A
A. C. Reis


Maya Hart está completamente feliz pela primeira vez na vida, mesmo que a vida a tenha afastado de seus maiores amigos. Quando finalmente chega a hora de ir para a faculdade, Maya sabe que terá paz mesmo que esteja longe de todos aqueles com quem ela cresceu. Que pela pela primeira vez ela está pensamento em si mesma antes de pensar nos outros como andou fazendo nos últimos anos do ensino médio. Agora ela tem a chance de crescer mais ainda e de ser uma grande artista, tendo aulas com os melhores professores da Universidade de Nova York. Mas mesmo no fim do verão, uma grande frente fria pode aparecer. Maya deixou de ser ela mesma por um tempo no passado, se tornando a sua melhor amiga, Riley, como todos disseram. Mas um interesse do passado surge na pior hora possível: quando todos tem um brusco reencontro na mesma faculdade. Talvez os veteranos estivessem realmente certos ao colocá-los em uma buraco, e que as amizades não duram para sempre no ensino médio, mas além de ter que lutar por si mesma, Maya terá que aprender que fantasmas nem sempre são aqueles que estão mortos — e que, se estivessem, ainda seriam menos letais do que as pessoas que a rodeiam.


Fanfiction Série/ Doramas/Opéras de savon Interdit aux moins de 18 ans.

#Sabrina-Carpenter #GMW #Garota-Conhece-o-Mundo #GarotaConheceoMundo #Lucaya #Lucas-e-Maya
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Maya conhece a faculdade (parte 1).

Me senti feliz por estar acordado às cinco da manhã pela primeira vez na vida. Eu, Maya Penelope Hart, acordando cedo? É, senhor Matthews, o senhor fez um excelente trabalho.

Matthews. Riley.

Encarei a minha imagem no espelho do banheiro. Já fazia tempo desde que eu havia me mudado com Shawn e com a minha mãe para o Brooklyn. Brooklyn. Por mais ruim que fosse a minha vida antes, eu não pensava que um dia acabaria morando em uma das partes mais terríveis de toda Nova York. Mas a verdade, é que estávamos completamente apaixonados pela nossa nova casa: uma apartamento luxuoso recém inaugurado, com uma bela vista. Ao menos do meu quarto. O investimento feito por Shawn dera certo ao comprar uma coisa em um lugar completamente subestimado. Eu ri com o meu pensamento. Eu tinha um excelente quarto agora, sem goteiras e sem buracos no chão. Tinha um banheiro amplo só para mim, e em um dos cômodos ficava a minha sala de artes. Enquanto Shawn tinha uma mesa com seus devidos materiais de fotografia, eu ficava com a outra metade, recebendo uma parte da luz que entrava pela janela em meu rosto, iluminando as sombras das minhas pinturas. Elas passaram a melhorar com o tempo. Graças a Deus, nenhum gato roxo — não que eu tivesse deixado de incrementar o roxo e o amarelo claro e dourado em minhas mais belas obras de arte. Mamãe também estava feliz, já que não estávamos atrás dela e a sala ficava vazia e ampla para que ensaiasse seus papéis.

Eu ia sentir falta disso. Das animações das manhãs, quando eu preparava as torradas e os sucos saudáveis que Kate insistia que tomássemos para aumentar as vitaminas. Ela se tornara uma mãe muito mais responsável, e meu novo pai, o Shawn, era o pai perfeito.

As coisas tinham dado certo pra gente. Nas férias de verão, eu e Shawn acompanhamos minha mãe em uma viagem para a gravação do filme que — finalmente — ela será a estrela. O lançamento estava previsto para apenas alguns meses depois, mas ela realmente deu um show de atuação e conseguiram terminar antes do prazo. Continuamos a viagem depois que ela recebeu a proposta de gravar um comercial em Milão e Shawn conseguiu fotografar algumas modelos famosas. Não que essa fosse a sua vontade, mas além de pagar bem, a experiência de captar algo além das paisagens naturais se tornou gratificante depois de várias horas de trabalho e edição. As modelos eram bonitas, e durante todo o tempo em que estivemos da Europa, os olhos dele continuavam cada vez mais parados na minha mãe. Em duas semanas o mundo a conhecerá oficialmente como uma princesa em fuga; loucura, não é? E em duas horas eu estarei dentro de um carro com as minhas malas, prestes a me instalar no campus da minha nova universidade. Universidade de Nova York, aqui vou eu.

