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O diabo

Não. Não. Não.

Rock lee fechou a terceira lata de lixo que encontrou se sentindo estúpido, mas não menos desesperado. Seus gritos atravessando a imensidão escura entre os prédios da rua.

– Shukaku, cadê você?!

[...]

Já era tarde da noite e havia chegado do trabalho exausto para mais uma vez encontrar sua casa virada do avesso.

Lee não conseguia se importar mais com os farrapos da cortina logo na primeira semana, mas agora a capa do sofá já estava começando a soltar espuma e a caixa de cereal que havia deixado em cima do balcão estava caída com os flocos espalhados igual um campo minado de açúcar pelo chão.

Esfregando as têmporas, ele se escorou no batente da porta de seu pequeno apartamento e deu um bocejo.

Lee estava cansado.

Não conseguia fechar os olhos sem arriscar cair no sono, isso porque não fazia outra coisa da vida além de trabalhar. Era trabalhar no escritório, era trabalhar na academia, trabalhar limpando a casa e, cara... Ele só queria dormir.

Dormir era o maior de todos os trabalhos porque, como era possível relaxar com uma gritaria na porta do quarto? Ou com arranhões e chutes no nariz? Ou pedindo a deus pra conseguir respirar com um bololô deitado em cima da sua cabeça?

Não, Lee não tinha um filho. Lee tinha um gato.

Melhor dizendo, Lee tinha um demônio peludo e gordo que ele carinhosamente chamava de "gato".

Pelo menos, achava que tinha.

– Shukaku... vem comer. – Chamou, esmorecido, pegando a vasilhinha que estava de cabeça pra baixo no meio do corredor.

Ah não... Ele tinha esquecido a porta do banheiro aberta. Todas as toalhas estavam jogadas pra fora do armário e havia confete de papel higiênico por todo o canto. Não dava nem para enxergar o chão.

Chamou de novo pelo gato. Nada.

Shukaku não era só um demônio, era um demônio atrevido.

Geralmente quando chegava em casa para se deparar com a tentativa de apocalipse, o bichano estaria sentado de frente à porta.

De início Lee achou bonitinho e se sentiu lisonjeado por parecer que tinha alguám esperando-o chegar do trabalho, mas isso até o gato mostrar os dentes na direção dele e só então reparar em todas as coisas que estavam destruídas.

Lee ia brigar e reclamar e só então Shukaku levantaria a cauda e sairia andando até a almofada mais próxima, como quem diz "não é problema meu".

Era só um afronte.

Com o tempo, Lee vinha se cansando de brigar para nada. Até porque era um gato.

Ele nunca teve gatos, e estava aprendendo da pior forma que um gato coagido não baixa as orelhas e nem bota o rabinho entre as pernas. Um gato só olha de volta, com os olhos afiados, e volta a fazer o que estava fazendo.

Lee pensou que se mantivesse os cômodos fechados e as coisas escondidas evitaria a fadiga. Mas o problema é todo o resto. Tudo o resto. Tudo. Era como dividir abrigo com uma bomba relógio.

Mas, onde estaria esse gato?

Nem mesmo o barulho da latinha de ração sendo aberta funcionou e, com sono demais para raciocinar a respeito, Lee só jogou na tigelinha e foi tomar um banho. Quem tem fome uma hora aparece.

Quando a comida permaneceu intocada por um tempo suspeito, Lee começou a procurar o gato em todos os cantos que o bicho já se meteu: de baixo da cama, dentro do cesto de roupas sujas, no armário, no cantinho entre a geladeira e o fogão, atrás do sofá...

Shukaku não estava em lugar nenhum.

Foi então que viu a ventoinha da cozinha aberta e... Aquele gato gordo podia passar por um espacinho tão pequeno?

Se inclinando no espaço da janela, Lee viu que não ficava completamente impossível de se alcançar o chão, principalmente se você fosse um gato. Afinal, morava no térreo.

Onze da noite e Shukaku havia aprontado essa.

Mas, pensando bem, talvez fosse... bom?

