Pedro, depois do elogio, se preocupa se Gabi ouve seu coração batendo tão alto, da mesma forma que ele escuta. Ele vê felicidade na expressão dela e a voz de quem não deveria ouvir finalmente se cala após o murmuro. As mãos de Gabi ainda suam frio, mas agora ela tem uma cor rubra no rosto. O desespero que outrora cresceu dentro do peito, e foi um péssimo inquilino, fez as malas e cedeu espaço a serenidade. Nenhuma palavra é equivalente ao sentimento do instante e ela apenas responde com um beijo

Gabi sentia as mãos suarem frio, a caminho da piscina. Em teoria, seria apenas eles dois, mas ela não confiava em seus colegas naquela excursão, eram todos tão cruéis. Pedro também sentia medo de serem interrompidos e atrapalhados pelos colegas, especialmente se tratando de um momento tão delicado. Haviam combinado de se encontrarem na piscina à noite, enquanto o resto da turma estivesse distraída na pequena festa de confraternização. Não tinha erro, seria apenas eles dois e suas inseguranças.

Qualquer possibilidade de manter a educação sumiu, a linha do aceitável foi transpassada. Encarei ele, como nunca havia feito, estiquei meus dedos para si e disse:  — No lugar do seu cérebro tu tem o que? Geléia? Ele se escondeu nos ombros sem eixo e algumas pessoas começaram a nos encarar. Não tinha como manter a educação, estava no momento de guinar minha vida para outros horizontes, um que não houvesse tanta humilhação. Me virei de costas e deixei o ônibus levá-lo, só pensei em dignidade.

"É só uma excursão", pensou Gabi, olhando-se no espelho. Porém, enquanto encarava seu corpo redondo dentro do maiô novo, sentia o desespero crescendo no peito. Já podia imaginar as piadas sobre suas celulites... Mas o Pedro estaria lá, e ele havia dito que queria conversar com ela. "Em particular", ele dissera. "É importante." E desde então só conseguia pensar no olhar meigo dele. Precisava ir. Tinha esperanças de ser amada como era. Sentindo-se tola, colocou o vestido e se encheu de coragem.

Eu não queria ter sido grosseiro com ele, pelo menos não foi minha intenção proposital, mas ele devia se pôr em seu lugar e começar a pensar que tudo e todos havia limites. Humor negro não era para o gosto de todos, a princípio não devia nem existir! Esperava do fundo do meu coração que, com o gelo que ele iria ganhar de mim dali em diante, começasse ponderar mais sobre o que dizia para as pessoas. Existia um limite para piada e, quando ultrapassado, já se tornava Bully.

— Ô Vitor, conhece aquela piada do anão no ônibus? Forcei uma expressão de expectativa: — Acho que não. Enquanto ele falava, eu fingia prestar atenção. Aceitava que meus amigos brincassem com minha realidade, rindo sempre das piadas como se de fato achasse graça, mas no fundo me sentia enojado. Só queria ser aceito, e era capaz de me deixar machucar por isso. Estreitei os olhos, desejando ser forte o suficiente para me impor e mudar aquela situação... Ele terminou a piada. Dessa vez, eu não ri.

À luz bruxuleante da piscina verde-água, cuja superfície ondulava com a brisa fria da noite, Gabi e Pedro se encontraram. As batidas de seus corações falhavam a cada passo que os aproximava, e Pedro já sentia a boca seca, mas ia reunindo sua coragem. Ficaram diante um do outro, um sorriso tímido tremendo nos lábios. Pedro pensou em tudo que gostaria de dizer, naquilo que transbordava em seu coração, mas só conseguiu murmurar, "Você está muito linda, Gabi. Você é muito linda," enfatizou.

Eu não deveria ter feito piadas sem graça! Isso não é bacana! Eu confesso que não percebi a gravidade disso, mas fui perdoado em tempo! Obrigada por ter entendido, amigo Vitor!

Cravava em palavras a sua própria indignação,Pedro temia os olhares dela de desprezo para o semblante dele,relutava contra ele mesmo.Da janela do quarto olhava para casais normais, felizes e contentes sem pensar na adversidade um do outro.Mas Pedro com jovialidade não veria dessa forma,por mais que conversasse durante horas consigo,a voz de quem não deveria ouvir tinha tom e rigidez.O vazio assegurava mais e mais aquela frase feita dentro dele 'você acha que a fará feliz com esse corpo esguio?'.