Assim que entrei embaixo do chuveiro a água fresca atingiu o meu corpo com força. Um chuveiro perfeito com a água em sua temperatura perfeita, o que mais eu poderia querer? Depois de uma vida de sobras e roupas de outras pessoas, banhos e refeições na casa da minha melhor amiga, eu merecia isso. Merecia bem mais que isso. Eu, minha mãe, Shawn, nossa família. Merecíamos ser felizes e ter essa vida. Quanto a Riley e sua família, bem, eu não fazia ideia de como ela estava. Assim que voltamos da viagem eu passei pela casa dela, na esperança de encontrá-la em nosso lugar especial.

Mas a janela estava fechada.

A verdade é que a janela se fechara a muito tempo, logo que nos formamos. No nosso segundo ano do ensino médio, as coisas começaram a ficar mais complicadas para todos nós. Começou com Zay e Lucas, que mesmo depois de tanto tempo juntos, tiveram uma briga por ego e se separaram. De início, tudo parecia dar certo. Os alunos que nos fizeram estar no buraco em nosso primeiro ano na Abigail Adams pareciam estar certos sobre muitas coisas. Riley não sabia disso, mas eu havia os encontrado algum tempo depois. Logo assim que Farkle e Isadora decidiram terminar e ela partiu para algum tipo de escola de gênio — eles tentaram bastante, na verdade. Todos os dias em ligações, sempre fazendo as atividades juntos. Os pais dela decidiram que era melhor que ela se relacionasse com pessoas que a entendessem melhor, mas todos sabíamos o real motivo de levarem ela para longe: Farkle tinha dinheiro, sempre tivera. Os pais dele sabiam a hora de parar de falar de suas coisas, mas ele não sabia exatamente se estava pronto para seguir os passos do pai. O pai de Isadora achou que Farkle seria um perdedor, uma influência ruim se não aproveitasse as oportunidades que tinha e fosse fazer qualquer outra coisa. Mas não só por isso; Smarkle tinha motivo para ser quem era. Já ele, não. Ele seria visto como uma pessoa esquisita por ser esquisito. Nós nunca soubemos de verdade o que aconteceu com eles depois, mas não foi coisa tão boa assim.

Zay se juntou ao time de beisebol e começou a amadurecer, mesmo mantendo o comportamento engraçado de sempre. Lucas pareceu não gostar de ser finalmente “deixado de lado” pelo melhor amigo. Riley começou a se preocupar com o que estava acontecendo. Eu, por outro lado, passei apenas a observar o nosso mundinho cair. Depois de toda a história cansativa do triângulo, a nossa amizade pareceu ficar saturada. Não era mais a mesma coisa, mesmo que eu gostasse de zoar com o caipira. Riley ficava tranquila comigo perto dele, ele também ficava. Não me restava muito além de ficar também. Mas eu não estava me sentindo bem. Passei a enjoar aos poucos de tudo o que estava acontecendo, e quando chegou o último ano, Farkle, Zay e Riley eram as únicas pessoas do nosso grupo com quem eu realmente estava falando. Toda a história do “você virou a Riley”, “cadê a Maya de verdade?” me cansou. Todos nós estávamos com problemas, era terrivelmente doloroso pensar nas coisas que estavam nos fazendo mal. Farkle se dedicou cada dia mais a fazer o que sabia de melhor: estudar e ser o primeiro da classe. Lucas se afastou tanto quando conseguiu finalmente entrar no time de futebol, que ela pensou não ser mais amada por ele. Meus conselhos não valeram tanto assim. Eu ainda era a Maya, só não era a Maya que eles queriam. Depois da formatura, Lucas terminou com ela. Ele voltou para o Texas e Zay também. Soube pelas redes sociais que eles voltaram a se falar. De vez em quando, Zay me liga para contar as coisas. Farkle não mudou, pareceu estar lidando melhor com os sentimentos que o assombravam, mas não mudou. Parecia estar feliz quando encontrei acidentalmente com ele na viagem. Falamos rapidamente um com o outro, meus pais e os pais dele conversaram por algumas boas horas. Eu ainda me lembro de apreciar a grande vista em Milão ao lado do meu amigo mais antigo.

