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C Clark Carbonera


Certa vez, quando conversávamos sobre vida, estudo e trabalho, um amigo comentou comigo que estava se sentindo perdido. Vocês já se sentiram assim também? Eu já...algumas vezes...ainda hoje...até que eu construí um bote salva-vidas. Às vezes eu quase levo caldo das ondas, em outras eu consigo ajudar umas pessoas à deriva no mar: essa é uma das minhas tentativas. - Olha a boia aí, marujo da vida, que as ondas hoje tão bravas!!


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#perdido #ficacalmoelêumlivro
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Se você também precisar de um bote...



Olha, eu sei bem o que é se sentir perdido. Desde antes de me formar, quando eu estava com 20 anos, esse sentimento começou a se aflorar em mim, perdurando até hoje. A única diferença dos 20 para os atuais anos que tenho é que eu estou aprendendo e entendendo coisas que antes eu não entendia.

Era como se antes eu estivesse no meio de um furacão, totalmente atordoado e sem nenhuma noção da coisa toda; hoje, é como se eu estivesse no meio do caos do furacão, às vezes atordoado, mas com olhos que agora distinguem onde começa e termina o tal furacão...

É normal a gente se sentir assim, nossa geração acabou pegando crises econômicas pesadas e mesmo estudando sobre espiritualidade, nós não podemos simplesmente pensar: "Se sou um Espírito, as coisas da Terra não deveriam me afetar dessa maneira, isso seria muito materialismo", porque, querendo ou não, nós estamos na Terra onde o sistema é assim e temos (e podemos!) nos adaptar.

Uma das coisas primeiras que as pessoas perguntam pra gente é: o que você quer ser quando crescer e a gente responde no automatismo uma profissão. Olha a loucura! Como se o fato de eu trabalhar em algo me tornasse o que sou, quando na verdade deveria ser o contrário. Ser quem eu sou é que deveria transformar o que eu faço!

Um escritor, que não me recordo o nome agora, escreveu certa vez que um substantivo (uma profissão) nunca seria capaz de descrever quem ele era, pois a natureza dele (humana e espiritual) era a de um verbo. Mas não é isso o que nos ensinam. Falam pra gente que "se não formos nada na vida, no sentido de ter uma profissão ou um cargo, nossa vida não vale nada e estamos perdendo tempo". E é esse tipo de pensamento que fica nos nossos ombros sussurrando nos nossos ouvidos durante a vida toda (muitas vezes sem que nos apercebamos).

Até ano passado eu era só mais um produto desse pensamento...

Quando eu percebo que o sentimento de perdição começa a crescer aqui dentro (na maior parte das vezes esse sentimento vem da atmosfera psíquica à nossa volta, para qual nós abrimos a porta e convidamos a entrar), eu me forço a traduzir textos de cunho espiritual. Esse trabalho, ainda que não uma profissão, é meu bote salva-vidas (salva tanto a minha vida, quanto a de outros espalhados no mundo que por ventura forem ler esses textos e mudar seu padrão mental e emocional).

Você já leu o livro do Viktor Frankl? Tem uma passagem dele que gosto muito e vou copiar pra você. "Penso especialmente na massa de pessoas que hoje estão desempregadas. Cinqüenta anos atrás, publiquei um estudo sobre um tipo específico de depressão que havia diagnosticado em casos de pacientes jovens sofrendo do que eu chamava de 'neurose de desemprego'. E consegui demonstrar que esta neurose tinha realmente a sua origem numa dupla identificação errônea: estar sem emprego era considerado o mesmo que ser inútil, e ser inútil era considerado o mesmo que levar uma vida sem sentido. Consequentemente, sempre que eu conseguia persuadir os pacientes a trabalhar voluntariamente em organizações de jovens, educação de adultos, bibliotecas públicas e atividades similares - em outras palavras, quando preenchiam o seu abundante tempo livre com alguma atividade não remunerada mas significativa e portadora de um sentido - a sua depressão desaparecia, embora a sua situação econômica não houvesse mudado e a sua fome continuasse a mesma. A verdade é que o ser humano não vive apenas de bem-estar." Esse livro é bem interessante...depois dá uma pesquisada.

Sei que estou falando muito só de desemprego e tal, e não sei exatamente o porquê de eu estar escrevendo tudo isso. Mas as palavras saíram "sozinhas"...

A verdade é que, tendo nós emprego ou não, o sentimento de "estar perdido" nos assalta por vezes ao longo da vida. Faz parte. O que não podemos é nos deixar abater. Podemos até cavar um buraquinho e ficar por lá um tempo nos sentindo vítimas das circunstâncias e não aceitando as mãos amigas que aparecem pelo caminho (convenhamos, é mais fácil fazer papel de vítima da vida do que de herói dela; ser herói exige coragem e normalmente nós nossos covardes quando os obstáculos aparecem).

E uma coisa é certa: nós não controlamos nada! Ou melhor, controlamos apenas 3 coisinhas:

1 - o que pensamos;

2 - o que sentimos;

3 - o que fazemos com o que pensamos e sentimos.


Todo o resto é incontrolável, pois está fora do nosso alcance. O que alcançamos é o que temos dentro de nós. E se o que temos aqui dentro tá todo sujo e bagunçado as coisas ficam bem mais complicadas, porque acabamos por perder o controle das únicas coisas possíveis de serem controladas por nós.

