Vazio. Suivre l’histoire

Certo dia acordei no vazio.

Aquele meu vazio quentinho e conhecido, com gostinho de lar e aconchego de colo.

Claramente chamo ele de meu em uma ridícula necessidade por controle e por posse,

mas como poderia ser meu?

Seria como ser dono da chuva, ou do som que as baleias fazem no escuro do oceano.

Não. Ele não é meu. Ele não é de ninguém e ele não é.

Já vou pra ele tem muitos anos e o caminho nunca é o mesmo. As vezes sou empurrado, as vezes eu me jogo, outras vezes eu simplesmente acordo e percebo que tudo ao meu redor sumiu e deu lugar pra ele, que feliz, abraça tudo que não é vazio, com a voracidade e felicidade de uma criança que necessita tocar tudo que vê.

E quando me encontro e me perco nele, me percebo como que sumindo. Ficando aos poucos transparente, como um elástico esticado demais ou rasgando pouco a pouco como uma folha de papel que teve seu conteúdo apagado a exaustão.

Me sinto afinando como um risco de rascunho, uma linha que segue ao infinito e sem nunca tocar outra desaparece no horizonte. Nessas horas é que o aconchego e o quentinho já nem existem mais, pois o vazio entrou dentro de mim também. Fez morada no meu peito, na minha cabeça, mãos e pernas e pés e dedos.

Só então eu percebo que não fui eu que acordei no vazio, mas sim ele que acordou em mim.