ANTES DE QUALQUER COISA
Oi. Posso te dar uma palavrinha? Coisa rápida.
É o seguinte: sempre fui um aficionado por temas de fantasia, ficção e, deixando este próximo no final por ser o que mais me atraiu desde criança, horror.
Agora, não vamos discutir aqui as terminações nervosas de qual seria o termo exato que define o estilo, supondo que haja um estilo que o defina, então não me venha com as interpretações de se é “horror”, “terror”, “pavor”, “medo” ou “corra por tua vida”. Gosto de histórias que me façam pensar, que causem frio na espinha. Me delicio com aquelas que me fazem parar de ler e olhar em volta, só pra me certificar de não haver nenhum par de olhos extra lendo comigo, que não deveria estar lá porque estou sozinho e, se eu não estiver, então não haverá porta trancada o suficiente para me impedir de fugir gritando.
E não precisam nem ser histórias de horror no sentido clássico, por vezes bastam aquelas que me deixem inquieto, perdido em pensamentos a respeito do que li. Gosto do horror. Do fantástico. Do estranho. Conviva com isso.
Você também deve gostar. Sejamos sinceros, não precisa fazer essa cara de justificativa inocente. Você não começaria a ler uma série de contos chamada Receitas de Insônia se esperasse dela formas de fazer o melhor cappuccino, ou buscasse uma cura para tua narcolepsia. Deixamos isto claro? Perfeito, fazemos agora parte do mesmo clubinho.
Costumo dizer a minhas filhas que tudo é real, no mundo da imaginação. Especialmente quando elas vêm com olhinhos questionadores e me perguntam se existem monstros, mulas-sem-cabeça, fadas ou dragões. Tudo existe, claro, digo a elas. É tudo verdade. Lá no mundo da fantasia, o lugar que podemos visitar impunemente sempre que tivermos imaginação suficiente para pagar o barqueiro. Elas entendem imediatamente o que quero dizer.
Enquanto que no mundo real, aquele de contas e tropeços em meios-fios, o de crises e contracheques aterrorizantes, estamos a salvo de vampiros, lobisomens e sacis. O que não é de forma alguma algo bom porque contra estes últimos temos armas fáceis de encontrar, e está aí a literatura para nos dar excelentes métodos de detê-los.
Já contra assaltantes e assassinos, atentados e guerras, epidemias e políticos corruptos, miséria e intolerância, estamos, na maioria dos casos, completamente indefesos. Não há crucifixo ou bala de prata que nos acuda desse horror, e rogo para que ninguém esbarre em nenhum desses exemplos ao longo da vida. Mas é o nosso horror. Sabemos que ele existe, porque vem de pessoas como você e eu, e aparece ocasionalmente em nosso mundo.
Pois te digo que é exatamente isso que sempre me encantou nas histórias de horror, de fantasia estranha ou de ficção esquisita. Não o monstro sobrenatural ou o psicopata-que-teima-em-não-ficar-morto. Não o espírito vingativo ou a maldição cabeluda nipônica, mas sim como os personagens humanos da trama, gente simples como nós, reagem a eles. Como pervertem sua bondade quando em frente à manifestação do Poltergeist, ou se tornam subitamente altruístas sob ataque de um Curupira emputecido. Como pessoas podem mudar de vinho para água estagnada quando a situação aperta, e vice-versa, porque é isso que extrapola a fantasia do mundo imaginário e nos entrega uma análise verbatim do que ocorre com frequência em nosso mundo real, respeitadas as proporções.
Em suma, para mim, o horror literário surge de saber o que pessoas comuns podem se tornar quando em situações extremas. Quais motivações as fazem jogar na lixeira todos os seus ideais, os mesmos que passaram a vida toda defendendo como canônicos e incorruptíveis. Como pessoas ditas boas podem mudar em um piscar de olhos, e é isso que aplica o zero grau na minha coluna cervical.
Espero que goste de ler.
É nisso que sinto horror.
É o que me deixa acordado à noite.
É disso que esta série trata.
Mas já com fantasmas, demônios e zumbis, com esses consigo lidar facilmente.
Merci pour la lecture!
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