lara-one Lara One

Quanto de confusão um casal pode causar a outro? Mulder e Scully resolvem fugir da cidade e ir pro campo relaxarem um pouco... Mas não sabiam que seus planos iriam por água a baixo ao conhecerem... Dharma e Greg! Crossover com a série Dharma e Greg. Pra quem não conhece a série Dharma e Greg... Digamos que o Greg seria uma Scully de calças e a Dharma um Mulder de saia indiana e pulseiras energéticas... Isso vai dar encrenca...


Fanfiction Series/Doramas/Novelas Sólo para mayores de 18.

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S05#23 - DHARMA OR KHARMA?


INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

[Fade in]

[Som: Do You Love Me - The Contours (do filme Dirty Dancing)]

[A tela abre-se com mel escorrendo por ela]


Hotel de Cabanas Druzzyland – Wisconsin – 6:11 P.M.

Mulder estaciona o carro em frente ao chalé sobre uma imensa pedreira. Tira o cinto de segurança. Olha pra Scully seriamente. Ela olha pra ele, sem entender. Mulder então começa a se sacudir dançando twist, fingindo tocar guitarra, com uma fisionomia de aloprado, parece estar tendo um ataque.

MULDER: - (CANTANDO) Do you love me? … Do you love me? Ah do you love? Now… that I… can dance... Watch me now, oh! Ah, work it all baby! Well, you're drivin' me crazy...

SCULLY: - (RINDO) Para! Imagina se tem gente olhando?

MULDER: - Não mandei xeretar a vida alheia. (CANTA) Do you love? ...

SCULLY: - Tá, eu amo você. Feliz agora?

MULDER: - (DEBOCHADO) Agora sim.

Mulder desliga o som. Reclina as costas contra o banco. Coloca os braços atrás da cabeça.

MULDER: - Ahhhhh!!!!! Sexta-feira! Desliguei meu celular. Apenas um final de semana... Nós dois... ahn... três. Sozinhos aqui... Preciso me acostumar com o número três.

SCULLY: - (SORRI) ...

MULDER: - Me garantiram que estaremos sem telefone, sem computador, sem televisão... Mas eu trouxe o aparelho de CD! Sem música também não dá, né Scully? O que mais podemos querer do que um chalé, ar puro, sem horários, sem trânsito, sem tecnologia, sem ninguém pra perturbar!

SCULLY: - Mulder, acha que aguenta ficar um final de semana sem computador, TV e celular?

MULDER: - Eu posso sobreviver... (ASPIRA FUNDO) Ahhh!!!!! O ar puro do campo, das montanhas, o verde... O silêncio... Ainda não desisti da minha casinha de varanda numa fazenda...

SCULLY: - Tem porcos nessa história de casinha de varanda?

MULDER: - (DEBOCHADO) Não, eu sou judeu.

Os dois descem do carro. Sobem as escadas até o chalé. Mulder põe o braço sobre Scully.

MULDER: - Puxa, Scully... Mais um pouquinho e você não vai mais andar. Vou te levar rolando...

SCULLY: - (SORRI) Culpa sua, só sua!

MULDER: - Vamos pegar a chave, depois vou pegar as malas, as compras... E vamos nos esconder no meio do mato. Enfim sós!

Scully sorri. Eles entram no chalé.

VINHETA DE ABERTURA: OPOSTOS QUE SE ATRAEM...


BLOCO 1:

A sala de recepção toda rústica e bem decorada. O sujeito alto, robusto e barbudo atrás do balcão, limpando um rifle. Atrás dele uma enorme cabeça de alce. Pelo ângulo da câmera, parece que os chifres pertencem ao sujeito. Mulder olha debochado pra Scully.

MULDER: - (COCHICHA) Este era eu nos tempos de Diana Fowley... Acredite, os chifres eram bem maiores...

Scully abaixa a cabeça, rindo. Os dois se aproximam do balcão.

MULDER: - Boa tarde. Meu nome é Fox Mulder e reservei um chalé...

SPIKE: - Um momento.

Spike larga a arma. Olha pra Scully. Olha pra Mulder. Então abre o livro sobre o balcão.

SPIKE: - Deixe-me ver... Ah, é o senhor Mulder... (DESCONCERTADO) Senhor Mulder, aconteceu um problema por aqui.

MULDER: - Meu amigo, eu não estou a fim de problemas hoje, tá legal? Estou no meu inferno astral, ultimamente as coisas não andam bem... Saí cedo da Virgínia, inventei uma desculpa esfarrapada no trabalho, dirigi até aqui e não quero ouvir a palavra "problema"...

SPIKE: - Não temos mais nenhuma cabana disponível.

MULDER: - Mas eu reservei uma cabana.

SPIKE: - Sei. É que... Sabe... Eu costumo colocar só a primeira letra do sobrenome na reserva e...

Scully suspira.

MULDER: - (INVOCADO) E...?

SPIKE: - ... Isso nunca aconteceu antes, me desculpem... Eu reservei a cabana em nome dos M, de Mulder, mas minha esposa cometeu um equívoco e... Pensou que era M de Montgomery.

MULDER: - E daí?

SPIKE: - Bem... Ficou a mesma cabana pra dois casais... (APONTA) Aqueles dois ali estão esperando vocês, pra chegarem num acordo.

Mulder e Scully viram-se.

Corta para Dharma e Greg. Ele em roupas sociais sorri tímido com as mãos nos bolsos das calças. Dharma, num vestido hippie, dando um sorriso enorme e acenando empolgada fazendo barulho com as pulseiras.

Mulder olha pra Scully.

MULDER: - Atiro naqueles dois ali ou no barbudo da recepção?


6:21 P.M.

Greg estaciona o carro em frente ao chalé. Mulder estaciona ao lado dele. Os dois casais descem. Dharma olha ao redor, mordendo os lábios. Scully pega dois pacotes de compras. Dharma pega as compras do carro e fecha a porta com o traseiro. Mulder carrega as malas. Greg ao lado dele, carregando enormes mochilas. Scully caminha à frente deles, ao lado de Dharma. As duas carregando pacotes. Dharma começa a tagarelar.

DHARMA: - (SORRINDO) Hum, afinal o chalé tem dois quartos... Puxa, foi muito legal vocês terem topado dividir o chalé com a gente. Claro que eu disse ao Greg que esperaríamos para ver quem era o outro casal, sabe? Eu preciso olhar pras pessoas... (FAZ UMA CARETA DEBOCHADA) E se vocês dois fossem uns tipinhos estranhos? Ahn? Parecidos com a Kitty!

SCULLY: - Quem é Kitty? Sua gata?

DHARMA: - Não, a mãe do Greg...

SCULLY: - (DISFARÇA) Ah!

DHARMA: - Mas senti boas vibrações em vocês... Ah, puxa vida! Eu sou Dharma Finkelstein-Montgomery. E você...?

SCULLY: - Dana Scully.

DHARMA: - Ah eu preciso realmente sentir a vibração das pessoas, sabe? Teve uma época em que eu e Greg andávamos desesperados tentando encontrar amigos... Mas é tão difícil você encontrar casais legais que curtam jantar fora, passear juntos... Eu não sei porque, mas até hoje temos apenas um casal de amigos... Não imagino porque as pessoas nos evitam...

SCULLY: -Realmente é difícil você encontrar amigos...

DHARMA: - Ah não você não faz ideia! Eu e Greg somos mestres nesse assunto. O que você faz?

SCULLY: - Bem, eu... Sou médica, agente federal...

DHARMA: - (EMPOLGADA) Sério? Eu sou professora de ioga e treinadora de cães.

SCULLY: - (EMPOLGADA) Sabe o que se faz com um cachorro teimoso?

DHARMA: - Qual a raça dele?

SCULLY: - Um coquer spaniel.

DHARMA: - Ah eles são muito temperamentais... Mas posso te dar umas dicas... Então, há quanto tempo estão casados?

SCULLY: - Não somos casados. Vivemos juntos.

DHARMA: -Uau! Isso é incrível! Larry e Abby depois de viverem juntos por 28 anos é que resolveram se casar! Sempre acharam o casamento algo muito sufocante, sabe? Os dois sempre me disseram que temiam essa coisa de compromisso legal.

SCULLY: - Larry e Abby? Seus amigos?

DHARMA: - Não, meus pais.

Scully olha incrédula pra Dharma.

SCULLY: - Chama seus pais pelo nome deles?

DHARMA: - Claro, ele têm nomes, né? Ai, que bonitinho, você está esperando um bebê! É o primeiro?

SCULLY: - (SORRI) Sim.

DHARMA: - Hum, deve ser uma emoção incrível estar gerando uma vida dentro de você!


Corta pra Mulder e Greg.

GREG: - (SORRI) Sua esposa deve estar tonta... Me desculpe. A Dharma fala demais.

MULDER: - (SORRI) Ainda não viu a Scully se soltar...

GREG: - Meu nome é Gregory. Gregory Montgomery, mas pode me chamar de Greg.

MULDER: - Fox Mulder. Me chame de Mulder.

Os dois param. Tentam se cumprimentar, mas desistem num sorriso, por causa das bagagens. Continuam caminhando.

MULDER: - Então, Greg, o que o traz pra um chalé? Espero que não seja lua de mel ou vou me sentir culpado.

GREG: - (SORRI) Não, já somos casados há tempos. Dharma algumas vezes gosta de sentir a natureza, ela chama isso de velhas raízes. E vocês?

MULDER: - Estou estressado. Achei que vir pro meio do mato ia me deixar mais calmo.

GREG: - O que faz, Mulder?

MULDER: - Sou agente federal.

GREG: - Sério? Então é você quem me dá serviço? Eu sou advogado.

Os dois riem.

Corte.




Os quatro entram na cabana. Uma cabana aconchegante e chiquérrima, a cozinha e a sala juntas, totalmente decorada em estilo rústico. Mulder observa o lugar, meio chateado, mordendo os lábios. Greg abre um sorriso, andando pela sala, empolgado.

MULDER: - (PÂNICO) Microondas??? Televisão??? Relógio na parede???

Scully sorri, admirando o lugar, impressionada. Dharma coloca as mãos na cintura, frustrada.

DHARMA: - Nossa! Isso aqui é muito aconchegante mesmo!

SCULLY: - (EMPOLGADA) Realmente... Muito aconchegante... Acho que moraria aqui...

DHARMA: - Eu esperava que fosse menos. Queria um fogão a lenha, nada de relógios, lavar a louça num riacho...

Scully olha incrédula pra Dharma. Mulder chateado. Scully envolve o braço no dele, desanimada com a frustração de Mulder. Dharma reclama com Greg gesticulando.

DHARMA: - Greg, você deveria ter verificado isso antes! Eu queria uma cabana de madeira, mal feita, envelhecida, sabe? Tipo as plantas nativas entrando pra dentro da casa pelas frestas... Queria ver a lua pelo telhado quando estivesse deitada, tomar banho frio no riacho, ver você cortando lenha...

Mulder olha pra Dharma, impressionado, num sorriso.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Algo como a casa do Tarzan?

DHARMA: - (SEM ENTENDER A IRONIA) Exatamente! A Dana falou tudo! Podia ter uns cipós por aqui... Folhagens grandes, que ficassem repletas de gotas de orvalho pela manhã... Insetinhos... Adoro aquelas carochinhas coloridas!!!

GREG: - São joaninhas, Dharma.

DHARMA: - (BURRINHA) Isso. Essas coisinhas com pintinhas... São tão meigas... Besouros, vaga-lumes...

Scully vira o rosto pra rir. Mulder olha pra Dharma admirado.

MULDER: - Confesso que eu pensei que seria assim, senhora Montgomery...

Scully fecha o sorriso. Olha pra Mulder, incrédula.

DHARMA: - Ah não me chame de senhora! Eu não curto esses títulos não. Me chame de Dharma, Fox...

MULDER: - (FRUSTRADO) Isso é luxuoso demais. Não é rústico ‘rústico’, sabe? É um rústico hollywoodiano. É melhor do que o meu apartamento!

DHARMA: - Exatamente! Ai, que bom! Você concorda!

Dharma sorri. Greg olha sério pra Mulder. Dharma fica ao lado de Mulder, colocando seu braço no dele. Scully se afasta a encarando.

DHARMA: - Fecha os olhos, Fox.

Mulder fecha os olhos, sorrindo.

DHARMA: - Imagine assim... Você fazendo sexo com sua mulher numa cabana com a luz da lua... Agora abra os olhos e olhe para este apartamento encravado nas montanhas! Completamente sem graça. Broxante. Frustrante.

Mulder abre os olhos rindo.

MULDER: - Concordo, Dharma.

Scully cerrando o cenho e observando Mulder. Um beiço e braços cruzados.

DHARMA: - Ah, mas tudo bem... Trouxemos barracas, podemos acampar no meio do mato e ouvir o som do rio.

Mulder olha pra ela surpreso e empolgado. Scully fica incrédula. Greg disfarça.

GREG: - Bom... Que tal acomodarmos nossas coisas... Vocês querem escolher o quarto...

DHARMA: - Ai não, eu quero! Olha, eu prefiro ficar com o quarto que nasce o sol pela manhã! Algum problema pra vocês?

MULDER: - Não, pra mim não... E você Scully?

SCULLY: - (SÉRIA) Não, nenhum.

DHARMA: - Ótimo! Sabia que a gente ia se entender!

Dharma puxa Greg pela mão e sobem as escadas. Scully olha pra Mulder.

SCULLY: - ... Mulder, venha aqui.

Mulder caminha até Scully.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - O que achou deles?

MULDER: - Hum, me parecem normais. Não são psicopatas loucos e acredito que nenhum dos dois seja um Arquivo X. Estamos seguros.

SCULLY: - Sinto que teremos dor de cabeça. Essa mulher é maluca.

MULDER: - Gostei dela.

SCULLY: - Acho melhor não gostar muito.

Mulder ergue as sobrancelhas e olha pra ela sem entender nada.


8:47 P.M.

Os quatro jantando à mesa. Mulder ao lado de Dharma, Scully ao lado de Greg. Mulder e Dharma à vontade, parecem duas crianças bobas e tagarelas. Greg e Scully comportados como adultos. Dharma segura o braço de Mulder, olhando pra ele.

DHARMA: - Então eu gritei: (GRITA/ PÕE AS MÃOS EM CONCHA NOS LÁBIOS) Eu vi! Ele tava lá em cima, peladão, invocando forças da natureza e de repete... Sploft!

Scully arregala os olhos, incrédula com a atitude de Dharma à mesa.

MULDER: - (CURIOSO) Sploft?

DHARMA: - É, ele despencou do alto da cachoeira! Mas eu sabia que ele tinha sido empurrado.

MULDER: - Como sabia?

DHARMA: - Porque ele jamais faria isso. Ele era hinduísta, sabe?