Farkle estava vestindo uma camisa amarela, combinava com ele. A calça preta justa lhe caia bem, e a touca realçava o estilo que ele estava levando para a vida. O vento batia em nossos cabelos e eu fechei os olhos, imaginando com a minha mente a pintura que estava a minha frente.

— Maya? — chamou Farkle.

— Sim? — respondi, ainda de olhos fechados.

— Posso te perguntar uma coisa?

A voz dele parecia trêmula. Ele estava nervoso, então abri os olhos e lhe dei toda a minha atenção.

— Claro. O que quer saber?

— Você sente falta deles? — a pergunta não me pegou de surpresa. Eu senti que teria alguma coisa a ver com os nosso amigos (ou exs amigos). Mas amigos não se tornam exs se continuam em seus corações.

— Todo dia, Farkle. Todo dia.

— E a Riley? O que aconteceu com ela?

Essa sim. Essa entrou como uma faca no meu coração.

— A janela se fechou, Farkle.

— Pra sempre?

— Eu não sei. Não fala mais com ela? — perguntei.

— Falo. De vez em quando. Era para sermos melhores amigos. Não eu e ela. Não eu e você. Nós três. Mas ela não quer falar com quase ninguém depois do... você sabe. O Lucas partiu o coração dela, Maya. E ela deixou que isso afetasse a relação dela com todos nós. Não to dizendo que nós não tenhamos culpa nisso tudo, é só que...

Eu o interrompi.

— É só que o que, Farkle? — eu o encarei, alterada. — Nós não temos culpa de nada. Eu não tenho culpa de nada.

— Eu não disse que tem.

— Sei que o que você pensa sobre mim, Farkle.

— Como assim, Maya? Eu amo você. Sempre amei. Vocês duas...

— PARA DE FALAR SOBRE NÓS DUAS, FARKLE. POR FAVOR — eu olhei ao meu redor. Acabei atraindo alguns olhares quando aumentei a voz, mas logo se dissolveram. — Por favor.

— Maya, eu não quis que parecesse...

— Que parecesse o que, Farkle? Que você prefere a Riley e que sempre preferiu? Eu me cansei de ficar sobrando. Parece que você a trata como se ela fosse a protagonista das nossas vidas, sendo que não é, não. E nunca foi. Eu sou a protagonista da minha própria vida, Farkle. Eu. Vocês passaram tanto tempo reclamando sobre como eu agia, que não pararam para pensar se eu estava feliz assim. Você diz que ama as duas igualmente, que sempre amou, mas é mentira! — ele estava me encarando sem reação. Parecia culpado. — Se você amasse as duas igualmente, teria me ligado também. Teria se importado com o fato da minha vida estar melhor e olha só, quem diria, nós estamos nos encontrando em Milão, Europa, Minkus. Pelo amor de Deus, você não me ama que nem ama a Riley. E quer saber? Depois de tanto tempo calada, eu deixei de me importar com isso. Mas agora, Farkle, não faz a menor diferença.

