lara-one Lara One

Scully tenta levar adiante os Arquivos X, mas sente dificuldades. O Bureau resolve mandar uma parceira pra ela, pois de repente acham ‘necessário a visão paranormal’ ali dentro. Scully enlouquece ao saber que Diana Fowley será sua nova parceira. As duas acabam investigando um caso bizarro, de estranhas mortes relacionadas à uma família tradicional. Scully está confusa e atordoada, e questiona seus sentimentos a respeito de Mulder. Participação especial: Pierce Brosnan, como Christopher.


Fanfiction Series/Doramas/Novelas Sólo para mayores de 18.

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S02#03 - MORTE NEGRA


INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Fade in.

Diana levanta-se.

DIANA: - Está me chamando de quê?

SCULLY: - Assombração! Você assombra a minha vida! Não pense que vai se tornar a dona do campinho agora.

DIANA: - Isso vai para o meu relatório, agente Scully.

Diana abre a porta.

SCULLY: - Pois saiba que sua teoria sobre o Cavaleiro sem Cabeça também vai pro meu relatório, agente Fowley.

Diana sai. Scully senta-se na cama.

SCULLY: - Cavaleiro sem Cabeça... Ahn! Era só o que me faltava! (DEBOCHADA) Os estúdios Fox Mulder apresentam: O cavaleiro sem cabeça ataca no Tenessee. Estrelando Diana Fowley, a vaca sem cabeça. Muita ação, aventura, mistério. Dublado e legendado. Patrocínio: Cigarros Fumacinha. Venha para o mundo de Fumacinha.

Scully deita-se. Suspira.

VINHETA DE ABERTURA: A VERDADE ESTÁ LÁ FORA


BLOCO 1:

Arquivos X – 7:56 A.M.

Scully, sentada na cadeira de Mulder, olha pra Skinner.

SKINNER: - Não vão afastar você até que a comissão decida. Scully, se decidirem que foi cúmplice na fuga de Mulder, vão colocar você pra fora do Bureau. Na melhor das hipóteses vão transferi-la.

SCULLY: - ... Kersh novamente? Me avise, saio antes disso.

SKINNER: - Estou fazendo o que posso. Ninguém aqui dentro acredita nas acusações contra Mulder. Principalmente depois que descobriram que o agente morto por ele...

SCULLY: - Por Samantha.

SKINNER: - Bem, esse agente vendia informações para outros países... Já conseguimos um retrato falado de Samantha. A mídia vai acabar fuxicando a vida dos dois e vão descobrir que são irmãos, portanto, Mulder não teria motivos para sequestra-la. O que me preocupa é que o FBI vai considerar a atitude de Mulder como abandono de função, e isso é crime pra um agente federal.

SCULLY: - ...

SKINNER: - Tem notícias dele?

SCULLY: - Sei que está seguro e é só.

Scully aponta pro teto e faz silêncio. Skinner abre a porta.

SKINNER: - Acha que vai conseguir ficar aqui?

SCULLY: - Você me conhece, sabe que sou teimosa.

SKINNER: - ... (SORRI)

SCULLY: - Afinal eles sempre quiseram uma cientista nos Arquivos X. Agora eles têm tudo nas mãos da ciência. Devem estar satisfeitos.

Skinner sai. Scully pega a placa com o nome de Mulder, que está sobre a mesa. Fica observando-a.


11:23 A.M.

Scully, sentada à frente do computador, lê alguma coisa. Vira-se com a cadeira, observando o pôster na parede. Scully morde a ponta do lápis, distribuindo olhares pela sala.

SCULLY: - ... Você ainda está aqui... Sinto até o seu cheiro nesse lugar.

Scully suspira, fazendo um beiço de tédio. Volta as atenções para o computador.

SCULLY: - Ah, droga! Como vou saber sobre comportamento de Lobisomens?

Scully vai até a mesa. Senta-se na cadeira, pega o telefone. Disca.

A imagem se divide em duas, mostrando Frohike do outro lado da linha.

SCULLY: - Frohike? Você entende alguma coisa sobre comportamento de Lobisomens?

FROHIKE: - O quê?

SCULLY: - Ah, esqueça!

FROHIKE: - Sente falta do Mulder, não?

SCULLY: - Como posso trabalhar sem ele? Ele é quem entende dessas coisas! Preciso daquela mente paranormal por aqui!

FROHIKE: - ... Eu confesso... Sinto a falta das piadas dele.

SCULLY: - Tá, Frohike. Também sinto falta de diversão.

FROHIKE: - Eu e os rapazes vamos ao boliche hoje à noite. Que tal?

SCULLY: - Hum, adoraria.

FROHIKE: - Pegamos você?

SCULLY: - Não, eu saio daqui e pego vocês.

Scully desliga. Suspira. Pega alguns papéis. Estuda-os.

SCULLY: - Certo... Vejamos do início... A autópsia revelou que não havia nenhuma anormalidade genética... Então, como poderia explicar aquelas unhas e os pelos? A metamorfose repentina... Quer saber? Era um lobisomem mesmo! Não explico. Isso prova que a ciência se limita. E que fica uma brecha por falta das explicações paranormais. Ponto pra você, Mulder. Ponto pra mim. Zero para o FBI.

Scully pega um carimbo da gaveta e carimba o papel, com um “inconclusivo”. Coloca dentro de uma pasta e levanta-se. Arquiva o caso.

Batidas na porta.

SCULLY: - Entre.

Diana Fowley entra segurando uma caixa. Scully olha pra ela, erguendo as sobrancelhas. Diana coloca a caixa sobre a mesa. Scully fica invocada.

SCULLY: - O que significa isso?

DIANA: - A partir de hoje, agente Scully, estou assumindo o posto do agente Mulder. Trabalharemos juntas, fui designada para voltar ao departamento. E não se esqueça, a responsável pelos Arquivos X sou eu.

Scully fica estática, incrédula.

SCULLY: - (CERRA O CENHO) O quê?

DIANA: - O Bureau decidiu que não pode trabalhar sozinha. Precisa de uma outra visão aqui dentro.

SCULLY: - Ah, está me dizendo que agora eles querem visões paranormais aqui dentro? Que coisa estranha, não acha, agente Fowley? Há um tempo atrás reclamavam disso. Agora sentem falta...

Diana senta-se na cadeira de Mulder. Pega a placa com o nome dele e atira na lixeira. Scully fica indignada.

SCULLY: - Ei, o que pensa que está fazendo?

DIANA: - Arrumando minha mesa.

SCULLY: - Sua mesa? Essa mesa agora é minha!

DIANA: - Errado. Eu sou a chefe por aqui, a mesa é minha. Você não tem mesa. Nunca teve e não terá agora.

Diana abre a caixa. Retira suas coisas. Scully a encara.

DIANA: - Aproveite e vá tomar um chá. Acho que está precisando.

Diana levanta-se. Começa a tirar o pôster da parede. Scully se mete na frente.

SCULLY: - (INDIGNADA) Ei, ei, ei! O que pensa que está fazendo?

DIANA: - Vou arrumar essa sala. Isso parece um lixo.

SCULLY: - Não, não vai mesmo! Isso são as coisas do Mulder e vão ficar aqui!

DIANA: - Ele não vai voltar.

Scully cerra o punho e ergue na cara dela.

SCULLY: - Tire uma folha do mural dele e vai se entender comigo, bruxa velha!

Scully sai furiosa, batendo a porta.


Gabinete do diretor-assistente – 12:00 P.M.

Scully entra porta à fora, invadindo a sala. A secretária entra atrás dela.

SECRETÁRIA: - Senhor...

SKINNER: - Está tudo certo, pode ir.

A secretária sai. Skinner levanta-se da cadeira. Scully o encara.

SCULLY: - Como pôde permitir que aquela víbora fosse parar na minha sala?

SKINNER: - Não são ordens minhas, agente Scully. Não posso fazer nada. Querem ela ao seu lado, e deve saber porquê.

SCULLY: - Querem descobrir o paradeiro do Mulder? (SARCÁSTICA) Há-há-há! (SÉRIA/ BEIÇO) Pois não vão saber!

SKINNER: - Scully, tome cuidado. Está sendo acusada de ser cúmplice do Mulder. Qualquer passo em falso nas suas investigações será um banquete. A agente Fowley fará um relatório sobre sua competência.

SCULLY: - Minha competência? Mas que merda toda é essa?

Skinner olha assustado pra Scully. Scully ergue as mãos, ameaçadora.

SCULLY: - Terá meus relatórios sobre a agente Fowley também. Afinal, não fui designada para contestar as versões paranormais? Pois vou adorar fazer isso. Sentirei prazer em contestá-la!

SKINNER: - (PASMO) Agente Scully, você está bem?

SCULLY: - Estou ótima, senhor! Melhor do que nunca! (ARREGAÇA AS MANGAS) Posso ter perdido a batalha, mas não a guerra!

Scully aproxima-se da porta. Pára. Vira-se pra Skinner.

SCULLY: - Ah, esqueci de dizer que se ela se atravessar no meu caminho, vou perder minha compostura! Vou me esquecer que sou uma lady! Vai conhecer o meu lado Mulder, Skinner. E da pior maneira!

Scully sai batendo a porta. Skinner suspira. Scully passa pelo corredor. Um agente debocha.

AGENTE: - Olha só, a Estranha Scully!

