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Novos traumas

Desde que voltei pra casa tenho passado e repassado em minha mente as coisas que vi e ouvi lá no Cisam.

As partes mais importantes e dolorosas viraram texto quando eu ainda estava lá, internada, cercada de mofo, solidão e reclamações de que o ar condicionado estava muito frio. Ora veja, será que era por estar num hospital. Talvez, quem sabe. Com o passar dos dias lá e a dificuldade de fazerem meu sangramento parar fui avisada de que faria um procedimento chamado AMIU, um tipo de curetagem que retira o endométrio que estava lá tentando me matar, ok, estou sendo sarcástica comigo mesma, então eu posso, ou não? Mas desde a primeira vez que tive problemas com meu útero ou minhas menstruações ao longo da vida sinto que esse aspecto biológico de ser mulher é uma merda, que não me pertencia. Dor, sangramento forte, espinhas, fome, e outros sintomas inacreditáveis sempre me fizeram questionar se eu seria menos mulher se pedisse pra tirar, e, cheguei a conclusão que não seria, jamais, isso não me reduzia a uma categoria inferior ou estaria sob discussão de qualquer um que não seja eu. O médico cirugião chefe do setor acha que com toda chatice e machismo dele me fez mudar de ideia sobre isso, não mudei e eu seria no mínimo burra demais se mudasse algo nesse momento.

Bem... Me preparei pra o procedimento com horas de jejum e muita água, e fui para o bloco, sangrando muito, com aquela batinha curta sem calcinha e sem absorvente, me largaram numa cadeira de plástico com meu prontuário na mão e eu fiquei lá, entregando a um e a outro, sentindo dor e impactada com tamanha frieza, nessa área do bloco cirurgico fui olhada e tratada como um pedaço de carne. Os poucos que se dignaram a me ouvir agradeço de coração, mas quando cansei da palhaçada, uns 45 minutos além da hora marcada, levantei, pedi pra ir no banheiro e nisso sujei tudo a minha volta. Cadeira, chão sapatinho de touca que fica no pé, pela primeira vez não me envergonhei do sangue e ai quando viram o tanto que derramava correram comigo num banheiro das salas de parto, me ajudaram a me limpar, trocaram a roupinha suja, tudo muito bonito, coloquei absorventes e compressas pra não sujar tudo de novo, arrumaram uma cadeira nova, forrada com absorventes gigantes e chamaram um dos médicos, quando ele me viu pediu pra tirar minha pressão, batimentos, fez um novo acesso em meu braço e me medicou pra tentar diminuir a hemorragia, conseguiu, em 20 minutos eu estava na sala de cirurgia, naquela posição incomoda de 10 pra 9:00 e com pessoas passando e olhando minha buceta, surpresos com a quantidade de sangue me lavaram na mesa de novo enquanto aplicaram a anestesia, tentaram a rack mas eu sou gorducha, não serviria bem, deram a geral, fui ouvindo as conversas e apagando, apagando, ai acordei, já tinham terminado, minhas pernas estavam na posição normal e eu fui levada a sala de repouso. A médica que ajudou no procedimento estava lá, perguntei se ela viu algo estranho ela disse que não, mentira, depos soube que pediram urgência na biópsia mas tinha dado certo. Os dias passaram, conclui os exames, o sangramento não parou apesar de diminuir consideravelmente e eu ir me recuperando aos poucos. Esse momento foi extremamente doloroso pra mim, relutei dias em contar mas o certo é que se guardasse, sofreria bem mais. 10 dias depos cheguei em casa, Meia Noite pareceu um tanto indiferente no primeiro dia de volta mas já dorme comigo e me acompanha em qualquer lugar que vou. Ainda me sinto zonza, com o coração acelerado porém melhor. Preciso de dinheiro pra comprar remédios e produtos de higiene, mas estou confiante de que vou ficar bem novamente. Que isso vai passar. Vou deixar aqui a chave do meu pix; (87) 98171 1850. Qualquer valor é muito bem vindo já que até sair minha cirurgia e ficar bem mesmo será um tempo longo. Agora vou me preparar pra dormir, espero que amanhã faça um sol, quero sentir o sol na pele e ter mais certeza do quanto vale a pena lutar pra continuar viva. Até breve.

26 Juin 2022 03:19 4 Rapport Incorporer 2
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