A sala é vazia. Vazia de sons, de móveis, de outras vidas. O homem sente o calor do cigarro aceso entre seus dedos enquanto encara a parede do outro lado do cômodo. Seus olhos piscam com uma periodicidade estranha, lenta. Como se estivesse no transe daqueles que perderam tudo. Seu rosto é abatido, com grandes bolsas escuras ao redor dos olhos castanhos, os cílios molhados das lágrimas derramadas. Há um mundo inteiro agindo do lado de fora; pessoas trabalham, andam, correm, gritam, transam, dormem, lutam, morrem. Esse mundo é um sonho que não surge mais no consciente dele. A mão trêmula leva o cigarro aos seus lábios, ele o traga com o que parece ser suas últimas energias. A vida brilha lá fora. A vida acabou ali dentro. A nicotina se agarra a sua circulação e pele, o ar é tomado pela fumaça que escapa de seu nariz e boca. Acabou. Não há mais nada para ser salvo ou visto ali. É quase 10 horas da manhã e o sol ainda não nasceu. E nem iria nascer.
O cigarro é jogado no chão. A bagana rola para baixo do sofá. O homem fecha os olhos com lentidão. E espera o momento chegar, em definitivo.
Gracias por leer!
Podemos mantener a Inkspired gratis al mostrar publicidad a nuestras visitas. Por favor, apóyanos poniendo en “lista blanca” o desactivando tu AdBlocker (bloqueador de publicidad).
Después de hacerlo, por favor recarga el sitio web para continuar utilizando Inkspired normalmente.