GREG: - Dharma... Acho que eles não vieram aqui pra ouvir sobre crimes...

DHARMA: - Mas Greg, me deixa explicar pra eles...

GREG: - (ENCIUMADO) Dharma...

MULDER: - Mas como ele poderia ter sido empurrado? Tem certeza de que não viu ninguém com ele lá em cima?

DHARMA: - Absoluta. Ele estava sozinho.

MULDER: - Então foi suicídio.

DHARMA: - Não! Ele nunca se mataria.

MULDER: - Se ele não pulou e não havia mais ninguém, como ele acabou fazendo ‘sploft’?

DHARMA: - Seres maus. Espíritos maus.

SCULLY: - (ENCIUMADA) Mulder, acho que podíamos ir dar uma caminhada. Não acha?

MULDER: - Que tipo de espíritos maus?

GREG: - Dharma, muda de assunto...

DHARMA: - Peraí, Greg! (OLHA PRA MULDER) Espíritos, sabe? Ele estava tentando tirar espíritos ruins que estavam habitando seu jardim. Tinha um duende que morava debaixo de um cogumelo de gesso, sabe, e ele costumava sempre morder a canela das pessoas e assustar os cachorros.

Scully olha pra Greg, incrédula. Greg sorri sem graça.

DHARMA: - Se meus cães estivessem aqui, você poderia perguntar pra eles. Eles iam confirmar pra você que estou dizendo a verdade. Eles viram.

Scully solta o garfo. Põe a mão na testa. Greg suspira.

DHARMA: - Eles odiavam aquele cogumelo, nem faziam xixi nele. E quando um cão não faz xixi num lugar é porque pressente coisa ruim... Concorda?

MULDER: - Eu já li relatos de coisas assim. Teve um caso em New Jersey de um duende que atacou um guaxinim...

DHARMA: - (PEGANDO A ALFACE COM A MÃO E LEVANDO À BOCA) Caso? (BOCA CHEIA) Mas você investiga o quê no FBI?

Scully observa Dharma comer, com um olhar de espanto.

MULDER: - Trabalho numa seção chamada Arquivos X. Só lido com casos sem explicação, geralmente de origem paranormal.

Dharma dá um tapinha nele.

DHARMA: - (ENGROSSA A VOZ DEBOCHADA) Não brinca!

MULDER: - (RINDO) Sério. É verdade.

DHARMA: - (EMPOLGADA) Uau! Você acredita em extraterrestres?

MULDER: - (EMPOLGADO) Se eu acredito? Eu já vi extraterrestres! Eu fui abduzido!

Greg olha em pânico pra Dharma. Ela e Mulder se divertem como se estivessem sozinhos.

DHARMA: - Uau! E como foi a experiência? Foi algo místico ou foi cruel, (GESTICULA OS DEDOS NO NARIZ) com aquelas agulhas nas narinas...

Greg suspira. Scully suspira. Mulder e Dharma estão entusiasmados, falando pelos cotovelos. Greg olha pra Scully. Scully olha pra ele. Dharma continua falando compulsivamente e Mulder prestando atenção. Greg aproxima o rosto de Scully.

GREG: - (COCHICHA) Eu pego a camisa de força.

SCULLY: - Eu chamo a ambulância.

GREG: - Combinado.

Scully sorri.

GREG: - Vou fazer um café, nem vão notar minha falta.

SCULLY: - Nem a minha. Vou com você.

Scully e Greg se levantam. Dharma e Mulder continuam empolgados, parecem duas crianças.


10:12 P.M.

Scully observa Mulder e Dharma pela janela da cozinha, enquanto lava a louça. Já está irritada. Os dois na varanda continuam falando feito duas comadres que não se viam há tempos. Greg se aproxima de Scully, com um pano, enxugando os pratos.

SCULLY: - (ENCIUMADA) Não sei de onde tiram tanto assunto que não acaba mais!

GREG: - (ENCIUMADO) Nem eu... Agora ela achou outro doido igualzinho a ela... Está realizada!

SCULLY: - Me diz que ela não gosta das músicas dos anos 60 ou eles viram a noite com mais assunto.

GREG: - Imagina! Os pais dela são hippies!

SCULLY: - (PÂNICO) Oh meu Deus! Vocês não moram num trailer, certo?

GREG: - (PÂNICO) Não sugira isso na frente da Dharma, por favor!

SCULLY: - (SORRI) ...

GREG: - ... Desculpe chamar seu marido de doido... Olha, não se chateie com a Dharma. Ela é do tipo liberal, franca e honesta. Acaba embaraçando as pessoas com essa espontaneidade... Não é intencional e maldoso.

SCULLY: - Não se preocupe. Mulder é doido mesmo... Você se chama Montgomery, não é?

GREG: - Sim... Eu acho que conheço você de algum lugar...

SCULLY: - Pois eu também tenho essa sensação...


11:44 P.M.

Mulder sentado no sofá. Dharma sentada ao lado dele. O assunto não acaba mais. Greg prepara chá. Scully sentada numa poltrona, observa Mulder e Dharma, com uma cara de poucos amigos.

DHARMA: - (EMPOLGADA) Eu sabia que o governo ocultava isso! Desde pequena que eu acredito em extraterrestres!

MULDER: - (EMPOLGADO) Sério?

DHARMA: - E ocultismo? Você já viu bruxas, rituais satânicos, coisas que se mexem...

MULDER: - Ficaria horrorizada se eu te contasse tudo o que já vi.

DHARMA: - Que legal conhecer um cara como você, Fox. Não se importa se eu te chamar de Fox?

MULDER: - Não. Claro que não.

Scully abre a boca incrédula, mas segura-se na poltrona.

DHARMA: - É mais selvagem, da natureza... Fox... Algo mais primitivo. Gostei do seu nome.

MULDER: - Seu nome é bonito também... Dharma...

DHARMA: - Meus pais são naturalistas. Praticam a filosofia Zen... São ultraliberais...

MULDER: - (SORRI) Sou fascinado pela cultura oriental...

DHARMA: - Você já fez sexo tântrico?

MULDER: - Claro, é fascinante! Você explora sensações espirituais, é diferente daquela coisa trivial do prazer carnal... É um autoconhecimento...

DHARMA: - Legal né? O Greg não tem muita paciência não... Da última vez acordou no hospital. Quase fraturou a coluna.

Greg derruba a chaleira no chão, ficando vermelho de vergonha. Scully se levanta. Pega Mulder pelo braço, soltando o ar pelas narinas com raiva.

SCULLY: - Estou precisando de uma massagem nos pés. Poderia subir, ‘Fox’?

Mulder levanta-se.

DHARMA: - Ai tadinha! Deve doer muito não é? Abby sempre me dizia que quando eu estava dentro dela, pesava tanto que ela mal conseguia se mover...

MULDER: - Depois a gente continua, Dharma.

DHARMA: - Certo... Olha Dana, se quiser eu tenho um ótimo óleo de jasmim pra relaxar os pés e alguns cristais...

SCULLY: - (INDIGNADA) Não, muito obrigado.

Scully empurra Mulder escada à cima. Greg senta-se ao lado de Dharma. Entrega a xícara pra ela, sério.

GREG: - Dharma... Nem todas as pessoas são tão expansivas e abertas...

DHARMA: - Mas o que eu falei de errado?

GREG: - Suas atitudes estão erradas. Falar de sexo, Dharma?

DHARMA: - Mas e daí? Qual é o problema? Todo mundo faz sexo!

GREG: - Faz sim. Mas eu não estou gostando de ver você pra cima e pra baixo com esse... Esse doido aí!

DHARMA: - Ah não! (SORRI) Está com ciuminhos??? Hum?

GREG: - (IRRITADO) Não vem, Dharma...

DHARMA: - Hum... Greguinho tá com ciuminho!

Greg sorri. Passa a mão nos cabelos dela. Dharma dá um sorriso bobalhão, fazendo careta.

DHARMA: - Que tal, senhor Montgomery... Fazermos um ritual de acasalamento lá fora, no frio, completamente peladões???

Greg olha sensualmente pra Dharma.

GREG: - ... Agora?

DHARMA: - (ERGUENDO AS SOBRANCELHAS/ EMPOLGADA) Como os índios faziam... Ahn?

Dharma se levanta correndo e sai porta à fora rindo. Greg corre atrás dela.

Corte.


Scully fecha a porta do quarto. Mulder atira-se de costas na cama.

MULDER: - Ahhhh... (BATE NO COLCHÃO) Deita aqui... Hum?

SCULLY: - Cachorro!

Mulder ergue-se. Scully atira a almofada da poltrona na cara dele.

MULDER: - Au!

SCULLY: - Você é um cachorro, Mulder!

MULDER: - O que eu fiz?

SCULLY: - ‘Fox’??? Por que as outras podem chamar você pelo seu primeiro nome e eu que sou sua esposa tenho que te tratar pelo sobrenome?

MULDER: - Mas Scully, não...

SCULLY: - Cale a boca, Mulder! Olha, presta atenção. Não pense que não percebi o clima entre você e aquela doida lá embaixo!

MULDER: - (INCRÉDULO) Quê?

SCULLY: - (IMITANDO DHARMA) Fazer amor olhando pra lua, Fox... Você já fez sexo tântrico... Se o marido dela é um cego, eu não sou!

MULDER: - Scully, pelo amor de Deus! Não é nada disso! Por que você vê maldade em tudo?

SCULLY: - Maldade? Ah quer dizer que ‘eu’ vejo maldade!

MULDER: - Claro que vê! Você vê cabelo em cabeça de Skinner! Nós estávamos apenas conversando, trocando ideias. E na frente das nossas caras-metades. Será que um homem e uma mulher não podem conversar abertamente sem que os outros vejam isso com malícia? Ela é espontânea, tem assunto, não tem maldade nenhuma. Aliás, você deveria colocar a sua espontaneidade pra fora, aquela que temos na intimidade e com certeza curtiria muito mais esse final de semana.

SCULLY: - Ora Mulder! Ponha-se no seu lugar de homem casado!

MULDER: - Mas ela é casada também! Acha o quê, Scully? Que vou propor uma troca de casais? Ela é apaixonada pelo marido, eu sou apaixonado por você! Será que não posso conversar com outra mulher?

SCULLY: - Eu sei onde termina esse tipo de assunto!

MULDER: - Que absurdo! Como pode ser tão maldosa?

SCULLY: - E ela ainda é loura e alta!

MULDER: - (PENSANDO) Ela é loura? Nem notei.

SCULLY: - Oh, meu Deus, Mulder! Como pode fazer isso comigo, na minha frente, na frente do seu filho?

MULDER: - Mas o que eu fiz? Não posso conversar com uma mulher? Não posso rir, não posso fazer piadas?

SCULLY: - (EMBURRADA/ BRAÇOS CRUZADOS) Ela é loura!

MULDER: - Scully... A Dharma se criou diferente da gente. Ela fala essas coisas todas porque foi criada livre, sem tabus sociais, com a cabeça aberta. Pra ela sexo é natural, não envolve neurose social como geralmente envolve pra todo mundo.

SCULLY: - Ela é atrevida! Isso sim!

MULDER: - Não é atrevida. Ela é espontânea. Não tem maldade.

SCULLY: - Fala dela com tanta ternura que está me deixando irritada!

MULDER: - Que ternura? Estou explicando pra você.

SCULLY: - Pois pare de me explicar!

Mulder se levanta. Aproxima-se de Scully. Ajeita o cabelo dela pra trás da orelha, mordiscando a orelha de Scully enquanto fala.

SCULLY: - Para! Você me irrita!

MULDER: - (SUSSURRA NO OUVIDO DELA)Por que nunca me diz isso... Às três da manhã... Quando está nua debaixo do meu lençol? Hum?

SCULLY: - (SORRI) Para, Mulder!

MULDER: - Ciumenta boba com alta oscilação hormonal de grávida... Tá carente, não é?

SCULLY: - (BEIÇO) Tô. Eu é que tô sofrendo agora.

MULDER: - (SEGURA O RISO) Que tal um banho bem relaxante, uma boa massagem... Temos um banheiro exclusivo, com uma banheira de madeira, redonda, cheia de água quente... Eu trouxe sais aromáticos...

SCULLY: - Confessa! Você está com nojo de mim!

MULDER: - ????

SCULLY: - (SENTIMENTAL) Você vê uma mulher alta e magra como ela, e olha pra esse barril aqui... Eu estou feia! Você perdeu o tesão por mim, Mulder!

Mulder a abraça por trás, a embalando. Sorri.

MULDER: - Não vou brigar com você. Eu entendi. Sei que está com seus sentimentos confusos, que a gravidez altera as emoções... Está carente, querendo colo... E eu ao invés de te dar colinho fico conversando com os outros... Mas saiba de uma coisa: você nunca esteve tão linda e radiante como agora. E eu nunca perco o tesão por você.

SCULLY: - Mentiroso!

MULDER: - Então me aguarde... (DEBOCHADO) Lembre-se deste dia quando você tiver 60 anos e eu estiver te acordando no meio da madrugada, num estado de felicidade absoluta por te ver...

SCULLY: - (SORRI) ...

MULDER: - Claro que se isso não acontecer, não significa que não estou feliz... É que a felicidade aos 60 anos já não é tão dura quanto aos 40...

Scully vira-se pra ele rindo.

SCULLY: - Desculpe. Fui criança.

MULDER: - Influência da criança dentro de você.

SCULLY: - (SORRI) Eu vou preparar aquele banho.

MULDER: - Quer colinho, quer?

SCULLY: - Humhum...

Mulder a ergue nos braços. Cambaleia pra trás. Abre um sorriso.

MULDER: - Uhu! Pesadinha!

SCULLY: - (RINDO) Mulder, me solta!

MULDER: - Temos um bebê bem saudável por aqui...

Mulder a coloca na cama. Senta-se. Olha preocupado.

MULDER: - Seus pés estão doendo mesmo?

SCULLY: - Não.

MULDER: - (SORRI) Deixa que eu prepare o banho. Fica quietinha aqui... Um bom banho quente com sais, uma massagem e você vai se sentir nova e tirar essas minhocas da cabeça.


1:09 A.M.

Mulder e Scully sentados no sofá, fazendo carinhos um no outro. Trocam um beijo. Dharma e Greg entram na cabana sem notar os dois. Dharma sorri, feliz, abrindo os braços. Mulder e Scully se soltam. Dharma olha pra eles, constrangida.

DHARMA: - Ai... Desculpem... Vocês querem fazer sexo e nós dois aqui atrapalhando...

Mulder e Scully ficam sem reação alguma, constrangidos. Greg percebe.

GREG: - Dharma...

DHARMA: - Estou empolgada! Fomos fazer sexo...

Greg põe as mãos no rosto.

