupla o marido em vez de chorar a perda do filho e o risco corrido pela esposa estava com ciúmes por ela estar longe, e ir se recuperar com a irmã, o canalha sequer veio no hospital ver a mulher, nem mencionou o filho que morreu, tipo, que qualidade de cabra safado pode ser esse, a mulher em cima de uma cama e ele perguntando se ela estava na praia, não foi uma brincadeirinha não, foi sério. Ela me contando com uma cara de choro, de quem ia desabar a qualquer momento... É óbvio que eu xinguei horrores, que falei um monte sobre a falta de respeito e de sentimento dele. Nada mais que isso porque não pude, pensei em como eu reagiria diante disso, e a minha revolta imaginária está aqui.
A outra mãe, tecnicamente não poderia parir naturalmentedevido a problemas de diabetes e algum outro que não me recordo agora, seu parto não poderia ser induzido, uma cesárea faria o trabalho corretamente, mas não foi assim que fizeram, induziram o parto, o bebê morreu no ventre da mãe, e só depois dele morto fizeram a cesárea,
e mesmo não entendendo nada de conduta médica isso foi mais do que errado, passados alguns dias eu cheguei e ficamos no mesmo quarto, conversamos bastante, ela foi me contando o que aconteceu e eu ainda não sei como ela suportou isso tudo, a dor, o luto, a impotência sabe. Não imagino como ele teve forças pra sair desse hospital e seguir a vida.
Mas o que me deixou realmente surpresa veio a seguir, a mãe e a acompanhante super nervosas ainda com o que aconteceu tiveram que resolver problemas de casa num quarto de hospital, imagine você perder um filho, sentir dores horríveis e lidar com contas pra pagar. Sim isso aconteceu diante dos meus olhos, mas a parte mais triste e solitária da maternidade que vi aqui foi na hora de providenciar o sepultamento do bebê, ninguém da família dela se prontificou pra resolver isso, nem o pai, ou os irmãos mais velhos. Quando o homem do necrotério chegou pra avisar sobre isso ela estava sozinha, e como ninguém veio tratar do funeral do bebê o hospital ficou responsável pelo sepultamento. Foi o fim de tarde mais triste que já presenciei, o homem do necrotério veio, trouxe alguns papéis, ela agarrada na mantinha e o pôr do sol laranja passando pela janela, o choro convulsivo por não poder sepultar o bebê, o abandono de parte da família, e outros problemas.A acompanhante, filha caçula não deixava ela sozinha mas nesses minutos arrastados ela foi chamada na recepção, assinar algo, pegar um papel, não sei. Aquele choro e toda dor estão impressos na minha memória, presenciei essas duas mulheres tão sofridas, e não consigo me ver nessa situação. Que pais são esses incapazes de chorar a perda de um filho, que famílias são essas que com nada se comovem, que relações doentias e tristes para se voltar ou continuar. E depois disso eu sou criticada por não querer que qualquer coloque um filho no meu bucho, por escolher me cuidar, me policiar desde cedo quanto a isso. Talvez seja um medo infundado, talvez eu tenha atropelado o destino mas cada dia mais sinto que não. As duas estavam acompanhadas de mulheres, nesses 12/14 dias só vi 2 homens acompanhando as esposas ou namoradas, parece que essa área da vida e da saúde continua reservada apenas as mulheres, só elas podem se solidarizar e ajudar, acompanhar e apoiar pela vida. Dessa vez eu sou só a espectadora, mas jamais vou esquecer o que vi e ouvi. Vai ficar pra sempre em mim, definitivamente, ser mãe é sim padecer, sem nenhum paraíso.
Merci pour la lecture!
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