Uma infância inteira se construiu em um espaço, em uma casa, e, essa mesma infância há tempos deixada, estava a ser recuperada. Assim como a infância rudimentar abandonada, a casa também se encontrava esquecida num cantinho no interior de Minas Gerais. Que não as fotos, nenhum outro vestígio eu tinha para lembrar, mas talvez tudo poderia estar lá.
A seu encontro me questionava a todo momento o que eu poderia encontrar, em qual estado, quem poderia lá estar... Devido a ausência de evidências, andava pela estreita estrada de terra pensando em todo tipo de possibilidades, impossíveis de serem constatadas sem a evidência dos acontecimentos.
Chegando lá, um misto de sentimentos entranha a minha carne. Visualizei aquela humilde e deslumbrante estrutura concreta em minha frente. Pequena e sedutora. Tomada por um alto matagal, apenas se viam o alisar de duas resplendorosas janelas ausentes, dispostas ao meio pelo espaço de porta que lá veio a existir, desgastadas pelo tempo. Sua cobertura, intacta, era revestida por telhas feitas às coxas, graças à diáspora negra que de tanto conhecimento tecnológico nos alimentou. O típico crucifixo exposto em frente as tradicionais casas do interior, ali não se encontrava mais. Distante de qualquer estrutura moderna e entre as verdes montanhas mineiras, o terreiro, o paiol, o chiqueiro, o galinheiro não mais existiam, e foram tomadas pelos matagais.
Enfim, deixando de lado fisionomias, a curiosidade me pedia para aproximar e adentrar a casa, o medo me afastava dessa possibilidade. Devido a inexistência de fatos, supunha que ali poderia estar residindo alguma simples família, ou fugitivos da polícia, ou moradores pouco simpáticos a presença humana..., ou até mesmo canibais..., sei lá! A curiosidade poderia me levar a morte, e o medo me impediria de ver o chão onde dei meus primeiros passos. Me vi diante de duas opções, ou voltava e deixava por esquecido os cômodos a qual eu cresci, ou enfrentava o risco e seguia em frente, até que eu ouvi um leve sussurro em meus ouvidos: “Amor fati”. Naquele momento certifiquei-me de ter vivido o melhor possível em minha vida, e então segui na busca de sinais que pudessem sugerir algo. Circundei a casa tentando captar vestígios humanos, recentes alterações no espaço e sons dentro da casa. Me tranquilizava o fato de nenhum sinal ser encontrado.
Por fim, fui ao encontro do inesperado, já estava disposto a não voltar e viver a mesma vida de sempre, sem a minha infância perdida. Adentrei com a cabeça por uma janela e, surpreendentemente, encontrei o que reconfortava meu coração (mas não mais o que minhas expectativas aguardavam), o nada. Aquele nada era composto por paredes e pedaços do teto caído, que a um mero expectador não passaria disso. Logo mais, ao cômodo vazio se envolvia meu corpo, marcado por memórias e emoções que fugiam aos espectros mais racionais, histórias que se emergiram do nada e alimentaram ainda mais minha atração pela vida.
Na volta para casa um novo eu saía de lá, convencido de que minhas experiências, premissas e constatações podiam ensinar a todos. Queria aconselhar ao mundo sobre a importância dos sentimentos e da melancolia, falar de como superei a angústia pelo medo, o inesperado e a curiosidade, mostrar que o nada pode ser tudo e tem muito a nos dizer sobre quem somos. Contei minhas histórias a um primeiro amigo que nada o surpreendeu, a um segundo que me viu como louco, a um terceiro que me deu as costas, a um quarto que toda atenção deu para não me magoar e, nada sentiu. Mas como em minha mente a experiência fazia sentido e tudo via, mas da boca para fora ninguém sentia?
No reconforto dos pensamentos, lembrei quando Schopenhauer nos disse que o mundo é feito de vontades, e na sua ausência tudo se torna uma fantasia. Aqueles sentimentos e vivências só faziam sentido a mim pela vontade da busca de um eu interior, e jamais poderiam fazer sentido a quem não pudesse senti-los em suas vidas. Quando dei por mim, aqui estava eu escrevendo, passando meus sentimentos para o papel na busca que algum dia alguém leia e sinta os aprendizados, ou que daqui vinte anos eu me reencontre em minhas palavras.
Ah!!! E sabe o que eu queria falar aqueles meus quatro amigos? Que nosso universo interno de emoções é despertado pelo mundo e queremos sempre nos autossabotar com a angústia, mas, se buscarmos sempre pelo nosso super-homem, a angústia será apenas a areia do no nosso grande mar que é a satisfação pessoal. Aquele dia eu queria que eles entendessem no meu tempo, agora, escrito, algum dia eles podem ler e usar em suas vidas.
Gracias por leer!
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