Ela me disse uma vez que eu não deveria me aproximar da beirada. Sempre testar o solo, olhar para frente e para trás antes de dar o próximo passo. Eu imaginava se em algum momento ela esteve tão ciente da sua situação, éramos muito próximas com certeza, em noites de insônia, felicidade, tristeza e calmaria. Sempre que possível conversávamos durante horas ou somente minutos, mas apenas isso me bastava.
Depois tentava fechar os olhos e pescar todo o sono que sentia durante a manhã inteira, a não ser nos dias em que eu dormia conversando com ela. Nesses, não durava 10 minutos com os olhos abertos, ainda mais numa conversa construtiva. Sim, construtiva e educacional, mesmo que eu pensasse que ela gostava do quanto minhateimosia sempre me fazia voltar com as orelhas abaixadas, esperando pelo próximo sopro de palavras e o arrepio cortante que sentia na alma.
Nossas noites eram tudo o que me restava, às vezes tinha um ou dois convidados especiais, apesar de um sempre estar no meu abraço mesmo não participando do diálogo entre nós duas. Era importante tê-lo perto quando sabia que não suportaria tudo sozinha. Por isso que ao dormir ainda o mantinha em meu abraço e dali extraia meu suspiro de esperança e tranquilidade.
E são por essas razões que quando os dois se foram me senti no meio de um circo, onde todos ao redor gargalhavam da minha ingenuidade e se satisfaziam com o meu clamor de rendição. Queriam me ver cair mais na minha própria eloquência, pois a admiravam, ao mesmo tempo, em que queriam-na me engolindo na loucura que apenas eles eram capazes de transmitir.
Ela foi primeiro, a culpa não foi sua afinal, quando me mudei não pensei que ficaríamos longe. Mas como poderia imaginar tal cenário, eram grades que prendiam de vê-la e a cobertura que escondia sua luz de encontrar-me. Acreditei que não ficaria bem, mas ao ir do lado de fora consegui senti-la em mim de novo e então minha necessidade era curada pelo vento que continha suas palavras. A partir dali, sempre uma frase ou até mesmo uma só palavra, mas era o que me sanava dela.
Pouco tempo depois o perdi, o deixei sair do meu abraço. Esse sim, teve exclusividade da minha culpa. Eu não pretendia, nunca se pretende perder aquilo de mais importante. Porém, em um momento de descuido o soltei de meus braços e quando me levantei para ir embora, distraída com os pensamentos nos mais variados problemas, o deixei para trás. Só fui me dar conta tarde demais, quando já não havia nem mesmo um átomo de esperança de encontrá-lo. E acho que essa foi a segunda vez que o meu choro foi tão sentido e doloroso.
No resto dos tempos, tive dificuldades em dormir sem ele no meu abraço. Durante noites seguidas o meu choro foi silenciado pelos travesseiros e meu corpo acolhido pela coberta, que apesar de me acalmar, também era o gatilho para as lágrimas dançarem nos cantos dos olhos. Era assim que lembrava que agora estava sozinha e por conta própria num mundo onde não tive chance de receber o jardim de tulipas com o qual sempre amei e sonhei, mas estava presa no meio das detestáveis rosas e seus espinhos.
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