zephirat Andre Tornado

Durante os treinos Jedi da sua aprendiza, o cavaleiro Jedi Luke Skywalker depara-se com uma situação alarmante que vai conduzi-lo a uma lição muito especial...


Fanfiction Películas Sólo para mayores de 18. © Star Wars não me pertence. História escrita de fã para fã.

#starwars #ACriaçãodaLuz #Cleo #jedi #Lição #Treinos #LukeSkywalker #Luyta #Sidestory
Cuento corto
0
4.8mil VISITAS
Completado
tiempo de lectura
AA Compartir

Capítulo único


Um grito atravessou as paredes da pequena casa-abrigo de três divisões, estendeu-se pela paisagem quieta da terceira lua de Luyta, um mundo aprazível e ameno de bosques selvagens e rios calmos, desprovido de colónias habitacionais fixas. Os pássaros que cruzavam os céus assustaram-se e debandaram, ainda o eco daquele grito se vertia pelas camadas gasosas da atmosfera que conferiam uma tonalidade verde ao firmamento, riscado por pinceladas rosadas no levante onde o sol nascia.


Era de madrugada, início de mais um dia em que as rotinas estavam bem definidas. Não havia espaço para improvisações no treino de um Jedi. Esforço físico, concentração, manipulação da Força, noções místicas, descanso, fim do dia, recomeço idêntico no dia seguinte.


Luke Skywalker, o mestre que orientava os treinos, congelou os seus movimentos ao escutar o grito. Tinha acabado de arrumar a esteira enrolada que usava para dormir na divisão comum da casa-abrigo. Tentou perceber mais com a ajuda dos seus sentidos apurados, mas não foi capaz. Continuava a ser repelido por uma barreira protetora e também isoladora, que nem sempre era consciente, mas que era poderosa o suficiente para se movimentar antes da vontade da sua dona que, naquele caso particular, era a sua aprendiza. Ficou alerta e conseguiu escutar um gemido, uma respiração profunda, outro gemido e um segundo grito, mais abafado do que o primeiro. Atirou-se à porta do quarto da casa-abrigo, que estava fechada. Bateu duas vezes com a sua mão artificial enluvada.


- Está tudo bem? – perguntou à sua aluna, que estava no interior do compartimento fechado.


Colou ligeiramente o ouvido à porta, não o quis fazer descaradamente para que não lhe apontassem que estava à escuta, que estava a invadir a privacidade dela. Se queria perceber o que se estava a passar, teria de o fazer com a ajuda de conversa e dos seus ouvidos, pois como habitual a sua perceção Jedi esbarrava no firme encerramento da aura dela.


Ouviu, então, outro gemido, soluços. Aflição. Também ele começou a ficar aflito.


- O que se passa? Cleo, fala comigo!


Percebeu que ela susteve a respiração, a tentar controlar o choro. E a muito custo confessou num tom de repulsa e de horror:


- Estou ferida!


Ele franziu uma sobrancelha, incrédulo com aquela declaração.


- Ferida?


- Sim! Acordei... e descobri que estou ferida. Estou a sangrar!


- Cleo, posso entrar?


- Não!!


- Porque não? Se estás ferida, precisas de ajuda.


- Não, mestre...


A voz dela sumiu-se abafada, como se tivesse empurrado o punho contra a boca. Ou fora o ar que se esgotara e tragara-lhe a voz. Ele explicou:


- Temos aqui uma caixa com alguns medicamentos, ligaduras. Não sei se haverá bacta, mas posso ir ter com o Iko ao entreposto comercial e pedir que ele mo arranje. Temos cidades na primeira e na segunda lua do sistema, o Iko viaja até lá e traz-me o bacta. Se o teu ferimento for grave, vais precisar de bacta.


- Não...


- Não? Mas se estás ferida, precisas de tratamento!


- Eu...


Sentiu-a mover-se para lá da porta, provavelmente na casa de banho. O passo foi hesitante, acanhado, aflito. Cleo não completou o que ia dizer, Luke insistiu:


- Deixa-me entrar. Preciso de ver o teu ferimento. Preciso de avaliar a sua gravidade.


- Não. É... é demasiado embaraçoso.


