Sete anos vivendo naquele maldito prédio. Maldito por todas as lembranças ruins que guardava. Poderia ir embora, mas precisava do dinheiro da venda ou aluguel (o que acontecesse primeiro), e não havia pessoas interessadas no momento. Toda manhã abria o armário para vestir algo que não fosse o pijama e ali estavam as bagunças dele misturadas com as dela.
Era impossível esquecer de como as coisas ficaram complicadas em uma quinta-feira onde o céu ameaçava desabar, era início de setembro. Ela tentou fazer um bolo que cresceu além da forma e derramou no forno, enchendo o apartamento de fumaça e cheiro de queimado. Abriu a janela para a fumaça sair. Ele entrou pela porta da cozinha irritado com a confusão. Reclamou do quanto ela era desatenta e disse que um dia ela os mataria. Cansada de tantas discussões por bobagens, manteve a calma e disse que aquilo deveria acabar, ninguém estava feliz.
Lembrava do exato instante em que ele foi até a janela com um cigarro na boca, resmungando e espalhando mais fumaça pelo ambiente. Agora discutiam. Sentou-se de costas para a paisagem que a janela emoldurava. Mesmo nos dias mais difíceis aquela vista trazia calma, não pra ele. Com medo de altura, ele evitava olhar para baixo. Ouviram o som de um tiro muito perto dali e em um movimento brusco causado pela curiosidade, ele desequilibrou-se e caiu do 9º andar. Não possuía asas. Depois de três anos, ela ainda não tinha a coragem necessária para jogar tudo fora, doar ou vender. Ainda sentia culpa por sempre pedir que ele fumasse na janela.
Merci pour la lecture!
Nous pouvons garder Inkspired gratuitement en affichant des annonces à nos visiteurs. S’il vous plaît, soutenez-nous en ajoutant ou en désactivant AdBlocker.
Après l’avoir fait, veuillez recharger le site Web pour continuer à utiliser Inkspired normalement.