Raciocínio lógico nunca foi seu forte, ou avaliações em si. Tipo, pior ainda era quando topava com aquelas perguntas de vestibular de verdadeiro ou falso, sabe? Sempre se embolava e encontrava a resposta ao contrário, se era para achar a resposta verdadeira, acabava escolhendo a alternativa falsa ou vice-versa.
Então, quando a garota ouviu as regras de “Duas verdades e uma mentira” achou que aquele jogo era tipo um grande vestibular, e o vestibular se lembrava bem, tinha sido aquela experiência ruim de expectativas quebradas no quesito opção de curso.
— Não vai esquecer hein gente? Tem que ter uma alternativa falsa!
A veterana explicava entre risos, o barzinho universitário furreca tocava “Evidências”, o chope baratinho tornava a ida daquele ambiente difícil, suspirou no golinho que desceu gelado, odiava questionários.
— Tinha que ser a “Paulo Freire” que coisa mais “dinâmica de grupo”.
— Teu **! Vai pagar a parte dos bichos se me chamar assim de novo!
As vaias foram altas, tão altas quanto o alvo atingido por espetos de churrasco vazios. Logo o grupo aderiu a proposta da veterana.
— Okay minha vez! - Podia jurar que o sorriso do participante parecia mais largo aquela altura da madrugada, e a voz parecia mais doce do que na hora do protesto. — “Eu faço aniversário 1º de abril”. - risadinhas subiram, eram todos calouros que mal se conheciam — “Eu gosto de você.” - ele sentou pertinho da moça, assobios marotos soaram e uma mão boba passou por aquela orelha pequena — “Eu vou morrer”.
— Já chega, por que você sempre caga com tudo?! A conta vai toda pra você! E tira esses dedos da menina, “Saussure”!
— Epa, epa, cadê o discurso de “dar a outra face”, xinga a mãe, mas não ofende com esses apelidos não, “Paulo Freire”.
Tocava “Cilada” naquela hora e foi uma gritaria danada, havia gente correndo meio bêbada para fugir do chope que voava na cara de “Saussure”, jogado por “Paulo Freire”. A orelha da moça ficou meio quente com aquele toque, e ela ficou pensando qual era a resposta. E quanto mais pensava todas pareciam falsas quando seu olhar parou no sorriso safado dele.
Então, quando de repente chegou abril na semana seguinte, quase morreu de vergonha no fim da saideira, porque não tinha comprado um presente de aniversário igual ele tinha pedido no grupo de WhatsApp da galera, e aquele jogo “Duas verdades e uma mentira” apareceu de novo com “Paulo Freire” e era sua vez de responder.
— Vai lá “Chomsky”!
A garota se retorceu com o apelido, nem era do curso de Letras como “Saussure”, ainda se perguntava como a festa dos bichos tinha sido misturada com a galera de humanas e biológicas na calourada.
— Ahm… - começou acanhada - “Eu faço aniversário 1º de abril.” - ele riu daquele jeito que ela gostava e chegou pertinho — “Eu gosto de você.” - sua orelha pequena ficou quente igual aquele dia do barzinho — “Essa foi minha primeira opção de curso.”
— Sei, sei, todo mundo aqui foi!
"Paulo Freire" riu gostoso da própria piada. A veterana sorriu amarelo para “Chomsky” quando viu que atrapalhava o clima que surgia ali.
O garoto puxou a moça com uma delicadeza estranha pro canto, se sentaram no murinho do bar quase vazio, ofereceu para ela um RG com foto infantil, enquanto bagunçava o cabelo de forma desajeitada.
— Parabéns, aliás, cadê meu presente?
— Jura que seu aniversário também é hoje?
Ela deu um gritinho de felicidade, alguém até acreditou nela quando falou do próprio aniversário. E de repente nem ligou mais para aquele semestre absurdo que começava perto do carnaval, ou que o mundo estava em pandemia ainda, só queria beijar aquela boca de covinha na sua frente.
Quando estava amanhecendo, indo para a república dela, o veterano soltou a mão da garota, e perguntou de um jeito que doeu:
— Não era sua primeira opção de curso, né?
— Era sim…
Desviar o olhar não foi uma boa ideia.
— O jogo era “Duas verdades”, não vale trapacear.
— Eu não trapaceei! E você então? Te enxerga!
— Eu também não trapaceei.
“Chomsky” nunca foi boa com V ou F, a moça queria mesmo era ter passado na segunda opção de curso, só quando o semestre acabou que encontrou “Paulo Freire” no Centro de Convivência do Campus, ficou infeliz. Ela gostava mesmo dele. Mas viu que errou em acertar a resposta do jogo no barzinho. Odiava mesmo esse tipo de questão, sempre errava. "Saussure" estava com LLA e era ex-namorado de “Paulo Freire”
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Nota: Originalmente eu pretendia participar do desafio de escrita " Se você não me ama mais, minta" mas faltou o "angst" da coisa xDD, mas resolvi postar mesmo assim pq ficou um conto meiguinho. Obrigada a quem leu até aqui!
Merci pour la lecture!
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