- O quê?


- É demasiado embaraçoso.


Ele endireitou as costas, uniu os dedos das mãos. Teria de apelar a uma enorme dose de paciência se a queria a colaborar naquilo. Mas por que razão ela não se deixava observar por ele e mantinha-se reclusa atrás da porta? Não era a primeira vez que a via num estado vulnerável. Aliás tinham-se conhecido quando ela estava fraca e abandonada. Seria um argumento que a poderia convencer.


- Cleo, já tratei de ti antes. Quando estiveste comigo em Tatooine.


- Nessa altura não estava a sangrar.


- É verdade, não estavas a sangrar – concordou. – Tinhas febres altas, deliravas, não sabias onde estavas, nem quem eras. Mas estavas doente e eu cuidei de ti.


Ela não replicou, nem deu mostras de aceitar o seu auxílio. Luke insistiu, apelando a outras memórias:


- Também tratei dos teus hematomas quando foste atacada por aqueles homens de Kram antes de nos encontrarmos com o mestre Eilin. E vi o androide médico a cuidar do teu ferimento da perna direita. Já te vi em situações... indefesas. Não há qualquer problema.


- Isto é diferente.


- É apenas mais um ferimento, Cleo.


Ela parou de se movimentar. Desta vez, ele encostou descaradamente o ouvido à porta.


Afastou-se, desiludido consigo mesmo por ter cedido àquela tentação. Não seria preciso ser mal-educado para conseguir alcançar os seus objetivos. Afinal, ele apenas desejava ajudar a sua aprendiza que afirmava estar ferida e a sangrar. Tentou outra via para alcançá-la, soando compreensivo.


- Não me consigo recordar o que possas ter feito ontem para te teres ferido. Quando te deitaste parecias-me ótima e não te queixaste.


Ela suspirou alto, dir-se-ia que chorava em silêncio e limpava as lágrimas.


- Eu estava... acho que estava ótima.


- Por favor, Cleo. Deixa-me entrar.


- Não!


Luke apertou os dentes, crispou os punhos. Aquela mulher sempre fora difícil e empenhava-se em aborrecê-lo com a sua personalidade teimosa e irritante. Ele explodiu:


- O que se passa?! Conta-me, por favor...


Arrependeu-se do arroubo e respirou fundo. Suavizou o discurso, embora para alguém que o conhecesse razoavelmente bem perceberia que ele já estava irritado.


- Continua a falar, Cleo. Eu não te estou a ver, não te consigo ler com a Força, tenho esta porta fechada entre nós, preciso de saber o que se passa contigo e só o consigo se continuares a falar comigo.


A voz dela veio chorosa:


- Estou a sangrar...


- Estás a sangrar de onde? De que zona do corpo?


Não veio uma resposta. Apenas o som dela a impar.


- Cleo?


Nisto, ela vociferou:


- Das partes íntimas!


Luke estremeceu. Ela tornou a vociferar:


- Contente?!


Devia estar zangada por ter revelado aquele pormenor. E Luke, finalmente, percebeu as reações exageradas dela, o recolhimento, a relutância na confissão. Acalmou a sua própria aflição, a sua irritação esvaiu-se como se lhe tivesse sido aspirada da alma. Mil e um pensamentos cruzaram-lhe a mente e sentiu-se a corar como um menino. Agora percebia... E era tudo perfeitamente compreensível. No entanto, ela tinha de sair daquela cápsula protetora onde se tinha enfiado. O problema não seria resolvido se a porta continuasse firmemente encerrada entre eles. Como mestre, tutor, orientador, professor, amigo, era obrigação dele ajudá-la.


- Cleo, escuta-me... Estás a escutar-me?


- Estou.


- Isso... nunca te aconteceu antes?


- Não.


Ele pôs-se a fazer contas de cabeça.


- Provavelmente, não... Tens razão.


Voltou a respirar fundo, o sangue gelava-lhe nas veias, as extremidades, mãos e pés, até a mão artificial, ficavam dormentes, e Luke prosseguiu:


- Continuas a escutar-me?


- Sim.


- Não te lembras?


- Lembro-me do quê?


