lara-one Lara One

O mundo desaba na cabeça de nossos agentes. As coisas giram a 180 graus na vida deles e nada mais é surpresa. Enquanto isso, parece que o azar caiu em cima de Scully e com ele, muitas desgraças. Afinal, ‘todos os monstros são alienígenas’.


Fanfiction Series/Doramas/Novelas Sólo para mayores de 18.

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S03#12 - A MALDIÇÃO DE BODIE

INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Fade in.

Parque Histórico de Bodie, Nevada – 5:33 P.M.

Uma biblioteca. Câmera de aproximação por entre as estantes, até o fundo da sala. Há uma escrivaninha. Sarah, uma senhora gorda de feições belas, de óculos, está do outro lado da escrivaninha, sentada. Ela abre um envelope. Close do envelope. Sarah retira um prego enferrujado de dentro do envelope. Indiferente, coloca-o numa caixinha ao lado, onde vê-se vários entulhos como pregos, parafusos, pedras e pedaços de madeira. Sarah pega a carta de dentro do envelope. Abre-a. Começa a ler.

SARAH (OFF): - Prezados senhores, por intermédio desta, peço que devolvam este objeto a Bodie. Desde que o tomei em minhas mãos, apenas desgraças aconteceram. Agora, eu que era uma pessoa completamente cética, passei a acreditar em maldições. Minhas sinceras desculpas. Dana Scully.

VINHETA DE ABERTURA:


BLOCO 1:

Sábado - Rodovia Secundária 167

Divisa entre os estados de Nevada e Califórnia – 5:46 A.M.

Mulder dirige o carro. Scully com o mapa aberto sobre as pernas.

SCULLY: - Acho que é por aqui...Tem uma estrada, que nem nome tem! Acho que só vamos saber quando passarmos por ela.

MULDER: - ...

SCULLY: - Mulder, afinal de contas, por que nos trouxe até o aeroporto de Hawthorne, alugou esse carro e resolveu atravessar a fronteira, sem até agora me dar explicação? O que tem nesse lugar chamado Bodie?

MULDER: - Muitas coisas, Scully.

SCULLY: - Muitas coisas tipo o quê?

MULDER: - Bodie é uma cidade fantasma.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Não. Eu não ouvi isso.

Ele olha pra ela num sorriso.

MULDER: - Relaxa, Scully.

SCULLY: - (IRRITADA) Por isso essa droga nem está no mapa! Custei a achar essas letrinhas pequenas aqui! Afinal, isso pertence a Nevada ou à Califórnia?

MULDER: - Scully, ambos estamos estressados, ok? Achei que devíamos pensar em outras coisas, sair pra conhecer lugares novos, pra ficar juntinhos, afinal isso é tão raro agora...

SCULLY: - (IRRITADA) Por que não me consultou antes? Eu teria idéias melhores pra um final de semana! Poderíamos visitar reservas florestais, passear de barco, fazer alpinismo ou queda livre. Que programa bobo o seu, Mulder! O legítimo programa de índio!

MULDER: - (DEBOCHADO) De fato haviam índios por aqui, Scully.

SCULLY: - (INDIGNADA) Mulder, olhe pela janela! Há duas horas que só vejo deserto, deserto, deserto, montanhas, deserto, florestas, deserto, deserto...

MULDER: - Pelo menos podemos namorar em paz! Estamos bem longe dos olhos curiosos!

SCULLY: - (IRRITADA) Longe? Mulder, estamos é perdidos! Acho que você passou da entrada.

MULDER: - Não vi nenhum lago ainda, Scully. Fique cuidando. Quando aparecer um lago do seu lado, me avise.

SCULLY: - (SÉRIA) Mulder...

MULDER: - O que é?

SCULLY: - Pare o carro.

MULDER: - Pra quê?

SCULLY: - Pare!

Mulder pára o carro. Scully desce apressada. Agacha-se no acostamento. Mulder suspira. Olha pro retrovisor, arruma o cabelo. Scully volta pro carro, limpando os lábios com um lencinho de papel.

SCULLY: - Sua viagem está me deixando enjoada!

MULDER: - Está bem?

SCULLY: - Não. Quero chegar logo nessa droga de cidade!

MULDER: - Quer respirar um pouco?

SCULLY: - Respirar areia?

MULDER: - Puxa, Scully, por favor. Você vai se divertir.

SCULLY: - Já estou me divertindo. Já vomitei três vezes, atravessei a fronteira vomitando! Essa é sua ideia de diversão?

MULDER: - Credo, você anda tão renitente nos últimos meses!

SCULLY: - (NERVOSA) Você me estressa, Mulder! Cada dia que passa, você me estressa mais!

Mulder engata a marcha. Scully põe a mão nos lábios e desce do carro de novo. Mulder suspira.

MULDER: - Acho que vou roubar aqueles saquinhos plásticos do avião e deixar no porta-luvas.


6:03 A.M.

Mulder continua dirigindo. Scully olha pela janela.

MULDER: - Na época da expansão do velho oeste, os pioneiros eram forçados a cruzar uma região estéril e desolada. Teriam sorte se sobrevivessem e escapassem da ira do deserto.

Scully olha pra ele.

SCULLY: - (FAZENDO CARA DE NOJO) Adoro suas historinhas!

MULDER: - A cordilheira de Sierra Nevada era a última prova pra eles. Mas mal sabiam estes desbravadores, que o deserto era dominado por picos vulcânicos dormentes e rachaduras no solo. Um dos pioneiros disse que esta terra fora tocada pela própria mão de satã.

SCULLY: - Que interessante! Como pude viver até hoje sem saber disso?

MULDER: - Para eles, esta região parecia torturada. A água era venenosa, uma espécie de mar morto, não era potável. Muito alcalina.

SCULLY: - Mulder, seu lago está ali.

MULDER: - Ótimo. Primeira entrada, nós viramos. Este era o único lago com água potável, Scully. E fica há quilômetros de Bodie. Eles precisavam vir até aqui pra buscar água. Estamos perto, ao norte do Lago Mono fica Bodie.

SCULLY: - ... Então por que os imbecis ficaram tão longe?

MULDER: - Porque havia ouro naquela região. Em 1859, Willian S. Bodie descobriu ouro. Fundou a cidade. Em 1877, a corrida do ouro começou por aqui. E Bodie começou a tornar-se, de pacata cidade, em violenta e perversa. Quando o ouro acabou, os bandidos se foram. E Bodie foi extinta. Atualmente tem menos de 250 habitantes. É uma cidade fantasma da época do ouro. Mas virou uma atração turística.

SCULLY: - Por ser uma cidade fantasma do velho oeste? Existem tantas! Qual é a diferença?

MULDER: - A maldição, Scully. A maldição de Bodie.

SCULLY: - Que maldição?

MULDER: - Os cidadãos de Bodie passaram tanto trabalho pra construí-la. Eram gente pacífica, mas possessiva. Tinham orgulho do que conquistaram, de terem sobrevivido a todos os obstáculos que a região oferecia. Os espíritos querem garantir que o que deixaram ficará intacto.

SCULLY: - O que está me dizendo, Mulder?

Mulder vê uma placa. Entra numa estrada de terra.

MULDER: - O que estou dizendo é que nada pode ser retirado de Bodie. Segundo a lenda, quem quer que retire qualquer coisa da aldeia, grande ou pequena, será amaldiçoado e perseguido pela má sorte. Infortúnio e tragédia se acumularão por sobre a vítima, até que o item roubado seja devolvido.

SCULLY: - Mulder, você não acredita nisso, não é mesmo?

Mulder olha sério pra ela. Scully ri.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Meu Deus, Mulder, que história aterradora! Buuu! Nem vou dormir direito!

MULDER: - ...

SCULLY: - Você acredita nessa besteira?

MULDER: - Acredito, Scully.

SCULLY: - Que pergunta idiota a minha...

MULDER: - Existe um serviço na cidade encarregado de só receber objetos devolvidos. Acredite, muitos já devolveram coisas porque tiveram tragédias repentinas em suas vidas.

SCULLY: - (SUSPIRA)

MULDER: - Um aviso. Não pegue nada. Nem uma pedra. Aliás, quando sairmos de Bodie, limpe seus sapatos antes de entrar no carro. Os fantasmas patrulham as ruas, Scully.

SCULLY: - Mulder, cale essa boca! Se soubesse disso não teria vindo! Você ficou me iludindo com um final de semana romântico... Essa é sua idéia de romantismo? Por que não me leva pra jantar fora? Pra ir ao cinema? Pra dançar? Pra dar pipocas aos pombos! Coisas comuns pra se fazer no dia dos namorados!

MULDER: - Scully, vou te dar um dia dos namorados inesquecível.

SCULLY: - Com certeza, Mulder. Já recebi flores, cartões, presentes, mas cidade fantasma é a primeira vez! Não posso negar que você é muito, mas muito criativo.

MULDER: - Acho que está sendo debochada, sabia, Scully?