Scully vira-se pra eles. Faz um gesto obsceno com o dedo médio. Sai pela porta que dá acesso às escadas.


Bow Bowling – 7:37 P.M.

[Som: Natalie Imbruglia – Torn]

Scully sentada à mesa, ao lado de Byers, bebendo cerveja. Nervosa, irritada, a ponto de sair atirando em todo mundo. Byers olha assustado pra Scully, que começa a se embalar com a música, pensamento longe. Langly e Frohike, na frente da pista de boliche, discutem quem fez mais pontos. Byers, naquela calma tradicional, tenta ser amigo.

BYERS: - Está se sentindo bem, Scully?

SCULLY: - (IRRITADA) Não. Pra dizer a verdade queria descarregar minha arma na cabeça de alguém!

BYERS: - Você não é uma pessoa violenta.

SCULLY: - Não acredite nisso!

BYERS: - ... Pode contar com a minha ajuda se precisar.

SCULLY: - Agradeço, Byers, mas preciso resolver meus problemas sozinha. Se aquele retardado não tivesse feito besteira, tudo estaria bem.

Scully esmurra a mesa. Byers recua o corpo assustado.

SCULLY: - Aquele imbecil! O Mulder só estraga a minha vida! Na hora em que precisa, lá está a boba ajudando. Onde está quando preciso dele? Se divertindo por aí, com sua irmãzinha! “Mostrando a vida normal das pessoas”. Imbecil, idiota. Não perdôo! Não vou perdoá-lo por isso, Byers.

BYERS: - Acho que o Mulder deveria ter levado a irmã pra algum lugar seguro. Não deveria ficar, deveria voltar e se defender das acusações.

SCULLY: - Sabe o que gosto em você, Byers?

BYERS: - ...

SCULLY: - Sua racionalidade. Você é um homem sensato. Mas o Mulder não. Ele acha que ficando ao lado da Samantha, nada de mal vai acontecer com ela.

BYERS: - Scully, o problema do Mulder é que ele acha que é um super-herói. Que pode proteger todo mundo, que tem o corpo fechado, que nada vai lhe acontecer...

SCULLY: - Não, Byers. O ego dele é maior que isso. Ele pensa que é Jesus Cristo! Mas se acha que vou ficar por aqui, como uma Maria Madalena, chorando por ele, está muito enganado. Quem vai viver sou eu! E se voltar, eu juro, vai ser crucificado! Por mim mesma!

Scully levanta-se.

SCULLY: - Quando aqueles dois pararem de brigar, diga a eles que deixei lembranças.

Scully sai. Langly e Frohike continuam brigando. Byers a acompanha com os olhos.


Apartamento de Mulder – 8:34 P.M.

Scully entra. Acende as luzes e fecha a porta. Atira-se no sofá.

SCULLY (OFF): - Parece que tomei a vida dele, como se aos poucos estivesse me transformando nele, tentando assim, mantê-lo por perto... Estou agindo com ironia, saio com os amigos dele para o boliche, chamo meu chefe pelo nome e grito com quem eu quero... Esta não sou eu. Me tornei Mulder e aos poucos, as pessoas percebem o meu desespero... As lembranças ainda estão vivas, e embora pareça que ele tenha ido há muitos anos, olho para o calendário na minha agenda e percebo que há três semanas não o vejo.

Scully suspira. Aconchega-se no sofá.

SCULLY (OFF): - Sinto cada vez mais a necessidade de tê-lo. A necessidade de vê-lo entrar por aquela porta, pedindo proteção e carinho, com aquelas esquisitices, aquelas neuroses, as sementes de girassol e a maldita ironia... Isso o torna tão diferente, tão especial... Não, hoje eu não vou chorar. Estou cansada de fazer isso. O coração vai ter que suportar a perda. Mesmo que seja muito dolorosa, o tempo se encarregará de apagar. Minha raiva me impede de derrubar uma só lágrima. Posso estar sendo egoísta, até entendo os motivos por que ele fez isso, mas... dói. Dói ficar sem ele.

Scully levanta-se. Vai para o quarto. Procura um CD entre os que estão ali.

[Som: The Cover Girls – Wishing on a Star ]

Scully tira os sapatos e deita-se na cama. Abraça o travesseiro de Mulder.

SCULLY (OFF): - Ainda sinto o cheiro dele e acredito que ficar aqui, alivia mais a minha dor. Fico com raiva por ter sido trocada. Isso é o que sinto, que fui deixada para trás como a segunda opção. Mas depois que me acalmo, reflito e vejo que eu nunca fui a segunda opção de Mulder. Ele fez tanto por mim, me ajudou a ser uma pessoa melhor, me salvou da morte. Tenho certeza de que é amor o que temos. Talvez os últimos acontecimentos em sua vida o levaram a isso. Mulder está perturbado demais para entender o significado das coisas. Ele ainda acredita que só chegou até aqui porque precisava encontrar a irmã. Mas quando ele perceber que sua vida está no trabalho que escolheu, verá que não pode desistir. Vai sentir por ter perdido tudo e vai voltar.

Scully vira-se novamente, não consegue dormir.

SCULLY (OFF): - Ele vai voltar. Sei que voltará também por mim, mas prefiro que acredite que voltou pelo trabalho. Ele precisa de auto afirmação. Precisa confiar em si mesmo... Preciso dele. Sinto a falta dele. Cada vez mais percebo que o amo.

Scully começa a chorar.


Arquivos X – 7:31 A.M.

Scully entra na sala. Olha pra placa com o nome de Diana Fowley sobre a mesa. Pega a placa e atira no lixo. O telefone toca. Scully atende.

SCULLY: - Scully?

MARGRIT (OFF): - É do FBI, departamento de Arquivos X?

SCULLY: - Sim, aqui é a agente Scully. Posso ajudar?

MARGRIT (OFF): - Graças à Deus, vocês existem mesmo!

SCULLY: - ???

MARGRIT (OFF): - Meu nome é Margrit. Margrit Drago. Desculpe ligar tão cedo, mas preciso urgentemente de sua ajuda.

SCULLY: - Está com problemas, senhora Drago?

MARGRIT (OFF): - Sim, estou. Não gostaria de falar ao telefone, poderia marcar um horário para me ouvir?

SCULLY: - Se me adiantar alguma coisa...

MARGRIT (OFF): - Alguém da minha família vai ser assassinado.

SCULLY: - Comunicou à polícia?

MARGRIT (OFF): - Não, agente Scully. A polícia não resolve nada. Todo o ano, no dia 26 de fevereiro, minha família reúne-se. E há seis anos alguém de nossa família é assassinado nesse dia.

SCULLY: - Senhora, talvez não esteja falando com a pessoa certa aqui dentro...

MARGRIT (OFF): - (NERVOSA) Estou sim, agente Scully. O assassino é um fantasma. Ele retira o coração da vítima. E deixa pegadas de cavalo. Sei que parece um absurdo, eu sou uma pessoa sensata. Mas não sei mais no quê acreditar!

SCULLY: - ??? Onde mora, senhora Drago?

MARGRIT (OFF): - Em Jackson, Tenessee. Estou desesperada, agente Scully. Por favor, precisa me ajudar!


8:03 A.M.

Scully entra na sala. Diana está mexendo nos arquivos. Scully atira uma pasta sobre a mesa. Diana olha pra ela.

SCULLY: - Temos um caso pra investigar no Tenessee.

Diana cruza os braços, encarando-a.

SCULLY: - Há seis anos, todo o dia 26 de fevereiro, a família Drago encontra um parente morto.

DIANA: - O que tem no dia 26?

SCULLY: - Eles costumam reunir-se, mantendo uma tradição de família. No lugar do assassinato, pegadas de cavalo. A vítima tem o coração extraído.

DIANA: - Onde está o bizarro disso?

SCULLY: - É por isso que colocaram o “ i “ no FBI, ‘querida’!

Scully sai da sala. Diana fica furiosa.


Residência dos Drago – Jackson – Tenessee - 4:37 P.M.

Scully para o carro na frente dos portões. Diana está no banco do carona, irritada. Scully põe a mão pela janela do carro, acionando um botão no painel do interfone.

MORDOMO: - Sim?

SCULLY: - FBI, agentes Scully e... Fowley. A senhora Drago nos espera.

MORDOMO: - Identifiquem-se por favor.

Scully pega sua credencial e mostra para a câmera sobre o painel. Os portões abrem-se. Scully dirige o carro, entrando pelo enorme jardim, com árvores. Uma estrada de pedras leva-as até um castelo medieval.


BLOCO 2:

Scully estaciona na frente das escadas da entrada do castelo. Desce. Diana a acompanha. Sobem as escadas. O mordomo abre a porta. Tem sotaque e polidez britânicos.

MORDOMO: - Boa tarde. A senhora Drago as aguarda. Queiram me acompanhar, por favor.

As duas entram. O mordomo fecha a porta. O castelo, de pedra, todo decorado em estilo medieval, com o brasão da família na parede, espadas, armaduras, escudos. O mordomo caminha em direção à uma porta. Scully e Diana se olham, perplexas. O mordomo abre a porta.

MORDOMO: - Por favor, senhoras.

As duas entram na sala, o mordomo fecha a porta. A senhora Drago está olhando pela janela. Vira-se pra elas. Está chorando, segurando um lenço nas mãos. É uma mulher de uns 60 anos, elegante, refinada e muito educada.