- Lembras-te de tanta coisa... Sabes o que é uma flor, sabes nadar... Mas não te lembras de teres sangrado antes... como está a acontecer agora?


- Não, mestre. Que raio de conversa é essa? A única vez que estive doente, que me lembre, foi quando estava na tua casa em Tatooine. E quando fui atacada pelo tuyaq e desmaiei. Com o ataque desse animal do lago foi a única vez que sangrei e foi da minha perna direita. Agora isto… isto que me está a acontecer… E olha que se tivesses um androide médico aí contigo, duvido que eu o deixasse mexer… no lugar onde estou a sangrar. Como se cura uma coisa destas?!


Ele passou as mãos pelos cabelos, apertando o crânio. As madeixas loiras espreitavam por entre os seus dedos. De todas as coisas que ela podia não saber ou não conhecer, por causa da sua amnésia, aquela era a última que lhe passaria pela cabeça. Era algo básico, instintivo, trivial em qualquer mulher. Murmurou, sentindo-se encurralado:


- Muito bem... Muito bem, Luke. Esta não vai ser fácil.


Encurralado e com poucas opções.


Aclarou a garganta. Preparou-se. Era um desafio e ele nunca fugira de nenhum desafio. Haveria de conseguir dar conta do recado, mesmo sem opções plausíveis e fáceis. Não seria muito complicado. Ela não tinha qualquer ideia do que lhe estava a acontecer, era como se fosse a primeira vez. Como todos os inícios são misteriosos e depois tudo parece mais simples com uma explicação séria, sobretudo se esta for dada por alguém de confiança, por um amigo, por um mestre. Embora ele não se considerasse extremamente sabedor naquela matéria, tinha algumas noções. Seria o suficiente, considerou. Teria de servir, acrescentou, alisando o cabelo, endireitando as costas, preparando-se para aquela estranha lição.


- Cleo, estás a escutar-me?


- Sim.


- Como está o sangramento?


- Não para.


Ele fechou os olhos e disse devagar:


- Não vai parar...


- O quê?!


- Mas não te preocupes. Não é preciso ficares preocupada. Diz-me: sentes-te tonta, fraca, à beira do desmaio?


- Não. Só tenho uma ligeira dor de cabeça. E dói-me a barriga. Estou enjoada.


Ele conferiu o que ela lhe dizia mentalmente.


- Bem, acho que será normal.


- O quê?


- É normal estares com esses sintomas.


- Mas se eu perder este sangue todo, vou morrer!


- Não vais nada morrer. Não estás tonta, nem fraca. O que significa que não estás a perder... uma quantidade considerável e preocupante de sangue.


- Ah, sim? E isso é para que fique sossegada?


- De certo modo, sim.


- De certo modo?


- Quero que te acalmes.


- Estou a sangrar! Como posso ficar calma?!


Escutou-a ofegante. Isso era bom, tomando em consideração o estado inicial de desacerto dela. Se a Cleo respirava depressa, queria dizer que estava zangada e se estivesse zangada, queria dizer que começava a combater os seus medos, os fantasmas, o que quer que a assombrasse. Estava disponível para receber a sua lição. E ele estava também disponível para ensiná-la.


Luke aconselhou:


- Cleo, olha... Vais fazer o seguinte. Vais lavar-te o melhor que puderes e de seguida vais arranjar uma proteção que consideres suficiente para a tua roupa interior. Quero que saias desse quarto, precisamos de ter uma conversa.


Ela rugiu contrariada:


- Isso é uma ordem?


Ele sentiu os lábios a tremer quando tentou sorrir e disse:


- Não podes ficar o dia todo dentro da casa de banho, minha querida padawan.


- Vou sangrar o dia todo?


- Calma...


- E não vais fazer nada?!


- Eu quero fazer! Quero conversar contigo!


Havia momentos em que ele conseguia ler-lhe a aura, não eram muito frequentes, mas eram significativos, e de repente esse momento surgiu. Uma sensação de desamparo e raiva atingiu-o. Ela merecia ternura naquele instante de desorientação, desejou abraçá-la e confortá-la mal aquela porta se abrisse. Mas, se fraquejasse, o propósito da lição iria perder-se, a sua posição iria esfumar-se. Antes do carinho que ele estava disposto a dispensar-lhe, precisava de ser autoritário para ser obedecido. Prepotente, como ela uma vez lhe apontara.