Eu não sabia como estava meu rosto depois de tudo o que eu havia falado pro meu amigo. Eu escutei um “Maya, eu preciso de contar...”, mas só lembro de caminhar o mais rápido possível pra longe dali. Eu estava com lágrimas nos olhos, e não quis olhar para trás. Não por medo dele me ver chorando, eu já não me importava mais com isso, mas sim porque eu sabia que se eu olhasse para trás, permitiria cair nos braços dele como se fosse uma garotinha precisando do melhor amigo e que recordaria tudo o que já vinha acontecendo a muito tempo. E eu não queria isso mais para a minha vida.

Quanto a Riley e eu, a história realmente foi diferente. Quando nós formamos no ensino médio, depois da festa, Lucas terminou com ela. Ela disse que ele não estava pregado, que ele deu a desculpa de precisar de um tempo para pensar em si mesmo. Eu olhei bem nos fundos delas e senti saudades. Riley não era mais a mesma de antes, que nem eu. Com o tempo, nós duas amadurecemos e mudamos nossos pensamentos. Ela estava quebrando regras que não faziam parte de quem ela era, assim como eu havia me tornado ela por um tempo — segundo as pessoas ao nosso redor. E de fato aconteceu. Mas Riley não se tornou eu. Ela se tornou tudo aquilo que se acumulou dentro dela ao longo dos anos. Ela explodiu. Talvez tenha partido mais o próprio coração do que ele mesmo. Eu tentei falar com ela, mas Riley não quis me escutar. Ela disse que precisava ficar sozinha. Eu obedeci ao pedido dela. Na manhã seguinte, a janela estava fechada. Ela nunca fechava a janela de verdade. Os dias foram se passando, ela não abria. Nenhuma mensagem de texto. Algumas manhãs eu ia até a janela, mesmo de fora, quando a cortina estava aberta, eu a observava dormir, serena. Os lenços sujos espalhados pelo quarto eram sinal de que ela estava gripada ou chorando. Eu queria a minha melhor amiga de volta, mas não sabia como chegar até ela.

Quando finalmente entrei pela porta da frente, Cory e Topanga disseram que ela havia ido passar uns dias na casa dos avós, com o tio Josh. Quanto ao Josh, nunca aconteceu o nosso “algum dia”. Não depois do que aconteceu comigo e com a Riley. Topanga me ligou para avisar que Riley havia chego em casa da viagem, e que a janela estava aberta. Conversamos bastante naquela tarde. Decidimos que o raio e o trovão não podiam fazer nada para ajudar. Ela decidiu. E por mais que eu tivesse tentado lutar também, ela precisava de um tempo sozinha.

A ironia é que a janela passou a ficar aberta. Mas metaforicamente, não. E aqui, depois de tantos desencontros, não sabemos se vamos nos encontrar outra vez.

O alarme do meu celular tocou. Meus pensamentos sumiram como se nunca tivessem existido na minha cabeça e eu saí do box, pegando a toalha e a enrolando no meu corpo. Depois do dia em que eu acidentalmente acabei com a a água quente do Shawn, minha mãe me fez criar o hábito de colocar um despertador para tarefas específicas nas quais eu poderia acabar me distraindo facilmente. Segundo ela, a cabeça de uma artista alterna entre dimensões a todo o instante. Só temos que saber a hora de voltar para a terra.

Eu olhei para as roupas em cima da minha cama. Eu não levaria tudo comigo, deixaria algumas coisas separadas no apartamento caso eu precisasse, mas escolhi a calça jeans rasgada, a blusa branca de renda e a botinha marrom. Meus cabelos estavam molhados e optei por deixá-los se car de forma natural. Eles ganhariam um ondulado mal feito, mas ficaria lindo de qualquer jeito. Aliás, eu sou Maya Hart, não tem nada que me deixe feia. Por mais que até hoje eu evite chegar perto de estampas floridas ou fofinhas.

