Aisha olhava para o céu negro coberto por cintilantes estrelas que em sua imaginação observava uma majestosa cascata de estrelas que a qualquer momento poderia cobri-la de brilho. As estrelas sempre a fascinou e imaginava infinitas histórias de fantasia com a presença delas em sua vida.
O que Aisha não imaginava era que a noite em que ela nasceu, há 18 anos atrás era uma noite completamente escura, sem a presença de suas encantadoras estrelas. Uma tempestade se formava no céu, com trovões assustadores e raios que atingiam lugares vulneráveis. E essa noite tempestuosa foi o cenário do nascimento de Aisha, a amante das estrelas. Talvez seu amor pela constelação se tornou mais ardente quando sua mãe há dois meses atrás lhe revelou parte de sua vida que ela desconhecia.
Marina sempre tentou de todas as formas ocultar da filha os detalhes de seu relacionamento com seu pai. Tudo que Aisha conhecia de seu pai era uma fotografia cortada pela metade que sua mãe lhe entregou quando ela fez 15 anos. Sempre que ela perguntava coisas sobre seu pai, Marina perdia o controle emocional e se perdia no passado e se expressava por abundantes lágrimas.
Com o passar dos anos e a menina se tornando uma mulher, Marina se viu obrigada a encarar os olhos da filha e revelar toda a verdade. E foi exatamente naquela noite de verão em que encontrou Aisha deitada no gramado que resolveu de uma vez por todas contar a filha seus segredos.
A presença da mãe fez com que ela se levantasse do chão e observasse Marina se aproximar. Marina estava nervosa, mas se esforçou para se mostrar tranquila diante dos olhos curiosos da filha.
Ainda que tivesse uma única filha para dedicar seu papel de mãe, Marina não tinha esse tempo que sonhava viver ao lado dela. Era uma médica cardiologista e estava sempre viajando para conferências e com muitas consultas agendadas todos os dias. Nas férias podiam se aproximar mais e Marina veio a meses se preparando psicologicamente e fisicamente para aquele momento.
Marina era uma excelente médica, pessoas de outros estados do Brasil a procuravam na capital Mineira para consulta-la. Porém mesmo entendendo muito do coração humano, ela não compreendia as razões para que o seu próprio coração se curasse das feridas de seu passado.
Escondia da família seu vício com o álcool, bebia as escondidas na calada da noite e passava a manhã trancada no quarto aos finais de semana para não demonstrar sua ressaca. Aos 45 anos teve uma crise de pânico tão grande que teve consciência de que precisava de ajuda urgentemente. Foi nessa época que buscou por terapia e a cada consulta com o psicólogo conseguiu amenizar sua angustia para finalmente abrir seu coração a sua filha e contar-lhe toda a verdade.
Marina forçou um sorriso e se sentou ao lado de Aisha que correspondeu o sorriso da mãe devolvendo o seu sorriso cheio de alegria em ter a mãe ali do seu lado. Marina não sentia merecer a filha que tinha. Imaginava que a filha se tornasse uma pessoa difícil e revoltada por ter uma mãe tão problemática e que escondia a verdadeira história de seu pai. Mas Aisha era completamente o contrário do que ela temia. Sua filha era compreensiva, obediente e muito amorosa. Sabia que sua mãe sofria muito ao falar de seu passado e por mais que tivesse curiosidade para saber mais sobre seu pai, não queria ver sua mãe sofrer por sua causa.
Em uma época onde a tecnologia conspira a favor do ser humano, não era muito difícil buscar sanar a curiosidade de uma menina que tinha ânsia por conhecer seu pai. Portanto o que Marina ocultava da filha sobre seu passado, ela mesmo buscava por essas informações na internet.
Desde seus 14 anos Aisha buscava saciar sua curiosidade nas redes sociais e em sites específicos, informações sobre seu pai e sua família. Era uma aventura descobrir os rostos de pessoas que ela nunca viu e saber que eram seu sangue. Durante esses quatro anos acompanhando seu pai e sua família pela internet criou um vínculo afetivo por cada rosto que descobria ser um integrante de sua família. Talvez esse fosse o maior defeito de Aisha: desvendar o desconhecido. Ela era destemida e determinada, o que seria uma notável qualidade para uma adolescente do século XXI que muitas vezes se mostravam inseguras para seguir padrões da sociedade contemporânea. Mas Aisha não se importava com padrões, tinha o espirito livre e desde muito pequena aprendera ter sua própria opinião para tudo, para se vestir para ela mesmo e não para impressionar a sociedade. Dessa forma Aisha se desligava das vaidades externas e se preocupava com o intelectual, se dedicando ao máximo nos estudos, pois sonhava ser tornar uma médica conceituada e respeitada como sua mãe.
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