SCULLY: - Eu? Debochada? Não, Mulder, imagina... Sempre sonhei em ir pra uma cidade fantasma. Estou tão feliz! Mais do que quando fui à Disney pela primeira vez.

MULDER: - Tá bom, Scully. Deus me livre das suas ironias!


Pousada The Ghost - Bodie – 6:33 A.M.

Mulder estaciona o carro. Scully olha pra ele.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Vamos ficar aqui?

MULDER: - É o único lugar na cidade, Scully.

SCULLY: - (IRÔNICA) Hum, que nome mais romântico!

MULDER: - ... (MULDER OLHA DEBOCHADO PRA ELA)

SCULLY: - Vou tentar pensar que é por causa do Patrick Swayze.

MULDER: - (ENCIUMADO) Ele não te levaria pra uma diversão dessas.

SCULLY: - Não. Nós brincaríamos de levantar a moeda com os dedos.

MULDER: - (DEBOCHADO) E eu posso brincar de levantar o que você quiser, Scully. Não perco meu tempo levantando moedas.

SCULLY: - Pois pode abaixar tudo, Mulder. Estou irritada. Profundamente irritada.

MULDER: - (DEBOCHADO) Tiro a sua irritação mais tarde, Scully. Quando ‘baixar’ em seu corpo. Quer brincar de Ghost, tem certeza?

SCULLY: - Mulder, cale sua boca!

MULDER: - Você deixou quicar. Eu já disse que faço ponto.

Os dois descem do carro. Cidade deserta, nem um movimento na rua. Há apenas uma rua, uma longa rua. O vento carrega folhas e bolas de capim seco. Os prédios antigos sem nenhuma luz. Ruas escuras, cheiro de coisa velha. O vento faz barulhos como uivos. Pode-se escutar o eco de janelas batendo com o vento, vindo de algum lugar mais longe. Scully encolhe-se de frio.

SCULLY: - Que lugar sinistro, Mulder!

MULDER: - Você não viu nada ainda.

Os dois entram na recepção. Não há ninguém. Scully olha debochada pra Mulder.

SCULLY: - Pousada fantasma também? O atendente é de outro mundo?

MULDER: - (DEBOCHADO) Hê-hê-hê. (SÉRIO) Engraçadinha.

Uma velha sai de debaixo do balcão. Scully dá um grito. Mulder olha debochado pra ela. Scully abaixa a cabeça, irritada. A velha olha pra eles. Usa um óculos com fundo de garrafa, mal distingue o quê ou quem está à sua frente.

VELHA: - Pois não?

MULDER: - Um quarto de casal, senhora. Vamos ficar o final de semana.

VELHA: - Ah, por favor. Assine o livro.

Scully está assustada e incrédula. Esfrega os dedos na têmpora. Mulder assina o livro. Olha pra velha.

MULDER: - Quem é One? Onde eu vou, vejo “One esteve aqui”!

A velha procura as chaves do quarto. Mulder as vê penduradas na parede.

MULDER: - Na parede, vovó.

A velha começa a apalpar as chaves. Mulder a ajuda.

MULDER: - Esta, vovó.

VELHA: - Ah, obrigado.

Mulder sai da recepção. Scully atrás dele.

SCULLY: - Uma pergunta, não que seja relevante. Mas ela também é da época da corrida do ouro?

MULDER: - Talvez a tombaram como patrimônio histórico. Um dia você vai ficar assim.

SCULLY: - Ah, é?

MULDER: - É. Velhinha, cega e enrugada.

SCULLY: - E vai me tombar como patrimônio histórico?

MULDER: - Não. Me desfaço de você e arranjo três garotas de 20.

SCULLY: - Acha que vai dar conta?

MULDER: - Conhece a piada das laranjas?

SCULLY: - Não.

MULDER: - Ainda bem. Toma, abre o quarto que eu vou pegar as malas.

Ele se afasta. Ela fica pensativa.

SCULLY: - (CISMADA) Mulder, que piada das laranjas?

MULDER: - Deixa pra lá, Scully.

SCULLY: - Mulder, eu quero saber!

MULDER: - Não... Acredite, você não quer saber.

SCULLY: - Só pode ser sujeira, vindo dessa sua mente doentia. Mulder, você é pornográfico, asqueroso, repulsivo, sacana e sujo!

MULDER: - Nem me ouviu contar piadas sujas ainda.

Ele tira as malas do carro. Fecha a porta. Aproxima-se dela.

SCULLY: - Aposto que são sua especialidade.

MULDER: - (DEBOCHADO) Acredite, Scully. De sujeira eu entendo bem.

SCULLY: - (CURIOSA) Não vou entrar. Quero saber a piada das laranjas.

MULDER: - Tem certeza? Depois fica me dando cacetadas!

SCULLY: - Não vou dar cacetadas em você. Conta. Ou vamos ficar aqui fora com os fantasmas a noite toda.

Mulder suspira.

MULDER: - Tinha uma velhinha que viu uma enorme fila de mulheres. Como aquela velhinha ali, ela não conseguia ler o cartaz que havia na fila. Então perguntou pra mulher que estava parada. (FAZ VOZ DE VELHINHA) Minha filha, pra quê essa fila?

Scully começa a rir.

MULDER: - A mulher, com vergonha de dizer que era uma fila pra fazer exames gratuitos de doenças venéreas, falou que era pra ganhar laranjas.

SCULLY: - (DEBOCHADA/ SEGURANDO O RISO) Ah! E daí?

MULDER: - A velha entrou na fila pra ganhar laranjas.

SCULLY: - O quê mais, Mulder? Isso não vai terminar sem sacanagem, eu te conheço.

MULDER: - Quando chegou a vez da velhinha, o médico ficou impressionado e falou: Até a senhora, vovó? Então a velhinha falou, pensando numa justificativa pra ganhar as laranjas: Ah, doutor, eu não como mas eu chupo.

Scully abaixa a cabeça. Ri. Olha pra ele.

SCULLY: - E onde você se encaixa nisso?

MULDER: - Quando eu ficar velhinho?

SCULLY: - (INDIGNADA) Mulder, seu asqueroso!

Ela dá um tapa no braço dele. Ele ri. Ela abre a porta do quarto. Ele entra.

MULDER: - Me espere aí. Não entre.

Mulder entra com as malas. Ela fica observando, intrigada. Ele volta e a toma nos braços.

MULDER: - Agora sim.

Mulder chuta a porta, fechando-a.


7:10 A.M.

Scully entra no banheiro. Mulder está tomando banho e cantarolando ‘I can’t get no satisfaction’. Scully balança a cabeça negativamente. Aproxima-se da pia. Fica se olhando no espelho. Mulder abre a porta do box, espiando Scully. Está com um topete nos cabelos, esculpido com espuma.

MULDER: - (MAQUIAVÉLICO) Não vem?

Scully olha pra ele e finge se assustar, recuando pra trás. Mulder abaixa a cabeça, rindo.

SCULLY: - Pensei que fosse um daqueles índios cheroquis...

MULDER: - (TARADO) Não vai entrar aqui?

SCULLY: - (BOBA) Hum... Não.

MULDER: - Por que não?

SCULLY: - Porque não.

MULDER: - Isso não é resposta.

SCULLY: - (INSTIGANDO) O que tem de interessante ‘aí’?

MULDER: - (DEBOCHADO) Ah, muita coisa.

SCULLY: - (SE FAZENDO DE TONTA) Que tipo de ‘coisa’, Mulder?

MULDER: - (DEBOCHADO) Ah, nem dá pra explicar. Você precisa ver pra acreditar, Scully. Não é esse o pensamento científico? Ver para crer?

Mulder dá um sorriso debochado. Scully começa a tirar a roupa. Ele fecha o box.

SCULLY: - (SE FAZENDO DE SANTA) Vou entrar, mas estou avisando: Quero tomar banho!

MULDER: - (CÍNICO) E o que mais acha que vai fazer debaixo do chuveiro?

SCULLY: - Mulder, toda a vez que vou com você pra baixo do chuveiro, faço tudo, menos tomar banho.

MULDER: - Eu esfrego atrás das suas orelhas.

SCULLY: - Não! Não toque nas minhas orelhas!

Scully entra no box. Fecha a porta.

Close do box pelo lado de fora. Só se ouve a voz deles.

SCULLY: - Mulder, por favor! A água não é só sua!

MULDER: - Tá frio!

SCULLY: - Dane-se! Sai pra lá!

MULDER: - Adoro ver a espuma correndo pelo seu corpo... Quer que esfregue seus cabelos?

SCULLY: - Não!

MULDER: - E as suas costas?

SCULLY: - Mantenha-se longe de mim, Mulder! Quero tomar banho!

MULDER: - Tá bom... Quer o sabonete?

SCULLY: - Quero.

MULDER: - Ops... Caiu.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Mulder, você vai pegar o sabonete. Eu não me agacho aqui sob hipótese alguma!