MARGRIT: - Desculpem pelo estado em que me encontro. Mas estou aflita.

Scully estende a mão.

SCULLY: - Sou a agente Dana Scully e esta é a agente Diana Fowley.

Margrit as cumprimenta.

MARGRIT: - Sentem-se, por favor. Pedi que Sebastian preparasse um chá.

DIANA: - Senhora Drago...

MARGRIT: - Oh, por favor, querida. Pode me chamar de Margrit.

DIANA: - (SORRI) Margrit, pode nos contar em detalhes o que contou por telefone à agente Scully?

MARGRIT: - Minha família tem raízes britânicas. Cumprimos, há várias gerações, a tradicional reunião dos Drago. Por questões de negócios, não podemos nos afastar daqui e ir até a Inglaterra, passar o dia 26 com nossos parentes. Então, os que estão na América reúnem-se aqui em minha casa.

SCULLY: - Por que no dia 26?

MARGRIT: - Porque foi o dia em que nossos ancestrais venceram uma guerra entre clãs inimigos. Queriam tomar nosso território.

Scully observa a sala. Observa a mulher.

MARGRIT: - Como percebe, somos uma família muito antiga. O dia 26 de fevereiro representa nossa vitória. Poderíamos não mais estar aqui se nossos ancestrais tivessem perdido a guerra. Celebramos nossa vida nesse dia e a nossa união.

O mordomo abre a porta, empurrando um carrinho com xícaras, guardanapos, bule de porcelana e algumas guloseimas.

MORDOMO: - Com sua licença...

O mordomo encosta o carrinho perto do sofá. Serve o chá nas xícaras.

MORDOMO: - Mais alguma coisa, senhora?

MARGRIT: - Não, obrigado Sebastian.

O mordomo sai, fechando a porta. Margrit pega uma das xícaras. Nervosa.

MARGRIT: - Há seis anos, após nossa reunião, um dos nossos familiares desaparece. O encontramos morto no jardim, com um corte no coração. Ao lado, marcas de cavalo.

DIANA: - Nunca comunicou à polícia?

MARGRIT: - Eles não dão ouvidos até que encontrem um corpo. Todo o ano é a mesma coisa. Já perdi meu pai, um irmão, sobrinha, cunhado... Meu marido... A polícia só aparece depois que alguém está morto.

SCULLY: - O que lhes disseram?

MARGRIT: - Que o coração havia sido retirado por um instrumento cortante. Seguiram as marcas deixadas. Elas somem, misteriosamente.

SCULLY: - A senhora me disse por telefone que acreditava ser um fantasma.

MARGRIT: - Eu não tenho outra explicação! Viu por si mesma, isto aqui é um forte! Tenho alarmes, câmeras, seguranças por todos os lados. Ninguém entra aqui sem ser visto. Como explicaria a necessidade de retirar o coração? E as marcas das patas de um cavalo? Temos um estábulo aqui, mas os cavalos ficam presos e há um senhor que toma conta deles a noite toda. Ele não viu nada, nenhum cavalo saiu de lá.

DIANA: - A senhora acredita que se trate de quê?

MARGRIT: - Conhecem a lenda do Cavaleiro sem Cabeça? Eu já não sei mais no que acreditar!

Scully abaixa a cabeça, disfarçando o riso. Diana está atenta.

SCULLY: - Sua família tem algum inimigo? Negócios, dinheiro...

MARGRIT: - Não, não temos inimigos. Meus dois filhos controlam os negócios da família. Meu marido faleceu ano passado. Foi a sexta vítima.

DIANA: - Que tipo de negócios vocês mantêm?

MARGRIT: - Trabalhamos com Petróleo e derivados. As instalações ficam no Texas. Mantemos o controle da organização por aqui.

Scully levanta-se.

SCULLY: - Senhora Drago, preciso de uma lista com os nomes de todas as pessoas que trabalham e frequentam esta casa. Nomes de possíveis pessoas que possam querer alguma vingança.

MARGRIT: - Sim, eu providenciarei isto.

Diana levanta-se. Margrit também.

MARGRIT: - Vocês já se registraram em algum hotel?

DIANA: - Ainda não.

MARGRIT: - Gostaria que fossem minhas convidadas.

SCULLY: - Não podemos aceitar.

MARGRIT: - Por favor, aceitem. Me sentiria mais segura com vocês duas aqui dentro. Afinal, daqui à dois dias será nossa reunião. E eu queria evitar outra perda. Por favor.

Scully e Diana se olham. Margrit pede com os olhos.

SCULLY: - Está certo, Margrit. Ficaremos.

MARGRIT: - (SORRI) Vou pedir ao Sebastian que prepare seus quartos e pegue suas malas. Sintam-se em casa, por favor. Mostrarei o castelo para vocês. Se precisarem de algo peçam ao Sebastian que ele providenciará com urgência.


10:05 P.M.

Scully abre a porta de seu quarto. Diana entra.

DIANA: - Hum, você também tem daquelas camas com cortinas...

SCULLY: - Me sinto muito mal nesse lugar.

DIANA: - Medo de assombrações?

SCULLY: - Não. Muito “frufru” pro meu gosto.

Diana senta-se numa poltrona de veludo.

DIANA: - Conversei com os empregados. Confirmam a história dela.

SCULLY: - Verifiquei a lista. Nenhuma das pessoas têm registro na polícia.

DIANA: - Acredita em maldições?

SCULLY: - Maldições? Ora, não está pensando que o fantasma do Cavaleiro sem Cabeça está por trás disso! Daqui à pouco vai me dizer que há um centauro perseguindo a família dela!

DIANA: - Como explica isso?

SCULLY: - Vingança. Há alguém querendo vingar-se deles. Faz o crime parecer um ato sobrenatural, porque é uma família tradicional e eles têm certas culturas e mitos.

DIANA: - Não acredito que você seja tão burra assim.

SCULLY: - ?

DIANA: - Pobre Fox! Como conseguiu ficar ouvindo tantas bobagens durante todos esses anos?

SCULLY: - Quer sair do meu quarto, por favor? Preciso dormir. Sua presença aqui é maligna. É só nesse tipo de assombração que acredito!

Diana levanta-se.

DIANA: - Está me chamando de quê?

SCULLY: - Assombração! Você assombra a minha vida! Não pense que vai se tornar a dona do campinho agora.

DIANA: - Isso vai para o meu relatório, agente Scully.

Diana abre a porta.

SCULLY: - Pois saiba que sua teoria sobre o Cavaleiro sem Cabeça também vai pro meu relatório, agente Fowley.

Diana sai. Scully senta-se na cama.

SCULLY: - Cavaleiro sem Cabeça... Ahn! Era só o que me faltava! (DEBOCHADA) Os estúdios Fox Mulder apresentam: O cavaleiro sem cabeça ataca no Tenessee. Estrelando Diana Fowley, a mula sem cabeça. Muita ação, aventura, mistério e pornochanchada. Dublado e legendado. Patrocínio: Cigarros Fumacinha. Venha para o mundo do Fumacinha!!!!

Scully deita-se. Suspira.

SCULLY: - O que fiz pra merecer isso?


2:47 A.M.

Scully levanta-se. Escuta passos no corredor. Pega sua arma. Abre a porta.

Penumbra total no imenso corredor.

Scully caminha, segurando a arma ao lado do corpo. Vê um vulto descendo as escadas. Scully o segue, silenciosamente, descendo as escadas de tapete vermelho.

O vulto entra na cozinha. Scully vai atrás dele. A luz da cozinha acende-se. Scully entra e mira a arma no homem que está abrindo a geladeira.

SCULLY: - (GRITA) Coloque suas mãos aonde possa vê-las!

O homem levanta as mãos.

SCULLY: - Vire-se lentamente.

Christopher vira-se com as mãos erguidas. É um homem alto, moreno, olhos claros. Bem vestido, de terno e gravata. Chris olha debochado pra Scully.

SCULLY: - Quem é você?

CHRIS: - (SORRI) Ia fazer a mesma pergunta.

SCULLY: - (IRRITADA) Eu faço as perguntas por aqui! Quem é você?

CHRIS: - Sou o dono da casa. E você, quem é?

Scully abaixa a arma. Fica corada de vergonha.

CHRIS: - Posso? (MOVE OS BRAÇOS QUE AINDA ESTÃO PRA CIMA)

Scully continua envergonhada. Chris fecha a geladeira sorrindo.

CHRIS: - Deve ser uma das agentes do FBI, que mamãe chamou.

Chris aproxima-se de Scully. Estende sua mão. Scully ergue a cabeça, constrangida.

CHRIS: - Christopher. Mas pode me chamar de Chris.

SCULLY: - S-s-Scully. Dana Scully.

CHRIS: - Muito prazer, Dana.

Scully aperta a mão dele, ainda envergonhada.

CHRIS: - Perdi o jantar. Não quer fazer um lanche comigo?

SCULLY: - Não, muito obrigado...

Chris volta pra geladeira.

CHRIS: - Posso abrir a geladeira agora?

SCULLY: - (SORRI TÍMIDA)

CHRIS: - Quer um refrigerante?

SCULLY: - Aceito.

CHRIS: - Diet ou normal? (BATE NA TESTA) Que pergunta a minha! Você não me parece alguém que precise de qualquer coisa diet.

