lovage Lovage

Divórcio. Uraraka estava certa de sua decisão. Mas não era tão fácil ter certeza quando Bakugou estava por perto. "- E a gente se acertou? - Acho que "se acertar" nunca vai ser o certo para a gente. " Arte usada na capa @deb_mm


Fanfiction Anime/Manga Sólo para mayores de 18.

#boku-no-hero-academia #bnha #kacchako #kacchaco #bakugou #bakuraka #divorcio #drama #258 #casal
Cuento corto
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Capítulo Único

A cama era muito mole para ser a própria. A cabeça doía de maneira quase insuportável e podia sentir os batimentos acelerados gerados pela ressaca. Odiava aquela sensação. Mas o cheiro daquele perfume era tão bom… Calma, aquele perfume? Levantou-se rapidamente e amaldiçoando-se por isso. Ao menos estava sozinha. Notou que suas roupas estavam dobradas ao pé da cama. Fechou os olhos, passou a mão pelos cabelos e tentou recordar-se do dia anterior.

Lembrou-se de ter ligado para Deku convidando-o para comemorar os papéis do divórcio que havia acabado de assinar. E como queria assinar aqueles papéis. Lembrou-se de beber, de dançar, de as coisas estarem começando a perder o foco, e talvez aquilo a tivesse levado para aquele quarto.

Tinha três anos de casada e pelo menos outros dois de relacionamento. Não era a primeira vez que ela ou, o agora, ex-marido pediam a separação. Ao mesmo tempo em que era um dos homens mais incríveis que ela já conhecera, ele era tão teimoso! E grosseiro! A cada 10 palavras que ele falava, pelo menos 8 eram palavrões. Brigavam por coisas que não eram nada demais, assim como o hábito que ele tinha de tomar água direto da garrafa ou o que ela tinha de colocar os pés sujos sobre a cama. E ele gostava de se pôr em risco à toa. Fazia parte de ser herói, ela entendia. Mas caramba, já quase o havia perdido mais vezes do que poderia ser considerado aceitável, e ele parecia não dar a mínima para o que ela sentia sobre isso.

“Não é nada demais, Cara de Lua”

Era algo demais, sim! E ele parecia não entender! Quando esse tipo de coisa acontecia consigo, ele passava dias amontoado na poltrona de acompanhante, muitas vezes sem dizer uma palavra sequer, irritado. Mas quando não estava irritado? Aliás, irritação quando se falava de Bakugou era quase pleonástico.

Enrolou-se no lençol e levantou-se, averiguando o espaço. Não havia nada de errado. Era um quarto de hotel, comum. Talvez tivesse conhecido alguém que também usava aquele perfume e bem, ela estava solteira, não estava? E Deku estava cuidando dela também. Talvez nem fosse nada...

Caminhou furtivamente em direção à porta, abrindo uma fresta. E puta que pariu! Queria gritar. Como sairia daquela situação?

Pegou o telefone e discou o número ansiosa. Tocou uma, duas, três, quatro vezes e parecia que ele não ia atender nunca.

- Deku, eu preciso de ajuda. Acho que estou no quarto de hotel do Katsuki. Eu nem sabia que ele tinha voltado para o país!

“Calma, Ochako. Eu não entendi exatamente o problema. Eu achei vocês dois bem apaixonados ontem...”

- Apaixonados? Deku, eu assinei os papéis do divórcio. Eu não…

“Assinou e rasgou. Para todo mundo ver. Não que isso seja alguma novidade, não é? Eu já estava achando que dessa vez ia acontecer mesmo. Vocês demoraram demais para voltar atrás!”

- Eu… Rasguei?

“E depois sentou no colo dele, em cima do bar... Foi bem quente, sabe?”

As bochechas dela pareciam ter se acendido de tão vermelhas. Então era verdade. Ele estava de volta. Sentiu seu interior remexer-se. Era fácil estar convicta quando Bakugou não estava por perto. Era mais fácil odiá-lo quando ele não estava por perto.

- E o que aconteceu depois?

“Eu espero honestamente que sexo de reconciliação. Vocês não se desgrudaram nem quando eu pedi o Uber! Olha, Ochako… Foi bom pelo bem de vocês e pela sanidade mental minha e do Kirishima"

Uraraka respirou fundo. Ia precisar de um analgésico e um bom anti-ácido para digerir aquilo. Era tão irritante não se lembrar de nada, ainda mais uma coisa tão importante. A aliança estava de volta ao dedo. Sentou-se na cama, colocou o travesseiro sobre o rosto e gritou.