MULDER: - ... Credo, Scully!

SCULLY: - Isso foi de propósito!

MULDER: - Não foi. Escorregou.

SCULLY: - Pois eu tomo banho com shampoo mas não pego esse sabonete!

MULDER: - Ops... O shampoo também caiu.

SCULLY: - Mulder, eu odeio você!

MULDER: - (RI) Quer condicionador? É bem ‘deslizante’...

SCULLY: - (SE FAZENDO DE SANTA) Mulder, por favor! Eu só quero tomar um banho, tranquila...

MULDER: - (TARADO) Pois eu vou te molestar sexualmente.

SCULLY: - Hum, sério? Acho que vou pegar o sabonete...


BLOCO 2:

Domingo - 3:13 P.M.

Os dois caminham pela cidade, de mãos dadas. A rua deserta, com pouco menos de meia dúzia de turistas. Casas antigas, o saloon da cidade. Mulder pára. Observa o velho saloon.

MULDER: - Nunca teve vontade de entrar num lugar desses?

SCULLY: - (RINDO) Mulder, vejo que seus olhos estão brilhando! Ok, Charles Bronson. Contanto que não fique inspirado demais e saia dando tiros por aí.

MULDER: - Como sabe que estou armado?

SCULLY: - (SÉRIA) Está armado?

MULDER: - Claro.

SCULLY: - Por quê?

MULDER: - Nunca se sabe. Já me avisaram pra não fechar os olhos.

SCULLY: - ... Paranoico!

MULDER: - Vem, vamos entrar. Te pago um drinque, boneca.

Ela sorri. Os dois entram no saloon. Tudo está conservado como um museu.

MULDER: - Adoro essas portinhas de empurrar.

Mulder olha pra todo o lugar. Cerra os olhos. Imita um pistoleiro, colocando as mãos num coldre imaginário.

MULDER: - Ok, seu bando de vagabundos, tirem seus traseiros imundos da minha cidade!

Scully começa a rir.

MULDER: - Que tal, Scully? Depois que me aposentar, posso virar xerife de um condado bem pequeno.

SCULLY: - Não quero ser conhecida como a mulher do xerife.

MULDER: - Por quê? Qual o problema?

SCULLY: - O problema é virar a viúva do xerife.

MULDER: - Pode virar a viúva do agente federal. Dá na mesma.

Mulder começa a andar pelo lugar. Scully observa uma parede de fotos.

SCULLY: - Hum... Enfim conheci o senhor Willian S. Bodie.

Mulder vai até ela. Olha pras fotos. Willian está com uma espingarda de pólvora, ao lado de dois mineiros segurando picaretas e algumas pepitas de ouro nas mãos.

MULDER: - Devia ser cruel viver nesse tempo, não acha? Uma terra desconhecida a ser explorada, riquezas promissoras, perigos desconhecidos... Índios...

SCULLY: - Acho que viver era mais fácil, sabia? Você não tinha a ciência.

Ela diz isto e sai caminhando pelo saloon. Mulder olha pra ela, curioso.

MULDER: - Por que disse isso?

SCULLY: - ... Naquele tempo as pessoas olhavam pro céu e sabiam quando ia chover. Olhavam pro sol e era só o sol. As estrelas eram só estrelas. A areia era só areia. Agora, nossos olhos olham pra tudo já analisando os componentes minerais, as partículas, os fenômenos. Antes tudo era mais simples.

MULDER: - Acha que a evolução nos estragou?

SCULLY: - Se é que houve evolução.

Mulder olha pra ela, sorrindo. Ela não percebe.

MULDER: - Agente Dana Scully, está questionando Charles Darwin?

SCULLY: - Ele questionou a geração espontânea. Posso questioná-lo agora.

MULDER: - E se não houve evolução? Quer dizer que surgimos de onde?

SCULLY: - De outras células mães? Talvez tenhamos sido colocados aqui, não pertençamos a este mundo. O que explicaria nossa parte no topo da cadeia alimentar. O que explicaria porque predominamos sobre as outras espécies.

MULDER: - E se evoluímos dos macaquinhos?

SCULLY: - Podemos descender dos macaquinhos, mas não precisamos necessariamente ter evoluído deles.

Mulder sorri. Ela olha pra ele.

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - Sei lá. Nunca imaginei ouvir isso de você.

SCULLY: - Cientistas se questionam, Mulder. E a maior pergunta de todas elas é de onde viemos. O resto é fácil.

MULDER: - De Adão e Eva, não foi?

Ela olha pra ele, debochada.

SCULLY: - Adãos e Evas?

MULDER: - (SURPRESO) Scully! O que eu fiz com você?

SCULLY: - Nada. Talvez esteja olhando as coisas por outra perspectiva. Mas o que não significa que tudo esteja no inexplicável da sua pseudo-ciência.

MULDER: - Hum...

SCULLY: - Alguns estudiosos das universidades de Emory e Stanford descobriram, através das microestruturas das células, que todos nós descendemos de apenas 18 linhagens genéticas femininas e 10 masculinas, provenientes de um homem e uma mulher, que viveram há cerca de 200 mil anos. Nessa época, a população de homo sapiens não passava de 2 mil pessoas perdidas na África... Há 13 anos, alguns pesquisadores da Universidade de Berkley encontraram a ancestral genética comum a toda a humanidade. E diferentemente do que prega a Bíblia, ela não era a única mulher existente, mas a mais apta a passar sua marca biológica à vasta descendência.

MULDER: - Tá, agora explica pra esse tolo aqui como fizeram isso.

Ele anda pelo lugar, observando tudo. Scully vê um prego enferrujado. Olha pra Mulder. Coloca o prego no bolso, escondido.

SCULLY: - Analisando uma parte da estrutura celular, a mitocôndria. A mitocôndria é transmitida por herança materna e se mantém incólume ao liquidificador genético acionado cada vez que um óvulo é atingido pelo espermatozoide. Diferente do que acontece no núcleo da célula, onde se misturam os genes do pai e da mãe no DNA da futura criança, na mitocôndria o DNA materno permanece inalterado e praticamente intacto. As únicas alterações que sofre podem ser equiparadas a arranhões genéticos provenientes por erros no processo de cópia de uma célula para outra.

MULDER: - E onde fica o Adão nisso tudo?

SCULLY: - O processo de análise foi semelhante, mas valendo-se de outra estrutura celular, o cromossomo Y, transmitido de pai pra filho... Então, Mulder, todos nós que habitamos este planeta, descendemos de três linhagens femininas. Duas delas subsistem em populações isoladas em áreas remotas da África. Mas a terceira é um verdadeiro sucesso da evolução. A humanidade tem um passado comum com a terceira ramificação.

MULDER: - ... Teoria interessante.

SCULLY: - Claro que alguns cientistas já questionam se a mitocôndria não é afetada pelo gene paterno.

Os dois saem dali. Mulder coloca as mãos no bolso da jaqueta. Retira algumas sementes de girassol. Eles caminham pela rua.

MULDER: - Você quase pode sentir a presença deles aqui. É como se não quisessem deixar este lugar.

SCULLY: - Do quê está falando, Mulder?

MULDER: - Dos fundadores de Bodie. Se fechar seus olhos poderá ouvir cavalos, passos apressados, mineradores falando sobre seus achados... diligências trazendo mais e mais caçadores de fortunas.

Ela pára. Fecha os olhos.

SCULLY: - Não tô ouvindo nada não.

Ele sorri.

MULDER: - Tá certo, Scully. É muito progresso pra um dia só.

Ela sorri. Dá a mão pra ele. Continuam caminhando.


Segunda-feira - Pistoleiros Solitários – 7:12 P.M.

Frohike olha pra Scully, indignado. Ela sentada no sofá, com um lenço no nariz.

FROHIKE: - Até quando vai conseguir esconder isso dele?

SCULLY: - Até quando eu puder.

FROHIKE: - Scully, me deixa te levar pro hospital.

SCULLY: - (HISTÉRICA) Não! Não quero ir pro hospital! Eu sei o que tenho, não quero ouvir isso de novo, sofrer tudo novamente e não quero passar o pouco de vida que me resta longe dele!

FROHIKE: - ... Scully, pode tratar isso...

SCULLY: - Não consegui antes, por que conseguiria agora?

FROHIKE: - O que houve com sua corrente?

SCULLY: - Pra que serve? Pra enfeitar o pescoço?

FROHIKE: - Você tá muito estranha mesmo.

SCULLY: - (DEBOCHADA) É. Talvez não seja eu, seja outro clone!

Ela põe as mãos nos lábios e corre pro banheiro. Frohike está nervoso.

FROHIKE: - (GRITA) Acho melhor te levar ao hospital!

Barulho da descarga. Ela sai do banheiro. O nariz sangrando. Frohike se desespera.

FROHIKE: - Scully, eu vou chamar o Mulder!

SCULLY: - (AMEAÇADORA) Se tocar nesse telefone, eu juro que atiro em você!