Scully sorri tímida.


3:31 A.M.

Scully e Chris conversam, sentados à mesa, bebendo refrigerante. Chris pega uma cigarreira do bolso. Oferece cigarros para Scully.

CHRIS: - Aceita?

SCULLY: - Não, obrigado. Não quero me acostumar.

Chris tira um cigarro, guarda a cigarreira. Acende o cigarro e traga-o, com muito charme, guardando o isqueiro no bolso.

CHRIS: - Então, Dana, está acreditando nas maluquices da mamãe?

SCULLY: - Pra dizer a verdade, sei que há alguma coisa por aqui, mas não é sobrenatural.

CHRIS: - Fico feliz em saber que existe alguém a mais por aqui, com sã consciência.

SCULLY: - O que acha disso tudo?

CHRIS: - Dos crimes? Pra dizer a verdade, acho que um assassino doente está tentando omitir sua culpa debaixo de mitos e assombrações. As pessoas acreditam nessas coisas. Mitos geram medo, e medo é uma forma boa de manipulação da mente.

Scully sorri.

CHRIS: - Sei que você trabalha num departamento nada racional. Só não consigo entender.

SCULLY: - Como sabe disso?

CHRIS: - Descobri você através da Internet. Digamos que eu gosto de passar o dia navegando em “mares” desconhecidos. Minha mãe ficou doente, não sabia mais a quem recorrer. Então descobri que o FBI tinha interesse em paranormalidade.

SCULLY: - ... Faz o quê?

CHRIS: - Isso é uma pergunta difícil. Na teoria, eu gerencio os negócios da família. Na prática, eu passo o dia num computador, jogando, conversando, lendo... Há homens que se preocupam por mim, eu não preciso fazer nada. Pago eles pra isso.

SCULLY: - ...

CHRIS: - É uma vida à toa, sabia?

SCULLY: - Por que me diz isso?

CHRIS: - Porque me sinto um nada. Sabe o que são conquistas, Dana? Trabalhar duro para ter um carro? Eu não sei. Pra ter um carro basta estalar os dedos... Quando chego tarde é a única hora em que posso fazer um sanduíche, com minhas próprias mãos. É um prazer imensurável fazer isso. Como é um prazer inigualável dar o nó na própria gravata. E isso só acontece se me acordo antes de Sebastian.

SCULLY: - Por que não vai embora?

CHRIS: - Família, Dana. Sou o filho mais novo. Meu irmão está casado, morando no Texas e pouco ligando, desde que receba o dinheiro no final do mês. E quem visitaria a mamãe? Ele não liga muito pra ela.

SCULLY: - ...

CHRIS: - Às vezes tenho vontade de pegar um carro e fugir. Mas o que faria? Eu não sei fazer nada, a não ser administrar negócios. Gostaria de ser um mecânico, sujo, engraxado...

Scully sorri.

CHRIS: - Sério. Sinto falta de emoções.

SCULLY: - Você é um playboy.

CHRIS: - Não, não sou. Se pensa que sou solteiro, está enganada.

SCULLY: - É casado então?

CHRIS: - Até o final do mês, quando minha esposa assinará os papéis do divórcio.

SCULLY: - E seus filhos?

CHRIS: - Ficarão com ela. A casa, os carros e a conta bancária. Por isso voltei pra essa casa. Preciso de conforto espiritual.

SCULLY: - A amava?

CHRIS: - A amo.

SCULLY: - Sinto muito.

CHRIS: - Não, não sinta. Só os burros se apaixonam pela pessoa errada.

SCULLY: - ... Concordo.

CHRIS: - Está se divorciando?

SCULLY: - Não, nunca fui casada. Mas perdi alguém de quem gostava muito.

CHRIS: - Aposto que ele e você não combinam em nada. A não ser quando estão na cama.

SCULLY: - ... Sabe que não pensei nisso antes?

CHRIS: - É assim que as coisas funcionam. É assim comigo, foi assim com outros... É a regra.

Scully fica olhando pro nada, pensando no que ele dissera.

SCULLY: - Você tem razão. A vida é mais do que isso.

CHRIS: - Minha esposa costumava sair, gostava de festas, viagens exóticas. Eu sempre fui mais quieto. Brigávamos por tudo. Só não brigávamos quando estávamos juntos.

Scully levanta-se.

SCULLY: - Acho que estava enganada. Confundi paixão e desejo com alguma coisa mais forte.

Scully sai. Chris abaixa a cabeça. Fica triste, pensativo.


9:33 A.M.

Diana anda pelos jardins, ao lado de Margrit. Scully as observa pela janela.

SCULLY: - Como vou trabalhar com essa mulher, se não consigo nem olhar pra cara dela?

Scully pega as chaves do carro. Abre a porta do quarto. Desce as escadas. O mordomo está ao telefone.

MORDOMO: - Sim, senhor. Ela está aqui. Um momento.

O mordomo vira-se pra Scully que está indo em direção à porta.

MORDOMO: - Senhorita, o Senhor Christopher gostaria de lhe falar.

Scully estranha, mas atende o telefone.

SCULLY: - Sou eu.

CHRIS (OFF): - Dana, estive pensando no que falamos ontem... a respeito dos crimes. Acho que tenho algo interessante pra te dizer.

SCULLY: - E o que é?

CHRIS (OFF): - Meu motorista te pegará às 11:34 em ponto. Vamos almoçar juntos.

Christopher desliga. Scully segura um sorriso. O mordomo a observa. Scully olha pra ele e caminha em direção à porta. O mordomo corre na frente dela e abre a porta.

SCULLY: - Ora, Sebastian, dispense essas formalidades. Não estou acostumada com isso.

MORDOMO: - É meu emprego, senhorita. Preciso fazer isso... Não gostaria de tomar seu café da manhã?

SCULLY: - Não, não estou com fome. Obrigado.

Scully sai. O mordomo fecha a porta.


Restaurante Majestik - 11:49 A.M.

Scully, num tailleur e saltos bem altos, entra no restaurante finérrimo. Observa os lustres de cristais, as mesas com flores naturais e toalhas de linho. O maitre aproxima-se, inclinando a cabeça num gesto de educação.

MAITRE: - Senhorita Scully?

SCULLY: - Sim.

MAITRE: - (ESTENDENDO O BRAÇO EM DIREÇÃO AO RESTAURANTE) Me acompanhe, por favor.

O maitre a acompanha até um local mais reservado do restaurante, onde Christopher está sentado à mesa, bebendo um uísque. Christopher levanta-se e puxa a cadeira pra ela. Scully senta-se.

SCULLY: - Obrigada.

Um garçom aproxima-se.

GARÇOM: - Deseja alguma coisa, senhorita?

SCULLY: - Não, obrigado.

O garçom afasta-se. Christopher olha pra Scully.

CHRIS: - Está muito bonita.

SCULLY: - Espero que isto não seja pretexto pra um encontro.

CHRIS: - Não gosto de pretextos.

SCULLY: - ... Me desculpe. Acho que “alguém” em minha vida acabou jogando influências egocêntricas em mim...

CHRIS: - Não se desculpe. É uma mulher atraente. Ainda bem que sabe disso.

SCULLY: - O que queria me contar?

CHRIS: - Só contarei se abrir o menu e pedir alguma coisa.

SCULLY: - (SORRI) Tem certeza de que não é um pretexto?

CHRIS: - (SE FAZENDO DE SÉRIO) Hum... Deixe-me pensar...

Chris coloca a mão no rosto, num gesto debochado de quem está pensando. Scully sorri.


12:29 P.M.

Chris e Scully estão almoçando. Ele serve mais vinho pra ela.

SCULLY: - Eu não entendi.

CHRIS: - Tudo bem, acho que sintetizei demais o assunto. Meu pai, há oito anos atrás, demitiu Henry, um dos empregados da casa.

SCULLY: - Qual o motivo?

CHRIS: - Henry colocou o capacho da porta com o “welcome” de cabeça para baixo. Sei o que vai dizer e concordo plenamente. Mas meu pai era assim. (IMITANDO A VOZ DO PAI, ARRASTADA E ROUCA) “Detalhes são importantes, Christopher. Se não fossem, a Scotland Yard nunca pegaria um criminoso!”

Scully sorri. Chris sorri pra ela.

CHRIS: - Confesso que fiquei arrasado porque Henry era como um pai pra mim. Era o motorista, me levava à escola desde que eu era criança, ao parque... Henry jogava comigo. Meu pai nunca fez isso.

SCULLY: - E acha que Henry faria algo contra sua família?

CHRIS: - Não. Henry morreu há seis anos... Me desculpe. Isso não é assunto pro almoço...

SCULLY: - Não, está tudo bem. Sou médica legista.

CHRIS: - (SORRINDO) Sério? Ah, então isso é só a entrada.

SCULLY: - Tudo bem, pode servir o prato principal.

CHRIS: - (CULPADO) Henry morreu. Descobri isso quando seu filho veio até meu escritório. Ainda lembro-me de ter perguntado: por que não me avisou antes?... Eu o teria ajudado.

SCULLY: - ... Qual a causa da morte?

CHRIS: - Ele não quis dizer. Mas estava com muita raiva. Ameaçou minha família. Disse que pagaríamos pela morte de seu pai. E que nenhum dinheiro no mundo resolveria nada.

SCULLY: - Acha então que ele...

