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Mênulis e Kaolin são garotas nascidas no mesmo dia, horário e local. As duas são de uma tribo chamada Peldejá e, segundo seu povo, estão destinadas a serem "irmãs celestiais", possuindo um laço inestinguível. Porém, com a chegada de Aiyra, irmã de Kaolin, suas famílias acabam sendo amaldiçoadas. "Diários do Sul" é um livro sobre a degradação do ser humano pelo ciúmes e como pequenas ações do passado podem gerar futuras fatalidades.


Drame Interdit aux moins de 18 ans.

#misticismo #amizade #378 #drama #239 #230 #301 #258
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Destino

A história que aqui escrevo não tem o objetivo de entreter jovens entediados, muito menos colocar crianças para dormir. Eu a escrevo porque temo morrer sem antes ter registrado a verdade por trás de relatos que circulam minha aldeia, os quais são relacionados não apenas a minha vida, mas a vida de uma grande amiga minha que falecera há muitos anos. Por isso, decidi juntar neste livro final, as lembranças e passagens que escrevo em meus diários desde pequena.

Guardei por muito tempo em meu coração os fatos que aqui serão descritos. Nunca antes os revelei a ninguém porque gostava de saber que apenas eu tinha conhecimento deles. Porém, agora que estou velha e com a morte a minha espera, desejo passar essa história adiante para que ela não seja esquecida e enterrada ao meu lado.

Meu nome é Mênulis e eu nasci em uma aldeia chamada Peldejá, ao sul do rio Guarta, atravessando a Floresta dos Ventos. Nosso povo é muito unido, cada um tem sua obrigação dentro da aldeia para que todos possamos viver em harmonia. Meu trabalho no caso, é documentar toda a comida que entra e sai, além de registrar oficialmente todas as execuções e expulsões de membros infratores que deixam de cumprir suas obrigações como um peldejá. É por isso que domino a arte da escrita. Poucos de nós sabem escrever porque esse conhecimento é passado de pai para filho apenas em algumas famílias, todos os meus antecessores ocuparam o cargo de escrivão e assim também será com meus sucessores.

No momento em que nasci, meu destino estava traçado com o de Kaolin, minha grande amiga a quem me referi anteriormente. Isso porque nós duas nascemos no mesmo dia, horário e local. O nosso povo chama isso de irmandade celestial e acredita que pessoas assim possuem um laço inquebrável, portanto devem ser amigas e companheiras até a morte, o que por sinal nós cumprimos até que Kaolin morresse.

Fomos praticamente criadas juntas, já que nos tornamos vizinhas logo após o nascimento. Sua família era considerada minha família, assim como minha família era sua. Segundo minha mãe, éramos iguais em tudo. Tínhamos o mesmo tamanho, mesma aparência e aparentemente mesmo peso. Até mesmo em questão familiar éramos iguais, já que nós duas tínhamos apenas pai, mãe e uma avó, além de sermos as filhas primogênitas de nossos pais. Isso era ótimo, tendo em vista que, segundo a crença da irmandade celestial, devia haver um equilíbrio entre as famílias para que não fôssemos amaldiçoados por um azar eterno.

Tudo estava bem, até que completamos cinco anos de idade. Foi nesse mesmo ano que nasceu Aiyra, irmã de Kaolin. Assim, o equilíbrio entre nossas famílias foi desfeito, o que amedrontou a todos.

Meus pais tentaram de tudo para que tivessem outra filha e assim trazer de volta o equilíbrio. Realizaram todos os rituais para fertilidade de que tinham conhecimento. Mas, infelizmente, nada deu certo. O meu próprio nascimento já havia sido um presente dos deuses, porque meus pais queriam ter filhos há anos porém não conseguiam.

Meseméli, um sábio feiticeiro de nossa aldeia, nos visitou para analisar nossa situação e tentar revertê-la. Ele e nosso pais — meus e de Kaolin — junto com Aiyra, se reuniram em minha casa. As frutas são consideradas o alimento mais importante para nós peldejás. Nesse dia, nossas famílias usaram grande parte de nosso estoque de frutas no preparo de um verdadeiro banquete para receber o Sr. Meseméli.

