Seis da manhã. Abro os olhos, passo a mão no rosto ainda meio sonolenta. Desligo o despertador. Me levanto tentando achar minhas pantufas brancas. Vou direto para o banheiro. Sento-me no vaso afim de aliviar a bexiga. Coloco meus cabelos para trás. Me levanto e tiro o meu pijama. Hora de tomar banho e me preparar para o trabalho. Meu primeiro pensamento é a lembrança da cena de ontem dentro do escritório que fizeram minhas bochechas pegarem fogo.
Tento não lembrar por um momento. Tomo meu banho o mais depressa possível. Saio do banheiro com a toalha enrolada em meu corpo, penteando as minhas madeixas escuras. Abro a cortina do meu quarto. Olho a rua quase deserta pela janela. Abro as portas do guarda-roupas e na primeira gaveta escolho um conjunto de calcinha e sutiã cor da pele rendado. Retiro do meio das roupas penduradas nos cabides, um vestido midi azul marinho que valoriza minha cintura e bunda, combinado com escarpins no tom nude. Faço uma make básica: batom cor de boca, lápis nos olhos com um traço fino, máscaras nos cílios, um pouco de blush para me deixar com um ar saudável e, por último, três borrifadas do meu Jean Paul Galtier entre os seios.
"Tô pronta".
Pego a bolsa na cor caramelo e saio em direção à estação, que não fica muito longe da minha casa. Embarco na linha azul do metrô, com destino à estação Tucuruvi¹, dentro da capital de São Paulo. Procuro um assento na janela, sento-me, observando o dia amanhecer e o pensamento me invade...
"Mas que homem gostoso"...
Ontem foi meu primeiro dia na nova empresa. É uma empresa de gerenciamento de transportes de cargas e confesso que quando encontrei o endereço, me espantei. Depois de saltar da estação, embarquei em um ônibus que me deixou em certo ponto na rodovia Dutra. Tive que andar por uma estrada enorme e deserta até chegar a um lugar bem grande, parecendo um terminal de cargas de aeroporto. Havia um pátio enorme com uma grande frota de carros, caminhões e máquinas.
Uma mulher simpática e bem acima do peso vem atender- me na sala de espera, identificando-se como coordenadora. Apresentou-se como Valquíria. Me dá um teste para realizar e diz para entregá-lo, assim que concluído, em sua sala no final de um corredor. Termino o teste em quinze minutos, me levanto e vou em direção á sala dela. Bato na porta de vidro e entrego o teste preenchido.
- Obrigada Carolina, daqui a pouco o supervisor vai te encontrar e liberar o seu acesso ao sistema. Aqui está o seu novo crachá. Não se esqueça de usá-lo sempre. Você pode ocupar a mesa seis, na terceira sala, á direita. Seja bem-vinda!
- Eu que agradeço! Com licença. - pego o crachá, fecho a porta após mim e saio, passando por duas salas vazias.
Cinco minutos depois, já sentada em minha mesa, alguém chama o meu nome.
- Carolina? - Ouço uma voz grave, masculina, acompanhada de um perfume que invade a sala com todos os feromônios que possam mexer com os meus sentidos. Me levanto rapidamente.
- Sim... Sou eu. - viro-me para ver quem me chamara.
Lá está! Camisa social branca, calças de sarja, sapatos casuais e um cheiro...
"Nossa, que cheiro bom!"
O homem é um escândalo: alto, cabelos escuros, barba por fazer, atlético, olhos castanhos escuros, uma mandíbula larga com contornos bem definidos. Semblante sério, quase que com raiva. Tem imponência. Já conheci homens bonitos, mas nenhum se iguala a ele.
- Tudo bem contigo?
- Tudo bem.
- Você pode escolher um nome de usuário e uma senha para eu cadastrar no sistema? - Ele me estende uma caneta e um pedaço de papel.
- Sim, claro. - pego o papel e a caneta reparando em suas mãos grandes. Anoto um login qualquer e quando devolvo, o papel cai de minhas mãos.
- Ai, me desculpe. Estou nervosa.- me agacho e ele também.
- É normal no primeiro dia... rs. - ele esboça um sorriso de canto de boca com uma sobrancelha arqueada, enquanto pega o papel. - Muito prazer, meu nome é Marcos. Seja bem-vinda! Eu serei seu supervisor. - ele me estende a mão, eu o cumprimento e me emrubreço.