CHRIS: - Pode ser. Essas coisas vieram à minha cabeça ontem à noite. Pelo menos terá alguma coisa a mais do que o Cavaleiro sem Cabeça da mamãe... Pobre mamãe...

SCULLY: - Sabe o nome desse rapaz, filho do Henry?

Chris coloca a mão no bolso do paletó. Tira um papel que põe sobre a mesa. Empurra-o até a mão de Scully. Permanece com a mão sobre o papel.

CHRIS: - Nome e endereço.

Scully põe a mão sobre o papel. Os dois tocam as mãos. Olham-se. Chris retira sua mão.

CHRIS: - Bem, espero que isso possa ajudá-la nas investigações. Amanhã haverá uma grande movimentação naquela casa. Contratei seguranças, como sempre. Mas nunca resolvem.

SCULLY: - Vou resolver o enigma pra você.

CHRIS: - Quem é a sua parceira? A magrela esquisita?

SCULLY: - Não é minha parceira. É uma intrusa.

CHRIS: - (DEBOCHADO) Nossa, ‘estamos tão furiosos assim’?

SCULLY: - (SORRI)

CHRIS: - E então?

SCULLY: - Ela foi namorada do... Bem...

CHRIS: - Entendi... Ela foi namorado do seu ‘ex’?

SCULLY: - É.

CHRIS: - (SORRI) A ‘ex’ do ‘ex’?

SCULLY: - (SORRI) É uma longa história.

Chris olha pro relógio.

CHRIS: - (DEBOCHADO) Bem, tenho um bate papo na internet à uma, um capítulo de livro às duas, um jogo de golfe às três, pôquer às oito... Acho que dá tempo. São compromissos tão importantes, você deve entender que não posso faltar...

Scully começa a rir. Então se dá conta do ambiente e leva a mão aos lábios.

SCULLY: - Me desculpe...

CHRIS: - Desculpar você por rir? Você tem uma risada gostosa. Contagia. Deveria se soltar e rir mais vezes.

Scully fica constrangida. Chris perde os olhos nela.


BLOCO 3:

Residência dos Drago - 2:47 P.M.

Diana e Scully caminham pelo jardim. Param junto à uma árvore, à beira de um lago.

DIANA: - Aqui foi encontrado o corpo da última vítima.

SCULLY: - Acho que temos um suspeito.

DIANA: - Provavelmente. Mas ainda defendo que há algo além disso por aqui, Scully.

SCULLY: - ... A ficha de Leonard Sackheim, filho de Henry Sackheim, é extensa. Porte de arma, assalto à mão armada... Ele sofre de perturbações mentais. É agressivo. Precisamos vigiá-lo, pedi auxílio ao FBI. Vão colocar dois agentes atrás dele.

DIANA: - Como ele poderia entrar e matar alguém sem ninguém notar sua presença?

SCULLY: - Não podemos conseguir um mandado, ele não tem feito nada nos últimos anos. Nem temos provas contra ele.

Scully olha pro outro lado do lago. Vê um estábulo.

DIANA: - Já conversei com o empregado do estábulo. Não viu nada.

SCULLY: - Por que alguém se daria ao trabalho de encenar tudo isso?

DIANA: - Porque talvez não seja encenação.

SCULLY: - Você não acredita mesmo nessa história, acredita?

Diana a encara.

DIANA: - Agente Scully, certas coisas não têm explicação. Tantos anos nos Arquivos X e nunca percebeu isso?

Diana senta-se no chão. Olha pro lago. Scully olha pra ela, irritada.

DIANA: - Confesso, isso aqui é muito pomposo, embora seja um lugar adorável. Parece que caímos num túnel do tempo.

SCULLY: - ... (DESCONFIADA)

DIANA: - Precisamos montar um plano para vigiar a família amanhã à noite.

Scully senta-se ao lado dela. Pega uma pedra e rabisca no chão.

SCULLY: - Eles têm sistemas de vídeo. Acho que com o auxílio da polícia, poderemos evitar mais um assassinato. Não creio que devam deixar seguranças por aqui. Alguém pode se infiltrar...

DIANA: - O que está fazendo?

Scully atira a pedra na água.

SCULLY: - Nada.

DIANA: - Como vai sair dessa?

SCULLY: - Do que está falando?

DIANA: - Do Fox. Você o ajudou a fugir.

SCULLY: - Não podem dizer que nunca trabalhamos juntos.

DIANA: - Você é apaixonada por ele. Está escrito na sua testa.

SCULLY: - Você está vendo coisas onde não existem.

DIANA: - Eu sei que vocês estão tendo um caso.

SCULLY: - Seu amiguinho andou confidenciando?

DIANA: - ... Sabe das normas do Bureau, Scully. Quando descobrirem, vão separar vocês.

SCULLY: - (NERVOSA) Por que está tão preocupada? Isso é mais uma mentira! Eu não tenho nada com o Mulder.

DIANA: - Sei que não confia em mim.

SCULLY: - E tenho motivos, não acha?

DIANA: - ... Tenho pena de você. Não do Fox.

Scully levanta-se irritada.

SCULLY: - Pena de mim? Quem pensa que é pra ter pena de mim?

DIANA: - ... Eu vivi com Fox por algum tempo, fui mulher dele. Por isso entendo o que está sentindo.

SCULLY: - (RI) Ah, eu não acredito! Tentando ser minha amiga agora? Você não me conhece, não sabe nada de mim!

DIANA: - Mas conheço o Fox. Ele te deixou e isso está te torturando. Avisei você pra ficar longe dele, não quis me dar ouvidos.

SCULLY: - Poupe sua piedade, querida.

DIANA: - Me diga se estou errada: Ele é uma criança crescida, que quer atenção e, na maioria das vezes, esquece até mesmo que é um homem.

SCULLY: - ...

DIANA: - Algumas vezes te traz uma rosa, um café na cama. Ele sabe ser romântico, mas não é hábito. Está mais preocupado pensando em suas próprias culpas do que... em quem está ao seu lado.

Scully sente-se frágil. Fica calada, segurando o choro. Diana não olha pra ela.

DIANA: - Você então passa as noites ouvindo as neuroses dele, satisfazendo as necessidades dele, seu mundo é ele, mas ele nem sabe de seu mundo. Ele nem sabe que você quer carinho, ele não tem tempo pra ver isso. Só vê a causa dele. Tira você de madrugada da cama em busca de alienígenas. Nada sacrifica. Só quer ganhar.

SCULLY: - ...

DIANA: - Por que acha que não deu certo o nosso relacionamento?

SCULLY: - ...

DIANA: - Porque eu tinha um filho, não um companheiro. Eu cuidava dele, mas e quem cuidava de mim?

Scully senta-se na grama, olhando pra ela. Diana olha pra Scully.

SCULLY: - Se foi tão ruim assim por que o quer de volta?

DIANA: - De onde tirou isso? Eu não o quero de volta. Gosto do Fox, mas não como você imagina.

SCULLY: - ...

DIANA: - Uma noite, duas, três... Mas nunca ‘pra sempre’. Não vou mentir que sinto uma atração muito forte por ele. Fox é um homem incrível na cama, ele sabe onde tocar, como fazer uma mulher chegar longe... Mas é pele, só isso. Eu transaria com ele todas as noites da minha vida. Mas nunca acordaria do seu lado.

Diana levanta-se.

DIANA: - Eu sei, também me atraí por isso. Por aquele olhar carente, por um justiceiro, um sonhador. O Fox é uma pessoa que cativa. Quando você o conhece, parece que ele é o cara mais arrogante e chato da face da terra. É a primeira impressão. Com o tempo, descobre que ele é a pessoa mais sincera, tímida, doce e fiel do mundo. Mas um dia, você vai entender o que estou dizendo. Vai cansar de proteger. Vai cansar de desistir de você. Porque homens maravilhosos demais custam um preço muito alto. No meu caso foi a minha alma.

Diana sai dali. Scully fica olhando pro nada, pensando nas palavras dela.


5:21 P.M

O mordomo abre a porta. Christopher entra.

CHRIS: - Sebastian, providenciou os quartos para a família?

MORDOMO: - Estão prontos, senhor.

CHRIS: - Ótimo. Tio John ligou e disse que chegará esta noite. Peça à Ellen que faça uma sopa. Sabe que tio John nunca dorme sem comer uma sopa.

MORDOMO: - Perfeitamente, senhor.

Chris sobe as escadas. Pára. Vira-se.

CHRIS: - Sebastian, algum recado da Annie?

MORDOMO: - Sinto, senhor. Mas o advogado dela ligou e pediu que fosse até o escritório assinar os papéis.

CHRIS: - Ela já assinou?

MORDOMO: - Sim, senhor.

CHRIS: - Aposto que estava com muita pressa. E meus filhos, não ligaram?

MORDOMO: - Não, senhor.

Chris sobe as escadas, triste.

[Corte]

Chris em seu escritório, tocando piano. Cabisbaixo, triste. Scully aproxima-se da porta.

SCULLY: - (SORRINDO/ ACENA) Oi!

Chris ergue a cabeça. Pára de tocar. Sorri.

CHRIS: - Dana! Como foi o seu dia?

SCULLY: - Pensei que estivesse jogando golfe. Não pare por mim.

Chris sai do piano. Serve um uísque. Senta-se à escrivaninha.