Porque jamais teria coragem de se livrar do cramunhão. Talvez essa fosse a chance do bicho simplesmente sair de perto e ele poder fingir que nunca teve um gato na vida?

Sim, sim, era bom demais pra ser verdade mas, e se fosse... ruim?

Lee olhou por um momento para a vasilhinha abandonada com comida no canto da cozinha e passou a mão lentamente pela lateral do seu pescoço.

Quanta bobagem.

Podia dizer (pensar) que Shukaku era o diabo, mas sabia que era só um gato. Um gato gordo, doméstico, com oito anos de idade que passou por muita coisa e merecia ficar em paz.

Não existia maldade, era só um bichinho com muitas vontades e mania de chamar a atenção. Um bichinho com um temperamento difícil e um nível de tolerância bastante curto também, mas ainda um bichinho.

Sobretudo um bem covarde, que se assustava fácil e não tinha a menor experiência com os perigos da rua. De uma rua bem gelada, como a da noite de hoje.

Shukaku podia não saber voltar pra casa. E se ele se deparasse com algum animal maior? Se batesse de frente com um cachorro? Ele podia ser fofinho, mas a maioria das pessoas não gostava muito de gato. Talvez fosse atropelado. Envenenado.

Sem perder mais tempo, Lee buscou o casaco no cabideiro e saiu apressado pela porta.

Como Shukaku era castrado, não devia ter ido muito longe. Se tivesse fugido a pouco tempo antes dele chegar talvez pudesse encontrar o gato miando debaixo de algum carro ou dentro de algum arbusto.

Era precisamente por isso que estava até agora revirando cada árvore, lata de lixo, beco e buraco que conseguia encontrar.

E nada.

Próximo a uma da manhã Lee estava de volta em sua cama, se remexendo e batendo a cabeça no travesseiro em frustração. Pela primeira vez em meses poderia ter sua primeira noite de sono plena e tranquila, só que não estava sendo nem plena nem tranquila.

Ele não conseguiu dormir.

[...]

– Tenten. – chamou, estendendo um cartaz com uma foto do gato – Você acha que pode tirar cópia disso aqui pra mim na impressora do financeiro?

Era só um "procura-se" mesmo. Lee não tinha dinheiro para oferecer uma recompensa, então torcia para que a pessoa que porventura o encontrasse simplesmente se sentisse grata por descobrir um lugar onde pudesse se livrar do coiso.

Estava próximo do meio-dia então havia toda essa movimentação ao redor de funcionários ansiosos por qualquer distração para esticar até o horário de almoço. Naruto foi o primeiro a reclinar na cadeira e olhar por cima da bancada.

– Oh, cara, você tá péssimo. – comentou – Aconteceu alguma coisa?

Tenten pegou a folha, a expressão no rosto dela suavizando no momento que colocou os olhos nele.

– O shukaku fugiu? – perguntou.

– Sim! E eu não posso sair pra procurá-lo até a noite, estou preocupado.

Neji permanecia digitando o que quer que fosse no computador, mas completamente atento à comoção que havia acabado de se formar em torno dali.

– Achei que você odiasse esse gato. – apontou.

Lee o encarou como se tivesse sido acusado do maior dos absurdos.

– Ele que me odeia. E eu não sei porque! Eu comprei uma caminha nova, comprei até uma bolinha pra ele brincar...

Tenten ergueu uma sobrancelha.

– Lee, você sabe que um gato não é um cachorro?

Claro que Lee sabia! Bom, de início não sabia, mas também já tinha aprendido essa lição do jeito mais difícil.

– Achei que só precisava dar carinho e amor, mas ele me odeia, me arranha e quebra minhas coisas. – choramingou por cima da sua mesa. – E agora fugiu de casa!

– Por que foi que você pegou um gato, se não sabe lidar com um bicho desses?

– Eu não tive escolha! Era isso ou...

– Peraí, sobrancelhudo. – Naruto interrompeu, mostrando a tela do celular – Esse aqui não é o seu gato?

Estava aberto no twitter, um post que dizia "Esse gato apareceu aqui em casa ontem a noite, dei comida e deixei a porta aberta. Até agora não foi embora."