- E sim, é uma ordem do teu mestre – respondeu, engrossando a voz.


Ela aceitou com uma exclamação áspera:


- Está bem... mestre!


A vitória era dele. Mas agora vinha a parte mais complicada...


- Oh, céus... Isto não vai ser nada fácil. Precisava da Leia aqui comigo.


Luke respirou fundo pela terceira vez. Limpou a mesa, embora esta não precisasse de ser limpa, mas fazê-lo ajudou-o a acalmar-se e a preparar-se. Ajeitou os dois bancos metálicos, sentou-se naquele que ficava mais próximo da porta do quarto. Não queria intimidá-la ao encará-la logo que ela saísse. Se a Cleo lhe visse primeiro as costas negras, por causa das roupas escuras que vestia, algo anónimo, uma cor neutra, iria talvez ajudá-la a superar aqueles primeiros passos tão difíceis de dar.


A porta abriu-se. A tensão enrijeceu os músculos de Luke Skywalker.


Tinha chegado a hora...


Cleo sentou-se na frente dele, acabrunhada. Torcia as mãos e evitava olhar para ele. Estava cheia de vergonha. Ele agradeceu por ela se encontrar naquele estado destroçado. A timidez naquela situação era uma bênção, considerou ele a tentar humedecer os lábios secos. Devia ter preparado chá de fygre. Devia ter alguma coisa para comer também. Era de madrugada, tinham-se levantado das respetivas camas e estavam em jejum.


Ela estava ferida. Haveria de o acusar de não se importar como devia de ser se ele lhe apresentasse uma refeição saborosa e um jarro da bebida vermelha gelada antes da conversa prometida. Bem, havia prioridades. Ela teria razão se reclamasse.


Tinha chegado a hora e ele disse:


- Cleo...


- Sim, Luke?


Havia um entendimento tácito entre eles que pressupunha a utilização de um tratamento formal durante as lições do treino Jedi dela. Durante esse tempo ele tratava-a por aprendiza ou padawan, ela tratava-o por mestre. Fora desse âmbito, eram amigos e podiam tratar-se pelo nome. Quando ele usava o “Cleo”, invariavelmente ela usava o “Luke”. Noutros momentos, como já tinha ocorrido naquela manhã, ele tentava encurtar a distância, ela não aceitava a destruição dessa frágil ponte e mantinha-o longe, continuando a chamá-lo de “mestre”.


- Vamos começar, então...


Ela exigiu, a recuperar, em parte, a sua postura desafiadora:


- Estou à espera.


Não podia deixar que ela tivesse o ascendente naquela conversa, ele teria de liderar todo o processo, sob pena de a explicação saldar-se num fracasso recheado de mal-entendidos e de ideias mal construídas. Aquele assunto obrigava a um esclarecimento total, sem espaço para dúvidas no rescaldo do aprendizado.


Luke optou por ser o mestre compreensivo, mas exigente, que encarnava quando estava a ensiná-la sobre os mistérios da Força. Era alguém que ela reconhecia e respeitava.


- Cleo, vou tentar explicar-te o que te está a acontecer. Como te disse antes, não existe motivo de preocupação. Primeiro, não estás ferida.


- Mas eu...


Ele ergueu a mão enluvada, pedindo silêncio.


- Deixa-me explicar-te isto de uma assentada. Não está a ser fácil... para mim.


- Porque não?


- Vais compreender quando eu chegar ao fim. Combinado? Confia em mim.


- Eu confio em ti.


- Muito bem. Voltando ao início... Primeiro, não estás ferida. Estás a sangrar, é verdade, mas não estás ferida. O que te está a acontecer é normal, nas mulheres. Periodicamente, num ciclo que pode variar de mulher para mulher, vocês sangram. Significa que o vosso corpo amadureceu, que não são mais meninas. Significa uma evolução no vosso crescimento, enquanto membros da espécie feminina.


- O quê?