CHRIS: - Não, não tenho saúde mental pra falar de negócios com um bando de velhos enquanto uma bola branca serve como mediadora de quem vai ganhar quanto.

Scully aproxima-se. Senta-se à frente da mesa dele. Olha pro escritório.

SCULLY: - Bonito. Aconchegante.

CHRIS: - Quer uma bebida?

SCULLY: - Não, obrigado. Estou de serviço.

CHRIS: - E fica de serviço o tempo todo?

SCULLY: - (SORRI) Por que não continua tocando?

CHRIS: - ... Estava só passando o tempo. Agora tenho companhia.

SCULLY: - Parece transtornado.

CHRIS: - Digamos que o inevitável aconteceu. Ainda esperava que ela voltasse atrás, mas... assinou os papéis hoje à tarde.

SCULLY: - Sinto muito.

CHRIS: - E você?

SCULLY: - Estou melhor. Ouvi algumas coisas da agente Fowley que me fizeram pensar.

CHRIS: - ... Sem querer me intrometer, já me intrometendo... Coisas como o quê? ... Se não estou sendo indelicado invadindo sua privacidade.

SCULLY: - Coisas. Sobre o relacionamento dela com o Mulder.

CHRIS: - Ah, esse é o nome do “ex”!

SCULLY: - ... Percebi que ela tem razão.

CHRIS: - Por acaso ela disse que tudo foi horrível e que nunca mais desejaria ficar com ele novamente, a não ser por uma noite?

SCULLY: - (INCRÉDULA) Como sabe disso?

CHRIS: - (MORDE OS LÁBIOS) Dana, posso ser seu amigo?

SCULLY: - Já o considero um.

CHRIS: - (RECLINA-SE NA CADEIRA/ BRINCANDO COM AS MÃOS) Não dê ouvidos. As mulheres traem umas às outras.

SCULLY: - (ATENTA/ CRUZA AS PERNAS) ...

CHRIS: - Desculpe dizer isso à você, mas... (SORRI SEM GRAÇA) Como posso dizer isso de maneira delicada para uma dama...

SCULLY: - ...

CHRIS: - Bem, como todo o homem, costumo olhar para as mulheres... E todo o homem tem um instinto aguçado, embora na maioria das vezes ele troque seu instinto, mesmo sabendo que vai se dar mal, por um belo par de pernas... Quando vi você pela primeira vez, evitando que eu cometesse o crime terrível de assaltar a geladeira...

SCULLY: - (SORRI) ...

CHRIS: - O meu instinto de homem disse: ela é uma dama, uma lady. Quando coloquei os olhos em sua parceira... Não tive a mesma impressão, meu instinto já disse o tipo de mulher que ela é, uma oportunista. Portanto, se desistir de Mulder, ela vai ser a primeira a bater na porta dele, lhe oferecendo apoio com... “as pernas dela”, me entende? E, nós, homens, caímos nessa como patinhos.

SCULLY: - ... Foi a maneira mais elegante que já vi de chamar alguém de vadia.

CHRIS: - (SORRI) Desculpe, não teria a coragem de falar palavras grosseiras em sua presença. Mas aposto com você que sua parceira sabe do tipo de relação que você e Mulder tem. Está tentando mostrar que ele era assim também com ela. Está fazendo você acreditar que ele não muda nunca. Assim que você acreditar, você vai desistir. E assim que você desistir, ela o agarra.

Scully fica pensativa.

CHRIS: - Você está numa fase de repensar sua vida. Está perturbada porque ele se foi. Essa mulher vai aproveitar-se disso. Acredite em mim, Dana. Ela o quer. Está tentando ser sua amiga, fingir desinteresse, tudo para afastar você dele.

SCULLY: - Chris, você tem razão. E-eu...

CHRIS: - Quer sair hoje à noite? Estamos precisando relaxar um pouco. O dia de amanhã está me preocupando. Posso ser o próximo, não posso?

SCULLY: - Não deixarei que nada te aconteça.

CHRIS: - Puxa, é a primeira mulher que me defende! Acho que é essa sua força que atrai o seu... amigo...

SCULLY: - (TRISTE) Mas não é o suficiente...

CHRIS: - Dana, lembra-se do que acabei de falar sobre o instinto aguçado dos homens? Certamente seu amigo o tem. E nenhum homem sensato perderia uma lady como você.

SCULLY: - Sabe, penso às vezes que não sou mulher pra ele. Ele deve ver outras mulheres, altas, peitudas, sexys... Eu não sou isso. Sou comum. Uma mulher comum.

CHRIS: - Você me diz que é uma mulher comum, certo? Mas Deus criou a mulher comum. Para o homem que lhe dá a mão ou o braço, essa mulher nada tem de comum, ela é o mundo inteiro para ele.

SCULLY: - ...

CHRIS: - Li certa vez um artigo do meu amigo Herbert Stein, ele escreve para a Reader’s Digest. É um economista, não conselheiro amoroso. Mas eu fiquei pensando e concluí que o Herbert tinha razão. Sabe por que essa mulher comum tem tanto valor para o homem?

SCULLY: - Não.

CHRIS: - Vou repetir as palavras do meu amigo. Por três razões. Primeira: Ela é um corpo que o aquece na cama. Não, não vamos pensar em sexo. É algo muito mais primitivo, é a necessidade de contato humano. Por exemplo, um bebê quando chora não está interessado em conversar ou ganhar uma aliança de ouro. Ele quer é ser abraçado, acariciado. Nós adultos também precisamos desse tipo de contato físico. Precisamos nos aconchegar em busca de calor e conforto, em um mundo indiferente e frio. A mulher e os homens comuns fazem isso um pelo outro.

SCULLY: - (SORRI)

CHRIS: - Certo, segundo motivo: Os dois falam um com o outro de uma maneira como não falam com mais ninguém. Ele pode comentar coisas sem ter medo de que você vai rir ou pensar que ele está se gabando. Ele pode contar com o seu interesse e sua compreensão. O propósito não é transmitir informações, é ‘estou aqui e sei que você também está’. Vocês podem conviver 24 horas por dia, 365 dias por ano, 20 anos juntos e sempre terão o que dizer. Bingo?

SCULLY: - Bingo.

CHRIS: - Terceiro ponto do meu amigo Henry: A mulher satisfaz a necessidade do homem de sentir-se necessário. Se ninguém precisa de você, qual o sentido da sua existência? Qualquer um pode dizer pra ele: você é importante, Mulder. Mas para a mulher que ele ama, ele não é substituível por nada no mundo. Isso lhe dá a auto-estima de que precisa para enfrentar o dia a dia....

SCULLY: - ...

CHRIS: - Por isso, ‘Dana mulher comum’, você é uma mulher igual a milhões de outras, mas por ser uma mulher comum tem enorme valor para esse homem. E isso é unilateral, uma coisa recíproca. Porque você é comum para os outros. Mas não pra ele. Você é o ar que ele respira. E ele não é comum pra você. Já pensou nisso?

SCULLY: - ...

CHRIS: - Portanto, tome cuidado com a sua falsa amiga. Ela inveja o que você tem.


Quarto de Diana - 7:39 P.M.

Diana está ao celular.

DIANA: - Não, ela está perturbada demais pra criar problemas... Sim, eu estou fazendo um relatório, embora duvide muito que o Skinner entregará... Antes, eu quero agradecer pelas gravações que me deu. Estão me ajudando muito. Sua ideia de colocar escutas no apartamento dele estão me fornecendo dados sobre o relacionamento dos dois... Sabe que quero o bem do seu filho. Ao meu lado ele mudaria completamente de opinião. Ambos queremos o Fox ao nosso lado, certo?


Restaurante Florence - 11:37 P.M.

[Som: Bryan Adams – Let’s Make Night to Remember]

Scully e Chris dançam, numa enorme varanda, à luz de velas. Scully num vestido longo, de olhos fechados, recostada com a cabeça no peito dele. Chris num impecável smoking.

SCULLY: - Adoro essa música...

CHRIS: - De quem é?

SCULLY: - Bryan Adams... CD “18 til’ I die”. Terceira faixa. Gosto das músicas dele.

Chris recosta sua cabeça na cabeça de Scully. Cheira seus cabelos. Scully fecha os olhos. Derruba lágrimas.

CHRIS: - (RECITANDO BAIXINHO A MÚSICA) “Amo contemplar seu estilo esta noite...”

SCULLY: - ... (SORRI)

CHRIS: - Deveria deixar seus cabelos mais longos. Ficariam lindos por sobre seus ombros.... Amo seu jeito de dançar suavemente, de querer tudo, menos falar...

SCULLY: - ...

CHRIS: - (DEBOCHADO) ... Você me despe com seu olhar... Sentir sua respiração no meu corpo me deixa quente por dentro...

SCULLY: - (SORRI) Não acredito! Vai começar a pensar que sou a garota da música?

CHRIS: - Gostaria que a noite fosse como na música.

Scully ergue a cabeça e olha pra Chris.

SCULLY: - Chris, agradeço pelo que está fazendo, mas...

CHRIS: - Agradecer pelo quê?

SCULLY: - ... Por me convidar pra sair, mas receio que o que a ‘música’ está dizendo é impossível. O final é improvável.

CHRIS: - Mas eu nem sei como a música termina...

Scully sorri. Recosta-se nele novamente. Chris a puxa mais contra seu corpo.