DHARMA: - ... E descobrimos uma trilha fantástica perto do riacho. Tem um lago lá em cima muito lindo! Decidimos que vamos pegar a barraca e acampar amanhã pela tarde. Querem ir com a gente?

Percebe-se o brilho dos olhos de Mulder, que parece uma criança sedenta por novidade. Scully olha pra Mulder. Olha pra Dharma.

SCULLY: - Como é o caminho? Tem muita subida?

DHARMA: - Não, nem tanta. Me certifiquei de ser seguro pra você e nada cansativo, afinal tem um bebezinho aí dentro não é? Não vamos exagerar. Prometo!

SCULLY: - Então nós vamos.

Mulder olha pra Scully abrindo um sorriso.

DHARMA: - Uau! Vai ser demais! Vamos fazer uma fogueira, cantar, conversar... E os garotos podem pescar o jantar. (DEBOCHADA) Usem seus instintos primitivos de pescadores, quando os homens selvagens traziam a comida para a casa e nós mulheres esperávamos com o fogo aceso.

Scully segura o riso já imaginando. Mulder e Greg se entreolham. Mulder levanta-se. Disfarça, com as mãos para trás e aproxima-se de Greg.

MULDER: - (COCHICHA) Me diz agora que é pescador profissional.

GREG: - (COCHICHA) Entendo de pesca tanto quanto Bill Gates de cozinha.

MULDER: - (COCHICHA) Estamos ferrados. Disfarça e finge que é o maior pescador do mundo!

Greg pigarreia.

GREG: - Bem, nós vamos pescar. Está no instinto masculino, isso é coisa para homem.

MULDER: - Exatamente. Não vamos deixar nossas mulheres sem jantar...

GREG: - Mulder, você me ajuda com as barracas? Vamos deixar tudo organizado pra amanhã... Vamos conversar lá fora...

MULDER: - Claro.

Os dois saem disfarçando. Dharma senta-se ao lado de Scully.

DHARMA: - (DEBOCHADA) Se eu conheço o ‘homem primitivo’ formado em Harvard que eu tenho, vamos morrer de fome.

SCULLY: - Sério? Greg era a minha esperança porque o Mulder... Ele não sabe nem a diferença de uma carpa pra um salmão.

DHARMA: - O Greg sabe. Depois de servido no prato com uma rodelinha de limão.

As duas começam a rir.


BLOCO 2:

3:21 A.M.

[Som de um lobo uivando]

Dharma ergue-se na cama, assustada. Greg se acorda.

GREG: - O que foi?

DHARMA: - Tem lobos lá fora.

GREG: - Mas não era você que queria uma cabana com frestas? Vá dormir, Dharma. Pra sua sorte, a cabana é bem segura.

DHARMA: - Mas eu estou com medo.

Greg começa a rir. Ela fica séria.

GREG: - E a vida selvagem, hein?

DHARMA: - ... Greg... Sinto alguma coisa de errado.

GREG: - Shiii, Dharma, não comece.

DHARMA: - Sinto sim. Tem uma vibração estranha no ar...

GREG: - (CURIOSO) Que tipo de vibração estranha?

DHARMA: - ... Não sei. Mas não gosto.

Dharma se levanta, vestindo um robe.

GREG: - Aonde vai?

DHARMA: - Pegar água.

Mulder zanza pela sala, de pijamas, insone. Olha pela janela.

DHARMA: - Acordado?

Mulder dá um sobressalto. Vira-se pra trás e vê Dharma descendo as escadas.

MULDER: - Lobos...

DHARMA: - Ai também perdi o sono por isso.

Dharma abre a geladeira e pega água.

DHARMA: - Sei lá, sinto uma coisa ruim.

MULDER: - Está com alguma dor?

DHARMA: - Não é isso... Uma vibração ruim no ar.

MULDER: - Acho que são os lobos... Somos completamente redundantes! Viemos pra cá sedentos por uma vida selvagem e perdemos o sono por causa de lobos?

DHARMA: - Eu não sei o que é isso daí de redundante... Mas concordo com você.

Mulder sorri. Dharma bebe água. Mulder senta-se no sofá.

MULDER: - Não vou ligar essa TV. Jurei pra mim mesmo.

Dharma senta-se ao lado dele.

DHARMA: - Como se conheceram?

MULDER: - Ela veio trabalhar comigo... (SORRI) Ela me encontrou...

DHARMA: - (SORRI) Foi amor à primeira vista?

MULDER: - Hum... Acho que foi implicância à primeira vista.

DHARMA: - Sei... Isso é uma forma de amor, sabia?

MULDER: - E você e o Greg?

DHARMA: - (APAIXONADA) Amor à primeira vista. Nos encontramos, nos apaixonamos e nos casamos. Tudo no mesmo dia.

MULDER: - Puxa! Agora eu vejo realmente que eu e Scully somos lerdos...


6:19 A.M.

Scully desce as escadas num robe. Para. Arregala os olhos, incrédula.

Corta pra Mulder dormindo, sentado no sofá. Dharma dormindo sentada também, recostada com as costas em Mulder, com a boca aberta, cansada. Scully franze o cenho. Aproxima lentamente os lábios do ouvido de Mulder.

SCULLY: - (GRITA) Mulder!!!!!!!!!

Mulder dá um pulo do sofá, todo atrapalhado, olhando pra todos os lados. Dharma abre os olhos, e sonolenta, se deita no sofá, dormindo de novo.

SCULLY: - O que pensa que está fazendo?

MULDER: - (TENTANDO SE LOCALIZAR/ DORMINDO EM PÉ) Ahn? Onde? Quem? Já vai nascer???

SCULLY: - Não me teste, Mulder.

Greg desce as escadas de pijama, cabelos arrepiados, cara de quem acordou em pânico.

GREG: - Algum pro...

Greg olha pra Dharma dormindo no sofá. Olha pra Mulder. Scully disfarça.

SCULLY: - Nada, eu... Me assustei com um rato.

GREG: - Rato???

Scully empurra Mulder escada à cima. Greg fica desconfiado, os acompanhando com os olhos. Vai até o sofá e cutuca Dharma.

GREG: - Dharma?

DHARMA: - Zzzz...

GREG: - Dharma, acorda! Vá pra cama!

DHARMA: - (DÁ UM RONCO ALTO)

Greg recua assustado. Volta a cutucar Dharma.

DHARMA: - (DORMINDO) Me deixa em paz, Kitty... Não, não vou comer carne! ... E daí se é uma festa?

GREG: - Dharma!

Ela abre os olhos, sonolenta. Greg a puxa pela mão, ela o segue dormindo em pé.


7:11 A.M.

Mulder e Scully caminham de mãos dadas por um campo. Mulder carrega uma cesta de piquenique.

MULDER: - Não é todo o dia que tomamos café da manhã ao ar livre...

SCULLY: - Hum, acho que aqui está bom.

Mulder larga a cesta no chão. Estende a toalha. Respira fundo, colocando as mãos na cintura, olhando o lugar.

MULDER: - Admire isso, Scully... Montanhas, floresta, campo, sol, ar fresco...

SCULLY: - Quer saber de uma coisa, Mulder? Até me sinto melhor... Hoje acordei sem dor alguma nas pernas. Embora você me deu uma certa dor de cabeça...

MULDER: - Credo Scully... Ficamos conversando e acabamos dormindo... Muda o assunto, já te contei tudo...

SCULLY: - ...

MULDER: - Eu disse pra você que o ar do campo ia te fazer bem. Pinguinho precisava arejar. Você só fica trancada em casa.

Mulder a abraça por trás.

MULDER: - Hum... Olha só... Fazia uma data que eu não via coelhos correndo por aí.

SCULLY: - São lebres Mulder.

MULDER: - Ah, pra mim tudo é coelho.

SCULLY: - (RINDO) Ai não quero ir embora daqui.

Mulder a vira de frente pra ele. Os dois se olham apaixonados, trocando um beijo. Afastam-se, dando um sorriso.

SCULLY: - Eu confesso, fiquei com ciúmes dela.

MULDER: - Bobinha. Ela não faz o meu tipo.

SCULLY: - Ela combina em tudo com você.

MULDER: - Não combina.

SCULLY: - Sim. Ela é a sua cara, Mulder.

MULDER: - Não mesmo. Você combina comigo. Agora senta aí, pare de ciúme bobo e vamos curtir essa paisagem de cinema. Não viemos pra brigar. Viemos pra amar.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Limpe os lábios, Mulder. Está escorrendo mel!

Mulder ri. Segura Scully pelas mãos a ajudando a sentar-se. Senta-se ao lado dela. Scully se deita sobre a toalha. Mulder apanha um capim e começa a mordiscar.

MULDER: - Cansou?

SCULLY: - Ai, minhas costas... Como é bom ficar deitada!

MULDER: - (SORRI) Pinguinho tá dando o maior trabalho...

SCULLY: - (SORRI) Não acredite. Vou sentir falta disso tudo um dia.

Scully se apoia nos cotovelos. Inclina a cabeça, sentindo a brisa no rosto. Mulder a admira.

MULDER: - My sunshine...

SCULLY: - (SORRI) Mulder... Olha o mel... Isso é Arquivo X...

MULDER: - Ah deixa pra lá, aproveite a dose de anti-rábica baiana, já que a roteirista fez acordo com a carrocinha... Nada como comédias românticas...

SCULLY: - (RINDO) Bom, prefiro mel a abelhas...

Mulder inclina a cabeça pra trás, sentindo a brisa também.

MULDER: - Scully... Quero passar nossa velhice num lugar assim.

SCULLY: - E Pinguinho? Será que ela vai querer?

MULDER: - Se ela não quiser, os netos vão, acredite.

SCULLY: - (SORRI) Netos... Estamos pensando muito longe...

MULDER: - Ah eu vou ficar vivo pra conhecer meus netos.

SCULLY: - E eu vou fazer bolo de fubá...

Os dois riem. Mulder aproxima-se dela. Ela o acompanha com o olhar. Ele se coloca atrás da cabeça dela. Ela ergue os olhos tentando vê-lo. Ele aproxima o rosto e a segura pelo rosto. Ela estende os braços, envolvendo-os na cabeça dele. Olham-se nos olhos.

MULDER: - Sabe de uma coisa?

SCULLY: - Ahn?

MULDER: - Você é linda.

SCULLY: - (SORRI) Completa isso com um beijo.

MULDER: - Mas estamos invertidos. Acha que conseguimos trocar um beijo assim? Não vai morder o meu nariz?

SCULLY: - (RINDO) Não. Eu prometo.

Mulder aproxima os lábios dos dela. Beija-a com ternura.

DHARMA: - Olha só quem encontramos!

Mulder e Scully viram o rosto. Dharma e Greg de mãos dadas.

DHARMA: - Lindo esse lugar não é?

Mulder senta-se. Scully se ergue, apoiando-se nele, encostando as costas em Mulder. Mulder a abraça. Olha pra Dharma e pra Greg.

MULDER: - Sentem-se aí.

GREG: - Não vamos incomodar vocês.

SCULLY: - (SORRI) Não estão incomodando. Estamos aqui admirando a natureza.

Greg senta-se. Dharma senta-se entre as pernas dele. Greg a envolve nos braços, apoiando o queixo no ombro dela.

GREG: - Isso aqui parece o paraíso.

MULDER: - Realmente. Nem dá pra imaginar que segunda estarei no caos novamente.

GREG: - Muito trabalho, Mulder?

MULDER: - Nem imagina... E você?

GREG: - Bastante.

DHARMA: - (BEIÇO) Ai vocês dois! Esqueçam da vida um pouco! Respirem esse ar maravilhoso.

SCULLY: - Dharma tem razão. Não demora muito e acabam tendo um enfarto. E eu não vou socorrer ninguém.

GREG: - Sabe de uma coisa? A vida selvagem está na cidade.

MULDER: - Concordo plenamente.

DHARMA: - Eu disse pra vocês que estava com um pressentimento ruim ontem. Pois logo que saímos da cabana agora de manhã, fiquei sabendo que um hóspede morreu ontem de madrugada.

MULDER: - Sério? De quê?

DHARMA: - Enfarto. Portanto se aquietem, meninos... Trabalho demais mata. Por que não voltamos pro chalé, pegamos nossas coisas e vamos acampar agora?

Os três olham pra Scully. Scully ergue os ombros.

SCULLY: - Ah, afinal meu bebê precisa de ar! É desejo!

Dharma se levanta rapidamente. Começa a pular, puxando Greg pela mão.

DHARMA: - Vamos Greg! Vamos Fox! Não podemos negar isso pro bebê! Dana está com desejos, isso é coisa séria!

Scully começa a rir. Mulder a ajuda a se levantar.


9:23 A.M.

Geral do lugar. As montanhas ao fundo. A floresta. Os dois casais caminham acompanhando o curso do rio.

Greg vem ao lado de Dharma. Atrás deles, Mulder e Scully. Dharma para. Corre até Mulder e entrega a máquina fotográfica.

DHARMA: - Tira uma foto minha e do Greg?

MULDER: - Claro.

Dharma se agarra em Greg. Mulder bate a foto. Dharma pega a câmera. Entrega pra Greg.

DHARMA: - Vamos sentar ali adiante e tirar uma foto do Fox e da Dana!

Scully sorri. Dharma puxa Greg pela mão. Mulder se abraça em Scully.


9:46 A.M.

Dharma caminha ao lado de Mulder, puxando assunto. Scully fica ao lado de Greg.

DHARMA: - Fox, quantas vezes você assistiu Hair?

MULDER: - Hum... Acho que umas 30 vezes...

DHARMA: - Bati seu recorde! Assisti 61 vezes!

MULDER: - (CANTANDO) That's me. That's me. The rest is silence...

DHARMA: - (CANTANDO) Let the sunshine... Let the sunshine in... The sunshine in.

Greg e Scully olham pra eles. Dharma começa a dançar e cantar enquanto caminha.

DHARMA: - (CANTANDO) When the moon... Is in the Seventh House...

Scully e Greg se entreolham curiosos.

DHARMA: - (CANTANDO) And Jupiter aligns with Mars... Then peace... will guide the planets... (ABRE OS BRAÇOS) And love will steer the stars...

MULDER: - (CANTANDO) This is the dawning of the age of Aquarius... The age of Aquarius...

DHARMA: - (CANTANDO) Aquarius!

Mulder e Dharma riem.

DHARMA: - Ainda é meu filme favorito. Treat Willians estava fantástico!

MULDER: - Você sabia que tinham escolhido Treat para o papel, mas faltava alguma coisa nele? Então fizeram mais um monte de testes. Aí tentaram com ele de novo. Treat Willians se irritou, baixou as calças, mostrou o traseiro e disse que não precisava daquela droga de papel. Foi onde o diretor Milos Forman disse: É ele! Ele é o hippie rebelde que eu quero!