Não acredito que esse pedação de mau caminho será meu chefe. Isso é tentação demais!
"Foco, Carol!"
- Que bom, rs... Estou à disposição então... - digo com certa vergonha, e ele sai.
Meus olhos acompanham-no indo em direção à sala da coordenadora. Consigo observar que tem costas bem largas, um quadril esguio. Noto as coxas bem definidas. Uma bunda trabalhada.
"Deve ter um pau daqueles."
Neste momento, tive a sensação de estar molhada.
Consigo vê-lo conversar com a coordenadora, pois as paredes das salas do setor são de vidro, assim todos vêem o que está acontecendo. Ele definitivamente despertou alguma coisa dentro de mim.
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"Cacete, que demora..."
Já se passaram vinte minutos e fico pensando até quando terei que esperar para que eu comece minhas atividades como a mais nova assistente administrativo da Expert S/A.
"Marcos... Esse é o nome dele"
Ele se foi com o rascunho do meu login e ainda não recebi autorização e senha para acessar o sistema.
"Será que ele volta para me passar a senha ou..."
Neste momento, sou interrompida em meus pensamentos por uma moça morena, de cabelos lisos, escuros e compridos.
- Oi! Você está começando hoje, né? - pergunta ela, animada.
- Oi... Sim. Prazer, me chamo Carolina. - levanto-me da cadeira, estendendo a mão para cumprimentá-la.
- Muito prazer, me chamo Lurdes! Serei sua vizinha de sala, rs.
- Legal. - respondo sem saber como dar continuidade à conversa.
- Você já foi apresentada a todo o pessoal? - pergunta ela.
- Não, ainda não. Só conversei com a Valquíria e o supervisor que veio colher minhas informações de cadastro. - tento disfarçar a excitação na voz.
- Ah não esquenta, logo você conhecerá todos. A maioria costuma chegar às nove da manhã. Daqui a pouco isso aqui virará uma bagunça. - nisso, o telefone da minha mesa toca e ela toma-o na mão para atender.
- Expert, bom dia. [...] Um momento que vou transferir para a mesa dela. - ela digita um número e desliga o telefone. - Qualquer coisa, estou aqui. Até mais. - ela sai.
Enquanto Lurdes sai, retiro de dentro da bolsa minha caneca de café favorita, dois livros sobre gestão financeira que estou lendo, meu celular e meus fones de ouvido. Vou ajeitando minhas coisas na mesa. De repente, sinto aquele cheiro delicioso de mais cedo e deduzo que o chefe está na porta. Ajeito meu vestido novamente, tentando disfarçar minha euforia interior e me viro. Ele está com uma das mãos no bolso da calça, aproxima-se de mim, com um tom sério.
- Oi, novamente. - retira do bolso um pedaço de papel - Esse é o seu login e senha. Pode, por gentileza ligar o computador? Vou te mostrar como se acessa o sistema da empresa.
- Certo, tudo bem. - fico meio desconcertada quando ele toca no meu ombro fazendo-me sentar. Tento disfarçar a inquietação.
"Se concentra..."
Ligo a CPU esperando a tela inicializar.
- Carolina, todos os lançamentos que você fizer no sistema passarão por mim. Os cadastros e todos os dados compartilhados da empresa, de acordo com as permissões que eu defini para você. Digite seu login e senha para darmos início. - ele me indica, encostando sem querer a sua mão na minha ao lado do mouse. Finjo que não notei, mas é claro que notei...
"Gostoso"
Os demais colaboradores vão chegando, cada um tomando seu posto nas salas ao lado, ao passo que Marcos vai me mostrando como acessar o ERP. Não é complicado. Já trabalhei com sistemas parecidos e ainda tenho a vantagem de dominar algumas linguagens da computação, como o MySQL e PHP. Meus dois anos no curso de T.I me abriram muitas portas.
Todos os que vão chegando, passam por nós e cumprimenta-nos com um "bom dia" e eu vou respondendo cada um, sempre me virando para olhá-los.
- Você vai conhecer todo mundo depois. Por enquanto, se concentre em mim e no que eu estou te mostrando. - Marcos me olha com um olhar sexy.
