Kon podia sentir o sangue pulsando em seus ouvidos, seus ombros tensos e as mãos calosas com os nós dos dedos abertos e manchados. Sua noite não havia saído como o planejado.
Clark não havia aparecido para buscá-lo na casa de seu outro pai, Lex Luthor, ele sabe que não foi a intenção, o trânsito do aeroporto para o condomínio de Lex é um dos piores horrores para um cara como Clark que cresceu em uma cidade minúscula, como Smallville. O que resultou em uma ligação nada animadora com seu pai dizendo que iria se atrasar, mas que ambos ainda poderiam se encontrar na lanchonete que ele havia prometido, era apenas pegar um Uber e pagar com o cartão de crédito dele.
Nada realmente complicado. Ou não teria sido se seu carro não tivesse sido assaltado. Sim, um assalto. O que para os padrões de Metrópolis , era totalmente anormal, Dick estaria rindo e zombando dele em Romani, pelo simples fato dele ter conseguido ser assaltado em um lugar que não seja Gotham. O cara tem que entender que Gotham é um lugar que você sempre vai acabar sendo roubado, essa cidade simplesmente faz isso, não importa onde você more, seja no Bristol ou no Crime Alley, até Pai Lex uma vez teve esse infeliz encontro em uma gala.
De qualquer forma... Pai Clark daria um longo sermão mais tarde quando visse seu estado, trocar alguns socos com seu assaltante e então fugir para a praia, não era algo inteligente a se fazer. Seus pais iam ter três ataques cardíacos, então brigariam um com o outro, ao modo deles, o que resumia em Pai Lex rosnando enquanto anda de um lado para o outro descontando tudo em Clark, que responderia sentado no sofá daquele modo que você não sabe se tem pena ou se tem raiva.
Seus pais nunca foram um bom casal de qualquer forma, Pai Lex é... um pouco ruim nos âmbitos do amor. Pai Clark é um pouco bonzinho demais e meio teimoso também.
Kon não ficou exatamente feliz com o divórcio quando ele tinha 12 anos, mas com certeza foi a melhor escolha possível, Clark é feliz com Lois e agora ele tem seu irmãozinho, e Lex tem todo o tempo que ele quer dedicar a empresa, além de ter um caso ou outro por aí, que os jornais nunca conseguem realmente confirmar e Kon não os confirma por pura preguiça e falta de interesse em saber com quem seu pai anda transando.
Desde que ele não os pegue no sofá da sala, Kon está mais do que bem com isso.
“Okay, eu deveria tentar ligar para outro Uber e passar em uma farmácia”, ele diz em voz alta apertando a ponte do nariz de um modo que o fez lembrar de Clark.
Ele se sentou em uma rocha na praia deserta que, imprudentemente, havia resolvido andar e pescou seu celular do bolso da calça jeans para chamar um novo Uber e tirar seu atraso, quando algo no mar chamou sua atenção. O reflexo da lua cheia estava ali deslizando nas ondas calmas da maré alta, era uma imagem comum, nada que ele não tivesse visto um milhão de vezes em fotos, ou quando ele estava caminhando com suas ex-namoradas, Cassie e M’gann, nada realmente impressionante, mesmo que hoje estivesse gritando por uma fotografia, de alguma forma, a lua parecia diferente, mais brilhante talvez? um pouco azulada? ou estava maior?
Talvez estar sozinho aqui tenha dado um novo brilho ao lugar?
Kon não sabia, mas com certeza era uma visão digna de ser imortalizada. Se ao menos a câmera do seu celular cooperasse (ou ele não tivesse recusado trocar por um novo quando Pai Lex ofereceu, além dele ser péssimo fotógrafo de qualquer forma). Seus olhos se prenderam aquela paisagem, enquanto esperava algum motorista o atender via aplicativo, as ondas iam e vinham calmamente quebrando contra a orla rochosa e coberta de areia, seus olhos se mantiveram ali quase hipnotizado demais para perceber o leve movimento da água, até que ele percebesse que algo havia se movido próximo as rochas afastadas, algo pequeno, mas com certeza estava se mexendo.
Algo que resplandeceu abaixo da luz lunar, como uma mancha de petróleo, mas estranhamente viva demais para ser ignorada (mesmo que não houvesse poluição na costa de Metrópolis, Pai Lex havia investido muito para deixar todas as praias limpas, depois que ele teve uma paranoia paterna quando ele tinha 4 anos), foi então que a mancha se levantou e bateu na água salgada mostrando barbatanas... barbatanas... definitivamente, barbatanas.
O garoto respirou fundo e enterrou o rosto nas mãos, contando até dez calmamente, ele tinha absoluta certeza que não foi drogado, e nem havia se drogado, ele nem ao menos bebeu. Então ele está alucinando, ótimo, exatamente, absolutamente ótimo. Kon não tem ideia do que pode ser pior, estar alucinando com a cauda de algo que se parece uma sereia, ou estar drogado, ambas parecem péssimas, principalmente quando seus pais são tão preocupados quanto pais de primeira viagem lidando com cólicas de bebê.