Eu estou longe de ser a melhor pessoa a dar conselhos a alguém. O pouco que posso fazer é mostrar as escassas coisas que eu aprendi durante os últimos anos...

A melhor maneira que eu tenho de me encontrar quando estou perdido é me limitar a fazer pequenas coisas: regar uma planta e notar as cores bonitas das folhas e flores; olhar as nuvens e vê-las nadarem com o vento; fazer alguma comida que eu gosto e sentir o cheiro de cada tempero; ler um livro e me apaixonar por uma frase que de repente me traz um novo sentido para alguma situação que eu vivi no passado; ouvir uma música e me conectar com as vibrações dos instrumentos (acredite isso é possível e é uma das melhores sensações! hahaha)...

Pequenas coisas que nós não nos damos conta, porque estamos imersos nesse mundo pesado (literal e metaforicamente). Pequenas coisas que são divinas em suas essências, mas que ignoramos, por preferirmos ficar naquele buraquinho que cavamos, por preferirmos ser levados pelos ventos do furacão. Não controlamos os ventos, no entanto somos capazes, sim, de nos desviarmos quando algo ruim vem para nos atingir.


19 Mars 2021 15:28 3 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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La fin

A propos de l’auteur

C Clark Carbonera “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.” Fã de carteirinha de Buffy - The Vampire Slayer.

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Elisângela Rezende Elisângela Rezende
Olá! Faço parte da Embaixada brasileira do Inkspired e estou aqui para lhe parabenizar pela Verificação da sua história. Enquanto lia seu conto Bote Salva-Vidas, percebi que você levantou questões pertinentes que passamos a vida ouvindo e não percebemos o quanto isso é tão ruim para nós. Quando você fala sobre “o que você quer ser quando crescer? Como se o fato de eu trabalhar em algo me tornasse o que eu sou…” isso é bem verdade. Você levanta uma questão muito pertinente aqui, eu não sou alguém? Com defeitos e com virtudes eu sou alguém. Para muitos e até posso arriscar em dizer que todo mundo nos definem por nossa profissão.” Daí você completa dizendo “Ser quem eu sou é que deveria transformar o que eu faço”. Suas palavras me marcaram muito. Sua escrita é cheia de sentimentos. Dá pra ouvir nele seus questionamentos da vida, você procura um preenchimento espiritual, algo que você busca como um bote salva-vidas e distribui para outros que assim precisarem, uma forma que você encontrou de se ajudar e ajudar outras pessoas. Achei isso muito legal. A nossa luta pelo pão de cada dia leva muitos ao desespero, isso também adoece a nossa alma. Muito bem colocado no seu texto, nos mostrando que se fizermos algo que nos sentimos útil nos leva a ser mais felizes e realizados, embora as vezes não recebamos remuneração nenhuma em troca. Uma grande verdade você também diz “não controlamos nada!” Que muitas vezes é mais fácil nós sermos vitimas do que heróis. Sábias palavras. Por fim você fala que se encontra fazendo coisas pequenas como regar uma planta e observar a natureza ao seu redor. As vezes pensamos que fazendo grandes coisas nos sentiremos melhores e aqui você nos mostra o contrário. Não é o tamanho da obra, mas o prazer que ela poderá te proporcionar em fazê-la. Agora gostaria de falar sobre sua gramática e ortografia. Eu gostaria, porém, de fazer um apontamento. Em determinado momento você escreveu “no entanto nossos capazes” “nossos” ao invés de “somos”. Deve ter sido algo que passou despercebido. Mas espero ter ajudado ao menos um pouquinho. Apesar do apontamento que fiz aqui no comentário, quero dizer que seu conto está muito bom e que nos levar a nos questionar sobre algumas coisas da vida. Além de ser uma boa reflecção da vida com os seus obstáculos.
December 16, 2021, 17:51

  • C C C Clark Carbonera
    Olá, Elisângela, tudo bem? Muitíssimo obrigada pelo seu comentário e seus apontamentos (foi um erro de digitação mesmo, estou vendo aqui hehehe). Seu trabalho como embaixadora foi impecável *-*, adorei sua abordagem, de verdade! Já vou arrumar meu erro lá e agradeço mais uma vez. Abraços! o/ December 30, 2021, 16:59
Ruana Aretha Ruana Aretha
Tu transborda a tua essência em cada escrita, isso é magnífico . Deixe transbordar, deixe ser, como é bom ler o coração do autor ou do personagem que ele criou. Obrigada pela leitura, uma reflexão que deve ser constante. * Sobre a espiritualidade na minha visão, acredito que ela é a porta que muitos se escondem e outros conseguem contornar através dela. É uma porta que pode ser usada tanto para o bem próprio quanto para o desdém de si, como 'ah espero que isso aconteça , e simplesmente espera que o universo lhe dê de presente um planeta com tudo pronto', então,vá , corra, se ralar, não se perca, se cure, corra de novo, mesmo que a frenesi te canse , não pare, pense, corra, se estude, e vença si mesmo, muito clichê, mas acredito que situações enraizadas só se vencem com persistência. Bom, é isto.
March 19, 2021, 19:48
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