Ouviu ainda Izuko falar do outro lado da linha.

“Aproveita, Uraraka. Eu cuido do trabalho. E para de ser tão dramática.”

A porta foi aberta lentamente por um Bakugou ainda mais bonito do que ela se recordava. Desde o novo corte de cabelo com a lateral raspada, até o bico emburrado que ele fazia, que ainda era completamente fofo.

- Isso é para você.

Ele entregou-lhe uma bandeja com água, torradas, café e os remédios necessários para passar por qualquer ressaca.

- O… Obrigada.

Ele sentou ao lado dela na cama e ela puxou o lençol mais para cima, tentando cobrir-se. Seus olhos não ousavam se esbarrar, nem poderiam. Uraraka começava a comer e Bakugou estava apoiado sobre os joelhos, com as mãos entrelaçadas e os polegares rodando nervosamente.

- Você…

Disseram os dois em uníssono.

Ele sinalizou para que ela seguisse em frente, enquanto ela enfiava a torrada praticamente inteira na boca por causa do nervosismo.

Aquela situação era realmente incômoda. As mãos de Katsuki já começavam a faiscar devido ao descontrole emocional. Ele decidiu falar.

- Você… Parece não ter feito nenhuma besteira enquanto eu estive fora.

Ela virou o rosto na direção dele com estranheza.

- O que você quis dizer com besteira? O que você acha que eu faria?

- Não… Eu só… Arg. Por que é tão difícil falar qualquer merda com você?

Eles mal haviam se reencontrado e aquela pergunta simples já tinha causado alvoroço.

- Acabei de lembrar o porquê de eu querer tanto assinar aqueles papéis. Obrigada.

Bakugou aproximou-se colocando a mão sobre a dela, mas logo retirou, com temor de não ter seu toque aceito.

- Não Uraraka, não! Que porra! Eu só queria dizer que você parece bem. E que o seu cabelo não está de todo mal, quer dizer… É… Não fica ruim curto assim. Lembra um pouco de como era na escola. Eu até… gosto.

Ela sentiu-se corar. Teve um flash sobre ele elogiando-a na noite passada. Pegou uma das mechas de cabelo e passou os dedos por ela nervosamente. Sentiu Bakugou puxá-la para baixo quando ao menos sequer percebeu que estava flutuando.

- É… Você também não está nada mal.

Mais uma vez o silêncio perdurou. A distância não havia feito deles completos estranhos. Às vezes, o silêncio era a melhor alternativa. Uraraka levou a xícara à boca, sentindo o vapor quente do líquido e apoiou novamente a xícara na mesa.

- Definitivamente você ainda não sabe fazer café. Está horroroso.

- Horrorosa é essa sua cara de lua!

- E você bem que gosta dela.

Ela mostrou a língua e sentiu que ele explodiria a qualquer momento. Estendeu o braço sobre o ombro do outro, carinhosamente.

- Obrigada por tentar.

Foi então que os olhares se cruzaram. Tímidos, mas incapazes de se desprender. Aqueles olhos conheciam-se muito bem. Das lutas, dos treinos, dos impasses, das conversas silenciosas, da cama. Eram cúmplices em uma série de aspectos. Ela sentiu que, se permitisse, os olhares terminariam por entrar um no outro, tornando aquilo ali ainda mais confuso. E Katsuki era impulsivo. Se ela não fizesse nada…

- Você tem alguma ideia do que aconteceu na noite passada?

O loiro olhou para baixo, encarando os polegares, tentando desfazer da tensão quebrada pela pergunta da outra.

- Eu acho que você não vai querer saber.

- Você se lembra então?

- Acredito que tanto quanto você. Mas aqueles dois idiotas não param de mandar fotos. Eu não esperava acordar com ninguém aqui. No máximo com o Kirishima resmungando que teve que me trazer para casa porque bebi pra caralho.

- Você...Também… Foi comemorar o divórcio?

Ela percebeu a expressão dele fechar. Que droga. Ele sempre estava emburrado, mas aquela expressão… Ele estava magoado.

- Não quero falar sobre essa merda.