Byers entra. Olha pra eles.

BYERS: - Acreditem, o chip que Mulder tirou foi o certo. Andei três quadras, rememorei cada detalhe. Pena que roubaram o chip do seu apartamento. Ou poderia mostrar ao Mulder, e ele não ficaria tão chocado...

SCULLY: - Mesmo que o chip estivesse comigo eu não mostraria nada pra ele! Eu não quero que Mulder saiba! Tenho meus motivos.

FROHIKE: - Por que não faz uma radiografia e vê se eles não te abduziram de novo?

SCULLY: - (RI) Nem vou dar resposta.

Scully põe as mãos nos lábios e corre de novo pro banheiro. Frohike olha pra Byers.

FROHIKE: - Se não conhecesse a situação, diria que ela andou ‘jantando‘ muita raposa e está tendo congestão.

Byers senta-se no computador.

BYERS: - Vou ajudar a minha amiga.

FROHIKE: - Não sabia que ela era sua amiga.

BYERS: - Ela é. Vou falar com alguém que pode me dizer se algum ‘objeto’ voou por aí nas últimas semanas...

Byers começa a teclar algo. Scully sai do banheiro.

BYERS: - Scully, sei que não quer ter certeza do que sabe, mas eu, se fosse você, tirava uma radiografia.

Ela limpa o nariz. Langly entra com três pizzas.

LANGLY: - Alguém quer pizza de atum?

Scully corre pro banheiro. Frohike ergue as mãos.

FROHIKE: - (INDIGNADO) Pelo amor de Deus, quer fazer a mulher colocar as tripas pra fora?

LANGLY: - Acho melhor chamar o Mulder.

FROHIKE: - Ela não quer!

LANGLY: - Mesmo assim acho melhor chamar o Mulder.

Os três se olham. Frohike pega o telefone. Scully entra na sala, limpando os lábios.

SCULLY: - Se chamarem o Mulder, eu nunca mais os perdoarei! Sou eu que tenho de dizer isso a ele, não vocês.

Os três se entreolham.

LANGLY: - E quando vai contar pra ele?

SCULLY: - Amanhã.

Scully abre a porta.

FROHIKE: - Onde vai?

SCULLY: - Por quê?

LANGLY: - Por que temos ordens expressas de não deixá-la andar sozinha por aí.

SCULLY: - E o que importa agora? Eles já me devolveram o câncer. Que desgraça vão evitar?

Os três olham compadecidos pra ela.

FROHIKE: - Mesmo assim...

SCULLY: - Vou me encontrar com o Mulder.

BYERS: - Não é arriscado? Eles já descobriram o lugar que vocês se encontravam.

FROHIKE: - Vai falar?

SCULLY: - Vou até a clínica.

LANGLY: - Ainda bem!

SCULLY: - De inseminação artificial.

Os três se olham.

SCULLY: - Antes de morrer quero dar um filho pra ele. Agora podem entender por que não quero que falem nada? Vão deixá-lo mais tenso e culpado do que já está. E ele vai desistir de ter esse filho com medo de que eu não posso aguentar. E ele me pediu. Ele quer um filho.

FROHIKE: - Acha que é uma boa? Acha que vai conseguir?

SCULLY: - Sou Dana Scully. Eu posso tudo! Não é qualquer coisa que vai me derrubar!

Scully caminha até a porta. Segura-se na maçaneta. Põe a mão na testa.

BYERS: - O que foi, Scully?

SCULLY: - Tô tonta.

Ela cai no chão desmaiada.


Terça-feira - Arquivos X – 8:32 A.M.

Mulder olha pra Scully. Coloca dois pequenos bonecos de palha sobre a mesa.

MULDER: - Vodu.

SCULLY: - Sério?

MULDER: - Sério. Olha bem pra isso.

SCULLY: - Ah, Deus! Mulder, eles estão usando as roupas do casal Taylor!

MULDER: - Bem, só pra constar, quero que faça a autópsia.

SCULLY: - O desgraçado do neto! Ele queria a casa dos velhos! Nós vimos aquelas coisas todas de bruxaria no quarto dele...

MULDER: - Vai dar uma olhadinha nos corpos?

SCULLY: - Tá. Tenho de dar meu parecer.

Scully levanta-se. Olha pra ele.

SCULLY: - Desculpe fazer você ir até a clínica e depois ligar dizendo que não iria. Mas eu estava cansada.

Ele sorri.

MULDER: - Tudo bem, Scully. Marquei pra Quinta.

SCULLY: - Tá.


5:19 P.M.

Scully, sentada num banco da igreja, derrubando lágrimas que não pode conter mais. Ao lado dela, o padre McCue.

SCULLY: - Espero que leve isso como uma confissão.

PADRE McCUE: - É uma confissão, Dana... O que está acontecendo? Há pouco tempo te vi tão feliz que agradeci à Deus por toda essa felicidade que brilhava em seus olhos.

SCULLY: - ... Padre McCue, eu... Eu estou com medo.

PADRE McCUE: - Medo? Medo de quê, Dana?

SCULLY: - Da minha fé. Todos os dias minha fé se colocava à prova e agora eu... Eu vi coisas que não estava pronta para ver... Não sei explicar, mas... Tenho questionado Deus ultimamente.

PADRE McCUE: - ...

SCULLY: - Tenho duvidado Dele. Todas as minhas crenças, tudo em que eu acreditava, as coisas que me ensinaram... Tudo foi por água a baixo.

PADRE McCUE: - ...

SCULLY: - ... Não sei, padre. Questiono tantas coisas que antes eram pra mim uma verdade. Agora me sinto lograda, roubada, enganada... Não sei mais no que acredito.

PADRE McCUE: - ... Dana, às vezes sentimos dúvidas, isso é da natureza humana. O homem foi criado para sentir dúvidas.

SCULLY: - (REVOLTADA) Isso não é lógico com o que a Igreja diz: aceite e nunca questione Deus. Se fomos criados para a dúvida, porque a contradição de que não devemos questionar Deus?

PADRE McCUE: - ...

SCULLY: - Padre, isso não faz mais sentido pra mim! Se Deus é onipotente e bondoso, por que nos proibiria de comer da árvore da sabedoria? Se a serpente era o diabo, o diabo foi criado por Deus. Então o diabo estava ali porque Deus o colocou ali. Então por que esse Deus nos proibiu de comer daquela árvore, se mandou o diabo nos tentar? Quem sabe os planos dele eram justamente esses, porque se Deus sabe tudo, ele sabia que comeríamos a maçã! Tentação e prova se revelariam cartas em um jogo marcado, já que Deus é onisciente, então conheceria o resultado dessa tentação de antemão.

PADRE McCUE: - ... (CONFUSO)

SCULLY: - O que teria acontecido se tivessem resistido à tentação e nunca tivessem a consciência de sua nudez? Da procriação? Deus criaria uma série de homens? Homens que jamais almejariam o conhecimento por obedecerem a proibição divina? Deus deve ter contado com o pecado original, ou ele não é onisciente. Se o reino de Deus é felicidade absoluta, por que o diabo opôs-se a ele? E por que Deus ficou irado com Adão e Eva, se Deus é bom e perdoa? Por que os expulsou do paraíso?

PADRE McCUE: - Mas ele mandou seu filho para redimi-los.

SCULLY: - Por quê? Porque Deus mandaria um filho, se ele era o único? Eu, se tivesse filhos, não os mandaria pra um inferno como esse!

PADRE McCUE: - Dana, eu...

SCULLY: - E se não foi Deus, mas sim Jesus que resolveu nos ajudar? Se toda a humanidade deveria agradar à Deus, então ele não deveria ter feito com que Adão e Eva caíssem no pecado. Evitaria tudo isso. Evitaria a morte do filho.

PADRE McCUE: - (PERPLEXO)

SCULLY: - Por que a Igreja não admite os Evangelhos, dizendo que são apócrifos? Por que não admite os manuscritos do Mar Morto, onde os preceitos todos de Jesus estavam lá, bem antes dele nascer? Jesus deve ter sido criado pelos essênios, foi de onde tirou tudo, até o Sermão da Montanha! As provas estão nesse pergaminhos! Padre, sabe que não estou mentindo, mas pode me explicar como o sermão da Montanha estava naqueles manuscritos se foi proferido bem depois por Cristo?

PADRE McCUE: - ... Dana, acho que a ciência está afetando você...

SCULLY: - Padre, vi naves extraterrestres. Vi outras coisas também. Vi a arca da aliança.

PADRE McCUE: - ...

SCULLY: - Vi numa nave esculpidas todas as bases da nossa cadeia genética, trechos do Gênese... Padre, quem é Deus?

PADRE McCUE: - Dana, acho que se confundiu...

SCULLY: - Não, padre, eu não sou maluca. Eu vi com meus olhos! Padre, eu vi fantasmas, sendo que minha religião afirma que depois que morremos vamos pra outro lugar. O Vaticano reprime o Espiritismo, no entanto eu vi espíritos, padre.