Sabe quando uma pessoa cerra os olhos e abre um leve sorriso de canto de boca? Pois bem, mantenha essa imagem em sua mente. Esse será o olhar caçador do Marcos para mim daqui em diante. Sim, porque ele me considera uma presa. Ele não é só bonito. Ele é sexy, charmoso. Ele atrai a atenção de qualquer pessoa. Ele lança a isca, afim de qualquer mulher de alma carente ser fisgada.
"Sim senhor, chefe"
- Marcos, caso eu tenha alguma dúvida nesses primeiros dias, e com certeza você estará ocupado, quem eu devo procurar? Com certeza, você não estará disponível. - digo em um tom mais relaxado.
- Porque você deduz que não estarei disponível? Eu paro o que estiver fazendo e venho te ajudar, sem problema algum, Carolina. - e aquele olhar sexy.
- Uau... - sem querer, saiu da minha boca, juro. Eu ruborizo na hora. Minhas bochechas queimam, tento disfarçar colocando uma mexa de cabelo atrás da minha orelha.
- Rs... O que foi? - Ele percebe que mexeu comigo e ri da situação.
- Oh, nada! Você... Não foi nada. Me desculpe.- sorrio.
- Você pede desculpas sem necessidade. Pare. - ele diz, sério.
- Tudo bem, vou parar. - digo olhando para o lado e fecho meus olhos num gesto de desaprovação de mim mesma.
- Ótimo. Vamos trabalhar então. Todos os lançamentos precisam estar corretos para não ocorrer o erro de alterar o percurso das frotas. É por isso que eu vejo tudo o que está sendo digitado na tela. Todos os doze computadores deste setor estão enviando dados e imagens para o meu computador. Qualquer erro, eu vejo.
- Ok. Vou me atentar para não cometer erros. - olho para a tela do computador. - Não quero que você venha aqui me chamar à atenção. - digo com naturalidade.
- Não quer? - aquele olhar...
- Não, não quero. Porque eu deveria querer? - provoco.
-Verdade... Você não vai querer mesmo. - ele me encara por um breve momento. - Bem, vou deixar você se familiarizar com sistema. Qualquer coisa, só clicar no botão do Help Desk que eu vejo a solicitação e respondo qualquer dúvida que possa ter.
- Tá bom. Obrigada. - fico olhando seu peitoral.
- Disponha, senhorita. - ele me diz sorrindo, se levanta e sai, colocando as mãos nos bolsos da calça e uma perna atrás da outra lentamente.
"Já vi que terei um lindo, alto e maravilhoso problema trabalhando aqui".
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- Oi, tudo bem? Já deu tempo de conhecer tudo? - Lurdes me interrompe toda empolgada à porta.
- Bem, muitas pessoas me desejaram bom dia.- respondo sem a olhar, digitando em meu computador.
- E o que você achou do supervisor? - ela se aproxima com um sorriso de quem gosta de notícias bafônicas.
- Normal. - disfarço.
- Ah, pare! Vai dizer que não achou ele um gato? - ela me empurra.
- Você não é nada especulativa, né? - não me abro com as pessoas para falar de nada relacionado à mim. Isso é um defeito? Talvez. Mas já me livrou de muitas dores de cabeça. Lurdes não será a primeira pessoa com quem vou começar a me abrir.
- A maioria aqui já passou a mão naquela bundinha durinha dele - ela se agita toda.
- Quem diz uma coisa dessas para alguém que acabou de ser contratado? Eu hein... - meneio a cabeça, espantada com ela.
- Ok, já entendi. Você não me conhece para ter esse tipo de conversa comigo... - ela diz desapontada. - Não liga não. Você se acostuma com meu jeito. - ela abre um sorriso simpático.
No momento, pensei que ela estava me testando, mas depois, ao ver como ela se comportou ao longo do dia com os outros colegas, concluí que todo aquele afoitamento é de sua personalidade mesmo.
Já é o horário de almoço e nem vi o tempo passar. Fiquei a manhã toda digitando os lançamentos atrasados da última pessoa que ocupou o meu posto. Tem muita coisa para eu colocar em ordem. Está uma verdadeira bagunça. A cada hora chegam folhas e mais folhas trazidas por dois colegas que ficam no pátio da empresa, realizando o apontamento de cada veículo ou maquinário que entra.