Dharma e Mulder riem. Greg e Scully se entreolham, sérios.

GREG: - Quantas vezes você assistiu Otello no teatro, Dana?

SCULLY: - (SORRI) Umas duas vezes... Mas li várias vezes o livro.

Dharma olha pra eles, enciumada. Então engata o braço em Greg.

GREG: - E Hamlet? Eu sou apaixonado por Shakespeare.

SCULLY: - Eu também.

DHARMA: - (BURRINHA) Quem é Hamister?

Scully e Greg a ignoram.

GREG: - Dana você chegou a ler Macbeth?

SCULLY: - Sim, eu...

DHARMA: - (INTERROMPENDO) Ah esse eu conheço! Não é o carinha aquele que andava esquisito, tinha um bigodão e fazia comédia...

GREG: - Dharma, aquele era o Grouxo Marx, amor.

Dharma fica chateada. Mulder percebe.

MULDER: - Shakespeare é realmente fantástico. Concordo com vocês, sou fascinado por ele. Mas estamos falando de gêneros teatrais diferentes. Podem adaptar pra realidade e o tempo que quiserem, mas sempre será Shakespeare. Shakespeare é um discurso. Estão tentando comparar o supra-sumo cultural eleito da intelectuália elitista com a contra-cultura dos anos 60. É como discutir sobre a matança de animais numa churrascaria. Ou como colocar Leonardo di Caprio fazendo um Romeu nos anos 90 para encher as bilheterias. Ou vão me dizer agora que vocês foram ver esse Shakespeare? Não foram, porque esse é um Shakespeare popular. Mas nas entrelinhas de Shakespeare vocês podem ver Hair.

SCULLY: - Ora Mulder... Por favor...

MULDER: - Mas quem vai querer ver um bando de gente mal vestida com flores nos cabelos, cantando e dançando por paz e um hippie que por engano vai morrer na guerra, enquanto trocava de lugar com um amigo soldado pra que ele tivesse o direito de dar um ultimo beijo em sua garota, antes de ir pra uma guerra estúpida. Não. É mais bonito e limpinho olhar para reis e rainhas preocupados com suas vidas pessoais ou com o povo, como se verdadeiramente eles soubessem o que é ser povo. Redundância, é o tipo de discurso do intelectual preocupado com a miséria, enquanto a barriga dele está cheia.

Dharma olha pra Mulder, impressionada.

MULDER: - Hair, de 1979, foi um musical feito a partir de uma adaptação teatral que trata do tema antiguerra, pois se passa na década de 60, onde jovens voluntários se alistavam no exército para combater no Vietnã. Acho que Hair não é menos importante do que Otello. Assim como não dá pra comparar peras e maçãs. Gostos diferentes.

Greg e Scully se calam. Mulder continua caminhando. Dharma aperta o passo, de braços cruzados, chateada. Mulder vai atrás dela.

DHARMA: - Melhor eu ficar calada. Sou burra.

MULDER: - Você não tem obrigação de entender o supra-sumo intelectual. Hair diz muito mais do que Shakespeare, acredite.

DHARMA: - Ah eu sou burrinha mesmo. Minha maior frustração é que nunca fui à escola.

MULDER: - Você nunca foi à escola?

DHARMA: - Não. Aprendi tudo com meus pais.

MULDER: - Conheço pessoas que frequentaram mais de duas universidades. Completos gênios, espertos e realmente cultos.

DHARMA: - ...

MULDER: - São hoje assassinos seriais.

DHARMA: - Ah, você tá tentando me colocar pra cima.

MULDER: - Dharma inteligência não se aprende na escola. Você é inteligente. Não tem obrigação de dominar todos os assuntos.

DHARMA: - Mas eu invejo sua mulher. Ela sim é inteligente. Ela conhece essas coisas aí que o Greg gosta. Eu queria ser como ela. Fazer piadas que todos entendessem... Falar sobre coisas que todos compreendem. Aquelas palavras bonitas sabe? Ela é estudada!

MULDER: - (SORRI) ... Dharma, não se menospreze. Cada pessoa tem suas características e não por isso é menos importante.

DHARMA: - ... Sabe, acho que o Greg tá caído pela Dana.

MULDER: - Por que diz isso?

DHARMA: - Olha só para os dois! Eles têm um monte de assunto em comum. Falam a mesma língua. Os dois são cheios de frescuras. Céticos por completo. E acham ridículo Hair.

MULDER: - Até em Hair tinham os caretas como eles.

Mulder olha pra trás. Percebe Greg ajudando Scully a subir uma pedra. Olha pra Dharma.

MULDER: - (ENCIUMADO) ...

DHARMA: - Eu amo o Greg... Mas eu tenho pena dele, eu sou muito louca, admito. E ainda sou burra.

MULDER: - Você não é burra. Você é inteligente, meiga e sincera. Diz o que pensa e isso não a torna uma idiota. Você é mais esperta do que ele.

DHARMA: - Não sou não.

MULDER: - (IRRITADO) É sim. Porque se ele fosse esperto tirava a mão da minha mulher antes que eu perca a minha paciência.

DHARMA: - Não seja ciumento, Fox. Ninguém é dono de ninguém.

MULDER: - É, Dharma. Isso é muito peculiar da contra-cultura, muito zen na teoria, mas na prática não me interessa não... Não evoluí tanto como você...

DHARMA: - Às vezes penso que o dia em que o Greg achar uma mulher como ele, ele vai me deixar. Olha só pra ele! Ele é advogado, estudou pacas, a família dele é sangue azul. E eu sou uma filha de hippies e que acredita em coisas malucas.

MULDER: - Penso o mesmo com relação a Scully. Sempre tive a impressão de que se nosso relacionamento terminar será por causa dela. Scully é mulher demais pra mim... Ela vem de família tradicional, cheia daquelas manias de talheres certos e guardanapos.

DHARMA: - Puxa, Greg é assim.

MULDER: - Eu fui criado no grito. Custei a me acostumar com um abraço, uma palavra de carinho... Não sei se correspondo ao cavalheirismo que ela conhece.

DHARMA: - Eu nem sei me comportar numa festa. Sabe, custei a aprender qual talher se usa pra quê! Dançar então... Mas isso foi divertido.

MULDER: - Eu nem sei. Pra mim basta um garfo e uma faca. Dançar só se for colado na minha ruiva. Eu mais me embalo que danço.

Os dois riem.

DHARMA: - Você é doido por ela, não é?

MULDER: - Completamente. Ela vive me acusando de ficar olhando pras outras. Eu algumas vezes olho só pra provocar ciúme. Saber que a Scully sente ciúmes de mim é como um prêmio. É ter a certeza de que ela gosta do louco aqui.

DHARMA: - (SORRI) Eu nunca fui ciumenta. Mas com o Greg... Algumas vezes pinta um ciúme... É uma insegurança, sabe? É contra tudo o que aprendi com meus pais, mas... É o que você disse, Fox. Me faz sentir que um cara tão importante quanto o Greg gosta dessa louca aqui. Eu estou com ciúmes dele sim. Afinal sua mulher é tudo o que ele queria.

MULDER: - ...

DHARMA: - E ainda está grávida... Nem um filho eu dei pra ele e Greg é doido por crianças...

MULDER: - Dharma, vai pegar o seu marido que eu vou pegar a minha esposa... Por via das dúvidas... Opostos se atraem, mas o que é igual se atrai mais fácil ainda.

Dharma arregala os olhos. Volta pra trás e puxa Greg pela mão, cortando o assunto dele com Scully.

DHARMA: - Greg vem aqui que eu quero te falar uma coisa.

Dharma sai puxando Greg. Scully arregala os olhos. Mulder caminha ao lado dela.

SCULLY: - O que deu nela?

MULDER: - (IRRITADO) Acho que sacou que você está dando em cima do advogado de Harvard.

SCULLY: - (INCRÉDULA) O quê?

MULDER: - E não se finja de idiota.

SCULLY: - Mulder, de onde tirou isso? Você não tem motivos pra dizer uma coisa dessas!

MULDER: - Ora... Não me faz rir, Scully. Você é que não tem moral alguma pra ficar ofendida!

SCULLY: - Mas... Depois sou eu que sou maldosa! Que fico vendo cabelo em cabeça de Skinner né?

MULDER: - Ora me poupe!

SCULLY: - Você é malicioso! Você é maldoso Fox Mulder!

MULDER: - Eu??? Você não tem moral alguma pra me chamar de maldoso! Porque eu não sou maldoso, nunca me meti com mulher casada, nunca dei motivos pra nenhuma mulher que estivesse comigo desconfiar de mim! Por isso que quem mal não tem, mal não pensa! Você começou com essa coisa de desconfiança.

SCULLY: - (RINDO/ SURPRESA DO CIUME DELE) Uau! Essa foi a maior crise de ciúmes que você já teve!

MULDER: - Não sou ciumento!

SCULLY: - (RINDO)

MULDER: - Por isso você fica desconfiando de mim e da Dharma, enquanto eu não consigo nem a ver como mulher! Ela é a irmã que eu queria ter. Por que você é maldosa, pra você tudo é sexo!! Depois eu que sou tarado.

SCULLY: - (INCRÉDULA/ ADMIRADA)

MULDER: - Agora você, sempre teve obsessão por sujeitos com aliança no dedo! Eu sim tenho motivos pra ficar desconfiado! Uma vez destruidora de lares, destruidora de lares pra sempre! Isso não é maldade minha. Eu conheço muito bem você, Dana Scully... Isso é precaução!

SCULLY: - (RINDO) Precaução de quê?

MULDER: - (SEM JEITO) Ahn... É... Cala a boca, Scully. Você me irrita!

SCULLY: - (RINDO) Mulder!

MULDER: - (SÉRIO) ...

SCULLY: - (FELIZ) Você tá com ciúmes? De mim?

MULDER: - (RABUJANDO ENCIUMADO) Eu? Hahahaha... Se eu vou ter ciúmes de você. Olha pra minha cara!

SCULLY: - Você tá sim! Você tá com ciúmes de mim.

MULDER: - Não tô!

SCULLY: - Tá sim!

MULDER: - Não tô! Ciúmes de você... Ahn!

SCULLY: - (RINDO) Ciumento! (CANTAROLA) O Mulder é ciumento, lálálálálálá...

MULDER: - (ENCIUMADO) Ora que besteira! Eu não sou ciumento! Só não quero ficar igual aquele alce lá na recepção do hotel!

Mulder faz um beiço enorme e sai andando na frente. Scully segura o riso.

SCULLY: - (RINDO) Ô Mulder! Mulder, meu ciumento, vem aqui!

MULDER: - (GRITA/ BEIÇO) Eu não sou ciumento!

SCULLY: - Chifrudinho!

MULDER: - É a mãe!

Scully para. Não se aguenta de tanto rir. Senta-se numa pedra. Segura a barriga, num acesso de riso.


11:21 A.M.

Barracas montadas. Dharma, com uma flor no cabelo, acende uma fogueira. Scully aproxima-se dela.

SCULLY: - Acho melhor nós pegarmos alguma coisa pra cozinhar pro almoço, porque os nossos pescadores, com sorte, pegam o jantar.

DHARMA: - Ah, não se preocupe. Eu faço o almoço. Descansa.

SCULLY: - O que mais tenho feito é descansar. Não aguento mais tanta inércia.

Scully senta-se num banquinho.

SCULLY: - Me alcança as batatas que eu vou descascando.

DHARMA: - Tá legal...

Dharma entrega uma vasilha com as batatas e uma faca. Scully começa a descascar batatas, olhando pra ela. Dharma não percebe, continua ajeitando a fogueira, sentada no chão. Scully solta a faca.

SCULLY: - Dharma...

DHARMA: - Fala, Dana.

SCULLY: - Quero pedir desculpas pra você. Eu fui grosseira em minhas atitudes.

DHARMA: - ... Sem grilos.

SCULLY: - Não, eu fui completamente mal educada com você. Eu fiquei rindo de você por desconhecer um assunto.

DHARMA: - (SORRI) Tudo bem, Dana. Se você foi mal educada, eu nem percebi.

SCULLY: - Muito gentil de sua parte dizer isso. Não é nada contra você, Hair ou o seu modo de vida... Eu não quero que pense que sou assim. Eu não costumo rir das pessoas, eu mesma acredito que a vida é um eterno aprendizado. Ninguém é dono da verdade. E eu chorei em Hair na cena final...

Dharma arregala os olhos assustada.

SCULLY: - Mas é que... Eu fiz isso movida por um instinto primordial feminino e... (INDIGNADA) O que foi? Por que está me olhando desse jeito?

DHARMA: - (PÂNICO) Não se mexa.

SCULLY: - (NERVOSA) Ai meu Deus... É uma cobra?

DHARMA: - (APAVORADA) Não. Fica tranquila, não mostre nervosismo. Não se vire, não fale, não se mexa. Eu vou sair correndo e ele vai me seguir. Deixa que ele me siga, você tem que se preocupar com seu bebê.

SCULLY: - (ASSUSTADA) ...

Dharma levanta-se desesperada, correndo, aos gritos.

DHARMA: - Urso! Urso!

Scully fica pálida. As pernas amolecem. Morde os lábios, quase chorando. O enorme urso acinzentado com uma coleira vermelha fica ao lado dela. Scully reza baixinho, já soluçando.

SCULLY: - (REZANDO/ PÂNICO) Senhor, meu Deus, me perdoe pelo leite condensado na despensa e pela mochila cheia de chocolates que Mulder não sabe que eu trouxe... Eu juro que nunca mais eu vou pedir sushi alegando vontade de comer peixe cru, porque afinal o pobre Mulder não sabia que era só manha, se ele entendesse de culinária japonesa desconfiaria, porque sashimi é que é feito de peixe cru... Eu juro por tudo de mais sagrado que nunca mais eu vou fazer uma coisa feia dessas com o pobre do Mulder, eu vou me comportar como uma boa menina, (QUASE CHORANDO) eu não vou mais mentir, eu...

O urso despreocupado olha pra Scully. Abre a boca bocejando. Scully fecha os olhos. O urso começa a se esfregar nela até cair sentado. Scully continua catatônica.

MR. HENRICH: - Joe!

SCULLY: - Joe?

O velho Mr. Henrich se aproxima, usando um chapéu, vestindo um colete salva-vidas, segurando uma vara de pesca e um cesto.

MR. HENRICH: - Desculpe madame. Joe, faz favor... Para de assustar as pessoas.

Scully começa a rir em choque.

SCULLY: - Joe! (RINDO) É só o Joe... (CHORANDO) É só o Joe... Um ursinho peludinho... (OLHA PRO LADO) De dois metros de altura...

MR. HENRICH: - (PREOCUPADO) A senhora está bem?

O velho preocupado espanta o urso. Entrega um cantil pra Scully.