- Bakugou… Olha… Você mais do que ninguém sabe que…

- Que o que? Que eu sou um merda com você? Que estou longe de ser o homem que você merece? Olha, Ochako, honestamente, se você quer tanto esse divórcio, pede pro advogado reimprimir a porra dos papéis. Eu assino, de bom grado. E você comemora como…

- Você podia ser menos insuportável, sabia? Se você não queria o divórcio, bastava falar e a gente tentava resolver! Não é você se mandar pra fora do país durante seis meses e achar que isso vai resolver alguma coisa. Esse relacionamento não dá certo porque a gente não consegue dialogar! Você não consegue conversar!

- Esse relacionamento não dá certo porque por algum caralho você não consegue acreditar que eu gosto e me preocupo com você. É irritante me sentir colocado à prova o tempo todo. Quer saber, eu acho que tenho uma cópia. A gente assina e acabou.

- E acabou?

- É, e acabou!

- Você foi beber para esquecer que eu tinha recebido os papéis. E nem adianta dizer que não, porque eu sei que foi. Você não quer que acabe!

- E se for? Que porra de diferença isso vai fazer? Foi você quem pediu e você quem foi comemorar!

Ele levantou-se, pisando duro e deixou os aposentos. Com Bakugou era sempre assim: de 100 a 0 em questão de segundos. Aquela conversa tinha tudo para tomar um bom rumo até que… Bem, não tomou.

Também não importava mais. Só queria ir embora, mas era difícil ir embora sabendo que ele estava tão machucado. Massageou as têmporas averiguando se o analgésico havia funcionado. Deixou o lençol sobre a cama e vestiu-se. A bandeja foi deixada sobre a bancada do quarto. A aliança ainda perambulava em seus dedos. Tentou recordar-se do motivo pelo qual haviam brigado quando ele saiu de casa. Não conseguiu. Todas as grandes brigas que tinham eram por motivos fúteis, que unidos ao gênio de Bakugou e a própria impaciência gerava resultados catastróficos.

As primeiras lágrimas rolaram de seus olhos. Aquilo tudo era muito difícil e jamais teria maturidade para lidar com aquela situação.

Katsuki voltou para o quarto pouco tempo depois, decidido. Apoiou-se na porta vendo o estado dela, e aproximou-se, sentando no chão.

- Olha, cara de lua, eu… Eu voltei para te pedir para não assinar aquela merda. Mas aí o Deku falou um monte no meu ouvido, que você estava bem, que conquistou um monte de coisas… E cá para nós, você é a mulher mais incrível que eu conheço. É forte, determinada, mas ao mesmo tempo tem essas bochechas aí e essa cara boba, mas é durona pra caralho. E eu me sinto estagnado. Um estorvo. Era melhor que assinasse essa porra mesmo e...

- Você não é um estorvo. Grande parte do que eu sou é culpa sua. Se você não aflorasse o que há de melhor em mim, não teria casado com você. Mais do que ninguém você sabe que eu queria ser heroína por causa de dinheiro. E eu vi você crescendo, se importando com as outras pessoas e com os verdadeiros princípios do que é ser herói. Se você conseguiu evoluir e mudar, porque eu não? Isso me fez refletir sobre o tipo de pessoa que eu queria ser. Você é dedicado, é verdadeiro, é inteligente... E por isso você fala tanta merda. Não seria você se não falasse.

- Você não me odeia?

- Eu te odiei tanto quando você foi embora… E ainda te odeio por alguns dos mesmos motivos pelos quais eu te amo. Eu podia estar bêbada, mas se não amasse, não tinha rasgado os papéis.

- Você ainda quer o divórcio?

Ele sentou-se novamente ao lado dela, aguardando a resposta.

- Eu… Eu não sei, sinceramente. Eu queria que estar ao seu lado bastasse e que a gente não brigasse tanto. E isso realmente me incomoda. Mas é só você aparecer, falar meia dúzia de gentileza em meio à grosseria e eu lembro quem você é e porque me apaixonei por você. E eu sei que não quero ficar longe. E tem vezes que é muito difícil te entender, mas quando estamos em sintonia...

Bakugou deitou-se, bufando, com as mãos entrelaçadas sobre a barriga. Uraraka fez o mesmo.

- Acho que poderíamos ser descritos como uma dessas merdas de óperas clássicas, repletas de turbulências que por fim, se sincronizam gerando a melodia perfeita.