PADRE McCUE: - São fenômenos explicáveis pela paranormalidade. Geralmente nós vimos o que queremos ver...

SCULLY: - Não padre. Eu vi o que eu não acreditava, portanto o que nunca imaginaria ver.

PADRE McCUE: - ...

SCULLY: - Bem que Mulder me diz que só os céticos vêem as coisas. Quem acredita, não precisa ver. Já as vê com o coração.

PADRE McCUE: - Dana, sabe que religião não é uma coisa racional. Há muitos mistérios. Há o maior mistério de todos: Deus é trino, Pai, Filho e Espírito Santo.

SCULLY: - Como pode ser três, padre?

PADRE McCUE: - Dana, ninguém pode explicar o mistério de Deus. Estudamos Teologia, questionamos, mas nunca chegaremos a conclusão.

SCULLY: - Padre, e se Deus for uma raça de extraterrestres?

PADRE McCUE: - (SORRI) Dana, mesmo que fosse, alguém deveria tê-los criado também, não acha?

SCULLY: - E se esse Deus que dizemos existir for a força motriz do Universo? A união de partículas que compõe cada criatura e cada corpo celeste nesse infinito espaço? Não podemos ter confundido Deus com o nosso criador? Quem sabe interpretamos erroneamente o que nos deixaram?

PADRE McCUE: - Talvez não estejamos prontos pra verdade.

SCULLY: - Se for assim, padre, então concluo que Deus não quer que tenhamos sabedoria para compreender. Então, voltamos à maçã. Foi apenas um jogo pra nos desviar a atenção.

PADRE McCUE: - Dana, fé é acreditar. Ou você acredita, ou não acredita. Não há meio termo.

SCULLY: - ... Padre, peço desculpas à Deus se o ofendo, mas eu sou humana e tenho minhas dúvidas.

PADRE McCUE: - Dana, acho que está se questionando à toa. Está nervosa, não há porque ficar assim...

SCULLY: - Se Deus fosse bom, padre, evitaria certos acontecimentos.

PADRE McCUE: - ... Aconteceu algo que eu não saiba?

Ela começa a chorar. Segura o ódio, as lágrimas, cerrando os pulsos.

SCULLY: - Acho que meu câncer voltou, padre.

PADRE McCUE: - (TRANSTORNADO) Oh, Dana... Tem certeza disso?

SCULLY: - Não. Mas nem quero ter certeza! Tentei ir ao hospital, mas as minhas pernas tremem. Estou tentando acreditar que o que não sabemos pode nos poupar dor e nos dar mais vida.

PADRE McCUE: - ...

SCULLY: - Porque estou com ódio, com ódio. Com ódio de tudo! Porque pela primeira vez na minha vida eu me sinto feliz e tudo vem contra essa felicidade! Que Deus é esse? (CHORA) Que Deus é esse que permite que coisas ruins aconteçam?

PADRE McCUE: - Dana, Deus não permite. Ele deu livre-arbítrio para o homem escolher seu caminho.

SCULLY: - Está dizendo que eu escolhi ter câncer?

PADRE McCUE: - Não, Dana. As situações que escolheu te levaram a esse caminho.

SCULLY: - Ahn! Ótimo. Quer dizer que seu eu abdicar da minha felicidade eu posso viver em paz com Deus e sem ter câncer?

PADRE McCUE: - ...

SCULLY: - (ÓDIO) Pois dane-se Deus, padre McCue! Porque eu amo a felicidade que conheci. E amo o Mulder. E posso morrer por ele. Eu suporto.

Scully sai da igreja, nervosa, chorando. O padre abaixa a cabeça transtornado.


BLOCO 3:

Apartamento de Mulder – 9:23 P.M.

Mulder dorme profundamente, atirado no sofá. TV ligada. O telefone toca. Mulder vira-se no sofá. O telefone insiste. Mulder atende.

MULDER: - Mulder.

SCULLY: - Liga a TV no canal 22.

Os dois desligam. Mulder levanta-se, muda o canal na TV e empurra uma fita pra dentro do vídeo. Põe pra gravar.

TRUMAN (OFF): - Adenina, Guanina, Citosina e Timina.

REPÓRTER (OFF): - Que mecanismos de controle seriam necessários para o acesso dessas pesquisas?

TRUMAN (OFF): - Na reunião do G8, dos 8 países mais industrializados, propomos um acordo universal sobre o controle da pesquisa de manipulação de genes. O direito ao acesso à informação é universal, o não patenteamento do genoma é consensual. Esse é conhecimento para toda a humanidade. A lei americana proíbe que a natureza seja patenteada. Se fosse assim, precisaríamos avaliar o valor de mercado da palavra de deus. E além do mais, o alvo principal é a fatia de 1% que determina as diferenças entre os homens e as doenças hereditárias. Testes genéticos poderão indicar a doença e o tratamento.

Mulder arregala os olhos. Senta-se no sofá.

MULDER: - (PERPLEXO) Mas que diabos?

MULLER (OFF): - Tudo bem, sei que o princípio ético norteador é a saúde. Mas quem me garante que será apenas isso? A descoberta é uma mina de ouro para as indústrias farmacêuticas. Só hoje, a bolsa de Nasdaq subiu 3,5 por causa do genoma. A internet perdeu campo para a biotecnologia! O medo que tenho é o da manipulação do genoma, criando uma super raça. Alterações na cadeia genética humana!

TRUMAN (OFF): - Por favor, senhor. Acho que está exagerando. Não vai haver nenhuma manipulação contrária aos princípios éticos! Estamos na primeira fase do estudo! Acabamos de montar o primeiro rascunho do genoma humano. Um esforço feito por pesquisadores dos EUA, Japão, China, Alemanha, Inglaterra e França.

MULLER (OFF): - O senhor sabe melhor do que ninguém o que significa mapear o código genético do homem.

TRUMAN (OFF): - Traçando um paralelo, essa descoberta equipara-se com a descoberta da energia nuclear, vai trazer mais benefícios que malefícios. A possibilidade de prevenir doenças, achar curas, medicamentos... Estamos aprendendo a língua na qual Deus criou a vida! Agora somos Deus!

Mulder fecha os olhos. Põe as mãos no rosto.

REPORTER (OFF): - Bem, pra quem está sintonizando agora estamos entrevistando o senhor Francis Truman, responsável pela pesquisa sobre o genoma humano e o Dr. Elbo Muller, biofísico molecular da Universidade de Boston. Hoje, a humanidade deu um passo tão grande quanto a chegada na lua. O mapeamento do genoma humano marca a nova era, muda a medicina, a ética a religião... Com a cooperação de muitos estudiosos, as pesquisas que iniciaram nos anos 80, hoje tiveram sua resposta. Da primeira letra do primeiro cromossomo à última letra do último cromossomo.

TRUMAN (OFF): - É o começo para caçar todos os genes e saber o que cada um faz. São bilhares de grupos trabalhando no mundo na primeira fase, que foi decodificar, saber toda a sequência de nucleotídeos. Agora o temos a segunda etapa: descobrir as sequências. Compor cada código. O que não será fácil. Se fosse um jornal teria 100 mil páginas...

Mulder desliga a TV. Anda de um lado pra outro na sala, perturbado.


Quarta-feira - Arquivos X – 8:00 A.M.

Scully entra na sala. Mulder levanta-se. Abre a porta. Scully entende. Os dois saem.

MULDER: - Pelo amor de Deus, Scully! O que está acontecendo?

SCULLY: - Mulder, eu tive aquilo em minhas mãos! Eles estavam me usando também como estão usando esses cientistas! Agora entendo porque mataram Kritchgal.

MULDER: - Deus!

Mulder começa a esmurrar as caixas que estão ali.

SCULLY: - Mulder, alguém roubou as pedras, roubaram o que descobrimos! Homens como professor Merkmallen e o Dr. Sandoz foram mortos enquanto tudo já estava em andamento!

MULDER: - Não entende? Scully, nada estava em andamento! Aquilo foi descoberto por acaso e fora da época prevista! Você, Sandoz e Merkmallen tiveram acesso à fonte! Eles já sabiam que ela estava ali!

SCULLY: - Como assim, Mulder?

MULDER: - Scully, eles já têm o mapa do genoma humano bem antes que eu e você pensássemos em nascer!

SCULLY: - Em que evidências se baseia pra dizer isso, Mulder?

MULDER: - Alguém roubou o segredo! Alguém abriu o bico fora do tempo! Ou de propósito ou planejado.

SCULLY: - Mulder, eu...

MULDER: - Não posso falar aqui, Scully. Meio dia. Meio dia quero que me encontre... No país de Oz.

O celular de Mulder toca. Mulder atende. Scully olha pra ele.

MULDER: - Mulder.

KRYCEK (OFF): - Viu? Relacionou? Agora confia ou não em mim?

Mulder desliga.

SCULLY: - Mulder, com quem estava falando?

MULDER: - Com ninguém.