MR. HENRICH: - Beba isso, um pouco de água fresca lhe fará bem. Eu vou chamar um médico...

Scully bebe.

SCULLY: - Não... (RESPIRA FUNDO) Eu já me sinto melhor.

MR. HENRICH: - Tem certeza?

SCULLY: - Sim, foi só um susto...

MR. HENRICH: - Me desculpe, o Joe sempre sai pra pescar comigo, todo mundo conhece ele por aqui... Fica atraído por gente. Onde tem gente, tem o Joe.

O urso se aproxima de novo e se esfrega em Scully.

MR. HENRICH: - É, gostou da senhora... Ele tem faro pra conhecer as pessoas... É raro ver o Joe fazendo isso.

SCULLY: - (CURIOSA) Ele... é domesticado?

O velho puxa um banquinho.

MR. HENRICH: - Posso?

SCULLY: - Claro.

O velho senta-se.

MR. HENRICH: - Criei o Joe desde bebê. A mãe dele foi morta por um caçador e ele se escapou por pouco... Dei mamadeira, acostumei com meus netos, ele chorava as noites todas o pobrezinho... Um filhote sem a mãe... Não sei como sobreviveu...

SCULLY: - (SENTIMENTAL) Tadinho! Era só um bebezinho...

Scully leva a mão ao urso, meio receosa. Passa a mão nele. O urso se esfrega nela e se deita no chão, fazendo festa. Scully sorri.

SCULLY: - Ele é uma gracinha... Mas me assustou.

MR. HENRICH: - Desculpe, a senhora num estado desses...

SCULLY: - É que realmente nunca pensei que um animal desse tamanho fosse inofensivo... né, Joe?

O velho levanta-se.

MR. HENRICH: - Vamos Joe, já fez muita confusão por aqui. (RETIRA O CHAPÉU) Minhas desculpas novamente, senhora. Quero lhe dar um presente, como um pedido de desculpas.

O velho coloca o chapéu. Tira do cesto um enorme salmão.

SCULLY: - Não se incomode...

MR. HENRICH: - Eu faço questão.

Scully pega o salmão e sorri.

SCULLY: - Nossa! É muito lindo! Eu não sei se posso aceitar, deve ter tido muito trabalho para pegá-lo...

MR. HENRICH: - Não se preocupe. (SORRI) Eu ensinei o Joe a se comportar como gente. Em gratidão ele me ensinou onde os bons salmões se escondem.

SCULLY: - (SORRI) ...

MR. HENRICH: - Desculpe a indiscrição... Seu nome é Scully?

SCULLY: - Como sabe?

MR. HENRICH: - Pelo seu marido. Acho que é seu marido. Ele está pescando?

SCULLY: - Sim. Ele e um amigo.

MR. HENRICH: - Ele é alto, está usando calça jeans e camisa vermelha?

SCULLY: - Sim, é ele.

MR. HENRICH: - Eu emprestei minha canoa. Não vão conseguir pescar nada daquele jeito... Reitere minhas desculpas a ele, por favor.

SCULLY: - Por quê?

MR. HENRICH: - Precisava ver o pobre subindo numa árvore aos berros gritando ‘Scully!!!!’ quando puxou o salmão e veio o Joe junto...

Scully segura o riso com as mãos.

MR. HENRICH: - Nunca vi um homem correr tanto...

O velho sai andando.

MR. HENRICH: - Vamos Joe, pare de incomodar as pessoas, menino. Isso é muito feio. Você já aprontou demais hoje.

O urso sai ao lado do velho. Scully começa a rir.


BLOCO 3:

12:41 P.M.

Greg e Mulder distantes um do outro. Pescando, conversando e tomando cerveja.

GREG: - ... Estávamos fazendo três anos de casados. Eu acabara de ganhar um prêmio de Procurador do Ano. Foi aí que entrei num questionamento pessoal, sabe? Fiquei tentando me lembrar porque resolvi me tornar um magistrado... Sabe quando você entra em crise? Fiquei pensando se era realmente aquilo que queria fazer o resto da vida, se gostava daquilo realmente ou se gostava porque virou um hábito. Parece uma besteira para as mulheres...

MULDER: - Entendo... Elas se apegam a outras coisas como a família... Mas a gente se apega ao trabalho, às responsabilidades, acaba entrando em choque. Pensa várias vezes se está realizado mesmo, se deve ou não largar o que faz, porque afinal você tem uma mulher, que mesmo independente, precisa de você...

GREG: - É o papel social do homem, Mulder. Pode mudar as coisas, mas você é o chefe da família, não adianta. É um estigma convencional, como diria a Dharma. Você não pode se dar ao luxo de sair por aí fazendo bobagens.

MULDER: - E descobriu por que se tornou advogado?

GREG: - Concluí que me formei advogado porque eu acreditava que não seria amado se não fosse pelo meu sucesso. As mulheres gostam de homens bem sucedidos... E eu nunca pensei que encontraria a Dharma. Uma mulher que me amava pelo que eu era, não pelo meu sucesso, meu status social...

MULDER: - Nisso ela e Scully combinam...

GREG: - Foi uma experiência válida. Deixei meu emprego e a minha casa, comecei a reavaliar minha vida. Claro que Dharma não ficou muito feliz com isso, eu confesso que exagerei demais. Ela acabou sofrendo por me ver sofrendo... Mas no fundo eu queria mostrar pra ela que eu podia ser tão doido quanto ela. Cheguei a virar cozinheiro de hambúrguer!

MULDER: - (RINDO) Sério?

GREG: - Mas não adiantava... Não era aquilo que eu sabia fazer, não era a minha vocação. Eu podia mentir pra Dharma, comprar um trailer e sair por aí vivendo de artesanato... Mas não é a minha vocação. Então voltei pra casa e decidi que deveria advogar por conta própria.

MULDER: - Ela não se opôs?

GREG: - Não. Entendi que se eu fosse advogado, presidente ou fizesse hambúrgueres, ela me amaria do mesmo jeito.

Mulder bebe a cerveja. Greg senta-se ao lado dele.

GREG: - Eu fui mais estúpido do que você nesse ponto.

MULDER: - Não, acho que a minha decisão de sair do FBI e investigar por conta própria não é uma questão de inteligência... Eu adoraria continuar lá dentro, fazendo o que eu faço. Mas é uma questão de sobrevivência. Não sei ainda se vou trabalhar como investigador particular ou vou assumir minha carreira de psicólogo... É que pra voltar a clinicar eu teria que voltar a estudar...

GREG: - Fica difícil com um filho pequeno.

MULDER: - Fica. É mais uma despesa, é tempo que já não tenho... Estou defasado do mercado se fosse trabalhar como terapeuta. É que realmente o que eu gosto é da coisa de investigar, traçar perfis... Eu fiz psicologia por isso, pra entrar na mente doentia dos caras... Não consigo me ver sentando numa poltrona escutando problemas pessoais. Isso é chato, parado, sem emoção...

GREG: - Um pouco minha decisão foi influenciada pelo fato de que, um dia, eu e Dharma podemos ser mais... Mulder, como funciona isso na cabeça de um homem? Você está preparado, assimila isso normalmente ou se pega em alguns momentos, completamente preocupado?

MULDER: - Posso dizer que muda completamente toda a sua vida... Mas... (SORRI) No início você sabe da gravidez, mas não vê nada, então aquilo é um fato trivial... Mas quando aquela barriga começa a crescer...

GREG: - (SORRI)

MULDER: - Você vai percebendo que é real... Quando sente que tem algo dentro dela se mexendo, que tem vida ali, então... Você fica bobo. Pasmo. É real sim. Não está mais sozinho com ela. Sabe que ele vem pra ficar. Que as coisas vão mudar. Que tem que se preocupar com ele. É confuso, Greg. Até é engraçado.

GREG: - Como assim?

MULDER: - Às vezes eu fico irritado porque ela fica falando das fraldas, do enxoval, que sente dor, que está com desejo... E eu penso: mas que droga, isso é fútil! Eu aqui me preocupando com o parto, com um emprego que vou perder, em defender ela daqueles canalhas, de onde vou tirar dinheiro pro leite, pros remédios, pra escola, pras roupas...

GREG: - (RINDO)

MULDER: - São formas diferentes de amar um filho, Greg. Você até pode viver a gravidez, mas não vive nunca a mesma emoção. Algumas vezes eu fico observando a Scully. Ela ri, ela chora, ela se altera emocionalmente... De uma mulher forte, decidida, geniosa, ela fica frágil, vulnerável, chora por nada... Tudo acontece nela. Você está fora. A ligação física só ela tem... Talvez por isso que dizem que mãe é uma só... (SORRI) Mas eu descobri um jeito de aliviar isso.

GREG: - Como?

MULDER: - Quando ela tá dormindo encosto minha barriga na dela. Tento entender o que ela sente. (SORRI) Por alguns momentos eu entendo. Imagine ela que entende isso durante nove meses, todos os dias...

GREG: - E qual é o maior medo, Mulder?

MULDER: - ... Existem muitos medos, Greg. Mas no meu caso, o meu maior medo é de que... Alguém tire nosso filho de nós.

Dharma e Scully se aproximam. O urso Joe vem correndo atrás de Scully. Fica ao lado dela.

DHARMA: - Não vão acreditar!

MULDER: - É, eu já descobri que o urso é mansinho.

Greg ri.

DHARMA: - Não é isso. Encontramos uma cabana bem pertinho daqui. Daquelas Mulder! Daquelas cabanas de Tarzan... Pena que não esteja em cima da árvore, né Dana?

SCULLY: - (SORRI) Hum, eu discordo. Ainda bem que posso entrar na cabana com meus pés. Via ‘cipó voador’ seria embaraçoso no meu estado... Grande questão: Como Jane se locomovia quando estava grávida?

MULDER: - (DEBOCHADO) Confesso que uma mulher grávida pendurada num cipó gritando, deve ser algo muito interessante... Eu pagaria pra ver, Scully...

SCULLY: - (DEBOCHADA) Aposto que o Tarzan pelo menos se prestava a carregar a esposa por aí.

Greg começa a rir. Scully afaga a cabeça do urso.

MULDER: - Você tá folgada, hein Scully?

SCULLY: - Não fale comigo assim. Ou mando o meu urso te pegar.

MULDER: - (INCRÉDULO) Seu urso?

SCULLY: - Sim. Mr. Henrich emprestou o urso pra mim.

MULDER: - E o que pretende fazer com o urso?

SCULLY: - Na falta do seu mel ele traz melzinho pra mim.

DHARMA: - Fox... Acho que poderia ter ido dormir sem essa...

SCULLY: - E os peixes?

Greg e Mulder se entreolham. Dharma abre um sorriso.

DHARMA: - Esqueçam os peixes. Vamos lá pras barracas que eu e Dana já preparamos um almoço delicioso.

MULDER: - Esquecer os peixes? De jeito nenhum! Eu não saio daqui enquanto não pegar um!

GREG: - Idem.

DHARMA: - (DEBOCHADA) Tá bom... Se quiserem morrer de fome...

Dharma vira-se pra Scully. Pisca o olho.

DHARMA: - Dana, vamos fazer assim. Eu vou buscar o almoço e nós almoçamos aqui. Assim ficamos fazendo companhia para os rapazes. Reza a lenda que mulheres em pescaria dá azar. Mas acho que o caso aqui é diferente. Vamos trazer sorte.

Dharma sai correndo, rindo. Scully sorri.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Querem a ajuda do Joe?

MULDER E GREG (EM CORO): - Não!


3:29 P.M.

Greg e Mulder parados na beira da lagoa. Um monte de latas, um pneu velho, alguns sapatos. Greg olha pra canoa atracada.

GREG: - Não sei não, Mulder... Eu confesso que entendo alguma coisa de barcos, mas essa canoa... Quer arriscar?

Mulder olha pra trás. Scully e Dharma olham pra eles rindo e debochando. Mulder olha pra Greg.

MULDER: - Pela nossa honra de machos... Não aguento mais ver aquelas duas rindo de nós lá atrás, debochando da nossa pesca.

GREG: - Não saímos do lago enquanto não pegarmos um bom peixe.

MULDER: - Combinado. Não deve ser tão difícil assim... Se nos primórdios os homens caçavam e pescavam...

GREG: - Ainda prefiro fazer supermercado... É um desafio, mas pelo menos você tem a certeza de que vai trazer o almoço.

MULDER: - Se não for dia de troca de cupons...


3:44 P.M.

Scully sentada num tronco de árvore, na beira do lago, comendo uma maçã. A filmadora ao lado dela. Os pés descalços, dentro da água, brincando de fazer ondinhas. Observa Mulder e Greg em pé dentro da canoa, no meio do lago. Os dois tentam inutilmente desembaraçar a linha de pesca. Enrolaram a linha de uma vara na outra. A canoa balança de um lado pra outro. Scully começa a rir.

Dharma aproxima-se, vestida numa saia indiana, mini-blusa e pés descalços. Com uma caneta e um caderno aberto. Senta-se ao lado de Scully. Sorri.

DHARMA: - Eles não levam jeito pra coisa...

SCULLY: - Nem um pouco.

DHARMA: - Não demora muito e se enrolam naquela linha caindo dentro da água e virando a canoa...

SCULLY: - Acha que estou aqui esperando pra ver o quê? Não perderia isso por nada!

Scully ergue a filmadora. Dharma dá um sorriso empolgado.

DHARMA: - Posso mandar pra aqueles programas de vídeos caseiros desastrados?

SCULLY: - São 50 dólares que dividiremos...

DHARMA: - Estou fazendo uma pesquisa... Pode me ajudar?

SCULLY: - Claro... Sobre o quê quer que eu responda?

DHARMA: - O que mais que te deixa excitada no sexo? Quando ele faz estimulação dos seios ou clitoriana?

Scully se engasga. Entra em choque. Começa a tossir. Dharma olha pra ela.

DHARMA: - Ops... Perguntei algo que não devia???

SCULLY: - Não é... que... (DISFARÇA) Pra que está fazendo essa pesquisa?

DHARMA: - Ah! É pra minha amiga Jenny... Ela quer provar uma teoria sobre orgasmos femininos. Então?

Scully cochicha no ouvido de Dharma. Dharma ri. Olha pra ela, empolgada.

DHARMA: - Sério??? Eu também!!!!!!!!!

SCULLY: - (RINDO)

DHARMA: - Como é o sexo na gravidez? É tão bom quanto dizem?

SCULLY: - ...

DHARMA: - Ah não seja tímida! Curiosidade de mulher.

SCULLY: - ... Eu não sei se todas as mulheres sentem o que eu sinto...

DHARMA: - Está com nojo dele?

SCULLY: - Não. Fiquei tarada.

Dharma começa a rir.

DHARMA: - Sério? Dizem que a penetração fica mais fácil...

SCULLY: - Desculpe minha indiscrição... Você não quer filhos?