Lee quase riu da ingenuidade de Naruto quando passou pela parte do "É mansinho e preguiçoso" escrito antes da pessoa finalizar perguntando se era de alguém, mas haviam linkado duas fotos a seguir. Era Shukaku.

– É o meu gato!

Quer dizer que o bicho estava no bem-bom enquanto ele se estropiava madrugada a dentro preocupado com ele?

E quem era esse cara? Como ele havia conseguido que Shukaku deitasse no colo dele sem sofrer um atentado? Do jeito que o gato estava, esparramado de barriga pra cima nas fotos, realmente parecia mansinho e preguiçoso.

Com Lee, que deu casa, comida e roupa lavada era só humilhação e agressão. Isso era justo?

Duas caras! Mal agradecido!

– Você conhece esse cara? – Lee perguntou, verificando a arrôba estranha e a foto de perfil que parecia uma galáxia. Sem nome, sem identificação. Um fake. Era ao menos um cara?

– Sim! – Naruto afirmou. Era um cara. – O Gaara é um amigo antigo. Posso pegar o endereço para você ir buscar o Shukaku, se você quiser.

Péssimo. Horrível. Devastador. Agora que sabia que o gato estava confortável e havia encontrado outra vítim... Dono. Havia encontrado outro dono, um dono preocupado e cuidadoso... Shukaku parecia feliz, então Lee havia pensado seriamente em entregar pra Deus, mas...

Ele olhou ao redor e todos os amigos o observavam, em expectativa.

– Por favor, faça isso. – pediu, derrotado.

[...]

No fim das contas o tal amigo do Naruto era seu vizinho. Não exatamente vizinho, mas morava a três casas de distância e infelizmente estaria em casa naquela noite.

Lee demorou alguns minutos de frente ao portão, recobrando a consciência e tentando recolher os caquinhos de coragem que havia deixado cair desde que marcou aquela visita.

Trouxe a caixinha de transporte, que Shukaku odiava, uma manta grossa para tentar neutralizar as garras, que Shukaku também odiava, e segurando todo esse aparato havia Lee, que Shukaku odiava acima de tudo.

Por que ele não podia simplesmente deixar quieto?

Lee respirou fundo, folgou um pouco a gola da camisa pólo e esperou a porta se abrir para cumprimentar quem quer que o atendesse com um sorriso confiante.

– Olá! Eu sou...

E como é que podia descrever quem atendeu?

Se fosse pra ser sincero, pensou no tipo de delinquente que se andasse junto na escola sua mãe nunca mais iria deixar sequer sair de casa. Mas Lee imediatamente se censurou do que poderia ser ofensivo demais.

Sobrancelhas descoloridas no branco, as orelhas tomadas por brincos, os braços por tatuagens. Um contorno escuro forte ao redor dos olhos extremamente claros.

O cabelo dele era vermelho demais para ser natural e caía por cima das orelhas desordenadamente por todo canto. Vestia uma camiseta surrada mais cinza do que preta com algum logo de banda que era completamente impossível de decifrar.

Lee tinha certeza que o arrepio que percorreu sua espinha foi de medo, e talvez de vergonha quando o outro (também) o observou da cabeça aos pés, se demorando um pouco nos pés provavelmente por conta do par de crocs.

– É o dono do gato? – o ouviu perguntar, com uma voz grave e rouca que casava perfeitamente com a expectativa visual.

Meu deus, tem um piercing na língua também.

Lee piscou forte, tentando não parecer tão bobo quanto achava que parecia. O outro homem subiu os olhos até o seu rosto e a súbita atenção quebrou sua divagação.

– Eu sou Rock Lee! Me desculpe pelo horário! Vim correndo depois do expediente.

– Gaara. – ele retornou, sem estender uma mão em cumprimento nem nada. Só abrindo um pouco de espaço para dar passagem – Pode entrar.

Lee cautelosamente agradeceu, tomando extremo cuidado para não tropeçar no meio do caminho.

No canto da sala estava o meliante. Acuado, as orelhas em pé e o ódio no olhar. A ponta do rabo balançando devagar como se fosse uma cascavel pronta pra dar o bote.