- Ao teres começado a sangrar esta manhã completou-se um ciclo, dentro de ti. Daqui a vinte e poucos dias, outro ciclo se completará e vais voltar a sangrar. Já aconteceu antes, mas tu não te lembras.


Ela pestanejou para absorver aquela explicação.


- Queres dizer que vou parar de sangrar e que depois, daqui a dias, isto volta a acontecer-me?


- Correto.


A cara dela crispou-se em algo como aversão e incredulidade.


- Qual é a utilidade disto? Que desperdício!


Ele reteve um suspiro, não podia mostrar-se desleixado em nenhuma fase da lição. Teria de apresentar todos os pormenores, até aqueles que à partida seriam descartáveis. Revelar o mistério na sua real amplitude.


- Para que te seja possível teres filhos.


- Eu não quero ter filhos.


- Não vais conseguir ter filhos sozinha.


- Ah, não?


Agora, apeteceu-lhe rir com a alma singela e cristalina dela.


- Não, Cleo.


- Não percebo. Se estou a sangrar da minha... Bem, do sítio que tu sabes, mestre, para poder ter filhos, por que razão não os posso ter sozinha? Ter filhos não é uma coisa de mulheres?


- As mulheres têm metade dos genes que permite gerar uma criança. A outra metade pertence ao homem.


- Homem?


- Precisas de um homem para ter filhos, de uma espécie masculina de qualquer raça... que seja compatível. Simplificando, precisas de um homem.


- Tu és um homem!


Luke não a entendeu.


- Sim... Sou um homem.


- Estou a sangrar e estou com um homem. São as condições para ter filhos.


Ele apertou os lábios, aborrecido por ter escorregado numa primeira armadilha. Não podia deixar-se levar pela aparente facilidade da explicação. Tudo tinha um propósito, tudo era muito simples.


- Não, necessariamente – disse ele devagar. – É preciso... contacto.


- Tu tocas em mim! Quer dizer que não podes tocar em mim quando estou a sangrar, porque posso ter um filho. Não é? Eu já disse que não quero ter filhos... Um bebé iria atrapalhar os meus treinos, para além de ser uma razão para Kram atingir-me mais profundamente. Ele poderia ter a ideia de raptar o meu filho, de fazer chantagem... E sendo um filho dos dois, parece-me que se tornaria num alvo perfeito.


Luke abanou as mãos, cortando aquele raciocínio ao meio como se empunhasse o seu sabre de luz.


- Não, nada disso. Não tenhas medo que eu te toque... É preciso um contacto... mais especial.


- Que tipo de contacto?


Sentiu-se a engasgar com a pergunta dela. Prosseguir sem receios, prosseguir até ao fim.


- Bem... Um contacto mais íntimo.


- De que tipo?


A Cleo era realmente ingénua naquela matéria. Como explicar sem ser ofensivo? Sem parecer ávido ou desejoso? Sem a empurrar para um labirinto dúbio de maus conceitos?


- Uh... Bem... Precisas de ficar nua.


Luke corou horrivelmente. Ela indignou-se.


- O quê?! Que nojo! Nunca ficaria nua à tua frente, Luke Skywalker!


Custava-lhe terrivelmente, mas ele evitou quebrar o contacto visual com ela. Não lhe podia demonstrar como estava também envergonhado, perderia o importante papel de mestre naquela conversa, ela deixaria de confiar nele e seria o descalabro.


- Eu não quero que fiques... nua à minha frente, Cleo. Só estou a tentar responder... às tuas dúvidas.


- Não sei se estou a ficar mais esclarecida. É tudo demasiado confuso.


Ela tinha razão. Ele estava a enrolar-se no seu problema de estar com receio de não se explicar convenientemente. Não era fácil falar daquilo com ninguém, muito menos com uma mulher adulta que demonstrava ter os conhecimentos de uma menininha.


- Bem, mas podes ficar descansada em relação a engravidares. Compreendeste?


Caiu um silêncio denso.


- Responde-me, Cleo.


Ela encolheu os ombros.


- Sim, mais ou menos. Posso ter filhos porque estou a sangrar, mas isso só vai acontecer se me colocar nua com um homem e acontecer um contacto íntimo.