CHRIS: - ... “Pois eu nunca toquei alguém como hoje toco seu corpo... e agora eu nunca quero que seu corpo vá embora...”

SCULLY: - ... Continua, vai. Cita a letra da música... Você sabe, não me engane.

CHRIS: - ... (OLHOS FECHADOS) “Amo o jeito como se move esta noite... pérolas gotejam de sua transpiração, de sua pele...”

SCULLY: - ... (FECHA OS OLHOS, SUSPIRA)

CHRIS: - “Vamos sair daqui, vamos fazer alguma coisa maravilhosa... Alguma coisa mais à vontade...”

Scully olha pra ele. Chris olha pra ela.

CHRIS: - Eu sei como termina a música.

SCULLY: - Sabe?

CHRIS: - Termina assim: Penso sobre tudo isto agora. Você não percebe mas está me guiando, tentando a minha mente... Eu nunca terei você novamente, e eu não quero que esta noite termine. Porque nunca toquei alguém, como agora toco o seu corpo...

Scully aproxima seus lábios dos dele. Ele corresponde. Eles trocam um suave beijo.


BLOCO 4:

2:21 A.M.

O motorista abre a porta da limusine. Scully entra. Chris entra depois dela. Scully está triste. Olha pela janela. Derruba lágrimas.

CHRIS: - Não está bem, não é mesmo?

Scully sinaliza que não, com a cabeça, ainda olhando pela janela e derrubando lágrimas.

CHRIS: - Mulder?

Scully afirma com a cabeça.

CHRIS: - Quer conversar sobre isso?

Scully nega com a cabeça.

CHRIS: - ... Conhece a piada do caçador e...

SCULLY: - Não, sem piadas, por favor. Odeio ironias e piadas.

Scully vira-se pra Chris. Seca as lágrimas.

SCULLY: - Desculpe, estou descontando minha dor em você. E-eu... Eu gosto de piadas sim, mas isso me faz lembrar dele... Você me faz lembrar dele. Você é um Mulder polido. O mesmo senso de humor... Mas de um cavalheirismo, de uma polidez...

CHRIS: - Sabe o que falamos ontem à noite sobre relacionamentos onde as pessoas só se entendem na cama?

SCULLY: - Sim.

CHRIS: - Acho que não é seu caso. Deve haver algo muito forte entre vocês, porque está chorando.

Scully sorri, mas já começa a chorar novamente. Chris a abraça.

CHRIS: - Não entendo como um homem pode abandonar uma mulher como você... Desculpe a indiscrição mas... Há outra mulher nisso?

SCULLY: - Literalmente.

CHRIS: - Bastardo! ... Me desculpe, eu...

SCULLY: - Ele me trocou pela irmã dele.

CHRIS: - Pela irmã?

Scully começa a rir. Está confusa em seus sentimentos.

CHRIS: - (INCRÉDULO) Pela irmã? Está me dizendo que ...

SCULLY: - Não! Ele precisou fugir com ela pra bem longe, haviam pessoas que a estavam perseguindo e... Ah, deixa pra lá. É outra história e não quero revivê-la.

CHRIS: - E não podia ter levado você?

SCULLY: - Eu não quis.

CHRIS: - E não podia ter ficado?

SCULLY: - Ele não quis.

CHRIS: - Me desculpe, Dana, mas esse cara é um imbecil. Um completo imbecil. Não há desculpa alguma no mundo pra tomar uma atitude dessas.

Scully tenta se recompor. Seca as lágrimas, sorri.

SCULLY: - Desculpe, estou estragando sua noite.

CHRIS: - Não, muito pelo contrário. Pela primeira vez saio com alguém que tem coisas sérias pra dizer. Que não fica discutindo sobre perfumes e roupas, ou que fica olhando pra minha carteira.

SCULLY: - Mentira! Fazem isso?

CHRIS: - Não são poucas as vezes. O dinheiro é uma desgraça. Nunca sabe onde começa o amor e onde termina o interesse.

SCULLY: - ... Eu... Eu gostei da noite que tivemos. Você é um cavalheiro.

CHRIS: - Você é uma mulher romântica.

SCULLY: - Eu gosto de romantismo. Gosto de gentilezas, de cavalheirismo. Sinto que às vezes preciso de alguém que tome conta de mim. Que cuide de mim. Nunca me senti tão caída como agora. Estou sozinha e, pela primeira vez, me sinto frágil, com medo... Ah, Deus, acho que vou chorar de novo!

Scully chora. Chris tira um lenço do bolso.

CHRIS: - Tome.

SCULLY: - (CHORANDO) Obrigada.

Chris a abraça.

CHRIS: - Chora, Dana. As lágrimas funcionam como remédio pra alma.

SCULLY: - (CHORANDO) Por que me diz coisas bonitas assim?

CHRIS: - Desculpe, é o meu jeito...

SCULLY: - (CHORANDO) Você é o príncipe que esperei a vida toda! Mas chegou na hora errada!

Scully olha pro motorista.

SCULLY: - Pára o carro.

O carro pára. Scully desce. Sai caminhando pela rua. Pára. Tira os sapatos e continua caminhando. Chris desce do carro.

CHRIS: - (GRITA/ PREOCUPADO) Dana, pra onde vai?

SCULLY: - Pra bem longe de você!

CHRIS: - (MEIGO) Mas está hospedada em minha casa!

Scully pára. Chora. Chris corre até ela.

CHRIS: - Dana, quer ir pra outro lugar?

SCULLY: - Não, eu quero chorar!

CHRIS: - (PREOCUPADO) Quer chorar lá em casa então? Você pode ir pro seu quarto, tomar um banho e deitar-se pra chorar.

Chris a convence a entrar no carro.


Residência dos Drago - 3:11 A.M.

Chris abre a porta do quarto de Scully. Ela entra. Senta-se na cama, derrubando lágrimas. Abaixa a cabeça. Ele olha pra ela preocupado.

CHRIS: - Vai ficar bem?

SCULLY: - ...

CHRIS: - Quer um calmante?

SCULLY: - Não, obrigada.

CHRIS: - Se precisar de alguma coisa, meu quarto é no final do corredor e...

SCULLY: - Quero que fique.

CHRIS: - ...

Scully ergue a cabeça, e fala enquanto as lágrimas caem.

SCULLY: - Não me deixa sozinha. Eu estou desmoronando! Preciso ter alguém do meu lado hoje!

Chris fecha a porta. Vai até Scully. Ajoelha-se ao lado dela. Pega as mãos trêmulas e pequenas nas suas. Beija-as. Olha nos olhos azuis e tristes de Scully.

CHRIS: - Você precisa de alguém, mas não é de mim, Dana. Está só, carente, e eu entendo perfeitamente que...

Scully o beija. Começa a descer as alças de seu vestido. Beija o pescoço dele sem parar.

SCULLY: - (MURMURA/ CARENTE/ TRISTE) Faz amor comigo, por favor, faz amor comigo... Preciso sair desse mundo por alguns momentos... Me ajuda...

Chris a afasta.

CHRIS: - Dana, eu quero fazer isso. Você me deixa maluco, muito maluco mesmo. Mas não desse jeito. Não é a mim que deseja, eu sou apenas uma fuga. Não quero que faça amor comigo pensando nele. Não é justo comigo e nem é saudável pra você.

Scully olha pra ele e chora.

SCULLY: - Você é de verdade ou estou sonhando?

CHRIS: - (SORRI)

SCULLY: - (CHORANDO) Fica. Eu quero fazer amor com você. Eu quero alguém que cuide de mim, que pense em mim, pelo menos por uma vez em minha vida.

CHRIS: - ...

SCULLY: - ...

CHRIS: - ...

Chris olha pra ela. Scully o puxa pra cima de seu corpo e fecha os olhos.


7:48 A.M.

[Som: The Cover Girls – Wishing on a Star ]

Scully acorda. Vira-se na cama. Chris, vestido num robe, em pé olha pela janela. Há uma bandeja de café da manhã sobre a cama. Uma rosa vermelha.

SCULLY: - ... Eu... eu... Me desculpe por ontem à noite.

CHRIS: - Não diz nada, Dana.

Chris abaixa a cabeça e suspira.

CHRIS: - Eu... eu daria tudo pra ter você comigo. É egoísmo, eu sei que você gosta de outra pessoa... Mas eu acho que me apaixonei por você.

SCULLY: - ...

CHRIS: - Nunca tive alguém na vida que gostasse de mim pelo que sou e não pelo que tenho. Daria tudo o que quisesse, te amaria por toda a minha vida. Poderia montar uma clínica pra você...

SCULLY: - Me desculpe, Chris.

CHRIS: - ...

SCULLY: - ... Eu... eu amo outra pessoa.

CHRIS: - Somos tão iguais...

SCULLY: - Eu sei disso. Mas é assim que as coisas funcionam, Chris.

CHRIS: - ... (SORRI) Essa frase é minha.

SCULLY: - (SORRI)

CHRIS: - Existem coisas que o dinheiro não compra. O seu amor é uma delas.

SCULLY: - ...

Scully aproxima-se dele e beija-lhe a testa. Chris perde os olhos nos olhos dela.


10:01 P.M.

A família toda está reunida à mesa da sala de jantar. Eles conversam animados. Christopher está quieto.


10:21 P.M.