DHARMA: - O Greg é maluco por crianças... Mas... (TRISTE) Acho que não pensamos seriamente a respeito disso ainda... (ABRE UM SORRISO) Pega a câmera!

Scully pega a filmadora rapidamente, filmando alguma coisa.

Som de gente caindo na água.

As duas começam a rir.

DHARMA: - (CURIOSA/ EMPOLGADA) Pegou?

SCULLY: - Tudinho! Principalmente o ‘splaft’...

DHARMA: - (FAZENDO CARETA) Shiii... Acho que vou dar uma ajuda aos marinheiros... Um enganchou o outro com o anzol! Ainda bem que você é médica!


6:28 P.M.

Scully dentro da água, segurando o vestido sobre as coxas. Espanta os peixes com os pés. Dharma ergue-se de um mergulho segurando um grande salmão pela cauda. Scully sorri. Dharma seca os olhos com uma das mãos, rindo.

DHARMA: - Isso sim se chama pescaria de sobrevivência! Que tal, hum?

SCULLY: - Uma beleza!

As duas viram-se com uma fisionomia de deboche para a margem. Mulder e Greg, cada um enrolado num cobertor, bebendo chá e espirrando.


8:37 P.M.

Close da fogueira.

Dharma sentada num banquinho, Greg em outro. Mulder sentado, Scully sentada entre as pernas dele no chão.

DHARMA: - Mas é sério, Greg!

GREG: - (EMBARAÇADO) Dharma... A minha mãe?

DHARMA: - Sim. A sua mãe fez isso.

Mulder e Scully riem. Greg está sério.

GREG: - Não... (INCRÉDULO) A minha mãe?

DHARMA: - Ora por que é tão difícil assim de acreditar? Abby disse isso.

GREG: - Sua mãe disse? Mas... A minha mãe?

DHARMA: - Abby não é cega. Ela viu quando a sua mãe tava de olhares para o tamanho do salame do meu pai.

Mulder põe a mão no rosto rindo. Greg continua incrédulo.

SCULLY: - Seus pais devem ser divertidos Dharma.

DHARMA: - Ah, eles são. Na próxima vez vou convida-los. Aposto que Fox adoraria trocar idéias com Larry.

GREG: - Vocês teriam adorado ver a cena... A mãe dela, Abby, tentando imitar o canto de acasalamento dos patos pra espanta-los do chafariz.

DHARMA: - Não eram patos, eram gansos.

GREG: - Não sei se eram patos ou gansos, mas sua mãe abrindo a echarpe e imitando o Batman com ela...

Mulder e Scully riem.

GREG: - Pena que não temos mais marshmallows... Dharma porque foi dar nossos marshmallows ao urso?

DHARMA: - Ora, Greg, deixa de ser egoísta.

SCULLY: - (SORRI) Tenho chocolates na minha mochila.

Mulder olha incrédulo pra ela. Scully faz beiço. Passa a mão pela barriga.

SCULLY: - Ai, eu tô gravidinha...

DHARMA: - É, ela tá gravidinha. Vê se para de brigar com ela, Fox. Deixa ela comer docinhos, é o bebezinho que está pedindo. Anjinhos gostam de docinhos.

SCULLY: - (BEIÇO/ MANHOSA) É, para de brigar comigo.

MULDER: - Impressão minha ou vocês duas hoje resolveram conspirar?

DHARMA: - (DEBOCHADA/ ACENANDO NEGATIVAMENTE COM A CABEÇA) Nãoooo... De jeito nenhum.

O urso Joe se aproxima. Deita-se do lado de Scully. Mulder observa.

MULDER: - Impressionante... Pensei ter ouvido o Greg dizer que os animais têm atração pela Dharma.

GREG: - E tem. Uma vez foi um cavalo que se apaixonou por ela.

MULDER: - Nem me diga. Scully teve um romance com um camelo.

SCULLY: - Ai, não fala assim do camelinho!

DHARMA: - Os animais me adoram. Mas eu sei porque o Joe está perto da Dana.

MULDER: - (DEBOCHADO) Por quê? Espécies semelhantes se atraem?

Scully dá uma cotovelada na perna de Mulder.

MULDER: - Au!

DHARMA: - Não seu bobo. É o bebê...

GREG: - Não sabia que mulheres grávidas atraem animais.

DHARMA: - Não é isso. É o bebê.

SCULLY: - (CURIOSA) Como assim?

DHARMA: - O bebê gosta de animais. E os animais pressentem esse amor. E vem pra perto dele. Aposto que vocês terão muitos problemas com a quantidade de bichinhos de estimação que ele vai pedir.

MULDER: - Greg, anote aí na lista de preocupações paternas que te falei: bichinhos de estimação, como dizer não.

Greg sorri. Dharma levanta-se. Estende a mão pra ele.

DHARMA: - Vamos tomar banho de lagoa?

GREG: - (INCRÉDULO) Agora?

DHARMA: - Sim.

GREG: - Mas Dharma, está frio! Aquela água deve estar gelada!

DHARMA: - A gente esquenta...

Scully abaixa a cabeça e ri. Greg se levanta.

GREG: - Vocês nos dão licença...

MULDER: - Vai fundo... Não leve isso literalmente ao pé da letra. Não é bom nadador...

Dharma e Greg saem de mãos dadas. Mulder beija os cabelos de Scully, envolvendo os braços no pescoço dela.

MULDER: - Que tal irmos pra barraca?

SCULLY: - (BOCEJA) Falou a palavra mágica, Mulder.

Mulder se levanta. Ajuda Scully a se levantar. Os dois caminham de mãos dadas até a barraca. O urso atrás deles. Mulder vira-se.

MULDER: - Você não. Já tem pretendente demais disputando a ruiva por aqui.

O urso dá as costas e vai embora. Scully ri. Os dois entram na barraca.


9:11 P.M.

A luz da lanterna de camping acesa. Scully deitada. Mulder diminui a intensidade da luz. Deita-se ao lado dela. Os dois olham pro teto da barraca.

MULDER: - ... Me lembre de acamparmos depois que o bebê nascer.

SCULLY: - Por quê?

MULDER: - Ainda não provei uma teoria pra você.

SCULLY: - (RINDO) Que teoria?

MULDER: - A de dois corpos se aquecerem melhor num saco de dormir.

SCULLY: - (SORRI) ... Lembro desse caso. Seu comentário na época foi mesmo uma cantada? Pensei que tinha sido mais outra ironia pra me deixar sem graça.

MULDER: - E eu pensei que finalmente teria sorte naquela floresta, nós dois sozinhos, mas como em todas as minhas cantadas, você achava que eu estava caçoando de você.

SCULLY: -Minha insegurança com homens bonitos que você desconhecia. Se tivesse puxado assunto e conversado seriamente comigo, poderia ter tido sorte, Mulder. Ia ser animal, pode apostar.

MULDER: - Agora que você me diz isso? Droga Scully, podíamos ter evitado um Yeti atrás de nós e menos anos de tensão sexual acumulada. Que por sinal, por respeito ao Pinguinho, estou dando uma colher de chá pra você. Mas lembre-se, depois dele nascer, temos muitos anos de sexo reprimido pra compensar.

Os dois riem.

MULDER: - Sabe? Agora eu estou louco pro nosso bebê nascer. Tem um monte de coisas que quero mostrar pra ele. Podia estar aí passeando com ele...

SCULLY: - (SORRI) Eu fico imaginando como ele deve ser... A carinha... O jeitinho...

MULDER: - Espero que não tenha o meu nariz.

SCULLY: - (SORRI) ... Quero que tenha cabelos castanhos como os seus.

MULDER: - Podia ter olhos azuis...

SCULLY: - Que puxe a altura da sua família...

MULDER: - Que tenha seu sorriso...

SCULLY: - (SORRI) Imagina Mulder: ouvir as palavras mamãe e papai...

MULDER: - (PREOCUPADO) Precisa me ensinar a trocar fraldas.

SCULLY: - Meninos são mais fáceis. Meninas requerem mais cuidados.

MULDER: - Eu aprendo. Acho que cuidar de uma criança não deve ser mais difícil do que resolver um Arquivo X.

SCULLY: - Mulder... Temos que estar preparados para outras coisas não tão boas assim... Choro no meio da noite... Cólicas... Febre... Noites em claro...

MULDER: - E daí? Já não passamos tantas noites em claro? Em situação pior: dentro do carro, espreitando assassinos, correndo perigo... Cuidar de um bebê vai ser moleza!

Scully se aconchega nele. Afaga a barriga.

SCULLY: - Enorme... Me sinto explodindo... Ai, Mulder... Eu quero que ele nasça de uma vez... Eu quero pegar ele nos meus braços e encher de beijinhos... Fazer dormir no meu colo...

MULDER: - (SORRI) Nunca imaginei isso em minha vida... Nunca, sequer sonhei, que esperar um filho poderia ser algo tão incrível e gratificante... Scully eu quero tanto esse bebê que nem sei se você imagina... Juro que vou fumar um charuto quando ele nascer. Vou deixar minha cara de bobo estampada. Agora eu consigo entender o que isso significa. A grandeza disso tudo... Antes eu não entendia... Até achava que era uma obsessão sua algumas vezes... Mas quando olhava pra você, que ficava tão materna perto de um bebê... Eu sentia tanta culpa... A culpa da sua esterilidade é minha.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - É minha sim... Eu vou carregar isso pra sempre... Essa criança é como um alívio das minhas dívidas com você... E o valor dela é tão grande que paga a minha culpa e ainda sobra pra me dar a felicidade que eu questiono se merecia.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - Não, Scully. É sério. Ninguém desejou tanto quanto você. Ninguém chorou tanto quanto você. Você merece esse filho como um presente. Eu só peço que essa criança nunca te decepcione, porque eu não vou tolerar isso. Não depois de tudo que você passou pra tê-la.

SCULLY: - Mulder, ela sabe disso... Ela sabe desse meu amor por ela, como sabe do seu amor... Sinto que tudo vai mudar, Mulder. Acho que é um novo tempo pra nós dois. Hora de sermos três...

MULDER: - (SORRI) Um... Dois... Três... Quem diria, Mulder... Saltou na escala matemática em tempo recorde...

SCULLY: - Isso foi bom ou ruim?

MULDER: - (SORRI) Me diga se é melhor viver como um copo vazio ou como um copo cheio?


BLOCO 4:

Dharma e Greg sentados na beira da lagoa. Dharma olha pras estrelas.

GREG: - O que foi Dharma? Está tão calada... Parece triste.

DHARMA: - (TRISTE) Não estou triste.

GREG: - Dharma... Eu conheço você e sei que está triste. Alguma coisa está batendo nessa sua cabecinha.

DHARMA: - ... Greg... Nunca tinha pensando tão seriamente nisso...

GREG: - No quê?

DHARMA: - Eu sei que somos felizes, sabe? Mas... Falta alguma coisa.

GREG: - Que coisa? Ah não Dharma! Eu não vou tolerar gansos dentro do apartamento... Desista dessa ideia, meu amor, eu já disse que...

DHARMA: - Um bebê...

Greg olha pra ela, incrédulo.

GREG: - Dharma? Você...

DHARMA: - É, falta sim... Precisamos procriar. É o círculo da natureza. Toda fêmea tem que parir e eu me sinto menos fêmea por isso. Eu não colaborei ainda com a perpetuação da espécie. Eu sou um péssimo bicho. Não honro minha natureza.

GREG: - Dharma, eu não sei se ainda estamos prontos pra isso... O importante não é ter um filho, mas estar pronto pra tê-lo.

DHARMA: - Eu sei...

Dharma ergue a blusa.

GREG: - Eu não acredito que vai entrar nessa água gelada! Dharma você é completamente louca!

Ela tira a roupa e vai pra água. Mergulha. Volta à superfície puxando os cabelos pra trás.

DHARMA: - Vem Greg!

GREG: - Não!

DHARMA: - Não está fria!

GREG: - Ah, imagino!

DHARMA: - Você me ama?

GREG: - O que tem a ver meu amor por você com essa água gelada?

DHARMA: - Só perguntei se você me ama.

GREG: - Ora Dharma... É claro que eu amo você.

DHARMA: - (SORRI) O quanto? Tanto quanto o número de estrelas no universo???

GREG: - (SORRI/ APAIXONADO) Não. Não há estrelas suficientes no universo para medir o meu amor por você.

DHARMA: - (DEBOCHADA) Hum, senhor Montgomery! Então jure aqui, diante da natureza imensa que nós vamos ter um filho.

GREG: - (SORRI) Nós vamos ter um filho. Eu juro!

DHARMA: - (EMPOLGADA) Vamos?

GREG: - Vamos.

DHARMA: - Então por que não começamos a praticar? Ahn?

Greg se levanta. Tira as botas.

GREG: - Você pediu Dharma.

DHARMA: - (RINDO ALTO)

Greg começa a tirar a roupa. Dharma brinca com os braços na água. Greg entra na água e se aproxima dela, tremendo de frio.

GREG: - Você mentiu dizendo que estava quente.

DHARMA: - Vamos esquentar tanto isso daqui que vai sair fumaça da água!

Greg a envolve pela cintura, beijando-lhe o pescoço. Dharma inclina a cabeça pra trás. Greg beija os lábios dela. Dharma olha debochada pra ele. Ergue uma das sobrancelhas.

DHARMA: - Acho que tem um bicho aqui.

GREG: - (ASSUSTADO) Bicho? Que bicho?

Dharma sorri maliciosamente e mergulha. Greg ri.

GREG: - Dharma... E se chegar alguém?

Ela volta à superfície. Greg olha pra todos os lados.

DHARMA: - Dana e Fox já devem estar dormindo.

GREG: - E algum pescador... Uma família...

DHARMA: - Greg relaxa! E daí?

GREG: - Isso pode ser enquadrado em atentado ao pudor. Podemos ser processados, julgados e a multa pode variar de...

Dharma o cala num beijo o puxando pra um mergulho.


10:37 P.M.

Mulder deitado sem camisa. Scully fecha o livro.

SCULLY: - Ainda tem alguma dúvida?

MULDER: - Não. Acho que estou pronto pra fazer o parto.

SCULLY: - (FELIZ) Sério?

MULDER: - Sério. Não quero ter que pedir instruções na hora. Você vai estar ocupada tendo o meu filho.

SCULLY: - Você enche tanto a boca pra dizer ‘meu filho’ que me deixa orgulhosa, sabia?

MULDER: - (DEBOCHADO) Por quê? O filho não é meu?

SCULLY: - (RINDO)

MULDER: - Desista. Eu estava lá. Eu vi tudo acontecer. É meu sim.

SCULLY: - (RINDO)

Scully senta-se, apoiando-se com as mãos. Mulder olha pra ela.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - Nada. Quero me sentar um pouco.