- Precisamente – disse ele aliviado. – Vejo que compreendeste.


- E o homem também tem de ficar nu?


Ele arregalou os olhos azuis.


- Eh... Claro, Cleo.


- Então, como acontece?


Limpou o suor da testa com a ponta dos dedos da mão esquerda, num gesto vagaroso, continuando a olhá-la de frente.


- O quê?


- Como acontece esse contacto íntimo?


- Bem... É um contacto muito específico. Posso até dizer que será extraordinário... Um acontecimento único, pode-se dizer...


- É assim tão difícil de explicares?


Ela apresentava-lhe uma escapatória. Ele assentiu e confirmou:


- Sim, Cleo.


- Porquê?


Ela inclinou a cabeça ligeiramente para a esquerda, intrigada e muito curiosa. Uma menininha, de facto. Isso sossegou-o.


- É um tema... bem, como o contacto, é um tema íntimo. Muito pessoal.


- Mas tu és o meu mestre. És um professor. Não devias ter problemas em ensinar-me o que quer que fosse.


A afirmação fê-lo sorrir.


- Tens razão, minha querida padawan. Mas estou aqui para te ensinar os caminhos da Força e não para te instruir sobre sexo.


Foi a vez de ela corar e foi ela que quebrou o contacto visual, olhando para as suas mãos torcidas. Alguma coisa se deve ter lembrado.


- Oh...


E a seguir murmurou, percebendo o terreno irregular que estavam os dois a pisar:


- Isto é tudo demasiado embaraçoso, mestre. Nunca pensei que o que me aconteceu… tivesse que ver com… sexo.


Ele tornou a menear a cabeça, convencido de que se tinha portado bem e de que conseguira fazer passar a mensagem sem demasiado ruído, satisfeito por ela ter compreendido o que estava a acontecer, o que ele tentava explicar.


- Concordo. É tudo demasiado embaraçoso, mas não deixam de ser coisas naturais.


- Também relacionadas com a Força? – Ela espreitou-o.


Luke permitiu-se relaxar os músculos tensos.


- Tudo o que é natural relaciona-se com a Força. Até os contactos íntimos entre criaturas masculinas e femininas.


- Então, mais um motivo para me prestares esses ensinamentos sem que fiques nervoso dessa maneira.


E continuava a ter razão, a menininha sem memória que tinha descoberto outra faceta de ser mulher, naquela manhã.


- Não é comum um homem dar estas explicações a uma mulher, Cleo. Normalmente são as mulheres... que esclarecem as outras mulheres nestes assuntos.


- A Leia seria a mais indicada.


- Oh, sim. Concordo perfeitamente. A minha irmã Leia teria esta conversa esclarecedora contigo com todo o à-vontade. E podias fazer-lhe todas as perguntas que quisesses.


- Mas eu fiz-te todas as perguntas que quis.


- Não ficou nada por me perguntares?


- Bem… Acho que não...


A confirmação que ele necessitava.


- Ainda bem. Sem dramas, daqui para a frente. Prometes-me? Não quero mais gritos. Assustaste-me.


- Prometido, mestre. Sem dramas. Agora já sei... o que se está a passar comigo. E não vou voltar a gritar aquela maneira, nem te vou assustar.


Luke voltou a sorrir.


- Hoje não vamos ter treino – anunciou. – Podes descansar. Disseste-me que te doía a cabeça e a barriga.


- Obrigada, mestre.


Ela remexeu as mãos, mordendo o lábio inferior.


- Não sintas vergonha, Cleo.


- Ainda sinto... um bocadinho.


Luke anunciou:


- Vou chamar pelo Iko para que te traga o que precisas para te manteres limpa e confortável nos próximos dias. Acredito que deve haver o necessário no entreposto comercial, embora aposto que esse tipo de artigos se esconda numa qualquer prateleira esquisita.


- Dias? – afligiu-se ela. – Vou ficar assim durante dias?! Quantos?


- Não mais do que cinco dias, creio.


- Não vou treinar durante todos esses dias... em que estarei a sangrar?