Deus o perdoe, mas se ele tiver que lidar com Clark ou Lex em seu modo preocupado, ele com certeza vai se mudar para casa dos avós no Kansas.
Mais uma respiração profunda e seus olhos se voltaram ao ponto que a cauda longa, grossa e azul com escamas que brilhavam como petróleo ao luar estavam antes, os deuses devem estar com pena de seu pobre psicológico abalado pelo assalto, já que não há nada lá dessa vez, nem mesmo uma única escama.
“Ficar na mira de uma arma com certeza mexe com sua cabeça”, ele ri passando os dedos pelo cabelo ondulado. Em breve precisaria de um novo corte.
Antes que ele pudesse voltar sua atenção ao telefone e continuar sua busca por um novo meio de ir a lanchonete com seu pai, seus ouvidos foram capturados por um novo som, doce como se estivesse sendo dito diretamente ao pé de seu ouvido, um tenor forte e calmo, nem grave ou agudo, mas afinado, indo e vindo com as ondas, como uma canção tão antiga quanto o próprio tempo, uma melodia suave que o chamava, fazendo cada nota entrar em seu peito como um toque delicado o seduzindo-o a ir de encontro a sua origem.
Tenho a flecha do cúpido.
Conner mal sentiu seus sapatos ficarem encharcados.
A riqueza é ilusão, e só pode consolar-me, meu marujo alegre e bom.
Ou as ondas se chocarem contra suas canelas.
Venham todas belas damas, aqui deste lugar.
O vento frio não foi registrado.
Que amam um bravo marujo, cruzando o alto mar.
Ele nem ao menos se importou com a areia arranhando sua pele.
Tenho a flecha do cupido.
E o sabor do sal em seus lábios não parou seu corpo.
A riqueza é ilusão, e só pode consolar-me, meu marujo alegre e bom.
O som continuou, reverberando como um encantamento lindo, quente e confortável em seu coração, se enredando em cada célula de seu corpo, o fazendo vibrar com cada nota, vibrato, bemol e sustenido, seu corpo cantava em harmonia com aquela canção e não havia nada que o pudesse deter.
Tenho a flecha do cupido.
Suas mãos o levantaram para subir na formação rochosa, seu corpo estava encharcado, pingando água salgada, mas seus olhos permaneceram fixos na mais bela criatura que ele já havia visto, nem Cassie com seus longos fios loiros ou M’gann com seus cativantes olhos verdes haviam sido tão lindas quanto o rapaz a sua frente era. Vestido em uma camisa social branca longa o suficiente para cobrir a metade suas coxas, com olhos azuis que literalmente brilhavam como um par de safiras calorosamente, um corpo pálido e esguio, sentado na rocha, com seus lábios abertos entoando o som que o havia trazido aqui.
A riqueza é ilusão, e só pode consolar-me, meu marujo alegre e bom.
O rapaz sorriu para Kon e algo em seu peito disse em um sussurro totalmente ignorável, que ele seria sua morte. Se Conner estivesse consciente, ele teria reconhecido o Merpeople das lendas e histórias, a sereia que com sua voz poderosa o havia trazido até aqui, mas Conner estava muito ocupado na névoa para se lembrar que assim que a sereia se entediasse, ele seria afogado e levado para as profundezas do oceano para servir de alimento para o Pod da criatura de sangue frio que o encarava com diversão através das pupilas fendidas.
Tenho a flecha do cupido.
Uma palma fria, mas seca se agarrou a sua, e outra se enredou na gola de sua camiseta, deixando os lábios de aparência macia do Mer próximos demais de seus ouvidos, cantando com graça seus comandos na língua mais antiga dos oceanos.
A riqueza é ilusão, e só pode consolar-me, meu marujo alegre e bom.
Entorpecido pela névoa que se agarrava a sua pele com cada ondulação na voz de seu lindo predador, Kon colocou as mãos na cintura do Mer, um toque quente que estremeceu a criatura com a diferença de temperatura entre eles. Com uma combinação graciosa de sons, eles valsaram sobre a rocha no oceano, dançando seguindo o compasso da canção interminável que nesse ponto havia passado de som para sua comunicação, seu idioma, seus movimentos, era uma parte de si mesmo acompanhados pela luz da lua que brilhava com intensidade sobre seus corpos, se refletindo nas safiras brilhantes de seu assassino de sorriso doce.
“meu marujo alegre e bom”.
A voz doce sussurrou selando seus lábios e o arrastando para a escuridão gélida das profundezas do oceano.
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Quando Conner Luthor Kent acordou, Pai Clark estava sentado na cadeira do hospital com uma expressão cansada, ele sorriu quando o viu acordado, mas o que prendeu sua atenção, foi o enfermeiro que verificava sua intravenosa.
“O marujo perdido acordou?”, ele disse em um tenor doce e reconfortante.
Seu Mer estava ali, lindo, com seus olhos de safira e sorriso doce.
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