Não é difícil entender a rotina de trabalho. Eu lanço os horários dos veículos e registro as entregas de cada um. A empresa tem várias filiais em São Paulo, e toda essa frota faz carregamento e descarregamento de materiais. O meu trabalho é registrar tudo isso no sistema da empresa. Quando o horário não está de acordo com o relatado nas folhas de apontamento, é necessário corrigir.
Lidar com os maquinários é mais complicado, porque além de lançar os horários em que cada máquina foi utilizada, eu preciso verificar que tipo de maquinário foi utilizado e também calcular o tempo ocioso entre carregamento descarregamento.
- Você vai almoçar agora? - Lurdes pergunta.
- Nossa, nem vi a hora. Sim, vou sim. Tem refeitório aqui ou temos que sair para almoçar em algum restaurante?
- Você escolhe. Nossa empresa tem um contrato com um restaurante que fornece a alimentação. Se você quiser, você pode pedir a comida e comer lá no refeitório, ou pode comer fora. Só que se você não estiver de carro, tem que andar bastante.
- Aff! Não tenho carro. Você acredita que vim andando aquela estrada inteira com esses saltos hoje de manhã? Confesso que quase desisti no meio do caminho. Não sabia que teria que andar tanto. Como eu faço para pedir a comida?
- Você liga nesse número de telefone e passa seu ID de registro.- ela escreve num papel.
- E como eu vou saber meu ID? - pergunto.
- Ah, é esse número que está no seu crachá. - ela aponta para o número da minha matrícula no crachá pendurado em meu pescoço.
- Ok, então posso ligar agora e pedir ou não dá mais tempo?
- Pode sim, eles trazem. Só que acho que vai demorar uns 30 minutos. Eu sempre faço o meu pedido às dez da manhã, assim quando são umas treze horas eles já deixaram no refeitório.
- Beleza! Não posso me esquecer de ligar e pedir amanhã nesse horário. Obrigada Lourdes. - digo pegando o telefone e discando o número. - Alô? Oi, eu quero fazer um pedido de almoço aqui para a Expert. Sim. O número é 07582. Nome: Carolina Soares. Uma salada e peito de frango grelhado, por favor. Obrigada. - desligo o telefone. - Bem, acho que vou continuar trabalhando então até meu almoço chegar.
- Tudo certinho então eu vou lá almoçar, tá? Até mais. - ela vai saindo quando encontra Valquíria no corredor. As duas comentam sobre alguma coisa que não consigo ouvir, riem e saem juntas.
Pego uma folha de apontamento e continuo com os lançamentos no sistema. Dez minutos digitando e sinto meu estômago roncar. Levanto-me para tomar um pouco de água. Em minha sala há um cantinho onde fica uma garrafa fechada de água mineral juntamente com meia dúzia de copos descartáveis. Abro a garrafa e encho o copo com água. Levo-o á boca.
- Não foi almoçar ainda? - quase me engasgo com a água quando Marcos me surpreende à porta.
- Ai que susto! Nossa... - digo tentando limpar o que escorregou pela boca e pescoço.
- Foi mal, não queria te assustar, rs. - ele ri.
- Tudo bem, não foi nada. Só acabei de me babar inteira, rs. - mexo no decote do vestido.
- Ainda não foi almoçar ou já almoçou?
- Não, ainda não. Eu fiz o pedido. Eles vão demorar 30 minutos para entregar e eu estou morrendo de fome. - Faço uma careta, roçando a barriga com as mãos.
- Se você quiser, eu compartilho meu biscoito secreto com você, mas não conta para ninguém. - Acho que senti uma mensagem subliminar no ar...
- Ah, obrigada, mas não. Se eu comer seu biscoito, com certeza não vou almoçar. E ele deve ser apreciado devagar, não devorado por uma esfomeada feito eu. - toma também!
- Ok senhorita, eu só quis te ajudar a aplacar essa insaciedade. - ele me dá de ombros e sai.
Eu me pego sorrindo, encantada com sua gentileza. O problema é que acendeu uma luz vermelha em minha mente, me dizendo que esse é o limite. Passar daqui será desastroso para mim.
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Maravilha! Um almoço leve, e ainda tenho mais 20 minutos de pausa.
Gracias por leer!
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