Sento-me ao lado de meu pai, que segura a minha mão. Estou em seus aposentos na companhia de minhas irmãs, presenciando os últimos resquícios de vida que deixam seu corpo. Há semanas ele vem sofrendo de algum tipo de doença incurável desconhecida até mesmo pelas mais poderosas feiticeiras. Papai reinou Dundeya por longos cinquenta anos e a coroa já está pesando demais em sua cabeça.
Thalia chora ruidosamente enquanto meu pai derrama algumas lágrimas por conta da dor. Ela é a primeira na linha de sucessão ao trono, mas pouco sabe sobre como uma rainha deve se comportar. Rainhas não devem demonstrar fraqueza e cada lágrima que escapa de seus olhos é uma prova sólida de sua vulnerabilidade.
Thalia não está pronta para governar.
— Não chore minha pequena — pede papai a Thalia com sua voz fraca.
Thalia olha para ele e tenta, em vão, parar o fluxo úmido de seus olhos. Rowena, a um canto do quarto, chora silenciosamente, derramando poucas lágrimas. Já eu não me autorizo a chorar. Por mais que me machuque ver meu pai morrendo, não derramo uma lágrima sequer. Verdadeiras rainhas não demonstram sua fragilidade.
Eu deveria ser a Rainha de Dundeya.
Assim que papai fecha os olhos em definitivo, o anúncio é feito. O Rei está morto! Vida longa à Rainha! Somos obrigadas a sair do quarto para dar prioridade ao médico responsável por verificar a saúde da família real. Ele confirma o que já sabemos, dando início aos procedimentos necessários para a preparação e sepultamento do corpo. Do lado de fora, a plebe já reage à notícia. Os dundeyanos estão divididos a respeito de sua futura rainha. Alguns temem sucumbir a desgraça ao coroar uma rainha que não foi agraciada pelos deuses com nenhum dom, nenhuma afinidade. Outros acreditam que ela será o início de uma nova era em que os deuses distribuíram suas graças independentemente da linhagem ou classe social.
Não demora muito até que nós, devidamente trajados, acompanhemos o majestoso caixão de madeira escura e polida, entalhado com arabescos e enfeites que realçam a importância de nosso pai para o país. O cortejo dá-se pouco tempo depois de sua morte, com todos os nobres curvando-se diante do corpo agora sem vida de meu pai. As preces são cautelosamente proferidas e eu pareço ser a única a manter-me firme e reprimir minhas indesejadas emoções. Lorde Kroon e sua esposa, Sorscha, estão um tanto deslocados com suas roupas alegres e coloridas representando as cores do Verão em meio a cores mais sóbrias dos outros nobres. Uma sombra de pesar cai sobre o rosto sempre alegre de Lorde Kroon quando ele olha para o caixão que abriga seu companheiro de tantos anos. O reinado de meu pai foi próspero e ele foi muito adorado pelo seu povo. Os dias que decorreram a morte do rei de Dundeya foram sombrios por todo o continente
A coroação de Thalia tomará lugar em dois dias. Não posso permitir que ela governe Dundeya. Se não pelo próprio bem dela, então pelo bem do povo. Os Dundeyanos não merecem uma rainha fraca. Eu sou a pessoa mais qualificada para o cargo, mas, por azar do destino, sou a segunda na linha de sucessão e não poderia assumir a coroa enquanto Thalia estiver aqui.
Penso em matá-la. Contudo, mesmo com todos os defeitos que tanto me incomodam e provam sua incapacidade de tornar-se uma imponente soberana, ainda nutro certo afeto por ela. Não sei se poderia suportar a culpa de sua morte. Deve haver outro jeito de tirá-la do meu caminho. Algo eficaz, mas que não manche minhas mãos com o sangue que tão fortemente compartilhamos. Enquanto minhas irmãs lamentam o falecimento do Rei de Dundeya, uma macabra ideia forma-se em minha mente.
Sei exatamente o que devo fazer.
Gracias por leer!
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