Mulder entra na sala. Scully suspira.


12:01 P.M.

Mulder sai da sala. Esbarra em Skinner.

SKINNER: - Mulder...

MULDER: - Skinner, estou com pressa. Tenho coisas urgentes pra fazer.

SKINNER: - Sobre o genoma?

MULDER: - Algo a ver com isso.

SKINNER: - Mulder, desista. Não vai conseguir descobrir o que quer.

MULDER: - Me escute Skinner. Não quero que pergunte nada, apenas me escute.

SKINNER: - ...

MULDER: - Se alguma coisa acontecer comigo, eu quero que dê isso pra Scully.

Mulder tira uma chave do bolso. Entrega pra Skinner.

SKINNER: - Mulder...

MULDER: - Se algo acontecer comigo.

Mulder sai. Skinner fica nervoso.


Pistoleiros Solitários – 12:27 P.M.

Mulder entra. Langly tranca a porta. Mulder está tenso e passa as mãos pelos cabelos. Os pistoleiros deixam ele e Scully sozinhos.

MULDER: - Scully, é o seguinte: Não é uma boa hora pra gente ter um filho.

SCULLY: - Mulder, agora eu é que não posso esperar!

MULDER: - Scully, eu não sei o que pode resultar daquilo!

SCULLY: - Não vai começar com aquela história de genes alienígenas de novo!

MULDER: - Scully, pelo amor de Deus! Você viu! Nós fomos todos catalogados, todos que estão aqui foram vacinados! Vacinados com o quê?

SCULLY: - Se isso é verdade, eu também sou uma alienígena!

MULDER: - Scully, você não tá me entendendo!

SCULLY: - Tô. Eu estou te entendendo! Você mudou de ideia e agora quer inventar suas desculpas de novo pra não me dar um filho!

MULDER: - Scully, sabe que não é isso! Eu não sei com o quê estou lidando, eu junto as peças, mas sempre aparece algo novo que não se encaixa!

Mulder esmurra a porta.

MULDER: - Deus, eu vou enlouquecer! É muita pressão pra um cara só! Eu estou perdido num quebra-cabeças com peças que faltam!

SCULLY: - Você me disse que esse filho impediria a desgraça! Pois eu agora concordo com você! Eu quero te dar esse filho, Mulder! Eu preciso te dar esse filho!

Ele anda, como um desesperado, de um lado pra outro.

MULDER: - E se não nascer uma criança dali?

SCULLY: - Acha que vai nascer um pé de brócolis?

MULDER: - Scully, pelo amor de Deus! Você está insuportável! Parece que resolveu ficar crente, irônica e imbecil tudo de uma vez só! Pelo amor de Deus, pegue sua corrente e fique acreditando no seu Deus! Porque as coisas tão ficando mais difíceis pra mim!

SCULLY: - Ah, impressão minha ou você agora tá acreditando em Deus, na ciência e ficou sem senso de humor? Reversão de papéis?

MULDER: - Scully, eu sou um alienígena! Eles mutaram meu gene bem antes que a descoberta fosse anunciada.

SCULLY: - Eles quem? Seu pai? Ou ele é alienígena também... Isso explicaria porque ainda não morreu de câncer.

Mulder a segura pelos braços.

MULDER: - Não sei o que está havendo com você, Scully, mas me escute. Eu vou dar minha vida se preciso for, pra te salvar.

SCULLY: - Por que não faz um exame? Eu vou analisar seus genes.

MULDER: - Acha que vai conseguir detectar alguma mutação? Scully, você não vai detectar nada!

Scully põe a mão na cabeça.

MULDER: - O que houve?

Scully desmaia nos braços dele.


Quinta-feira – 5:13 P.M.

Scully entra na clínica. Mulder anda de um lado pra outro, tenso. Ela olha pra ele.

SCULLY: - Conseguiu?

MULDER: - Depois de três horas.

Ela ri.

MULDER: - Scully, eu tô nervoso, não brinca com isso!

SCULLY: - Mulder, por favor. Vamos ter um filho, não um etêzinho acinzentado.

MULDER: - ... (PÂNICO)

SCULLY: - Mulder, relaxa, tá certo?

MULDER: - ...

SCULLY: - Mulder eu... Eu preciso te contar uma coisa. Não quero que fique furioso comigo.

MULDER: - Fala, Scully.

SCULLY: - Eu sei porque tanta desgraça tá acontecendo. Eu sou a culpada.

MULDER: - Do que está falando?

SCULLY: - Levei um prego de Bodie.

MULDER: - (DESESPERADO) O quê?

SCULLY: - ... Desculpe.

MULDER: - Pelo amor de Deus, Scully, devolva isso!

SCULLY: - Já coloquei num envelope e larguei nos Correios.

Mulder enlouquece. Cerra os pulsos.

MULDER: - (INDIGNADO) Quantas vezes eu tenho que te dizer não toque em nada? Não ponha a mão no fogo? Scully, por que você é tão teimosa? Por que você nunca me escuta?

Ela abaixa a cabeça, fazendo beiço.

MULDER: - (INDIGNADO) Não adianta fazer beicinho, Scully. Isso não vai me deixar menos furioso com você! Tá vendo? Tá vendo o monte de desgraças que tá acontecendo, uma atrás da outra, como uma bola de neve descendo a ladeira?

SCULLY: - ...

MULDER: - Tá bom, Scully. Agora que devolveu, as coisas vão ficar melhores. Se soubesse disso tinha esperado mais uns dias pra fazer o que vamos fazer hoje.

SCULLY: - ...

MULDER: - Scully?

Ela cruza os braços, emburrada com ele. Cabisbaixa.

MULDER: - Tá, Scully, desculpe. Vamos nos concentrar no nosso filho, tá certo?

O celular de Mulder toca. Mulder desliga. Os dois entram numa sala.


Hotel Hill – 10:12 P.M.

Mulder anda de um lado pra outro. Scully olha pela janela.

SCULLY: - Mulder, quer se acalmar?

MULDER: - Scully, isso me deixa nervoso! Eu vou ter um filho!

SCULLY: - (INDIGNADA) Eu é que vou parir não é você! Eu é quem devia estar nervosa!

Ele senta-se na cama. Põe as mãos no rosto. O celular de Scully toca. Ela desliga. Sobe na cama, senta-se atrás dele e lhe massageia as costas.

SCULLY: - Mulder, relaxa, tá?

MULDER: - Tô uma pilha, Scully. Não tenho dormido direito, pra dizer a verdade a última vez que eu consegui dormir foi antes de você sumir em Knoxville. Depois disso, nunca mais.

O telefone dele toca. Mulder levanta-se, pega o celular e atira contra a parede. Scully afasta-se dele. Começa a chorar, feito menina assustada. Frágil. Mulder olha pra ela, mais assustado ainda. Não parece a Scully.

MULDER: - Scully, o que foi?

SCULLY: - (CHORANDO)

MULDER: - Te assustei?

SCULLY: - (CHORANDO/ FAZENDO BEIÇO)

MULDER: - Scully, me desculpe, é que eu tô nervoso.

SCULLY: - (CHORANDO) Acha que eu não tô? Acha que também não sei o que é pressão?

MULDER: - Vem cá, vem...

Ela caminha de joelhos sobre a cama e se abraça nele que está em pé. Ele a abraça.

MULDER: - Scully, sei que estamos num inferno, mas me desculpe. Estou explodindo com a pessoa errada. Na verdade eu queria matar o Fumacinha e o Rato. Ficaria bem melhor.

SCULLY: - (CHORANDO)

MULDER: - Scully, me desculpe. Você sabe que eu tenho um gênio explosivo e às vezes fico violento...

SCULLY: - ... Tá.

Ela solta-se dele. Senta-se sobre as pernas. Mulder olha pra sua camisa. Olha pra Scully. Fica catatônico.

MULDER: - Scully...

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - (PÂNICO) Seu... seu nariz tá sangrando.

Ela segura o choro, limpando o nariz com um lencinho. Fica tão nervosa que nem sabe o que diz.

SCULLY: - (ATRAPALHADA) Eu... eu estou com um problema sério de ‘vasocongestão’ nas vias respiratórias causado por uma ‘hipoglimicia’ ‘laringítica’ ‘dicotômica’...

MULDER: - (NÃO ENTENDENDO NADA) Quê?

SCULLY: - (IRRITADA) Por que me pergunta? Você não é médico!

MULDER: - Pensei que estava me xingando!

SCULLY: - Já estou tomando remédios. Não é sério.

Ela levanta-se, vai pro banheiro. Mulder vai atrás. Ela seca o rosto e olha pra ele.

MULDER: - Scully, eu... Eu não quero te assustar, mas... Tem certeza de que eu não tirei o chip errado?

SCULLY: - Absoluta. Ou está achando que estou com câncer de novo?

MULDER: - Não, se você diz. Você é médica, você sabe o que fala.