- Julgo que basta descansares hoje. Depois vais aprender a controlar o fluxo... de sangue, a te protegeres e vais fazer tudo como normalmente. Concordas comigo?


- Sim, mestre. Seria ótimo para mim não me treinar hoje... Sinto-me esquisita. Mas nem eu própria quero ficar tanto tempo sem treinar-me. O'Sen Kram não deve estar a fazer pausas nos seus planos para a galáxia.


Ele levantou-se do banco. Colocou a sua capa castanha e encaminhou-se para a porta da casa-abrigo. Ela perguntou aflita:


- Onde vais?


- Vou falar com o Iko.


- Espera, por favor. Fica comigo... Luke. Não quero ficar sozinha.


O cavaleiro Jedi parou. Pensou durante um bocado e acabou por concordar, despindo a capa:


- Está bem. Deves comer alguma coisa.


- E tu, já comeste?


- Não. Estava à tua espera.


- Não me apetece comer nada. Posso beber um pouco de chá de fygre e já fico bem.


Depois de beberem cada um a sua malga de chá, ela sentou-se no chão, encostada à parede, como costumava fazer todas as noites depois da refeição do final do dia, a seguir aos seus treinos intensos para se tornar num Jedi. Ele sentou-se também, ela aproximou-se, pousando a cabeça no peito dele. Luke fechou os olhos e, num gesto que achou genuíno, passou o braço por cima dos ombros dela, aconchegando-a num abraço.


Ficaram assim durante largos minutos, em silêncio, envolvidos pela calmaria do mundo tranquilo onde moravam por enquanto, a ouvir a respiração um do outro.


- Acho que...


- Diz, Cleo.


- Acho que não me importava de te ver sem roupa.


Um arrepio deixou-o inerte, como se de repente tivesse ficado privado de energia.


- O... quê?


Ela riu-se, abafando a risada com uma mão.


- Só te estava a experimentar.


- E se eu te dissesse que também não me importava de...


- Não o digas! Continuo a achar nojento!


- E não achas nojento ver-me sem roupa?


- Tenho curiosidade.


- Curiosidade?


- Como será... um corpo de um homem sem roupa.


- Oh... isso. Curiosidade...


- E tu, já viste uma mulher sem roupa? Já sabes como nós somos?


Uma pausa. Pensava no que iria responder. A sinceridade não era uma opção nele, era uma obrigação, até nos momentos mais difíceis.


- Bem... já.


- Já sabes ou já viste?


- As duas coisas, minha querida padawan.


- Oh... Gostaste do que viste?


- Porque insistes?


- Quero saber! Quero aprender!


- Posso ensinar-te com as minhas palavras, mas... enfim, mas a experiência nesta matéria é fundamental. Vamos aprendendo mais com ações, aprimorando o nosso conhecimento.


- Acerco do sexo? – Os ombros dela tremeram ligeiramente.


- Sim, acerca do sexo.


- Não me disseste como é.


- Nem te vou dizer, Cleo!


- O tal contacto íntimo... Onde é que se toca?


Desesperado, ele suspirou:


- Oh, por favor...


- Como um Jedi?


- O que é como um Jedi?


- Vai-se aprendendo com a experiência?


Falar sobre a Força era infinitamente mais fácil e Luke aproveitou a oportunidade que ela lhe estendia para virar o tema da conversa.


- Correto – respondeu solícito, tentando soar calmo. – Vais aprender nos teus treinos para te tornares num Jedi a sentir e a usar a Força, mas à medida que fores progredindo com os teus atos, a envolver-te com o Todo, o conhecimento consolida-se, as impressões ficam mais intensas, a tua perceção aumenta. É um processo dinâmico, que nunca cessa ao longo da tua vida. Foi por isso que te disse, minha querida padawan, no início dos nossos treinos, que também iria aprender contigo.


- Espero que estejas a gostar do que estás a aprender comigo.


- Estou a gostar bastante, Cleo.


- E com o sexo… também preciso de um mestre?