Terminei a maquiagem leve que eu decidi fazer — apenas para ficar mais apresentável — e coloquei o resto das coisas na minha mala. Duas malas. Uma com roupas, sapatos, acessórios e maquiagem e uma outra menor, com alguns materiais que eu iria precisar. Eu estava levando algumas bolasse e mochilas dentro de uma mochila. Meus pôsteres seriam comprados ao longo do ano e algumas outras coisas de decoração também, não fazia sentido levar tudo se eu podia deixar em casa, comprar coisas novas e adaptáveis e reparar o quanto eu mudei ao longo do ano. Eu ri dos meus próprios pensamentos e sai do quarto, apagando a luz. As coisas estavam tão organizadas que nem pareciam minhas.

Mordi meu lábio de leve e me despedi rapidamente do meu apartamento. Apenas para não sentir saudades. Estava tudo bem, eu voltaria em alguns meses e nos feriados — mas a ideia de dar tchau a algo tão difícil de conquistar para algo ainda mais gratificante, ainda assim parecia ser assustadora e animadora.

Pela primeira vez na vida me senti completa e desejando ir para “a escola”. Eu não estava quebrada. Eu estava pronta. E isso só me fazia querer ir em frente.

[...]

— Maya, querida, você tem certeza que vai ficar tudo bem? — minha mãe me abraçou forte, não querendo me soltar.

— Mãe, eu já disse — falei, me soltando com cuidado — eu vou ficar bem.

Ela fez um beicinho, me puxando para outro abraço apertado. Dessa vez, eu não me importei e deixei que ela me esmagasse contra o seu corpo magro e definido. Ela é mais forte do que parece.

— Kate, não é com a Maya que você tem que se preocupar — disse Shawn.

— Obrigada, Shawn — agradeci.

— É com os colegas de turma dela.

Eu o encarei fingindo estar furiosa e dei socos de leve no braço dele, em minha defesa.

— Que calúnia, Shawn. Que calúnia!

— Vem aqui, garota! — agora foi a vez do meu pai me puxar para um abraço. — Vou sentir saudades da minha parceira de escritório. Aquela casa vai ficar muito mais silenciosa sem você para reclamar das péssimas imitações da sua mãe — foi a vez da minha mãe bater nele.

Eles me envolveram em um grande abraço e minha mãe me deu um beijo na testa, seguida por Shawn.

— Fica bem, garota. Qualquer coisa, é só ligar que a gente vem correndo, tudo bem? — eu assenti com a cabeça.

— Tchau querida. Eu te amo, Maya. Nunca se esqueça disso.

— Nós — interrompeu Shawn — te amamos.

Eu sorri e os abracei uma última vez. Era pra lembrar do perfume do meu pai e do cabelo macio da minha mãe. Eu me afastei e os olhei um pouco mais.

— Eu também amo vocês.

— Tchau — os três nos despedimos ao mesmo tempo e soltei uma risada quando minha mãe veio roubar mais um abraço apertado e um beijo babado.

— Mãe!

— Kate! Me trocando assim pela sua filha?! Acho que estou magoado, mas não surpreso. Sempre soube que eu era o menos preferido — disse Shawn, se fazendo de magoado e ofendido.

— Ah, vem aqui também — minha mãe foi até ele e os dois acenaram para mim. Ela o beijou com paixão e ele retribui. Fiquei feliz observando a cena, e assim que eles sumiram entre os outros pais se despedindo de seus filhos adolescentes prestes a entrar na fase mais complicada de sua vida, me virei para o meu novo quarto.

O quarto era o 114. Ficava no final no corredor e em eu tomei coragem para entrar nele. Assim que meus olhos percorreram o lugar, abri um sorriso instantâneo.

Haviam três camas: uma embaixo da janela, uma em frente a porta e outra entre a porta e o armário. O armário de madeira era bonito e simples, tinha bastante espaço aparentemente e haviam algumas prateleiras espalhadas acima das camas, provavelmente para acompanhar as pequenas mesinhas de canto. As paredes eram roxas, da cor do moletom da universidade que Shawn havia comprado para mim, e fiquei feliz em ver que já haviam decorado um pouco o ambiente. O armário era de madeira branca, fazia um L entre a cama do meio e o espaço da outra. Havia um espelho com luzes em suas laterais no mesmo armário, grande o suficiente para três garotas usarem ao mesmo tempo e ainda com conforto — mesmo que estivessem na correria. Grande para um quarto de universidade? Sim, mas era bonito e confortável.