SCULLY: - Mulder eu preciso de um bombom e preciso que você lave as minhas orelhas! (FAZENDO BEIÇO DE CHORO) Ou eu vou chorar de novo!


BLOCO 4:

3:48 A.M.

Mulder observa Scully. Os dois deitados, em silêncio e acordados.

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - Scully e se você é outra clone?

SCULLY: - Eu não sou outra clone!

MULDER: - ...

SCULLY: - ...

Mulder suspira. Scully suspira. Mulder ri. Ela olha pra ele.

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - Nada. Tô pensando.

SCULLY: - Pensando no quê?

MULDER: - Imagina que maravilha ter sua versão em miniatura saindo correndo da escola e gritando: papai!

Ela sorri. Abraça-se nele.

MULDER: - (RINDO) Papai, eu quero um cachorro! Papai, eu quero um vestido novo! (PÂNICO) Papai, eu tô grávida de um motoqueiro.

Scully olha pra ele e sorri. Mulder olha pra ela e retribui o sorriso. Os dois trocam um beijo. Ela escora o cotovelo no travesseiro e olha pra ele, ajeitando sua franja.

SCULLY: - Quero que ele ou ela tenham os seus olhos, o seu cabelo... Quero ver você nos olhos do nosso filho.

MULDER: - ... (EMOCIONADO)

SCULLY: - Não há nada mais importante na minha vida do que ter um filho teu.

MULDER: - Mereço tanto?

SCULLY: - Merece mais. Pena que não posso sentir você dentro de mim, sentir a concepção desde o primeiro momento...

MULDER: - (CULPADO) ... Se eu não tivesse te metido nessa enrascada toda, desde o início, hoje você estaria com nosso filho dentro de você, da maneira normal.

Mulder senta-se na cama. Segura as lágrimas. Ela o abraça por trás.

SCULLY: - Maneira normal? Mulder, nós não somos normais! Você mesmo me disse que tudo sempre foi louco ao nosso redor! Por que teríamos um filho da maneira normal?

Ele sorri. Ela beija seu ombro.

SCULLY: - E depois, essa criança nascendo de modo normal ou de proveta, ela não vai deixar de ser menos louca do que nós dois. Afinal, os filhos seguem o exemplo dos pais.

MULDER: - Me promete que nada de FBI. Só de pensar que posso ter um filho que resolva ser agente federal, eu é quem vou enjoar!

SCULLY: - Nada de FBI. Não vamos estimular o júnior. Vamos tentar torná-lo normal.

MULDER: - E o que é normal pra você?

SCULLY: - Sei lá.

Mulder ri. Vira-se pra ela. Ela deita a cabeça em seu colo.

SCULLY: - Não vejo a hora de ter um filho... Um bebezinho dentro de mim... Um bebezinho seu.

MULDER: - Que inveja! Eu nunca vou saber o que é isso. Digo sempre, a natureza é tão ingrata com o homem...

SCULLY: - Deve ser lindo, mágico... Mulder, acho que vou ser uma grávida muito chata, sabia? Acho que vou comprar um monte de roupas, exibir minha barriga por aí... Como se fosse um troféu.

MULDER: - Scully, eu não sei se vai poder exibir sua barriga por aí. Tenho medo de que tentem algo contra você, que tomem nosso filho.

SCULLY: - Bobagem! Pra quê iam querer a criança?

MULDER: - Tenho a sensação de que não vou mais dormir direito o resto da vida...

SCULLY: - Mulder, se ficar chato e neurótico com essa criança, eu juro que fujo com ela.

MULDER: - Tá, não vou ser chato e neurótico.

SCULLY: - ... Mulder.

MULDER: - Fala.

SCULLY: - Quero fazer amor com você.

MULDER: - Você tá incansável, não é?

SCULLY: - Desejo antecipado.

MULDER: - Como assim?

SCULLY: - Mamãe disse que no início da gravidez, ela não deixava meu pai em paz.

MULDER: - (RINDO) Que gravidez? Qual dos filhos?

SCULLY: - (RINDO) Adivinha?

MULDER: - Tá explicado!

Ela senta-se sobre a cama. O puxa. Mulder senta-se de frente pra ela. Ela passa as mãos no rosto dele.

SCULLY: - Mulder, eu te amo.

Mulder a beija, caindo por cima dela.


Sexta-feira - FBI – 8:19 A.M.

Mulder, Scully e Skinner saem do elevador. Fisionomia tensa.

MULDER: - Skinner, nem faz ideia?

SKINNER: - Não. Tentei falar com vocês ontem, mas não consegui. Mulder, estou com pressentimentos estranhos.

Mulder sua frio. Scully tenta ficar calma. Os três caminham até uma ante-sala bem decorada. A secretária levanta-se.

SECRETÁRIA: - Ah, senhor Skinner. O diretor os aguarda.

Corta pra dentro da sala. Close das costas do diretor, sentado em sua cadeira. Os três entram na sala.

DIRETOR: - Agentes... Walter... Por favor, sentem-se.

Mulder senta-se numa cadeira. Scully na outra. Skinner não senta-se, fica escorado na parede, tenso.

DIRETOR: - (SÉRIO) Walter, diante da situação, achei por bem não ter de repetir o problema duas vezes. Por isso está aqui.

O diretor atira fotos e uma fita de vídeo sobre a mesa.

DIRETOR: - Agente Mulder, poderia me dizer o que é isto?

Mulder pega as fotos. Fecha os olhos.

DIRETOR: - E você, agente Scully, poderia me dar alguma explicação para isto?

Scully sente as pernas amolecerem. Skinner pressente. Aproxima-se. Olha pras fotos. Fecha os olhos.

SKINNER: - (NERVOSO) Como obteve isso?

DIRETOR: - Chegou ao meu conhecimento. Sobre a minha mesa. Acho que alguém aqui dentro deve estar indignado com a falta de profissionalismo de dois colegas. Com a quebra de seus juramentos com esta instituição.

O silêncio paira no ar. Os dois ficam cabisbaixos. Não há como negar.

DIRETOR: - Sabem as normas do Bureau. Quando entraram em Quântico, assinaram um termo de aceitação. Portanto, agentes, pouco me importa a versão de vocês. O que me importa é que não podem ficar mais juntos. Um de vocês será transferido.

Scully levanta-se.

SCULLY: - Peço exoneração de minhas funções federais.

Mulder olha pra ela. Scully olha pra ele com aquele olhar de ‘fique fora disto, sei o que estou fazendo’. Ele entende.

DIRETOR: - Estava pensando em utilizá-la em Quântico.

SCULLY: - Não, senhor. Minha vida são os Arquivos X. Se não posso ficar neles, vou embora.

DIRETOR: - Posso transferir o agente Mulder.

SCULLY: - Não. Eu quero exoneração.

Mulder levanta-se. Indignado.

MULDER: - Acha que isso é desrespeito?

Skinner segura Mulder, mas Mulder está fora de si.

MULDER: - Acho que deveria prestar atenção em quem está tentando nos ferrar aqui, nos desviar da verdade!

DIRETOR: - Agente Mulder, não vou tolerar insubordinação.

MULDER: - Acha que meu relacionamento com ela muda muita coisa? Pois saiba que não! Somos dois profissionais aqui dentro e você sabe bem disso!

SKINNER: - Mulder, por favor...

MULDER: - Por que tenho a sensação que essa conspiração vem da Casa Branca e passa até mesmo por você? Se estivesse de galinhagem por aí eu entenderia! Mas eu e ela temos um relacionamento sério! Estamos sendo discretos pra que isso não derrube a imagem do seu maldito FBI!

SCULLY: - Senhor, não dê ouvidos à ele. Peço exoneração do meu cargo de agente federal.

DIRETOR: - Tem certeza, agente Scully?

SCULLY: - Absoluta.

Mulder sai derrubando lágrimas porta à fora, transtornado. Skinner vai atrás dele. Scully respira fundo e olha para o diretor, derrubando lágrimas, mas sem perder a compostura.

SCULLY: - Foi um prazer imenso dar meus préstimos ao FBI, senhor. Jamais deixaria de dar minha vida a favor dessa instituição. Pena que as normas e meu coração tenham se confrontado. Eu ficaria, mas sei que é impossível viver longe dos Arquivos X. Tenho uma vida naquele porão. E sempre me orgulhei de trabalhar ali.

DIRETOR: - Cumpriu sua função, agente Scully. Uma pena perder uma agente de tão grande competência. Considere-se desligada do FBI. Assine sua demissão com o Walter, entregue sua arma, crachá e credencial.

SCULLY: - Sim, senhor.

Scully aproxima-se da porta, secando as lágrimas.

DIRETOR: - Agente Scully.

SCULLY: - Sim, senhor?

DIRETOR: - Ninguém deixa de ser agente do FBI. Com certeza precisaremos de seus serviços. Só não poderá mais usar nosso nome. Negaremos tudo.

SCULLY: - Perfeitamente, senhor. Estarei a disposição do FBI.