MULDER: - ...

SCULLY: - Mulder, você está tão calado...

MULDER: - Eu?

SCULLY: - É... Tem alguma coisa de errado?

Mulder senta-se. Olha pra ela.

MULDER: - Eu... Enquanto você lia, eu olhava pra você e... Sabe o que acontece quando eu fico olhando pra você...

SCULLY: - O que acontece?

MULDER: - ... Isso.

Mulder a toma nos braços, a beijando no rosto. Scully inclina a cabeça, soltando um suspiro. Mulder desce os lábios pelo pescoço dela.

MULDER: - (MURMURA) Me empurra se eu estiver te incomodando...

SCULLY: - (SORRI) Adoro quando você me ‘incomoda’ desse jeito, Mulder...

Mulder toca os lábios dela com os seus. Morde-os com desejo. Scully vai se deitando, enquanto ele a beija, inclinando-se pra cima dela.


3:11 A.M.

Escuridão. Barulho dos grilos.

A luz da barraca de Mulder e Scully se acende. Mulder sai pra fora, estendendo a mão, ajudando Scully a sair.

SCULLY: - Droga, isso é muito chato! Completamente chato!

MULDER: - (SORRI) ...

SCULLY: - Esse era o meu medo de vir pra cá acampar... Pelo menos na cabana eu podia me virar sozinha.

MULDER: - (SORRI) ... Scully...

SCULLY: - (CONSTRANGIDA) Desculpe.

MULDER: - Por quê?

SCULLY: - Porque eu não sei mais me virar sozinha!

MULDER: - (TERNO) Adoro quando você me torna útil.

SCULLY: - Acha útil acordar você pela terceira vez na madrugada pra me ajudar a fazer xixi? Ai... (BEIÇO) Mas é que cada vez tá pior pra me agachar...


8:24 A.M.

Scully sentada no banquinho. Olhar ao longe. Passa a mão na barriga. Dharma se aproxima com uma chaleira.

DHARMA: - Peguei água. Vou fazer o café. Ou você quer um chá?

SCULLY: - (ANGUSTIADA) Eu quero que ele nasça... Não aguento mais. Levantei dez vezes essa noite pra fazer xixi... Chega uma hora que dá uma angústia... Passa a fase da empolgação e começa a fase do ‘tomara que nasça logo’.

DHARMA: - Está preparada?

SCULLY: - Estou... O medo já se foi... Agora fica a expectativa.

DHARMA: - Falta pouco.

SCULLY: - (ANGUSTIADA) Ai me sinto uma pata! Não consigo mais me virar sozinha nem pra ir ao banheiro!

DHARMA: - Já sabe o sexo?

SCULLY: - ... Sinto que é uma menina...

DHARMA: - Como sabe?

SCULLY: - Não sei... (SORRI) Não é científico, mas... É uma sensação interior... Meu Deus, eu tendo sensações!!! Acho que a velha Dana Scully está voltando...

DHARMA: - Bom, minha mãe é parteira... Ela olharia pra você e diria: menina sem sombra de dúvida. Meninas incham mais.

SCULLY: - É... Minhas pernas parecem troncos de árvores.

DHARMA: - Devia tomar banho frio. Alivia.

SCULLY: - Boa ideia...

DHARMA: - Já escolheu um nome?

SCULLY: - Victoria.

DHARMA: - Puxa, que lindo!

SCULLY: - Acho que o nome em si representa o que ela significa na minha vida e na de Mulder.

DHARMA: - Sabe o que significa misticamente?

SCULLY: - Não. Você sabe?

DHARMA: - (SORRI/ FAZENDO O CAFÉ) Victoria significa divindade. Força. Personalidade forte. É aquela que vence. É um nome iluminado, cheio de energias boas e positivas. Belo nome pra uma mulher. Vai ser uma garota desencanada, decidida e batalhadora.

SCULLY: - (SORRI) Tomara. Porque a mãe dela nunca foi "desencanada". Não fale nada ao Mulder. Ele não quis se manifestar no nome, só deixou claro que não queria nada que lembrasse a família dele... Deixou a meu gosto... Quero surpreende-lo. Eu sei que ele deve estar pensando que eu darei o nome da minha irmã Melissa.

DHARMA: - (SORRI) Tudo bem. Mas ele vai ter problemas. As Victorias não costumam baixar a cabeça para os homens. Elas encaram a bronca num charme de quem usa calcinha, mas como se usassem cuecas.

As duas riem. Dharma olha pra Scully. Disfarça. Scully olha pra Dharma. Disfarça. O silêncio se estabelece. Dharma larga o bule. Senta-se na frente de Scully.

DHARMA: - Olha, Dana... Acho que já percebeu que sou uma pessoa franca, honesta, que detesta fingimento e falsidade.

SCULLY: - ???

DHARMA: - Eu sei que você tá com ciúmes de mim.

SCULLY: - Eu? Com ciúmes de você?

DHARMA: - Olha, eu não estou interessada no seu homem, tá legal? Eu tenho o meu. Eu curto Fox como um amigo. Só isso. Não quero fazer sexo com ele.

Scully olha pra ela, incrédula.

DHARMA: - Sério. Não que Fox não seja um cara legal pra fazer sexo, sabe? Mas eu tenho o Greg. Eu gosto de fazer sexo com o Greg.

SCULLY: - (CATATÔNICA)

DHARMA: - Então relaxa, acho que a gente pode se curtir legal.

SCULLY: - Invejo você. Como consegue ser tão espontânea?

DHARMA: - Como assim?

SCULLY: - Você... Você fala tudo com tanta naturalidade, tanta sinceridade que fere ou choca... Olha, admito que senti ciúmes de você sim.

DHARMA: - Tá bom, tá legal. Eu senti ciúmes de você também.

As duas se olham surpresas.

SCULLY: - De mim?

DHARMA: - É sim... (CRUZA OS BRAÇOS/ CABISBAIXA) Você vai ter um bebê...

SCULLY: - Mulder tem razão, eu vejo coisa onde não existe. Eu sou maldosa.

DHARMA: - Você não é maldosa.

SCULLY: - Você é que não é maldosa. Você se aproximou do meu marido como um amigo e eu vi chifre em cabeça de cavalo.

DHARMA: - Eu também senti ciúmes de você. Você é atraente, bonita, culta, educada, se veste bem... E você sabe falar um monte de coisas que o Greg fala. E que eu não sei.

SCULLY: - Eu é que fiquei com ciúmes de você. Você fala a língua do Mulder.

DHARMA: - Eu? Eu sou uma burrinha. Mulder é inteligente.

SCULLY: - Mas você moraria num trailer!

DHARMA: - E você moraria numa casa enorme com piscina e empregados!

As duas se observam. Começam a rir.

SCULLY: - Somos loucas. Imagina? Como pudemos pensar uma coisa dessas?

DHARMA: - Pois é! Imagina eu e Fox? Ele fala coisas inteligentes e cultas e eu não ia entender nada! Se o assunto de discos voadores terminasse, o que falaríamos?

SCULLY: - (SORRI)

DHARMA: - E você e Greg? Também não ia dar certo. Imagina você mandando um monte de cliente pro xadrez? Ia dar mais trabalho pra ele, iam começar as brigas... E você ia ganhar uma sogra, coisa que não tem. E me acredite, que sogra infernal!

Scully sorri. Dharma segura as mãos dela.

DHARMA: - Quero ser sua amiga. Gosto de você. Gosto do Fox. Eu sou filha única. Meus pais depois de velhos é que resolveram ter outro filho... O Fox é como um irmão pra mim. Aquele irmão mais velho, sabe? E eu queria ter você como minha irmã.

Scully olha pra Dharma e começa a chorar. Dharma a abraça. Começa a chorar também.

DHARMA: - (CHORANDO) O que foi que eu fiz? Eu disse coisa errada de novo! Eu sou uma burra!

SCULLY: - (CHORANDO) Não...

Scully se afasta dela. Olha pra Dharma. Passa a mão nos cabelos dela, a olhando com ternura.

SCULLY: - Desde que coloquei os olhos em você... (TENTA SE ACALMAR) ... No fundo, não era ciúmes do Mulder... Era uma forma de brigar com a minha irmã, como eu sempre fazia, porque você me lembra da Melissa...

DHARMA: - (SORRI/ ENTRE LÁGRIMAS) ... O que houve com ela?

SCULLY: - Ela morreu... Ela era louquinha como você, sabe? Cristais, gnomos, duendes... Eu brigava com ela, mas no fundo eu tinha inveja da Melissa por ser tão espontânea, livre de barreiras, de pensamentos ortodoxos...

DHARMA: - Orto... Não entendi.

SCULLY: - (SORRI) ... Foi Melissa quem me fez assistir Hair. Nós choramos juntas.

As duas secam as lágrimas.

DHARMA: - Será que podemos ser amigas?

SCULLY: - É claro Dharma.

Dharma se abraça em Scully, sorrindo.

DHARMA: - Eu amo você, irmãzinha.

SCULLY: - (SORRI) Amo você, Dharma.

Dharma olha pra ela. Abre um sorriso.

DHARMA: - Você??? Falando "amo você", uma linguagem de hippie?

SCULLY: - (SORRI) É.

DHARMA: - Olha, vamos trocar endereços, eu faço questão de que vá pra São Francisco. E eu quero conhecer a Victoria.

SCULLY: - (SORRI) Vai conhecer sim, Dharma.

DHARMA: - Nunca encontrei pessoas tão legais assim, quanto você e Fox... Mulder. Vou começa-lo a chamar de Mulder, você o chama assim.

SCULLY: - (SORRI) Vocês são o primeiro casal de amigos que temos.

DHARMA: - Uau! Isso merece um jantar! Hoje é nossa última noite aqui. Vamos comemorar e celebrar nossa amizade. Afinal, deixemos os sentimentos mesquinhos para as pessoas pobres de espírito. Deixemos a malícia para os pervertidos em coração.

SCULLY: - Lindo isso... Você fala coisas tão bonitas. Me indique alguma literatura que você leia.

DHARMA: - Tá vendo aquela montanha? Aquela floresta? As árvores, pássaros, essa grama? É a única literatura que conheço Dana. Eu aprendi com eles.

SCULLY: - Você teve os melhores professores que uma pessoa poderia ter, Dharma... (GEME) Ai...

DHARMA: - O que foi?

SCULLY: - O bebê está empurrando minha bexiga. Pode me ajudar a fazer xixi?

Dharma sorri. Levanta-se. Ajuda Scully a se levantar.

DHARMA: - Já fez o teste do sapinho?

SCULLY: - Que teste é esse?

DHARMA: - Pra descobrir o sexo do bebê! Você coloca um sapinho de mentirinha, sobre a barriga e...

As duas saem andando.


3:32 P.M.

Mulder observa a velha cabana, segurando a mochila nas costas. Scully olha pra ele sorrindo. Mulder dá a volta na cabana. Scully fica parada, olhando pro céu. Mulder se aproxima com uma flor. Coloca na orelha dela. Scully sorri.

MULDER: - Gostei dessa cabana. Essa sim.

SCULLY: - Falei com Mr. Henrich. É a cabana de pescaria dele. Disse que seremos bem vindos quando quisermos. Ele é dono das terras aqui, incluindo o hotel de cabanas.

MULDER: - Faça a reclamação da presença de microondas.

SCULLY: - (SORRI) Ele disse que te ensina a pescar.

Os dois caminham de mãos dadas. Scully tira a flor da orelha e segura na mão, observando-a.

MULDER: - Vem cá... Quero te mostrar uma coisa muito interessante. Lá atrás da cabana.

SCULLY: - (DESCONFIADA) Mulder...

MULDER: - (RINDO) Vem...

Mulder a leva pra trás da cabana.

SCULLY: - O que é?

MULDER: - Tá vendo isso?

SCULLY: - Sim... Um chuveiro de cano ao ar livre...

Mulder olha pra ela debochado. Scully olha pra ele em pânico.

SCULLY: - Não está pensando no que eu penso que você está pensando, Fox Mulder?

Mulder começa a tirar a roupa.

SCULLY: - (RINDO) Mulder!

Mulder liga o chuveiro. Começa a tomar banho. Molha os cabelos. Scully olha pra todos os lados.

SCULLY: - Mulder, por favor! Alguém pode chegar!

Mulder olha pra ela debochado. Os cabelos escorridos pela testa, correndo água.

MULDER: - E daí? Olha pra essa natureza toda. Acha que vou perder um banho frio?

SCULLY: - Mulder você é louco!

MULDER: - E você tá muito certinha.

SCULLY: - Mulder, imagina alguém chegar aqui e nos encontrar nus!

MULDER: - Põe esse seu lado louco pra fora como você faz entre quatro paredes.

SCULLY: - Acontece que não tem paredes aqui, Mulder!

MULDER: - Eu tirei suas amarras, Dana Scully. Não disse pra ser livre?

Scully olha pra todos os lados.

SCULLY: - E se chegar alguém?

MULDER: - E daí? Todo mundo toma banho nu.

SCULLY: - Claro, mas não no lado de fora da casa!

MULDER: - Chata. Você nunca faria isso mesmo, porque é uma covarde.

SCULLY: - Eu não sou covarde.

MULDER: - Você é sim. Garotinha de família.

SCULLY: - Para!

MULDER: - Boba sim. Moralista. Sem graça. Não sabe o que é sentir a água fria pelo corpo, enquanto toma banho olhando pra essa paisagem toda. Uma lembrança a menos pra contar pra nossa filha.

SCULLY: - Eu não vou contar pra nossa filha que o maluco do pai dela tomou banho pelado do lado de fora de uma cabana.

MULDER: - Eu conto. Sabe o que ela vai dizer?

SCULLY: - Que você era doido!

MULDER: - Não. Que você era careta.

Scully olha pra um lado. Olha pra outro. Sorri perversamente e começa a se despir.

MULDER: - Yhaaaaa!!!!!

SCULLY: - (IRRITADA) Não sou careta não! Eu também experimentei baseado na adolescência! Odeio que me chamem de careta!

MULDER: - Uhu! Vamos lá, Dana Scully, entregue seus podres porque até as mocinhas são más!

Scully fica séria olhando pra ele. Cobre os seios com um dos braços e passa a mão pela barriga.

SCULLY: - Se alguém me pegar nua nesse estado... Eu juro que começo a correr atrás de você até encher você de tapas.

MULDER: - O que tem? Você nunca esteve tão radiante! Vem pra cá, vem. Pinguinho vai gostar de tomar banho ao ar livre.

Scully se aproxima dele séria.

SCULLY: - Você não vai molestar sexualmente uma pobre grávida debaixo de um chuveiro frio e em pleno ar livre!

Mulder ri. Ela vira o rosto, segurando o riso. Mulder inclina-se rindo, olhando pra ela.