Sorri mais uma vez quando percebi que duas garotas estavam me olhando curiosas. Elas eram muito bonitas: uma tinha pele escura, cachos bem definidos com o cabelo da cor chocolate. Seus olhos eram escuros também, mas tinham uma espécie de dourado interessante. A outra garota, que estava sentada na cama perto do armário e da porta, tinha cabelos vermelhos e uma mecha branca. Sua pele era clara, um pouco menos do que a minha, mas ainda assim clara. Ela tinha o cabelo completamente liso e os olhos eram azuis. Suas roupas eram cor-de-rosa, mas não de um tom enjoativo. Era bonito de se ver, assim como elas.

— Oi, eu sou a...

— Maya — disse a primeira garota, que abriu um sorriso. — Nós sabemos. Espero que não se importe que tenhamos pintado as paredes do quarto e que só tenha sobrado a cama do meio. Pode parecer desconfortável, mas não é — disse ela, simpática.

— A Amy e eu chegamos aqui já tem alguns dias. Meu pai é o diretor da faculdade, então ele liberou que decorássemos o quarto. Combina bastante com a cor da porta e da janela. Por isso já tem algumas coisas decoradas — completou a outra garota, também sorridente. — Eu sou a Lia, prazer — ela se levantou e eu estendi a mão, mas fui recebida com um abraço.

De início, fiquei sem reação, mas a abracei de volta. O cabelo dela tinha cheiro de bala, mas não era enjoativo.

— Obrigada — disse, agradecendo e falando algo pela primeira vez. — É um prazer conhecê-las, e fiquem tranquilas. Eu amei o que vocês fizeram. Ficou muito bonito. Combina com o tapete e o teto — olhei para eles e elas me acompanharam, soltando uma risada divertida. Eles também eram brancos. — Eu reconheço um artista quando vejo, e quem fez isso aqui, com certeza tem visão artística — eu sorri, me sentando na cama. Era macia.

— Então, Maya — disse Amy, me fazendo olhar para ela. — Amanhã começam as aulas, qual o seu curso? Está preparada?

Pensei bem no que responder a elas. Eu não sabia se estava preparada, mas sentia que sim.

— Sinto que sim. Não se tem certeza quando se acaba a escola, tem? Quero dizer, as coisas não parecem se esclarecer tanto assim de uma hora pra outra como imaginamos. Os problemas do ensino médio parecem fáceis quando pisamos no campus pela primeira vez, mesmo que seja só emoção — respondi, surpresa comigo mesma. — E eu vou fazer Artes. É a minha grande paixão — mordi de leve o lábio. — E vocês? — perguntei, curiosa.

— Eu vou para o meu segundo ano de enfermagem — disse Amy, orgulhosa. Ela tinha um estilo mais fechado, usando cores mais escuras, mas realçavam coisas sobre ela que mereciam ser realçadas.

— Eu vou para o meu segundo ano também, mas de história — meu olhar repousou rapidamente em Lia. — Quero ensinar história para as pessoas através do presente. Não é tão chato quanto parece — senhor Matthews, está tentando me ensinar além da tumba?

Eu abaixei o olhar, mas levantei a cabeça de novo. Não iria pensar neles.

— O que te fez escolher artes, Maya? — perguntou Lia.

Eu esperei por essa pergunta nos últimos três meses. Talvez a minha vida toda. Mas me senti pronta para responder.

— Eu nunca tive muito. Sempre fui eu e minha mãe.

— E aquele cara que te trouxe? Com certeza não é seu namorado. Ou é? — perguntou Amy, rindo.

Eu sorri.

— Shawn. Ele é o meu pai. Não é de sangue, mas é mais pai pra mim do que o verdadeiro sempre foi.

— Continua — disse Lia, sorrindo.