Scully sai da sala. Mulder olha pra ela, em lágrimas. Ela sorri.

SCULLY: - Mulder, teria de acabar um dia, não?

Scully olha pra Skinner.

SKINNER: - A culpa foi minha. Eu...

Scully beija Skinner no rosto, carinhosamente.

SCULLY: - Senhor, só tive dois amigos aqui dentro. E um deles foi o senhor. Obrigado por tudo. E sabe que nossa amizade permanece.

Mulder não consegue falar. Segura as lágrimas. Scully segura na mão dele.

SCULLY: - Vem, Mulder, agora não temos mais nada a esconder.

Os dois saem de mãos dadas. Skinner abaixa a cabeça. Olha pra eles. Derruba lágrimas.


Arquivos X - 10:18 A.M.

Mulder olha pra ela, chorando. Scully pega sua pasta.

SCULLY: - Bem, não tenho nada mesmo pra levar, só esta pasta... Mulder, entrei aqui pela porta da frente. Quero sair pela porta da frente.

MULDER: - Scully, vou com você. Vou pedir minha demissão.

SCULLY: - Não. Um de nós tem que ficar aqui. Temos uma verdade pra achar, não temos? Temos inimigos que devem estar adorando isso tudo. Não deixe que eles comemorem, Mulder. E eu posso te ajudar de outras formas.

Mulder começa a chutar tudo. Derruba arquivos, derruba as coisas de cima da mesa. Chora. Scully o abraça.

SCULLY: - Vem, Mulder. Me acompanha até a saída.

MULDER: - Os desgraçados! Eles nos entregaram! Aquele Canceroso desgraçado! Krycek me avisou do que estava se armando e eu não dei ouvidos!

Scully abre a porta.

SCULLY: - Vem, Mulder. Perdemos a batalha, mas não a guerra. Perdemos a ilusão, mas não o sonho. Podemos ter perdido o relógio, mas nem por isso, o tempo não continuará existindo.

Mulder enxuga as lágrimas. Ela tenta animá-lo.

SCULLY: - Não vou olhar pra esta sala como a última vez. Afinal, sou a esposa de um agente federal.

MULDER: - ...

SCULLY: - Mulder, relaxa, tá legal?

MULDER: - Quem vai fazer autópsias pra mim?

SCULLY: - Não sou a única legista do FBI.

MULDER: - Quem vai discordar de mim?

SCULLY: - Eu, quando você chegar em casa.

MULDER: - Quem vai viajar comigo?

SCULLY: - Se trabalhar sozinho posso me esconder no porta malas com seu filho.

Mulder começa a chorar.

SCULLY: - Mulder, por favor. Se tudo isso aconteceu, nosso amor é mais forte. Quero sair daqui do teu lado. Entrei aqui sozinha, burra e cega. Quero ter o prazer de sair daqui de cabeça erguida. Só valeu a pena porque te conheci. Porque você abriu meus olhos, porque se hoje sou outra pessoa, uma pessoa melhor, é porque você me fez uma pessoa melhor. Uma profissional melhor... Me acompanha até a saída, parceiro?

Corta para a portaria. Carl, o segurança, olha pra eles. Scully olha pra Carl.

SCULLY: - Nos veremos ainda.

CARL: - Boa sorte, agente Scully. Vou sentir falta dos cookies de chocolate da sua mãe, que a senhorita trazia pra mim.

Scully sorri. Passa pelo detector. Olha pra Carl. Carl sorri.

CARL: - Eu sei, a senhorita tem um chip.

Scully sorri. Mulder ao lado dela, cabisbaixo, olhos vermelhos. Os dois caminham lado a lado. Os agentes no saguão ficam olhando e cochichando, espantados. Scully sai de cabeça erguida. Os dois saem do prédio. Scully olha pro enorme letreiro: J. Edgar Hoover. Olha pra Mulder.

SCULLY: - Sempre quis fazer isso. Agora posso.

Scully abraça-o. Os dois trocam um beijo. Mulder continua desalentado, parece que está num pesadelo.

MULDER: - Pra onde vai agora?

SCULLY: - Pra imobiliária. Casa ou apartamento?

MULDER: - (EMOCIONADO)

SCULLY: - Vamos lá, homem! O que você prefere, casa ou apartamento? Afinal, tenho uma boa grana pra receber.

Mulder tenta sorrir.

MULDER: - Casa. Bem grande. Pra encher de crianças.

SCULLY: - Quer nosso quarto do lado do poente ou do nascente?

MULDER: - (SORRI DESALENTADO) Você escolhe.

Mulder tira a carteira do bolso. Retira um cartão de crédito.

MULDER: - A senha é a minha data de nascimento. Eu não sou nada criativo.

SCULLY: - O que é isso?

MULDER: - Pra completar. Minhas economias pra casinha de varanda numa fazenda. Mas pode ser na cidade. Não fico triste.

Ela sorri. Caminha até a calçada, acena pra um táxi. Mulder fica olhando pra ela, derrubando lágrimas. O táxi pára. Ela abre a porta.

MULDER: - (GRITA) Scully!

Ela vira-se pra ele.

MULDER: - (GRITA) Pergunta se eles não querem uma casa em Rhode Island! Vale bastante.

Ela sorri.

MULDER: - (GRITA) Scully! Você foi a melhor e mais competente parceira que eu tive!

SCULLY: - (GRITA) Sei disso, Mulder. Oito horas, não se atrase.

MULDER: - Oito horas?

SCULLY: - (GRITA) Espero você com o jantar.

Ela entra no carro. Mulder a vê partir. As lágrimas caem de seus olhos.


Gabinete do diretor-assistente – 12: 23 P.M.

Skinner, sentado em sua cadeira, olha pela janela. Derruba lágrimas. A secretária entra e lhe entrega uma xícara.

SKINNER: - Obrigado.

SECRETÁRIA: - Senhor, eu... Eu também vou sentir falta da agente Scully.

SKINNER: - Estava aqui pensando nela. Quando a vi pela primeira vez, as coisas todas que enfrentamos... Quando eu percebi o quanto eles gostavam um do outro... A culpa foi minha.

SECRETÁRIA: - Não se culpe, senhor. Não tem culpa se existem pessoas que estragam a vida dos outros.

SKINNER: - ... Estou triste. Triste porque perdi uma filha que amava muito. E porque agora, tenho um filho perdido lá embaixo, tentando achar forças. E eu não posso ajudá-lo.

A secretária sorri amavelmente. Caminha até a porta. O Canceroso entra, com uma pasta debaixo do braço. Ela olha pra Skinner. Skinner levanta-se.

SKINNER: - Tudo bem.

Ela sai, desconfiada. Fecha a porta. O Canceroso acende um cigarro.

SKINNER: - O que quer aqui? Não proibi sua entrada na minha sala?

CANCEROSO: - Entro onde quiser, não preciso de permissão.

SKINNER: - Eu sei. Como entra e sai da sala do diretor, colocando coisas sobre sua mesa. Espero que esteja feliz. Vai abrir a champanhe?

CANCEROSO: -Acho que ainda não sabe com quem está lidando.

SKINNER: - Ora, seu desgraçado!

Skinner puxa a arma e aponta pra Canceroso.

SKINNER: - Eu devia te matar aqui mesmo!

CANCEROSO: - Abaixe isso. Não vim aqui para ser insultado.

SKINNER: - Veio aqui pra cantar sua vitória?

O Canceroso traga o cigarro. Sopra a fumaça.

CANCEROSO: - Um homem tem de agir com calma diante das circunstâncias que se revelam à sua frente.

O Canceroso atira a pasta sobre a mesa. Skinner abaixa a arma. Olha pra pasta.

SKINNER: - O que é isso?

CANCEROSO: - Leia.

SKINNER: - O que está armando?

CANCEROSO: - Isto é pra você. Considere como um favor.

SKINNER: - Não quero nada de você.

CANCEROSO: - Mas eu quero. Quero que leia isso e que leve lá pra cima.

SKINNER: - (RI) O que é? Agora quer tirar o Mulder do caminho também?

CANCEROSO: - Você é um idiota, senhor Skinner. Se quisesse tirá-los da minha frente, já teria feito isso há muito tempo.

SKINNER: - ?

O Canceroso sai. Skinner fica olhando pra pasta. Abre-a. Passa os olhos nos papéis. Abre um sorriso. Pega o telefone.

SKINNER: - Preciso falar com o diretor. Aqui é Skinner, é urgente.


Arquivos X – 1:11 P.M.

Mulder, em pé sobre uma cadeira. Escorado na pequena janela do porão, olha para o céu. Olhos vermelhos ainda, desatinado. Ele olha pro céu nublado. O sol cedeu lugar às nuvens escuras. A chuva começa a cair lá fora, anunciando o início da tempestade. Talvez a maior delas.

Fade out.


X


27/06/2000

4 de Agosto de 2019 a las 23:25 0 Reporte Insertar Seguir historia
1
Fin

Conoce al autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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