Por agora, conhecer quem sou não é tão importante, mas, quero contar uma história que me marcou… então, vamos a um ano carregado de tudo um pouco.
Mês de Janeiro
Que sensação estranha, pensava o rapaz, olhando, em silêncio, para o teto branco do quarto bagunçado. O dia estava quieto e solitário, como sempre, uma lágrima chorosa se aventurava na face do jovem, ele aceitava o fato de ser só. Era apenas mais uma pessoa... Sem amigos ou amores, com a família quebrada, como um copo que encontrou o chão após uma briga.
No quarto ao lado, a irmã mais nova, de quinze anos, entregava-se a migalhas de atenção, por um rapaz qualquer que lhe dizia coisas bonitas, a moça aceitava aquelas frases e sorria boba, mesmo sabendo que talvez não fosse real, agarrava-se àqueles sentimentos superficiais. Deitada na cama de solteiro, coberta por uma colcha rosa, ela posicionava a câmera para mais uma selfie.
O irmão mais velho estava no banheiro, chorando em silêncio, sua mente lhe torturava com frases ácidas do seu pai, dizendo para ele como era diferente e não fazia nada certo. Perdendo o ar pelo choro forte, segurava-se para não fazer barulho... Não podia gritar sua dor, sentia-se confuso, lembrando da sensação de liberdade que tinha fora de casa e queria sentir aquilo a todo momento, mas, em seu interior, tinha uma pequena voz, uma bem amargurada, que lhe chamava de egoísta por pensar só em si.
Na cozinha, com uma garrafa de whisky, o patriarca da família bebia na esperança de esquecer, queria tirar da memória a traição que havia feito à esposa, foi levado pelo momento e dormiu com uma mulher que tinha conhecido no bar. Pensava no casamento de vinte anos e de tudo pelo o que eles passaram, a culpa o consumia, tentava pensar no que fazer, se contava ou não à mulher que esteve sempre ao seu lado, a mulher que batalhava em uma empresa, em seu alto cargo, para sustentar a família, contar que a havia traído...
A mãe... estava tão ocupada com papéis que não pensava nada de diferente.
Dentro da casa perfeita havia uma família quebrada. O rapaz sem amores permaneceu no chão do quarto, ouvindo música, soltando lágrimas fujonas e pedindo a qualquer ser que governava o futuro das coisas uma mudança, pedia baixinho um amor para mudar seu pequeno mundo. Queria sentir algo real antes de ser velho demais e incapaz.
Mês de Fevereiro
A sala de aula parecia fria como um frigorífico. Congelando sonhos e carnes. O garoto sem amores observava o quadro ao mesmo tempo em que o professor se esforçava para explicar sobre fanatismo religioso, havia murmurinhos e debates sem base ou conhecimento sobre o que seria religião. A atenção do rapaz de cabelo castanho bagunçado foi despertada pela batida na porta.
A sala ficou em silêncio e nenhum daqueles alunos fez gracinhas, temendo ser a diretora do colégio estadual, que botava medo em qualquer aluno bagunceiro. Para o alívio de alguns, era apenas a coordenadora trazendo mais uma aluna para a sala, com sua calça preta, cabelo liso e testa tampada pela franja, a moça encarava a sala com um olhar amigável.
Naquele momento, o rapaz sem amores... se tornou um rapaz confuso. Quase ninguém devia ter percebido, mas ele viu. O cordão de Star Wars brilhando sobre a blusa de uniforme, é fácil achar adolescentes que são fãs de Harry Potter, Percy Jackson ou Corte dos Espinhos, mas achar fãs verdadeiros de Star Wars, que entendiam o significado daquele cordão, encontrar fãs que iam além da modinha de um filme novo, era difícil. Aquilo chamou a atenção do rapaz, sentiu a necessidade de conversar com ela e se aproximar.
Após uma breve apresentação, vergonhosa, que o professor de história pediu para a moça nova, ela sentou em uma cadeira qualquer do outro lado da sala, em oposição ao lugar do rapaz confuso.
Ele a olhou,
Ela o encarou de volta,
Ele ficou nervoso e
Ela sorriu.
Quase um clichê de filme...
Merci pour la lecture!
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