— Eu comecei a desenhar o que eu via. Era o meu ponto para ver o mundo. Meus amigos tinham celulares, eu tinha o meu bloco de desenho. E então o pai da minha melhor amiga me deu um celular antigo dele. Não mudou muita coisa, na verdade. Eu continuei usando o que eu via como válvula de escape. Eu continuei usando a arte para sobreviver com meus maiores problemas e desafios. Para descobrir quem eu era. Até que uma vez, decidiram cancelar as aulas de arte na minha escola. Eu estava no último ano do fundamental. Nós éramos reis — ri, lembrando de todas as boas memórias e mordi de leve o lábio. — Nós fomos até o conselho, lutamos, conseguimos nossa arte e nossa voz outra vez. Guernica. Aprendi sobre Guernica. O cavalo que se recusou a lutar. Eu sempre gostei de cantar, de dançar; mas principalmente de desenhar aquilo que eu via. Era real para mim. Se tornava real.

Suspirei, feliz, na verdade. Mas um pouco cansada. As lembranças eram boas. Surpreendentemente, todas eram.

— Mas não foi isso que te fez ter certeza — disse Amy. — Ou foi? — a sobrancelha arqueada dela me fez ter vontade de continuar a contar a minha história.

— Quando eu e meus amigos entramos no ensino médio, alguns veteranos colocaram eu e meus amigos para ficar em um buraco na escola.

Lia e Amy riram.

— Um buraco de verdade?

Eu ri também e balancei a cabeça.

— Eles disseram que sim, mas não — sorri. — Começamos a nos desentender e quase nos separamos. Então, eu fiquei do lado da minha melhor amiga, acreditei nela. Nós aprendemos o que eles quiseram nos ensinar, e eles deixaram o legado deles. Pediram que passássemos para frente um dia. Não conseguimos fazer isso. Nos separamos bem antes de nos formarmos. Inicialmente sobrou apenas eu, a Riley, o Farkle e o Lucas. Nós éramos meio que o quarteto principal. Quando o Lucas saiu, deu origem ao trio original. E quando o Farkle esteve mal, ficamos apenas eu a Riley. Nós éramos melhores amigas desde pequenas.

— Não são mais? — balancei a cabeça em resposta a Amy.

— Até o primeiro ano, eu, Riley e Lucas estivemos em um triângulo amoroso.

— Estava esperando pela parte interessante — disse Lia.

Eu ri fraco.

— Durante esse tempo, eu... Eu me tornei ela. Me tornei a minha melhor amiga e esqueci quem eu era. Meus amigos me fizeram perceber que eu só gostava do Lucas como amigo, eu gostava de implicar com ele. Eu voltei a ser quem eu era, felizmente. Mas eu também mudei depois disso. Ele a escolheu. De qualquer forma, ele a escolheria. Eu estava sendo ela, e ela era ela. Ele a escolheu. Mas eles não são o ponto da história — dei de ombros.

— Mas parece que foram grande parte dela, Maya — disse Amy, com um sorriso fraca, sentando ao meu lado.

Lia também se juntou à nós duas.

— Continua — disse a garota de cabelo colorido. — Queremos realmente saber o que aconteceu.

— Lembram que eu falei sobre os veteranos? — elas assentiram. — Eles também estavam em um triângulo. O meu não era um verdadeiro triângulo, mas quando o Lucas terminou com a Riley, depois da festa de formatura, ela se fechou. Para tudo e para todos. No último dia em que a vi pessoalmente, eu fui no café da mãe dela. Nós sempre íamos lá. Todos juntos. O veterano estava lá também. Só estávamos nós dois. Ele se lembrou de mim, e me perguntou como tudo estava. Ele se chama Thor, e eu contei pra ele tudo o que aconteceu, que nem estou fazendo com vocês agora. Então eu perguntei sobre o triângulo, ele disse que fez a escolha dele. Na verdade, que estava feliz por não terem feito por ele que nem fizeram por mim.

