Despertar
Um zunido.
Aos poucos o som foi se atenuando, até desaparecer por completo. Ele ainda não conseguia enxergar, mas sua consciência havia voltado. Estava caído no chão, pois sentia seu corpo sobre o áspero cimento. Retomar a visão era apenas questão de abrir os olhos, mas sentiu medo. O que veria? O que encontraria?
Tomado por inesperada determinação, moveu as pálpebras. Pensou em falar algo, fazer algum tipo de questionamento, mas obteve todas as respostas necessárias quando viu diante de si uma figura feminina. Cabelos ruivos e corpo de invejar a muitas, ela parecia preocupada, fitando-lhe aturdida, olhar cheio de incertezas. Porém, não deixou de sorrir e soltar uma exclamação quando viu que ele havia recobrado os sentidos.
- Querido!
Que significaria tal adjetivo? Estaria ela se referindo mesmo a ele? Afinal de contas, quem era aquela mulher?
- Meu Deus, você está bem? – indagou ela.
Que responder? Ele não sabia onde estava, e muito menos conhecia aquela mulher. Que estaria acontecendo? Como fora parar ali?
- Quem é você?
A pergunta dele pareceu abalá-la. Perdeu o sorriso do rosto. Ela agora aparentava estar tão confusa quanto ele.
- Mas... – oscilou ela, incerta.
Ele levantou-se. Limpou a sujeira de suas roupas, fitado pela mulher e por outros dois homens, que observavam tudo segurando copos de cerveja. Pareciam tão incrédulos quanto a ruiva, boca aberta, expressões de total surpresa e descrença.
Olhou para cada um dos presentes lentamente, examinando-os de alto a baixo. Depois observou o local: estava no quintal de uma casa, próximo a uma churrasqueira acesa. Sobre uma mesa havia salgadinhos e garrafas de bebida.
- Onde estou?
O olhar dos demais se tornou ainda mais atônito. O recém-acordado, angustiado, sentia-se um verdadeiro estranho no ninho. A mulher, com lágrimas nos olhos, lançou-se sobre ele, cingindo-o fortemente com os braços, como se quisesse mantê-lo ali para sempre, junto dela. Assustado, ele lutou para se livrar, enquanto ela tentava beijá-lo, acariciá-lo, consolá-lo. Com um movimento violento, livrou-se dela, que caiu sentada, aos prantos.
Os outros dois homens recuaram assustados quando ele caminhou alguns passos, sem se importar com a ruiva, que parecia amá-lo enormemente. Firme e lúcido, seguiu até o portão que levava para a rua. Fitou o céu nublado daquele início de tarde e sorriu.
Havia nascido de novo, era uma nova pessoa. O mundo todo era um tesouro a ser descoberto. Confiante, avançou pela rua, mesmo sem conhecer seu passado ou seu destino. Sua vida começava ali. Era seu despertar.
Merci pour la lecture!
Nous pouvons garder Inkspired gratuitement en affichant des annonces à nos visiteurs. S’il vous plaît, soutenez-nous en ajoutant ou en désactivant AdBlocker.
Après l’avoir fait, veuillez recharger le site Web pour continuer à utiliser Inkspired normalement.