Luke apertou os dentes, inquieto. O tema da conversa não tinha mudado… A insistência dela não era maldosa, mas ele começava a ficar cansado de não poder ser demasiado explícito, receando chocá-la e irritá-la. A perplexidade daria azo a outras interpretações que ele quisera erradicar desde o início. Julgava que ela tinha ficado esclarecida, ela assegurara-lhe que tinha ficado, mas aquela questão era demasiado intrigante para não suscitar aquelas derradeiras inquirições, a simples averiguação do mistério. Não podia censurá-la.


- Não necessariamente… Não se precisa de um mestre, a descoberta do sexo pode ser mútua. Podem ser os dois, homem e mulher, inexperientes.


- E se acontecer… connosco?


- Não vai… acontecer – corrigiu ele, atrapalhado.


- Como sabes isso? Tu és um homem e eu sou uma mulher.


- Não seria muito apropriado, Cleo. Eu sou o teu mestre.


- Tu disseste que é uma coisa natural que pode acontecer entre um homem e uma mulher. Qual é o problema?


- É um contacto especial, Cleo.


- Como este?


Ele paralisou. Debaixo do braço, sentiu-a quieta.


Luke controlou as suas emoções. Ela prosseguiu como se quisesse explicar-se:


- Estás a abraçar-me…


Tinha ali a oportunidade de fechar aquela lição. Ele disse, confiante na serenidade que o envolvia, proporcionada pela Força e pela sua união peculiar com o Universo, curiosamente também pela presença dela tão perto de si que o confortava e amparava:


- Como te disse antes… Gosto de ti, minha querida padawan. E também me disseste que gostavas de mim. Somos duas pessoas que estão juntas numa missão muito delicada, que se importam com o bem-estar uma da outra e que, em determinado ponto, vão precisar muito de se apoiarem ou qualquer uma delas irá tombar no campo de batalha e perder a vida. O que nos une é muito mais importante do que uma simples relação… entre um homem e uma mulher. Sou o teu mestre, tu és a minha aprendiza. Um dia, os teus treinos ficarão completos e serás um Jedi, como eu. Um mestre… como eu. Por enquanto, temos muito a aprender um com o outro na exploração daquilo que nos une: derrotar O’Sen Kram e eliminar a sua ameaça da galáxia. Não julgo pertinente explorar outras experiências… naturais nos nossos treinos, para além da Força. Compreendo a tua vontade de querer saber mais sobre qualquer assunto que provoque a tua inteligência, mas devemos ser práticos quando o tempo corre contra nós.


- Sim, mestre.


- Disseste-me que tinhas ficado esclarecida quanto ao motivo do teu súbito sangramento desta manhã. Que eu tinha respondido a todas as tuas dúvidas. Sei que existe muito mais de que poderíamos falar relacionado com o teu ciclo periódico de mulher, como as relações entre homens e mulheres, sexo, amor, ter filhos, compromissos, mas não nos devemos alongar em lições secundárias quando a questão principal foi tratada e respondida.


- Sim, mestre – tornou ela mais calma. – Percebo o que me queres dizer. Estou a ser… demasiado impaciente e exigente. Não o devo, quando um Jedi deve aplacar os seus anseios mais pessoais. Sei o que preciso de saber. Não devo preocupar-me por estar a sangrar quando resolvi o segredo desse suposto… ferimento.


- Precisamente, minha querida padawan.


Luke olhou para o teto da casa-abrigo, aliviado.


Fim de lição.


Aos poucos, ela foi-se descontraindo, fechou os olhos e adormeceu junto a ele.


Luke beijou-lhe os cabelos, estreitou-a mais contra si.


O que sentia por ela estava a tornar-se incomportável, demasiado grande para que ele combatesse aquela perdição que o estava a conquistar dia a dia, por cada maravilhosa experiência que passava ao lado daquela mulher tão especial.


Adorava-a e disse-lho, em surdina, para os cabelos que tinha junto à boca.


Disse-lho e o seu coração acendeu-se com a afeição que preencheu todas as suas ínfimas células perecíveis.

27 de Abril de 2019 a las 10:40 0 Reporte Insertar Seguir historia
122
Fin

Conoce al autor

Andre Tornado Gosto de escrever, gosto de ler e com uma boa história viajo por mil mundos.

Comenta algo

Publica!
No hay comentarios aún. ¡Conviértete en el primero en decir algo!
~