Ele engoliu a saliva e pegou a manta para agarrar o gato de uma vez e dar o fora dali. O olhar atento de uma terceira pessoa só fazia deixar tudo dez vezes mais constrangedor do que já seria normalmente.

Lee deu um passo adiante, mas gelou assim que Shukaku silvou pela primeira vez.

Gaara permanecia em silêncio de braços cruzados.

– É que... Ele não gosta muito de mim. – achou por bem explicar mesmo que o outro tivesse dito nada.

Ele tentou agarrar o gato com agilidade, mas Shukaku miou, esperneou, levantou as 4 patas e se prendeu com todas as garras em sua mão, dando uma dentada em cheio.

Doeu igual o inferno.

– Caramba! Shukaku, por que você faz isso comigo?!

Lee só queria pegar o gato, agradecer a gentileza e sumir para sempre da frente daquele homem. O peso do olhar dele nas suas costas estava começando a formigar.

Por que sempre tinha que se meter em presepadas como essa? E por que esse cara tem uma tatuagem na testa? Isso não faz sentido nenhum! Ao menos dá pra arranjar emprego com...?

– Você tá sangrando. – Gaara comentou.

Lee olhou para baixo e reparou o filete de sangue grosso escorrendo pelo seu antebraço, pingando tantas vezes no assoalho alheio.

– Ah, eu peço desculpas! – aproveitando a distração dele, o gato fugiu pra uma prateleira, se empoleirando todo desconfiado. – Shukaku!

Talvez Gaara tenha feito isso para evitar que fizesse uma sujeira ainda maior, talvez tenha feito pra conduzi-lo educadamente até a porta e colocar pra fora aquele maluco abusador de gatos, mas o fato é que ele estendeu a mão até o braço machucado.

Ou, pelo menos tentou, porque assim que se aproximou Lee se esquivou, como se a possibilidade do toque ardesse mais do que o próprio ferimento.

O que não foi estranho. Nem um pouquinho.

Absolutamente não fazia Lee ter vontade de desintegrar no ar com o silêncio que se instaurou depois disso.

– Você também é meio arisco, não é? – ele sentiu o sangue subir até a ponta de suas orelhas com a pergunta. Gaara apontou para uma porta aberta no fim do corredor. – Precisa lavar isso antes que infeccione.

Por mais limpinho e doméstico que fosse, animais e sangue nunca eram uma boa ideia, ele sabia, não era criança. Por isso saiu marchando todo duro em direção ao lugar indicado.

Com o contato doloroso do sabonete na ferida aberta, Lee se sentia cada vez mais desmotivado. Só queria que Shukaku fosse um pouco mais fácil e não precisasse fazer papel de bobo.

Quando voltou à cena do crime, Gaara passava um pano umedecido no chão.

O que era pior de tudo era que era impossível prever o que ele estaria pensando, mas não era tão difícil se colocar no lugar de quem acabou de receber um cara aleatório com um corte de cabelo ridículo que não conseguia lidar com o próprio gato maluco, sangrando no meio da sua sala de estar.

– Ele faz isso a muito tempo?

Lee suspirou profundamente.

– Desde que eu o adotei.

O outro homem permaneceu quieto e levantou de onde estava agachado.

– Posso tocar em você agora? – ele perguntou, assim do nada.

Lee travou o maxilar na mesma hora.

Nunca teve problemas com a aproximação de ninguém, na verdade era o primeiro a se pendurar no ombro dos outros ou abraçar quem não tinha intimidade, mas, mas hoje...

Lee estava cansado de parecer um esquisito, sendo assim só balançou a cabeça em uma afirmação forte.

O outro buscou novamente pelo braço ferido, suas unhas lascadas pintadas de preto em um contato leve com a pele.

Apesar da aparência agressiva Gaara era só... calmo.

O que ia diretamente de encontro à qualquer motivo que explicasse porque o toque dele fazia o sangue de Lee correr mais rápido.

– Por que adotou um gato que faz isso com você?

A pergunta foi precedida de uma pausa, sem muita dificuldade para reparar as tantas feridas anteriores e mau cicatrizadas que existiam além da nova.

