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Neste blog você encontra as histórias do Embaixador Secreto feitas na última semana da primeira Batalha da Embaixada de 2021. • Embaixador Secreto da Batalha da Embaixada, Maio de 2021. • Organização e revisão: ex-coordenadora (2018-2022) @karimy • Times: Caçadoras de Dragões versus Sociedade Literária


Non-fiction Déconseillé aux moins de 13 ans.

#BatalhadaEmbaixada #EmbaixadoresBr #EmbaixadorSecreto #EmbaixadaBrasileira
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Presente dado por @dracula - Amy

I

— A gente se vê amanhã — meu chefe se despede dando um aceno, com um sorriso que mal curva seus lábios, tão cansado quanto cordial. — Conto com você pra exterminar a papelada, Arnaldo.

Aquiesço, com um meio-sorriso nada convincente, vendo de canto os contornos da pilha de papéis empoleirada na minha mesa; o preço a se pagar por ter aceitado cobrir o turno de um colega nada pró-ativo, para dizer no mínimo.

Encaro a papelada sem entusiasmo, organizando os documentos em ordem alfabética antes de transcrevê-los, tendo como única companhia um ventilador de hélices empoeiradas, largado ao canto da sala. Ele ressoa lamentos toda vez que se move, fazendo um ângulo quase perfeito de cento e oitenta graus. Às vezes sopra meu rosto e me faz sentir a boca seca, noutras ameaça fazer os papéis voarem por toda a sala, mas sequer faço menção de desligá-lo.

Os ponteiros do relógio parecem avançar com muito custo, e já sinto as pálpebras pesarem quando uma notificação mais que bem-vinda aparece em pop-up na tela do meu computador, renovando meus ânimos.

Aquilo era um chamado.

Além do trabalho de segunda à sexta, eu tenho uma missão. Sou uma espécie de Superman literário, com algumas pitadas de Batman: as chamadas que recebo online são meu bat-sinal, e eu escondo sob o uniforme da firma meu alter ego. Em suma, eu ajudo autores ao redor do globo a superarem seus bloqueios criativos.

Recebi alguns dons depois de ter comprado um livro antiquíssimo no sebo local. Suas páginas me revelaram mais do que a evolução da escrita através dos séculos, e me concederam o poder de guiar e instruir autores com uma maestria sobre-humana. Não parece tão entusiasmante quanto ser picado por uma aranha radioativa, ou ser um milionário que sai por aí combatendo o crime, mas, ei! É um trabalho mais que necessário, acredite.

E graças a ele consegui visitar alguns bons cantos do mundo sem ter que desembolsar uma grana absurda com passagens aéreas.

Estava mais que na hora do Clark Kent aqui tirar os óculos e botar a mão na massa! Alguém precisava de mim no interior de São Paulo. E à essa hora… eu só podia torcer para que não fosse nenhum texto de cunho erótico. Sempre me embaralho todo quando tenho que ajudar alguém com esse tipo de história.

Puxo meu uniforme de dentro da gaveta da escrivaninha, cambaleando pelo escritório enquanto me visto às pressas. Como todo bom super-herói, tenho que preservar minha identidade, oras!

E então, com um clique de confirmação no pop-up da notificação, meus poderes entram em ação, me levando teletransportando para o autor necessitado do outro lado da tela.

Ao infinito, e além!

II

Do outro lado da tela, o quarto é escuro e frio. Com o calor de rachar cuca do verão, chega a ser surpreendente, mas com um ronco vindo acima da minha cabeça, percebo que o ar fresquinho vem de um ar-condicionado, no alto da parede lilás.

— Eu não acredito que você veio mesmo. — E com um clique no interruptor, a luz do quarto é acesa e eu enxergo a autora; depois de piscar um bom tanto de vezes para me acostumar com a claridade repentina. — Pensava que você era um mito.

— Bem, aqui estou eu! — Solto um riso, que sai um tanto sem jeito. Ela é miúda, veste óculos tortos e um pijama largo. — O bloqueio criativo está à espreita?

— Talvez já tenha devorado minha criatividade por inteiro. — Ela suspira, se largando na cadeira diante de um notebook. — Você é tipo… a minha última esperança, e todo aquele papo clichê que a gente larga nas costas de um super-héroi.

— Nesse caso, vejamos o que você tem aqui… — Me aproximo da tela do computador, e ela se inclina para o lado para me deixar ver.

Afora as mil e uma guias de redes sociais e jogos abertos, uma página do Google Docs mostra um arquivo de texto iniciado, praticamente intocado. No cabeçalho, lê-se o número do capítulo, abaixo se dispõe linhas escassas, tentando contextualizar o ambiente da cena.

— Tudo isso são distrações — resmungo, fechando as demais janelas. — Precisa se concentrar pra escrever, ou não vai conseguir avançar — meu sermão tem tom suave, mas é sustentado por um olhar firme.

Leio o pequeno trecho que ela escreveu e, somado aos demais elementos que percebo nessa situação, encontro a solução perfeita!

— Agora, nós vamos ter que abrir uma outra janela. — Ela me encara, confusa. — De pé, por favor.

Em dois passos, alcançamos a janela de seu quarto. Fechada, bloqueando a resolução para o problema.

— Eu não entendi. O que a minha janela tem a ver com a minha história?

— Abra — peço, incentivando-a com um gesto das mãos.

Ainda confusa, a autora faz o que peço. Com a janela aberta, a noite se revela no exterior da casa, na rua que ladeia a construção, nos sons que vem do bairro…

— O que você vê?

— A rua da minha casa — responde de imediato, sem entusiasmo.

— Ok, espertinha. Me descreva agora o que você realmente vê, detalhe por detalhe.

Ela não me responde tão rápido quanto antes, os olhos perdidos na escuridão parcial da noite adiante. A autora franze os lábios, ajusta os óculos e estala a língua antes enfim responder:

— A luz dos postes é fraca, mal consegue iluminar toda rua. Se vê alguma luz vinda das janelas, ouço o som distante de conversas… um choro de criança, manha para não comer todo o jantar. Algumas árvores se erguem em meio ao concreto da calçada, talvez tão antigas quanto o casal de idosos que moram na casa da frente. Gosto deles, sempre estão sentados juntos na varanda, com um sorriso fácil, amigável…

— Continue — incentivo. — Me fale mais sobre o aspecto da rua. Ela é movimentada?

— Não. Vez ou outra um carro passa, cortando o silêncio da noite. É uma rua pacata, perfeita para quem quer apreciar o sossego… — Respira fundo, e enfim me encara. Agora, está sorrindo. — Acho que entendi agora!

Em um salto, está de volta ao computador, teclando furiosamente enquanto tece a cena do capítulo, dando descritivos minuciosos do cenário, das pessoas que nele habitam… tudo graças à rua da sua casa.

— Missão cumprida?

— Mais que cumprida! — Ela sorri, erguendo os olhos da tela para mim. — Muito obrigada por me salvar do bloqueio criativo.

— Disponha! — E, com um clique que ela dá em seu computador, estou de volta ao escritório.

III

Vestido novamente com o uniforme da empresa e de volta à companhia solitária do velho ventilador, organizo a papelada, agora com algum entusiasmo.

A sensação de dever cumprido e o olhar de felicidade de um autor agradecido são sentimentos impagáveis! Me fazem sentir a honra de ser quem sou, um super-herói tão solitário quanto único, lutando contra o bloqueio criativo.

10 Avril 2021 01:33 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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