MULDER: - (DEBOCHADO) Acha que eu molestaria você? Em público?

Scully olha pra todos os lados, assustada.

SCULLY: - Público? Onde?

MULDER: - (RINDO) Lá! Tem um esquilo voyeur olhando pra nós dois.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - Ora... A natureza toda está nos vendo, Scully.

SCULLY: - A natureza não me preocupa, Mulder. Me preocupa são as pessoas. Imagina o que diriam de mim? A séria agente Scully, uma moça de família, tomando banho nua do lado de fora de uma cabana?

MULDER: - Vem aqui, vem. (DEBOCHADO) Séria agente Scully...

Scully se aproxima dele, séria. Mulder a puxa com força, beijando-lhe os lábios. A puxa pra baixo do chuveiro. Ela grita.

SCULLY: - Ai meu Deus, isso tá frio!

MULDER: - (RINDO) Isso, continua gritando que daqui a pouco aparece até a guarda florestal.

SCULLY: - Oh meu deus!

Scully põe as mãos na boca, segurando o grito. Mulder ri. Esfrega um pedaço de sabão nas mãos.

MULDER: - (ERGUE AS SOBRANCELHAS) Posso lavar suas orelhinhas?

SCULLY: - Não! Deixa as minhas orelhinhas em paz!

Ela o empurra pra fora do chuveiro. Ergue o rosto deixando a água cair por cima dela.

MULDER: - Não era você que estava com frio?

SCULLY: - Hum... Isso é delicioso... Relaxante... Estimulante...

MULDER: - Mesmo sendo outono?

SCULLY: - O frio é psicológico e nós somos doidos... Meu Deus! (RI) Até minha filha começou a se mexer... Tá gostando da ideia louca do pai!

Scully esfrega os cabelos, olhando pra ele.

SCULLY: - Mulder dá uma espiada pra ver se não vem ninguém.

MULDER: - Não. Está limpo.

Mulder abre a mochila e tira uma toalha. Seca os cabelos.

MULDER: - Tá, admito, agora me deu frio.

SCULLY: - (RINDO) Percebi.

Ele vira-se de costas pra ela, debochado.

MULDER: - Intrometida!

SCULLY: - (RINDO)

Mulder começa a secar as costas. Olha empolgado para a paisagem. Os cabelos arrepiados.

SCULLY: - Ajeita esse cabelo, Mulder! Parece um doido!

MULDER: - (FECHA OS OLHOS/ RESPIRA FUNDO) Eu sou doido! Ainda bem!

SCULLY: - Me dá a tolha, estou com frio!

Ele entrega a toalha pra ela. Começa a se vestir.

MULDER: - (DEBOCHADO) Percebi. Os dois estão arrepiados...

SCULLY: - Intrometido!

MULDER: - (RINDO) Confessa... Foi bom pra você?

SCULLY: - (RINDO) Foi ótimo.

MULDER: - Vamos repetir isso em outras circunstâncias.

SCULLY: - No nosso banheiro, dentro de quatro paredes, por exemplo?

MULDER: - Não. Quando você não estiver grávida. Aí eu te jogo contra essa parede e você pode gritar até o eco do seu grito ser ouvido no Mississipi.

SCULLY: - Isso é uma ameaça?

MULDER: - Não. Um aviso. Eu disse que estou sendo comportado em consideração ao nosso filho... Mas depois... Prepare-se Scully. Meu manual de exorcismo está atualizado.

Ela arregala os olhos, olhando assustada pra ele.


7:12 P.M.

Já no chalé, Scully descansa as pernas, deitada na cama. Dharma abre a porta.

DHARMA: - Oi! Posso entrar?

SCULLY: - Claro... Você tinha razão... Água fria alivia mesmo! Me sinto nova!

Dharma entra com as mãos nas costas. Aproxima-se de Scully. Scully olha pra ela, desconfiada.

SCULLY: - O que foi?

Dharma coloca a escultura de um sapinho sobre a barriga de Scully. Scully ri.

DHARMA: - Faz o teste do sapinho que eu te falei. Depois me diz.

SCULLY: - Não quer fazer comigo?

DHARMA: - Não pode. Você tem que estar sozinha.


8:21 P.M.

Scully vestida num top, com uma camisa amarrada por cima. A barriga de fora. Prepara a salada. Greg está cozinhando. Scully olha pela janela e vê Dharma e Mulder conversando animados.

SCULLY: - (SORRI) Nunca conheci alguém com tanta vida quanto sua mulher.

GREG: - É isso que me deixa fascinado nela... A vida que ela exala... Nas coisas simples...

SCULLY: - Você disse que é advogado... Se formou em Harvard?

GREG: - Sim...

SCULLY: - Conheci um Montgomery em San Francisco, ele era amigo do meu pai.

GREG: - Seu pai fazia o quê?

SCULLY: - Meu pai era da marinha...

GREG: - Eu conheço os Scullys de algum lugar também...

SCULLY: - ... Seu pai se chama Edward Montgomery?

GREG: - (EMPOLGADO) Sim!

SCULLY: - Oh meu Deus! Meu pai e seu pai eram amigos! Eles jogavam golfe juntos nos campeonatos amadores!

GREG: - Claro! Seu pai não se chama Willian Scully?

SCULLY: - Sim! Mas ele já faleceu.

GREG: - Sinto muito, Dana.

Os dois começam a rir.

SCULLY: - Meu Deus, Greg! Agora eu lembro. Você era o garotinho que estava sempre ao lado do pai, prestando atenção no jogo!

GREG: - Você era a ruivinha que corria atrás das bolinhas! Eu me lembro que a gente brigava pra ver quem pegava mais bolinhas!

SCULLY: - (RINDO) Sim!

GREG: - Puxa... Quem diria! ... Você abandonou a medicina?

SCULLY: - Não, eu a pratico no FBI. Não era minha intenção ser agente federal... Eu queria ter seguido a medicina, mas a gente nunca sabe o que nos espera... Se não fosse assim não teria conhecido Mulder.

GREG: - Com certeza... Minha vida mudou muito depois que conheci a Dharma... Foi amor à primeira vista... Somos opostos. Mas e por que os opostos não podem se atrair?

SCULLY: - É... Minha vida mudou também depois que conheci Mulder. Até tentei ser crédula! Tentei viver na bagunça dele, mas... (SUSPIRA RINDO) Somos opostos.

GREG: - Meus pais agora que aceitam a Dharma... Ela não vem de origem nobre e tradicional, isso deixou os Montgomery malucos. (RINDO) Eles queriam que eu casasse com uma garota de família tradicional, sabe?

SCULLY: - (RINDO) Entendo. Todos pensavam que eu teria meu consultório e um marido advogado.

Os dois começam a rir. Olham pra Mulder e Dharma pela janela que continuam conversando. Dharma imita o andar de um ET e Mulder confirma com a cabeça.

SCULLY: - (RINDO) Conhece a lei dos opostos?

GREG: - (RINDO) Sou perito nisso. Vai dizer que não nos casamos com malucos?

SCULLY: - Hum... Realmente. Malucos adoráveis.

Os dois se olham e riem.


9:34 P.M.

Mulder e Dharma conversam animadamente na sala. Mulder caminha imitando uma galinha. Dharma ri.

DHARMA: - (RINDO) Para, Mulder! Não é assim! É assim, olha!

Dharma começa a imitar. Mulder desata a rir. Greg e Scully sentados no sofá. Conversam animadamente também. Tanto que chama a atenção de Dharma e Mulder.

MULDER: - O que deu neles hoje?

DHARMA: - Deve ser a lua.

MULDER: - Nunca vi tanto assunto!

DHARMA: - Nem eu.

Mulder e Dharma sentam-se no sofá, curiosos. Observam Greg e Scully que não param de falar. Então Scully percebe. Olha pra eles.

SCULLY: - Nem sabe o que descobrimos. Conta você.

GREG: - Não, conta você.

Greg e Scully ficam de risadinhas, um empurrando o outro.

SCULLY: - Tá bom, eu falo. Eu e Greg descobrimos que nossas famílias eram amigas!

GREG: - Sim, nossos pais frequentavam os campeonatos de golfe juntos.

SCULLY: - Puxa... Quem diria... Bem que eu sabia que conhecia você de algum lugar.

DHARMA: - (ENTUSIASMADA) Que legal! Então vocês já eram amigos e não se lembravam!

SCULLY: - Deus, que calor! Tô me sentindo estranha.

GREG: - Quer um copo de água?

SCULLY: - Quero sim.

Greg se levanta rapidamente. Mulder fica sério, observando. Greg entrega a água pra Scully.

GREG: - Pronto, mamãe. Aí está a água.

SCULLY: - (SORRI)

GREG: - Mal vejo a hora de ter um filho. Deve ser uma emoção indescritível você ir fazer lamaze. Não consigo imaginar isso, sabe? Estou empolgado com a coisa de me tornar pai.

SCULLY: - (SORRI)

A cara de ciúmes que Mulder faz é indescritível. Scully põe a mão na barriga.

SCULLY: - Greg, Greg! Me dá sua mão.

Scully pega a mão de Greg e coloca sobre a barriga.

SCULLY: - Tá sentindo?

GREG: - (RINDO) Isso é incrível!

Mulder abre a boca, em pânico, enciumado. Dharma olha pra Mulder e ri. Scully ao ver a cara de Mulder, abaixa a cabeça, segurando o riso.

GREG: - Dharma, precisa sentir isso.

Dharma corre e coloca a mão na barriga de Scully. Abre um sorriso.

DHARMA: - Tá virando!

MULDER: - (ENCIUMADO) É Dharma, você precisa sentir isso porque eu acho que ele já sentiu demais!

SCULLY: - (RINDO) Mulder!

GREG: - Desculpe Mulder... Eu...

SCULLY: - Que coisa feia, Fox Mulder!

Mulder fica sem graça. Faz uma careta.

MULDER: - (TENTANDO SE JUSTIFICAR) É que... Ah eu fiquei com ciúmes sim! Mas não foi de você não. Foi da minha filha.

Dharma começa a rir. Scully se levanta. Puxa Mulder pelo braço e o abraça.

SCULLY: - Tá Mulder, a filha é só sua, sua criança crescida...

Dharma senta-se no colo de Greg.

DHARMA: - Coisa feia, Mulder, não deveria ter ciúmes! Barriga de mulher grávida é de domínio público!

MULDER: - (INCRÉDULO) O quê?

DHARMA: - É sim!

Scully começa a rir.

DHARMA: - Todo mundo tem o direito de ficar passando a mão e fazendo carinho!

Mulder olha pra Greg.

MULDER: - (ENCIUMADO) Você como advogado, me explique. Posso conseguir uma liminar de afastamento de uns 200 metros de qualquer um que tente achar que a barriga da minha mulher é domínio público?

Os três riem da cara de Mulder.


12:39 A.M.

Mulder deitado numa rede na varanda. Scully deitada com ele. Greg sentado num sofá. Dharma brinca com um violão, sentada ao lado de Greg.

MULDER: - (CURIOSO) Você toca alguma coisa?

DHARMA: - Só faço barulho... Estou aprendendo.

SCULLY: - Toca algo pra gente.

DHARMA: - Ai não... A minha voz é horrível também!

SCULLY: - Eu tô gravidinha! É desejo. Meu neném adora música.

Eles riem. Dharma ajeita o violão e começa a tocar "Sunshine on my Shoulders, de John Denver". Greg fecha os olhos, se embalando. Scully se aconchega em Mulder.

DHARMA: - Sunshine on my shoulders makes me happy... Sunshine in my eyes can make me cry... Sunshine on the water looks so lovely... Sunshine almost always makes me high...

(Luz do sol em meus ombros me faz feliz. Luz do sol em meus olhos pode me fazer chorar.Luz do sol na água parece tão adorável. Luz do sol quase sempre me alegra)


MULDER: - (OLHA PRA SCULLY/ CANTANDO) If I had a day that I could give you... I'd give to you a day just like today...

(Se eu tivesse um dia que pudesse dar a você. Eu lhe daria um dia igual ao de hoje.)

DHARMA: -(OLHA PRA GREG/ CANTANDO) If I had a song that I could sing for you... I'd sing a song to make you feel this way.

(Se eu tivesse uma canção que pudesse cantar pra você. Eu cantaria uma canção que lhe faria se sentir desse jeito.)


Os quatro começam a cantar juntos, sorrindo.

5:34 A.M.

Os dois casais na frente da cabana. Greg e Mulder trocam cartões de visita.

GREG: - Se forem a São Francisco... Ficaria feliz que nos procurassem.

MULDER: - Adoraríamos receber vocês em nossa casa.

DHARMA: - Vamos combinar um feriado juntos.

SCULLY: - Com certeza!

Eles se despedem. Dharma e Scully se abraçam. Dharma enxuga as lágrimas.

DHARMA: - Vou sentir falta de você.

SCULLY: - Eu também... Ah, Dharma... (SORRI FELIZ) O sapinho caiu de barriga pra cima...

DHARMA: - (SORRI) Eu sabia!

MULDER: - Do que estão falando?

GREG: - Não sei, mas vamos embora, Dharma. Falar de sapos e chorar vai acabar fazendo você alagar tudo por aqui.

Um pescador passa por eles frustrado. Dharma o chama.

DHARMA: - Ei!

O pescador para e olha pra eles. Dharma entrega a câmera fotográfica.

DHARMA: - Pode tirar uma foto nossa?

PESCADOR: - Claro.

Os quatro fazem pose. O pescador tira a foto. Entrega a câmera.

GREG: - Boa pesca?

PESCADOR: - Que nada! Pesquei foi um urso!

O pescador sai cabisbaixo. Eles riem.


6:11 A.M.

Mulder dirige, Scully olha pela janela, afagando a barriga e segurando o sapinho. Scully olha pra Mulder. Mulder sorri.

MULDER: - Gostei deles.

SCULLY: - Eu também. Vou sentir saudades. Foi bom fazer amigos. Curtir amigos. Curtir a natureza. Curtir você, o nosso bebê. Sentir que a vida é o que mais importa. As pessoas importam. Infelizmente saímos do sonho paradisíaco para voltar a realidade cruel e amedrontadora a que estamos inseridos.

Mulder olha pra ela.

MULDER: - Noto um certo questionamento em você?

SCULLY: - Reflexão, Mulder.

MULDER: - (SORRI)Só não entendi a coisa do sapo.

Scully recosta-se nele.

SCULLY: - O que importa, Mulder é que o sapo caiu de barriga pra cima... (SORRI) E confesso que isso era tudo o que eu mais queria.

Scully afaga a barriga. Fecha os olhos num sorriso.

[A tela se fecha, com o mel escorrendo pela lente da câmera]



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29/09/2001

23 de Agosto de 2019 a las 06:06 0 Reporte Insertar Seguir historia
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Fin

Conoce al autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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