Lee se sentiu aliviado por não parecer que era um abusador de gatos, porque não sabia se conseguiria explicar a razão de tudo aquilo. Mas não era isso que Gaara estava interessado em saber.

– Eu tinha uma vizinha. – começou, meio incerto – Uma senhorinha italiana. Sempre pensei que o nome dela deveria ser Geovanna, alguma coisa assim. Ela só pedia pra ser chamada de Geo. Acho que era muito sozinha, por isso vivia deixando bolos na porta lá de casa ou pedindo favores bobos como para pegar algo na prateleira que ela não alcançava, ou alimentar o gato quando estivesse fora. – Lee olhou por um momento para onde Shukaku ainda estava, antes de continuar – Meus pais não moram perto, então era uma boa companhia e ela estava sempre cuidando de mim. Aiaiai. Calminha aí.

Gaara estava passando uma pomada sem muito do cuidado que esperou que tivesse. Ou isso ou era uma pomada de sal com vinagre porque doía como se tivesse cortando mais uma vez por cima.

Lee quis puxar o braço de volta, mas sentiu um arrepio quando o outro começou a soprar por cima do molhado para aliviar a dor.

O que dava mais raiva era que ele estava tremendo q nem um pinscher por causa de nada, absolutamente nada, enquanto o outro homem continuava completamente normal.

Gaara o olhou quando a pausa durou tempo o suficiente e Lee desviou o rosto, continuando a história.

– N-No mês passado, cheguei em casa do trabalho e... Enfim, havia uma... Movimentação na porta do prédio. Policiais, tudo o que você pode imaginar. A senhora Geo teve um ataque cardíaco durante a tarde. Ela faleceu. – ele reparou um sulco entre as sobrancelhas descoloridas do outro, mas nada disse sobre – Ela era realmente sozinha, sem marido, sem filhos... Parece que encontraram uma irmã, mas não encontraram ninguém que quisesse o gato.

Na prateleira Shukaku ainda permanecia atento a todo mundo lá embaixo, como se soubesse que estavam falando dele. Gaara, que havia terminado sua tarefa, ainda escutava.

– Shukaku viveu a vida inteira com ela, desde que era filhotinho. Disseram que se ninguém quisesse ele seria mandado para um abrigo e eu pensei... Ele já é idoso e tem nenhuma raça em especial, gato único... seria muito difícil pra ele a convivência com outros animais e mais ainda um processo de adoção. Então...

– Você ficou com ele.

Lee balançou a cabeça em afirmação.

– Shukaku sempre foi meio mandão e cheio de vontades. Mas quando morava com ela, ele se enroscava nas minhas pernas, deixava fazer carinho, chegar perto que fosse... Agora parece que passa o dia planejando formas de me matar. Ah, eu não acredito que um gato possa ter qualquer sentimento de ódio ou vingança, nada disso. – justificou antes mesmo de ser acusado – Quando se mudou lá pra casa Shukaku passou três dias escondido embaixo da cama, sem querer comer. Acho que tudo isso deve abalar um animalzinho tanto quanto abala a gente, não é?

– Já pensou em dar o gato pra outra pessoa?

– Eu não conheço ninguém no momento que teria paciência ou interesse de lidar com ele. Dar para um desconhecido está fora de questão! – completou com firmeza.

Gaara limpou as mãos na própria camisa desbotada, reparando a ponta do rabo do gato ainda se movendo de maneira ruim.

– Você não vai conseguir pegá-lo agora. – atestou.

– É, acho que não vou. Ele pode ficar com você essa noite?

– Não posso ter gatos. Meu irmão é alérgico.

A resposta imediata fez o sorriso que Lee iniciou ir morrendo lentamente no seu rosto como a chama de uma lamparina sem combustível. O flashback de sua vida toda correu diante de seus olhos quando segurou mais uma vez a manta.

Mas Gaara não ficou pensando e nem esperando que recomeçassem a próxima batalha. Andou até a mesa mais próxima e pegou um molho de chaves e o celular, colocando no bolso, antes de parar diante a expressão confusa do outro e esclarecer:

– Eu vou com você. Vou levar o gato. Precisa de uma carona?