Os dois se olharam por um breve momento, Bakugou puxou Uraraka para perto, fazendo-a encostar a cabeça em seu ombro, beijando o topo com alguma ternura. Sentiu-se em paz com ela de volta em seu abraço.

- E você, quer o divórcio?

A mulher disse, inclinando a cabeça.

- É óbvio que não. Mas isso não é sobre o que eu quero. É sobre o que nós queremos. E eu odeio isso. Sempre parece incerto. Não é a primeira vez que nós temos essa conversa.

- E eu honestamente duvido que seja a última. Isso é uma puta de uma merda.

- Você não falava tantos palavrões assim.

- Você é uma péssima influência.

Os dois riram de leve e a voz dela saiu baixinha.

- Eu acho que aceitei que o divórcio era o melhor para nós dois. E agora eu já não sei mais se é. Se me falassem há alguns dias atrás que eu estaria aqui agora com você…

- É muito difícil te deixar para trás. Eu juro que tentei. E o infeliz do Kirishima tem me enchido a paciência faz semanas dizendo que eu não podia deixar as coisas assim, porque todo mundo sabe o quanto a gente se gosta e precisava se acertar….

- E a gente se acertou?

- Acho que se acertar nunca vai ser o certo para a gente.

Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos, encarando o teto, contemplando o som das respirações. O loiro a observou morder os lábios, com receio de reiniciar a conversa. Decidiu fazer por si mesmo.

- As coisas teriam sido mais fáceis se você continuasse gostando do Deku, sei lá. Aquele merdinha...

- Aquele merdinha, que eu já te pedi para não chamar ele assim, acabou se apaixonando pelo Shoto. E mesmo se não tivesse, acho que você seria inevitável. Eu me arrependo de muita coisa e, apesar de não saber o rumo que nós vamos tomar, você definitivamente não é uma delas.

Ochako percebeu os dedos do outro deslizarem por seu queixo, erguendo-o. Sabia que não devia, mas deixou-se levar. Sentiu os lábios de Katsuki roçarem nos seus, diversas vezes, sem dar início a um beijo. O cheiro adocicado e até um pouco enjoativo do suor dele começava a parecer tortura. Avançou a barreira existente entre os dois, saboreando os lábios, entorpecendo-se na textura da boca, iniciando uma briga entre as línguas, que se enroscaram com maestria. A falta que sentia daquele beijo… Tudo parecia revirar dentro e fora deles. Deslizou as mãos pelo corpo do outro, tentando saciar a vontade inevitável que a acometia quando ele estava tão perto. Terminou por mordê-lo com força, fazendo-o gemer de dor e prazer, libertando-a do frenesi e trazendo-a de volta a realidade.

- Merda…

Bakugou a ouviu sussurrar baixinho ao se afastar. Nunca na vida odiara tanto aquele palavrão. Sentou-se na cama, apoiando os cotovelos nos joelhos, tentando trazer a si mesmo alguma razão. Uraraka sentou ao seu lado, colocando a mão sobre as suas costas.

- Você está bem, Katsuki?

- Estou bem pra caralho, não vê?

- Não é o que parece...

- E é para parecer? Honestamente, Cara-de-Lua… Eu acho melhor você ir embora. A gente sabe como essa merda termina. A gente transa, acha que está tudo bem e quando vê…

- Estamos em colapso novamente.

A última frase saiu uníssona. Aquele quarto parecia cada vez menor e a atmosfera cada vez mais sufocante para os dois.

- Mas a gente… Bem… É….

Ele ainda achava fofo como as bochechas da heroína coravam ao falar sobre sexo. Ainda mais naquela situação.

- Se a gente tivesse, acho que nós dois saberíamos… Eu lembro de você pedindo para usar o banheiro e eu devo ter apagado.

- E antes disso? Você disse que tem fotos. O que mandaram para você?

- Não quis ver.

- Posso? Eu confesso que estou um pouco curiosa…

Bakugou estendeu o celular e aproximou-se. Haviam algumas fotos dela e do Midoriya divertindo-se, tomando tequila. E vodka. E gim. E conhaque. E mais outras coisas que ela sequer conseguia reconhecer. Foi quando o primeiro vídeo apareceu. Kirishima perguntava para o loiro como era estar solteiro de novo e Katsuki parecia que ia explodir. No fundo, ela segurava o braço de um homem com quase o do dobro do tamanho dela, chamando a atenção dos frequentadores e do ex-ex-marido, que levantou de pronto até ela. Pôde-se ouvir um sonoro "merda" vindo de Kirishima. Perda de foco.

