A garota aproximou-se da floresta densa e fechada pela penumbra, sem perceber ser observada. Era dia do eclipse total lunar e ela fora confirmar as lendas sobre uma raposa misteriosa que somente aparecia nesses dias. As histórias e boatos sobre a raposa eram quase parte do folclore local. Por isso, desde bem pequena a garota ficava impressionada ouvindo as histórias dos moradores daquela pequena e quase esquecida cidade.
Agora, com um pouco mais de 10 anos e sem nunca ter visto a tal raposa, a garota já aceitara o fato de que tudo isso não passava de crendices de gente velha. E teria permanecido assim, se a sua curiosidade não fosse maior que sua razão. Foi num dia qualquer e tedioso, enquanto reclamava do seu acabado calendário que descobriu que ocorreria um eclipse total lunar em novembro. Ela ficou eufórica e decidida: desta vez, daria um jeito de entrar na floresta sem ninguém saber e então confirmar se os boatos eram verdadeiros ou não.
A garota permaneceu curiosa e ansiosa durante todo ano, agora, porém, estava sendo assolada pelo medo, receio e também pela dor. Sua lanterna queimara e já estava tarde da noite. Com a visão precária, guiada apenas pela escassa luz da lua entre as árvores, não conseguia prever os muitos galhos, arbustos, buracos e raízes altas que a faziam cair e se machucar diversas vezes. Seus joelhos já pediam socorro, falhando, e seu interior gritava que ainda dava tempo de voltar e desistir dessa ideia estúpida, mas estava tão imersa em pensamentos que não viu a beirada da encosta. Era tarde demais.
Caiu de uma só vez, com um grito mudo, rolando e se batendo em tudo que havia no caminho. Uma grande rocha a fez parar, já numa área plana, batendo em suas costelas com um forte impacto. Suas roupas viraram trapos, sangue escorria de sua testa e de várias outras partes. Jogada de bruços na terra dura e fria, percebeu que seu corpo não respondia. Estava assolado pela dor crucial, sua cabeça pesava, girava e quase desistiu de forçar a focar sua vista quando então… A garota finalmente viu quem tanto ansiava.
A raposa caminhava de dentro do nevoeiro em sua direção. Tinha um andar calmo, mas majestoso, poderoso. Seu olhar era afiado, eletrizante e toda sua existência possuía uma aura capaz de fazer qualquer um abaixar a cabeça. Atrás da raposa se tinha uma vista implacável do eclipse, maltratado seus olhos já fracos e embaçados. O corpo da garota imediatamente reagiu com um arrepio subindo por todo ele, sentiu a pele queimar e seu coração disparar. Ainda sim, não conseguia mover nem mesmo um dedo, e apenas suas pálpebras batendo e respiração pesada eram uma prova que ainda estava viva… por pouco tempo.
Sua consciência já estava se esvaindo quando a raposa sentou-se em sua frente, olhando-a de cima com grande superioridade. Pensou que deveria estar com medo, mas não estava, porém, não teve tempo para raciocinar o por quê. A garota não mais sentia coisa alguma. E antes de apagar inteiramente, achou ou alucinou, ouvir a raposa dizer num tom melancólico:
“Olá, velha amiga, eu vim para você.”
Mas isso, nem nós e nem ninguém irá jamais saber.
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