Lee piscou duas vezes até de processar toda a ideia.

– Não, eu... É logo ali na esquina. Mas eu não acho uma boa ideia! Ele pode te...

Gaara ofereceu a mão para Shukaku cheirar e o gato simplesmente baixou as orelhas e esfregou a cabeça contra os dedos dele, baixando a guarda totalmente.

– Mas, mas... Por que? – ele choramingou, embasbacado.

Gaara pegou o gato no colo como se não estivesse manuseando o próprio demônio e buscou uma caneta, anotando um bilhete em cima da mesa.

– Não faço ideia. – Quando passou ao lado de Lee foi mais assustador ainda. Shukaku estava ronronando? – Vamos?

Não era apenas o gato ou a situação, Lee também estava despreparado para receber qualquer pessoa em seu apartamento. Ainda não teve tempo de limpar o último ataque de fúria felina, só tinha varrido todo o chiqueirinho para um canto e deixado lá.

A sala/cozinha continuava um caos, mas Gaara não comentou nada sobre. Entrou e colocou o gato em cima do sofá, onde Shukaku já ficou de prontidão, alarmado por reconhecer seu próprio território.

– Seu celular. – Gaara pediu e precisou repetir quando Lee demorou para processar o que sua mão estendida significava. Ele pegou o aparelho e digitou o próprio contato, antes de devolver. – É o meu número. Está muito tarde agora, mas você está livre no fim de semana?

Lee, que ainda estava agindo como convidado dentro da própria casa, corou violentamente com a casualidade do pedido.

– E-Eu? Pra quê? – Gaara havia feito uma pergunta simples, não era pra ser tão difícil de responder – Estou, eu acho.

– Me mande uma mensagem. Vou te ajudar.

– Ah, mas... Tem certeza? Você não precisa se....

– Eu moro logo ali na esquina. – respondeu, com as mesmas palavras que tinham sido ditas anteriormente. Poderia ser em um tom sarcástico, mas na voz de Gaara apenas soava sincero. Ele pausou em seu caminho. – A não ser que você não queira...

– Não, não, não! Eu quero sim! Quero muito!

Lee calou a boca de repente e prendeu o ar se sentindo constrangido em outro daqueles silêncios compridos e pesados.

Sua autopercepção ficou completamente balada e seu estômago gelado, principalmente porque, depois de tudo, Gaara sorriu.

Até então Lee chegou a pensar que Gaara fosse fisicamente incapaz de levantar os músculos dos cantos da boca, mas disso ele riu.

Ah, que droga.

– Mande mensagem, não ligue. – reiterou

Depois que Gaara saiu Lee ainda ficou um tempo plantado no chão, encarando o número salvo na galeria de contatos, com o coração em polvorosa no peito e engrenagens pegando fogo na cabeça.

O que foi que acabou de acontecer? Ele tinha arranjado um encontro? Como isso escalonou até um encontro? Ele deveria mesmo interpretar como um encontro? Claro que era sobre o gato, mas era sobre ele também.

Inferno de vida. Desgraça na terra. O que ele deveria fazer?

Shukaku observava tudo de onde havia montado o posto de guarda, com grandes olhos amarelados.

– Você viu isso? – perguntou, como se o bicho pudesse responder.

O gato saltou do sofá, miando longo e grave, em protesto.

Lee soltou os ombros junto com um longo sopro de ar, voltando à sua própria realidade.

– Sei... você quer comer.


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Notas finais:

Sim, essa fic foi inspirada naquele print de twitter recente que um gato fugiu de casa e foi ser folgado em outra casa kkk

O próximoe último capitulo deve ser postado amanhã (se a minha internet ajudar)

Um agradecimento especial a mi amore @Rita_Gomez_ que elucidou esse plot que eu não tinha sequer pensado que encaixava no ship. Obrigado meu anjou <3

Obrigado a você também por ter acompanhado até aqui. Não esqueça de clicar na estrelinha e deixar um recadinho se estiver gostando.

1 Avril 2022 15:19 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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