Não permitiram que eu e Kaolin participássemos, mas estávamos tão curiosas que ficamos escondidas espiando o que acontecia.

A refeição durou pouco tempo, porque nossos pais estavam ansiosos demais para ouvir o que o convidado tinha a falar.

O Sr. Meseméli, após observar a criança recém nascida e ficar em silêncio por alguns minutos, disse que o único jeito de prevenir as futuras desgraças seria com a morte minha ou de Kaolin, porque enquanto as duas vivessem nós estaríamos fadados ao sofrimento. Mas ele deixou claro que essa morte teria que ser natural, portanto, não havia maneira imediata de resolverem o problema.

Olhei para Kaolin assustada, mas ela parecia muito entretida na conversa dos adultos e nem mesmo percebeu que eu a observava.

— Simples! Matamos o bebê, e assim, o equilíbrio será restaurado. — disse meu pai.

Eu era muito nova na época, mas me lembro muito bem da expressão sombria que tomou o rosto da Sra. Mehagali, mãe de Kaolin e Aiyra. Eu nunca a vi tão brava como naquele momento.

— Tente você matar sangue do seu sangue para provar como é simples, velho insolente! — ela gritou furiosamente.

— Não há motivos para este desentendimento. — começou o Sr. Meseméli. — Pois mesmo que matassem a criança, de nada adiantaria. O definhamento de suas famílias não se reverterá com assassinatos. Desgraça não é anulada com mais desgraças.

Após esse dia, iniciou-se um período de grande tristeza entre a família. Eu e Kaolin, tentando consolar uma a outra, nos aproximamos ainda mais, e consequentemente, nos afastamos dos outros ao nosso redor. Após as refeições, nós saíamos para conversar e brincar sem nem mesmo dizer uma palavra aos nossos pais, eles estavam afundando em melancolia. Passávamos horas assim, fugindo da tristeza e esquecendo as palavras do Sr. Meseméli.

Durante quatro meses após o nascimento indesejado de Aiyra, nada de mal ocorreu conosco. Mamãe e papai até pareciam mais tranquilos quanto ao assunto, dando a impressão que, assim como eu, deixaram de acreditar na profecia. Mas, no quinto mês, nossa aldeia foi afetada por uma tempestade muito forte. Incrivelmente, apenas nossas casas foram prejudicadas. Os telhados foram devastados e tivemos que morar temporariamente com uma família vizinha. Esse foi o primeiro sinal de que o azar previsto na lenda havia chegado.

Papai e mamãe culpavam os pais de Kaolin e tinham raiva deles, principalmente da mãe dela por ter dado à luz aquela criança que desequilibrou nossas famílias e trouxe somente sofrimento.

O pai de Aiyra não tratava a menina como sua filha, fingindo que ela nem mesmo existia. Mas, diferentemente dele, a mãe dela a amava muito, tanto que as vezes nem parecia que ela lembrava da maldição que a criança trouxe para a família. Em algumas das visitas que fiz à Kaolin na época, via a Sra. Mehagali conversando com Aiyra quando ela ainda não havia completado um ano, como se a menina pudesse entender suas palavras.

Quando pequena, eu não conseguia acreditar que nós estávamos condenados ao azar por causa de algo tão natural como o nascimento de uma criança. Mas hoje, após ter vivenciado tudo que vivenciei, tenho plena certeza que a partir do instante em que aquela garota respirou ar puro pela primeira vez, nossos destinos mudaram para sempre. Entretanto, acredito que o culpado dos eventos desastrosos que ocorreram e que, como explicarei posteriormente, levaram a morte de minha amiga irmã, não foi apenas o nascimento de Aiyra. Tenho que admitir que eu e Kaolin tivemos uma parcela considerável de culpa de alguns acontecimentos, apesar de acreditar que nossos atos estavam premeditados.

Escrevo na esperança de que meus sucessores, ao lerem meus relatos, percebam nossos erros e não os repitam.







30 Mai 2020 17:46 0 Rapport Incorporer Suivre l’histoire
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