Uraraka suspeitava o porquê da própria agressividade, mas acreditava que o álcool talvez a tivesse tirado um pouco dos eixos. Sentiu-se envergonhada.

- Acho melhor a gente parar por aqui…

- Na melhor parte? Olha o que você está fazendo com esse babaca! Porra, é por isso que eu casei com você!

Não era exatamente esse o motivo. Ela se lembrava dele dizendo "Por que a gente não casa de uma vez? Essa porra de ir embora todo dia depois de dormir nesse quarto de criança, e ainda ter que sair de fininho, me deixa puto pra caralho".

Muito romântico.

Ele tomou o celular das mãos dela, dando play. O próximo vídeo era de Midoriya, tentando passar pelas pessoas no bar torcendo que nada tivesse dado errado.

" Se não deu pra perceber, eu sei me cuidar muito bem sozinha!"

Uraraka falava enquanto Bakugou era segurado por Kirishima e os seguranças ameaçavam tirá-los do bar.

E então, outro vídeo. Ela dançava de maneira sensualmente desajeitada, encarando Katsuki no bar. Ele já se aproximava, visualmente bêbado, colocando a mão em sua cintura, beijando-lhe da orelha ao pescoço, colando os corpos, fazendo com que ela virasse para unir os lábios. Primeiro de maneira terna, mas logo assumindo uma certa agressividade gerada pela necessidade que um possuía do outro. Afastaram as bocas, as testas permaneciam coladas e ela segurava os cabelos macios de Bakugou. A pista estava lotada, mas os dois pareciam imunes àquilo. Seguiam seu próprio ritmo. Pareciam conversar.

- Você dança bêbado desde quando?

- Eu odeio dançar e isso não é dança, é só um reflexo estúpido.

- Por aquele quase sorriso ali, eu diria que você estava gostando…

- É um inferno você palpitando sobre o que eu sinto ou deixo de sentir.

- Se você fosse sempre direto sobre isso, seria mais fácil.

- Eu… Só… Que se foda. Passa para a próxima.

Era uma foto. Havia uma chuva de papel picado caindo sobre uma Uraraka radiante em cima do balcão. Eijiro e Izuko olhavam-se cúmplices. Estava mais do que na cara que haviam armado aquela situação toda.

- São dois filhos da puta! Isso poderia ter dado uma merda enorme.

- Eles conhecem a gente melhor do que ninguém. Eles sabiam que se um estivesse na presença do outro, era inevitável. Eu odeio o Izuko.

- Finalmente concordamos em alguma coisa!

Ela o olhou feio e Bakugou sentiu vontade de beijá-la. Da ponta do nariz arrebitado, às bochechas enormes. Passando por cada ruguinha existente na testa, pelo queixo fofo e então os lábios. Mas ela já o havia cortado várias vezes naquela conversa. Não avançaria a menos que ela permitisse.

- Falta muita coisa aí?

- Depois que eu rasguei o documento, conheço o fim da história. A não ser que…

- Não, já deu para mim também.

O silêncio pairou de novo sobre os dois. Uraraka levantou-se, ajustando o vestido solto e cor de rosa.

- Bem… Eu acho que já vou. Daqui a pouco vai ficar tarde e bem… Você está de licença, mas eu…

- Eu entendo toda essa merda de trabalho. Eu te levo na porta.

Os dois deixaram o cômodo, passando posteriormente pela antessala. Parecia impossível passar por aquela porta.

- Eu… Já vou então.

Bakugou segurou-a pela cintura, beijando uma de suas bochechas. Distanciou-se e fez o mesmo com a outra, de maneira suave. Uraraka mantinha a cabeça baixa e os olhos fechados, absorvendo cada uma daquelas pequenas sensações. Tudo parecia revirar. O coração batia ansioso.

- A gente se fala…

A porta foi aberta, mas ela não conseguiu se distanciar. O herói parecia desviar o olhar.

- É… Você ainda tem meu número, não tem?

Uraraka perguntou e ele acenou.

- Então tá.

Ochacho beijou as bochechas dele na ponta dos pés tentando despedir-se.

