A Arte de Permanecer em Silêncio Enquanto se Estica a Própria Vida Pela Ponta dos Dedos ou Apenas um homem cansado.
Aquele homem parecia cansado, mas não de um cansaço físico. Era vigoroso, pouco afeito a sorrisos, e com leve tendência a desobedecer ordens que julgasse frívolas. Era um cansaço da alma. Algo próximo ao desgosto. Mas mesmo assim, e talvez por isso, insistia em pegar maças do cesto, jogar uma para seu filho e pedir que ele a equilibrasse sobre sua cabeça.
Sim, senhor meu pai. Respondia o filho de Guilherme Tell, pouco antes de se abaixar e recolher as metades de outra maçã recém partida.
Aquele homem era um arqueiro, havia sido treinado para isto desde criança. Seus dedos tinham tantos calos por puxar o cordume, que há muito tinham perdido a sensibilidade. Era um homem sério, e quieto. Satisfeito consigo e considerava justo o que exigia dos outros. Ele não era melhor do que ninguém, então qualquer um podia fazer o que ele fazia; não era pedir demais um trabalho correto e no tempo certo. Soltava mais uma flecha, suspirava, evitava pensar, e atirava outra maçã para seu filho.
Sim, senhor meu pai.
Aquele homem não gostava de receber ordens, pois tudo o que era necessário ele fazia antes que o pedissem. Se pediram algo, era inútil, era algo que não merecia ser feito. Não tinha espaço no seu corpo e na sua casa para caber o ego de alguém. Percebeu que suava, que seus músculos estavam exaustos, que o céu que escurecia, que sempre haveriam maçãs, que sempre haveriam ordens inúteis, e inúteis dando ordens. Ele estava cansado. E jogava outra maçã para seu filho.
Sim, senhor meu pai. Mas até quando? Estamos aqui o dia inteiro já.
Ficaremos aqui até eu errar.
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