E aqui estamos, deitados lado a lado a sentir a areia das antigas rochas a amortecer com suavidade os nossos corpos, quase como fossem uma cama de sonho, algo que não temos há muito tempo. Sentimos cócegas ao sentir o mar a beijar-nos os pés que coincidentemente purifica as nossas almas lentamente, ao ponto de sentir o coração gélido a cada ápice da água e por fim liberta-nos dos seus lábios para podermos descansar com o calor do silêncio, como uma autêntica e poderosa catarse.
Já não conseguimos ver as chamas mais avante do nosso caminho, nem mesmo sentir o odor a combusto do veiculo que nos levara, ou até ver a sua iluminação em chamas, apenas o brilho intenso da lua e das estrelas mais distantes, as únicas luzes que nos rodeiam nesta noite fria.
Começo, mesmo que com medo, a tentar segurar a sua mão esquerda, mas por incrível que pareça, ela agarra na minha primeiro, como se o destino tivesse selado para o nosso toque. Sinto um arrepio pela espinha acima, a minha pele fria rápidamente torna-se quente, não só pela sua escaldante mão, como o meu sangue acelerado pelo momento. Olho para o meu lado direito, o lado que ela se encontra, na esperança de a ver a olhar para aquela esfera luminosa e sentir o brilho na sua visão, mas não, os nossos olhos encontram-se de imediato, por uma simples ventura, acredito eu. Quero retirar os meus olhos da sua face, para voltarmos para a calmaria da praia, mas não consigo, o seu olhar está tão fixado no meu, que os meus olhos não param de admirar a nebulosa que reflete na sua íris, cor do oceano que já nos chega às pernas.
É então que lentamente olhamos, quase que ao mesmo tempo, para as estrelas, não qualquer uma que esteja perto de nós, mas aquela que tem de estar o mais perto possível, aquela que almejamos desde o inicio de tudo, desde o nosso primeiro dia juntos, aquilo que acreditamos, aquilo que é a nossa crença.
— Achas que podemos lá chegar? — Pergunto-lhe ao cortar o silêncio, que até então predominava. — É algo tão longinquo, até mesmo para a própria lua.
— Queres desistir? — Pergunta-me, sem desviar o olhar do objeto luminoso.
— N-Não… quero ver esse lugar, não importa as consequências.
— Mesmo que isso implique a morte de alguém querido, não é?
Senti um aperto forte no coração, como se tivessem acabado de pressionar numa ferida aberta, ao ponto de se ver a carne a latejar. Cruel, mesmo vindo dela.
— Não te preocupes, se estás tão aberto a encontrar este lugar, irás encontrá-lo com toda a certeza. Eu estou contigo, afinal. — A frieza da sua lábia, apesar de perturbadora, é capaz de dar esperança até mesmo a alguém como eu.
— Este mundo… está podre. — Diz ao estender a sua mão direita para o céu noturno, a claridade do luar ofusca completamente a sua mão, ao ponto de se tornar apenas uma silhueta. — Ninguém entende uns aos outros, os seres humanos foram castrados do seu próprio ser e não existe pensamento algum sobre o lugar em que estamos, esquecem-se da felicidade e da calmaria de um outro lugar, apenas se lembram dele quando a noite chega e vêem-na nos seus sonhos, o que devemos fazer é não deixá-la apenas para a imaginação, para a criação do cérebro, temos de a ver, temos de a tornar real.
— Então, o lugar realmente existe, digo, a Terra do Nunca realmente existe?
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