Scully caminha por dentro da casa. Diana passa por ela.

DIANA: - Alguma coisa?

SCULLY: - Nada.

DIANA: - Vou ficar do lado de fora. Os policiais estão espalhados pelo jardim.

O celular de Scully toca. Ela atende.

SCULLY: - Scully... Quando? Quero que fiquem aí, no caso dele voltar. Estamos em alerta.

Scully desliga.

DIANA: - O que foi?

SCULLY: - Leonard saiu do apartamento. Não sabem a que horas. Ele se aproveitou da troca de turno. Precisamos avisar a senhora Drago.

DIANA: - E causar pânico? Não, deixe isso nas minhas mãos.

SCULLY: - Está me dando ordens é isso?

DIANA: - Se esqueceu de quem está supervisionando o caso?

SCULLY: - Supervisionando? Eu encontrei esse caso! O caso é meu! Você veio de metida que é!

DIANA: - Vai ficar brigando ou vai trabalhar?

Diana desce as escadas. Scully fica furiosa. Continua caminhando até o final do corredor. Pára na frente de um quadro, onde a imagem de Christopher está pintada. Scully fica admirando-o. Olha pra outro quadro. Percebe que está torto.

Scully aproxima-se do quadro e o endireita na parede. A parede do final do corredor se abre. Scully fica perplexa.

SCULLY: - Não acredito!

Scully pega a lanterna do bolso e a arma. Entra com cuidado. Há uma escada. Ela desce, chegando até uma enorme corredor.

As paredes vertem água e limo.

Scully continua caminhando até o final do corredor, que termina com uma parede. Passa as mãos pela parede e ela abre-se. Scully sai do lado de fora da casa. Volta pra dentro e a porta se fecha. Volta pelo corredor. Pisa em alguma coisa.

SCULLY: - Ah, que droga!

Scully mira a lanterna no chão. Cocô de cavalo. Mira na parede e percebe uma porta de metal. Empurra-a. Sai no jardim.


10:57 P.M.

Scully entra na sala de jantar, com muita pressa.

SCULLY: - Desculpem senhores, mas peço que todos permaneçam nessa sala. Ninguém sai daqui. O suspeito está aí fora.

Margrit levanta-se.

SCULLY: - Por que nunca me disse que havia uma passagem secreta no castelo?

MARGRIT: - Passagem secreta? E-eu não sabia.

Um velho levanta-se da cadeira.

JOHN: - Isso é coisa do seu marido, aquele maluco. Aposto que é por onde entravam as... Ah, deixa pra lá. Tem senhoras no recinto.

Margrit olha pra John com desaprovação. Scully procura Christopher com os olhos. Não o vê.

SCULLY: - Onde está o Christopher?

MARGRIT: - Ah, meu Deus! Ele saiu!

Scully sai correndo da sala. Diana aproxima-se.

DIANA: - O que houve?

SCULLY: - O Christopher está lá fora. Há uma passagem secreta da rua pro castelo. O assassino está aqui, eu sinto isso!

Scully sai porta à fora. Corre pro jardim. Diana pega o rádio.

DIANA: - Atenção, o suspeito está aqui. Há um dos familiares do lado de fora. Vou verificar a casa.

Diana entra no castelo.


11:09 P.M.

Scully caminha no meio das árvores, segurando a lanterna. Está nervosa. De repente, escuta barulhos de cascos de cavalo. Scully puxa a arma. Caminha mais alguns metros. Vê um enorme cavalo branco e um homem vestido com uma armadura. Ele segura uma lança e um escudo. Tem uma espada na cintura. Scully mira a lanterna nele. O cavalo se assusta, inclinado-se. O homem, assustado, domina o cavalo e consegue fugir por entre as árvores. Scully puxa o rádio do bolso.

SCULLY: - Ele está seguindo para o estábulo!

Scully guarda o rádio. Escuta um gemido. Mira a lanterna por todos os lados e vê Christopher sentado no chão, escorado numa árvore, com a mão sobre o coração e o sangue vertendo por entre seus dedos. Scully se desespera e corre até ele. Pega o rádio.

SCULLY: - Preciso de uma ambulância! Rápido, tem um homem ferido aqui!

Christopher olha pra ela, sorrindo.

CHRIS: - Machuquei meu coração de novo. Eu... Eu não aprendo mesmo.

Scully afasta a mão dele e olha para um enorme corte no lado esquerdo de seu peito. Scully segura as lágrimas.

SCULLY: - Você vai ficar bem. Não fala nada.

CHRIS: - Sabe que não vou ficar bem... (FECHA OS OLHOS) ... Dana, quero lhe dizer uma coisa.

SCULLY: - ...

CHRIS: - Obrigado pelo... melhor fim de semana que tive... em toda a minha vida. Obrigado por... me amar ao menos por uma noite... eu vou morrer feliz... Aceite o presente... eu... sinto que não pudemos ficar juntos... mas senti uma única vez na vida... o que é ser amado...

Chris fecha os olhos. Seu corpo inclina-se lentamente para o lado. Scully o abraça, chora muito, desesperada.


Dois dias depois...

Residência dos Drago - 10:21 A.M.

Scully, chorando, observa o túmulo de Christopher, no cemitério particular da família. Scully ajoelha-se e coloca uma rosa vermelha sobre o túmulo. O mordomo se aproxima, num semblante triste. Scully levanta-se. Continua olhando pro túmulo.

MORDOMO: - Era um bom menino.

SCULLY: - ... Não vi a esposa dele no enterro.

MORDOMO: - Ela não veio.

SCULLY: - E os filhos?

MORDOMO: - Os filhos? Nunca ligaram pra ele. Pra dizer a verdade, nem eram seus filhos, eram filhos dela. Ele os criou como se fossem, nunca recebeu uma palavra de carinho da parte deles. Mas ele os amava como se fossem seus.

Scully fecha os olhos. As lágrimas caem. Sebastian, triste, olha pra ela e lhe entrega um lenço.

MORDOMO: - Senhora, eu vivo há muito tempo neste lugar. Nasci entre eles. Conheço o senhor Christopher desde criança... Ele não pertencia a esta gente. Não havia maldade e cobiça em seu coração. Era um homem simples...

SCULLY: - ...

MORDOMO: - Obrigado, senhora. Desde o dia em que chegou, os olhos dele mudaram de brilho. Sei que está num bom lugar agora, e que terá um momento mágico para recordar por toda a eternidade.

Sebastian põe a mão no bolso. Tira uma chave. Entrega pra Scully.

MORDOMO: - Ele me pediu que lhe entregasse isto no dia em que fosse embora. Receio que seja dessa maneira.

SCULLY: - O que é isto?

MORDOMO: - Um carro. Ele lhe comprou um carro. Me pediu para dizer que carros podem encurtar distâncias entre amores que se separam pelo destino.

Scully olha pro túmulo e chora.


Apartamento de Scully – 9:39 P.M.

[Som: The Cover Girls – Wishing on a Star ]

Scully está sentada na frente do computador. Ao lado, o aquário com os peixes de Mulder sobre uma mesinha. Scully escreve seu relatório.

SCULLY (OFF): - Leonard Sackheim foi preso em flagrante pelo assassinato de sete membros da família Drago. Em seu apartamento, encontrou-se um altar com imagens de São Jorge e várias espadas. O assassino demonstrou ter problemas mentais sérios, e confessou as sete mortes. Alegou que era uma vingança por seu pai ter morrido na miséria. Seu pai, Henry Sackheim, morreu de insuficiência cardíaca. Estava doente e não tinha condições de pagar um tratamento.

Scully olha pra chave do carro, ao lado do computador. Suspira.

SCULLY (OFF): - Por acreditar que deveria vingar-se, Leonard tornou-se um fanático religioso, tendo como crença São Jorge, o santo padroeiro do dia em que seu pai nasceu. Leonard acertava o coração dos Drago, como se estivesse matando o dragão da maldade. O coração porque foi o órgão que tirou a vida de seu pai. Leonard entrava e saía do castelo por uma passagem secreta que conhecia, ainda dos tempos em que seu pai trabalhava para a família Drago.

Scully olha pra chave do carro. Segura as lágrimas.

SCULLY (OFF): - Leonard mantinha todos os corações em recipientes fechados sobre seu altar. O único fato que esta agente não pôde explicar era como aqueles seis corações ainda continuavam batendo dentro de cada recipiente. Uma análise da amostra do líquido que estava dentro dos vidros indicou que se tratavam apenas de... lágrimas.

Scully sai do computador. Vai para o quarto. Deita-se na cama, puxando a raposa de pelúcia. Abraça-a, fechando os olhos já em lágrimas. Abre os olhos, se contendo.

SCULLY: - (MURMURA) Mulder, sua mulher comum o espera. Ela já viveu seu conto de fadas, por breves momentos, ao lado de um príncipe de coração puro. O príncipe dos sonhos dela. Mas isso serviu para descobrir que sou uma princesa pra você. No momento, uma princesa infeliz, porque seu amado foi embora. Mas agora ela sabe que seu coração pertence a um plebeu. Ou talvez, Mulder, você seja o sapo que ainda não beijei.

Scully chora. Fecha os olhos e dorme abraçada na raposa.

Fade out.


15/02/2000

26 de Noviembre de 2018 a las 12:01 0 Reporte Insertar Seguir historia
1
Fin

Conoce al autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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