Se Luísa pudesse comparar o medo que sentia naquele instante com uma cor, com certeza ela escolheria o branco.
Seria até engraçado de se imaginar se não fosse horripilante o porquê escolheu aquela cor. Talvez por seu rosto estar naquela tonalidade, quase transparente, pela falta de sangue, devido ao susto.
Tomada pelo medo e aos poucos recobrando sua consciência, foi tendo lapsos que a faziam se recordar de como chegara ali.
Antes não tivesse saído de casa. O frio até fazia com que fumaça subisse pela boca por conta de sua respiração. Mas esse ainda não foi o motivo para tanto medo. O estômago doía com o aparecimento da fome, então não deixou que o frio a vencesse. Podia ligar para qualquer lugar e pedir por uma entrega, mas isso iria contra seus princípios. Se outra pessoa tivesse que passar frio só para levar comida pra ela, por que ela não poderia sair de casa e ir ao mercadinho na esquina? Sempre teve esse tipo de pensamento.
Pouco depois de ter saído de sua casa, faltando metade de um quarteirão para chegar ao mercadinho, o pano com clorofórmio encostou em seu nariz. Não viu seu agressor, mas as feridas em suas mãos, que a chamou atenção pela ardência, a lembraram que não se rendeu facilmente, mas que perdera em vantagens físicas, pois o tamanho do outro mostrava ser bem maior que o seu.
Tentou se remexer ao sentir o desconforto em sua bunda por estar sentada muito tempo em algo que ela julgou ser um chão, mas não conseguiu sair do local. Sentiu suas mãos acorrentadas e então o desespero aumentou mais ainda. Tentou pôr em palavras seu desespero, mas a mordaça que estava em sua boca impedia que qualquer palavra clara que tentou proferir saísse.
Não sabia que horas eram, não sabia como havia parado ali e muito menos qual era o objetivo daquilo tudo. Apesar da sua inconstância, teve a sua consciência usurpada de seu corpo quando desmaiou mais uma vez.
A fome, além de lhe doer o estômago, causar um mau hálito em sua boca, ainda a deixava fraca e suscetível a outros desmaios. Não sabia dizer quanto tempo havia ficado parada ali, mas acordou de supetão quando ouviu o som de uma respiração forte que não era a sua.
— Quem está aí? — tentou perguntar, mas mais uma vez a mordaça lhe arrancava a fala.
— Shii! — pediu por silêncio a outra voz. — Se você fizer perguntas demais, eles irão vir! Espere pelo momento que as luzes acenderem, vou soltar você! — prometeu o estranho.
O silêncio se fez presente mais uma vez, e podia jurar que ia enlouquecer. Não era só o silêncio que lhe afligia a alma, no entanto; também eram a fome, a falta de movimentos e o desespero e a ansiedade para sair dali. Não conseguia surtar e proclamar a todos os ares o quanto estava à beira da loucura.
Se perguntava se alguém iria chegar ali, se seu agressor estava sendo procurado por outros crimes ou a própria Luísa estava sendo procurado por alguém. Sabia que, se dependesse da última opção, provavelmente morreria ali, sem ninguém nunca saber que o mundo teria um habitante a menos.
Perdida em devaneios, ela escutou passos vindo em sua direção. Não viu as luzes acenderem igual o estranho havia dito, então em movimentos rápidos tentou se recostar contra a parede, em forma de fuga.
— Se acalme! Sou eu, você estava falando comigo agora pouco — explicou.
O coração de Luísa perdeu uma batida. Apesar de não conhecer o homem que estava ali consigo, uma grande parte de si sempre foi falha... a parte que sentia sempre empatia pelos outros. Tendia a confiar demais, seu pai sempre lhe disse isso, mas não conseguia ver como isso era errado.
— Você disse para esperar pelas luzes — disse com receio, após a boca ser livre.
E o clarão se fez presente, iluminando o quarto sombrio e sem janelas, aos poucos sua vista doeu e então reconheceu a situação em que se encontrava.
— Sim! Hora do Show — disse o estranho, e elevou o machado acima de sua cabeça.
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