— E quem ele escolheu? — as duas perguntaram ao mesmo tempo.

— Ele disse que gostava das duas, mas uma realmente era como uma melhor amiga. Não chegava a ser como uma irmã porque não se quer pegar a sua irmã — rimos. — Mas que a outra, ele aprendeu a amar com todos os defeitos. Ele me disse que escolheu acabar com aquilo assim que eles saíram da escola. Ele fala com as duas hoje em dia, mas não ficou com nenhuma delas. Ele escolheu mantê-las por perto, mas que o melhor seria que todos se encontrassem consigo mesmos antes de encontrar alguém. A garota que ele amava, ela voltou pra ele. Um ano depois. Eles se encontraram outra vez por coisas da vid, e ficaram juntos. Eles três entenderam que nem sempre dá pra se controlar o coração, mas que escolhas são necessárias mesmo que causem um grande estrago. E o que é seu, sempre volta pra você — dei de ombros, suspirando com um sorriso e me apoiando na parede. Elas fizeram o mesmo.

— Uau — disse Lia.

— Não esperava por essa — disse Amy.

— Acho que nem eles — eu brinquei com o anel em meu dedo. Era um coração com uma pedra no meio. Presente de Shawn.

Apertei a mão contra o meu peito e o barulhinho dos pingentes da minha bolseira me alegraram. A levei a vista e resolvi contá-las o que significava para mim:

— Quando Shawn e minha mãe se casaram, me deram isso de presente. É uma pulseira para eu colocar tudo aquilo que eu amo — sorri, analisando todos os pingentes.

— Um piano, um microfone, um violão, uma nota musical, um pincel, uma câmera, as máscaras do teatro, um pêssego, um docinho, uma estrela e o planeta terra — disse Amy. — O que significam?

— Até o pincel, tudo aquilo que eu amo fazer. A câmera representa o Shawn, o teatro a minha mãe. O pêssego e o docinho representam eu e a Riley. A estrela é porque olhar para o céu... não é só incrível, como me traz boas lembranças — Lucas — e me inspira. E o planeta terra... bem, pessoas mudam pessoas. Esse é o segredo da vida. E nada melhor do que isso para representar essa parte de mim que, por sinal, adora história — sorrio olhando pra Lia. — Não te conheço bem, mas só por terem sentado aqui e me escutado, sei que seremos boas colegas de quarto e amigas. Você será uma excelente professora de história — me virei para Amy. — E você, uma excelente enfermeira.

Elas apertaram a minha mão, sorrindo também. Eu me senti acolhida.

— Então, Maya Hart — me virei para Lia. — E sim, pesquisamos o seu sobrenome também — rimos — essa história toda me deixou com fome. Por que não vamos até a lanchonete do outro da rua e pedimos um grande hambúrguer ou prato de salada, caso você seja vegetariana, e curtimos o resto da noite falando sobre nossas vidas para que você também nos conheça melhor?

— Acho uma excelente ideia. E eu não sou vegetariana, longe disso — sorri. — Por que não?

As meninas pegaram as bolsas dela e eu peguei a jaqueta jeans para o caso de sentir frio — mesmo que estivesse fazendo calor.

Assim que saímos do quarto, uma onda de vento me atingiu bem de frente. Não era possível.

Todos estavam ali.

Ao mesmo tempo, como em um grande filme de drama. Zay estava com uma camisa cinza e botas de cowboy; Smarkle estava com o novo óculos cheio de pedrinhas nas pontas. Farkle estava com a touca de sempre; a touca de semanas antes. Riley estava completamente diferente da última vez em que a vi. O cabelo finalmente havia crescido, mas estava para trás, preso em um rabo de cavalo. Suas roupas não eram mais a mesma e algo estava ainda mais diferente. Por fim, meus olhos se encontraram ao dele. E aí sim o frio quase me jogou para trás.

— Oi, Maya — ele disse.

— Oi, Lucas.

30 Octobre 2020 15:20 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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