- Além disso, eu amo tempestades.
- Eu sei. Você anda com elas no bolso.
Johannes Antonius Wiegerinck
Era um ônibus que andava sempre de noite, sem nunca parar.
Ele não sabia como havia chegado ali. Só sabia que agora estava no Ônibus Noturno.
Na estrada não havia motoristas. Eles eram apenas carros e motos. Caminhões e caminhonetes. Todos vagavam de noite com suas lanternas. E as luzes tinham vida própria e voavam pela estrada negra.
As luzes piscavam no ônibus noturno, mas elas eram invisíveis aos olhos de fora. Então ninguém percebia que os outros eram tragados pelas luzes e pela música de baixo calão.
Ninguém.
A não ser ele.
O homem queria voltar ao que era antes, sem saber se o antes foi o ontem ou a década passada.
Ele tinha apenas quatro lembranças.
A de sua mãe dizendo que por ele pensar demais, ele era infeliz.
A de sua irmã dizendo que por ele ler demais, ele era infeliz.
A de seu chefe dizendo que por ele trabalhar demais, ele era infeliz.
E a última lembrança.
Aquela mais importante e que fazia suas mãos tremerem de emoção. A de que todos eles estavam errados e que ele era o homem mais feliz dali.
Mas agora ele estava no Ônibus Noturno.
Se perguntando se algum dia haveria uma parada.
Se remoendo com suas quatro lembranças carcomidas.
E destinado a fazê-lo por todo o sempre, ele olhou para a Lua, rogando por salvação, embora ela não se dignasse, perpetuando-se lá, etérea e infinita.
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