Quando se separaram, os lábios dele colaram nos seus por impulso dos dois, e ela não se permitiu ir. O beijou como quis. Sentiu as mãos firmes, ásperas e calejadas pelas explosões segurarem-na com força. Ele, de fato, era seu ponto fraco.

Ela segurou-se sobre os ombros do outro, deixando a si mesma leve o suficiente para cruzar as pernas ao redor dele e ser colocada contra o batente da porta. Sentiu o cheiro do shampoo, da pele, de nitroglicerina. Os dedos dele agarravam com firmeza suas nádegas e sua boca traçava um caminho firme do pescoço ao colo, onde ele afundou a cabeça entre os seios, fazendo-a tremer em cada toque. Uraraka odiou-se quando percebeu o quão duro ele estava. Eles estavam na porta, provavelmente havia câmeras no corredor. Mas ela já não conseguiria parar. Foi quando ele a soltou ofegante.

- Se a gente seguir aqui, esse mimimi todo de hoje foi para nada. Você quer continuar, Cara de Lua?

A de cabelos castanhos pôs os pés de volta no chão. Respirou fundo, tentando se trazer de volta aos eixos. Sussurrou baixinho:

- E a gente faz o que então?

- Eu saio do país de novo. Você estava bem com essa merda de separação até eu voltar e bagunçar tudo. A agência ainda gostaria que eu voltasse. Aí você pensa no que você realmente quer. Vai ser mais fácil assim.

- E você vai ficar bem com isso?

- Você sabe a porra da resposta.

Bakugou não ficaria bem e muito menos ela.

- Eu não fiquei exatamente bem com você tão longe. Pode soar egoísta, mas não quero que você volte para lá…

- E eu queria que você voltasse para mim. Isso sim é egoísmo.

A heroína estava surpresa com a sensibilidade e sinceridade do marido. Talvez tentar mais uma vez… Tentar diferente. Talvez a quase concretização do divórcio tivesse mexido com ele. Mas quantas vezes também… Foi quando algo surgiu em sua cabeça.

- E se a gente fizesse terapia? De casal? Eu sei que parece bobo, mas...

- Eu odeio essas merdas e porra, o que acontece entre a gente é coisa nossa. Não quero ter que ficar dando satisfação da nossa vida.

Uraraka já demonstrava algum desapontamento quando ouviu:

- Eu topo. Se isso resolver, eu aceito essa porra.

Seus olhos amendoados sorriram.

- Mesmo?

Bakugou cruzou os braços, fechando a expressão, projetando o lábio inferior para frente, como uma criança contrariada, acenando com a cabeça positivamente.

- Eu marco e te aviso então.

- Você… Quer fazer alguma coisa mais tarde?

Ela refletiu sobre o pedido.

- Acho melhor a gente deixar as coisas esfriarem antes. Daqui há uns dias, talvez?

O loiro encarou o chão, concordando. Só a pode ouvir dizer:

- Tchau, Katsuki.

Ela se distanciou sem olhar para trás, ou sabia que não conseguiria. Entrou no elevador, abriu a bolsa, passou o batom rosado nos lábios, enquanto as lágrimas enchiam os olhos inchados. Bakugou era sempre intenso demais, marcante demais. Fechou os olhos ainda sentindo o cheiro e a sensação das mãos em sua pele. Torceu consigo mesma para que desse certo dessa vez. Se não o amasse tanto, ele não a impactaria tanto.

Ele a observou sumir no corredor e tentou se recompor. Sentia ódio, mas quando não? Odiava a confusão que aquela maldita Cara de Lua fazia consigo. Odiava a ideia da porra da terapia, odiava conhecê-la tão bem. Odiava como era difícil conversar com ela. Odiava a si mesmo por mais uma vez deixá-la ir. E odiava mais ainda saber que a receberia todas as vezes que ela decidisse voltar. Porque ódio, desequilíbrio ou desencaixe algum eram maiores do que as coisas que sentia por ela.


10 de Noviembre de 2019 a las 03:37 2 Reporte Insertar Seguir historia
4
Fin

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Jessie Teixeira Jessie Teixeira
Eu chorei tanto!! Amei ♡
November 18, 2019, 21:50

  • Lovage Lovage
    Oie, nossa, muito obrigada por comentar! Fico feliz que tenha amado. Essa estrutura me deu um pouquinho de trabalho <3 November 23, 2019, 22:39
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