O ódio é um sentimento criativo.
Leanne havia aprendido isso quando ainda era apenas uma criança confusa e indefesa. Na época não entendia o porquê de a cada dois meses sua mãe lhe pôr em um carro e partir desesperadamente para o estado mais próximo, até que aos onze anos a verdade foi jogava a mesa como um baralho de cartas; seu pai era um perseguidor, um homem ruim que jamais aceitaria um término. Um monstro.
As maiores lembranças de sua infância se passavam no velho Ford Taurus vermelho que sua mãe dirigia, um belo achado que conseguiu comprar em Cleveland semanas antes de decidir finalmente fugir. Lembrava-se também dos postos 24 horas que hora ou outra incomodava sua mãe para lhe dar um dos óculos enormes com qualidade duvidável que deixavam a mostra, dos fast foods gordurosos com odores desagradáveis e acabou, não havia mais nada que pudesse vir a sua mente depois disso.
A cacheada escorregou as costas pela parede fria do banheiro público, sentando-se no chão sujo de barro e urina. Sua respiração saía lenta e com dificuldade, ela parecia estar lutando contra seu próprio corpo para poder respirar corretamente. Seus olhos, por outro lado, estavam inquietos, corriam por todo aquele cubículo asqueroso, parando sua atenção em seus trajes sórdidos de um líquido vermelho que logo reconheceu ser sangue, Leanne apenas não sabia responder se era dela ou de outra pessoa. Ela se pôs a chorar, sem entender o que estava acontecendo ali, era como se simplesmente tivesse ido dormir com onze anos e acordado no outro dia com dezoito.
Queria saber onde sua mãe estava, desejava entender de quem era aquele sangue se não havia machucado algum em seu corpo, mas primeiro exigia o porquê de ter acordado naquele banheiro imundo. Leanne levou as mãos até a cabeça, sentindo uma dor horrível se espalhar por todo o seu crânio e então uma luz branca invadiu suas córneas, lhe proporcionando uma sensação extremamente desagradável. Instintivamente suas mãos em frente a seus olhos, cobrindo-os do desconforto.
— Uh? moça... você está bem? — Uma voz masculina lhe perguntou em um tom confuso e arrastado. — Isso é... sangue? Kyle, chame a ambulância!
Leanne sentiu duas mãos firmes em seus ombros, lhe sacudindo de leve e então abaixou suas próprias mãos, abrindo os olhos para observar a pessoa a sua frente; um adolescente com vestes de um famoso fast food do país. Sua expressão assustada se mesclava entre desespero e preocupação, era notório que aquela deveria ser a primeira vez que o rapaz se encontrava perante uma situação assim. A garota respirou fundo, levantou levemente a cabeça e engoliu o pouco da saliva em sua boca, limpando sua garganta e o jovem se pôs a olhar para os lados e para a porta por onde havia entrado, esperando que Kyle, seu colega de trabalho tivesse contactado o 911.
— Onde estou? — Foi a única pergunta que conseguiu realizar no momento e parecia a melhor a se fazer agora.
— Ah, Detroit? Na... hum, zona química? — Ele disse meio incerto.
Zona química. Foi rápido, como uma bala lhe atingindo a cabeça e espalhando fragmentos do que pareciam ser de momentos antes. O bairro era conhecido como um dos mais perigosos de Michigan, anteriormente nomeado apenas como Zona, passou a ser chamado de Zona Química quando viciados e traficantes passaram a se juntar por aquela área, ajudando no crescimento dos índices de violência da cidade, contudo, não era por isso que Leanne possuía aquela expressão pavorosa em seu rosto.
Espalhando-se vagarosamente por suas lembranças, Leanne encarava um ponto fixo no chão enquanto as memórias passavam diante de seus olhos; ela via um carro, o fogo, a dor, o medo, e acima de tudo, uma figura mascarada a frente de si. Tudo estava passando tão rapidamente, era difícil para seu raciocínio acompanhar e gradualmente a dor angustiante em sua cabeça insistia aumentar.
— Kyle! — O jovem voltou a gritar para o colega, ainda segurando Leanne.
O corpo da garota foi para frente, manchando os trajes limpos de coloração branca e amarelada do rapaz. Sua visão estava turva, obscurecendo a cada segundo que se passava e só conseguia pensar que naquele momento estava morrendo.
— Ah! Merda! Kyle, vem aqui!
Foi a última coisa que pode ouvir antes de perder a consciência.
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