lara-one Lara One

Os agentes Mulder e Scully tentam desvendar um estranho caso envolvendo o desaparecimento de animais numa fazenda e uma colheita muito próspera. Mais estranho ainda é o comportamento de Scully, que está descontando seu mau humor em Mulder.


Fanfiction Series/Doramas/Novelas Sólo para mayores de 18.

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S01#23 - O ESPANTALHO


INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Fade in.

Mulder caminha pela plantação de milho. Vê o espantalho ao longe. Aproxima-se. Observa o espantalho. Puxa algumas palhas que saem do casaco rasgado.

MULDER: - Palhas novas...

Mulder caminha entre o milharal. O vento agita as plantas. Mulder sai do milharal. Vê o estábulo ao longe. Atravessa um enorme terreno não lavrado, mas com um suporte de espantalho. Mulder aproxima-se. Vê o suporte vazio.

VINHETA DE ABERTURA: A VERDADE ESTÁ LÁ FORA


BLOCO 1:

Apartamento de Scully – 8:11 P.M.

[Som: Elvis Presley – Blue Suede Shoes]

Vemos a sala de Scully. Foco dirige-se para a cozinha.

Mulder está sentado à mesa, com cara de cachorrinho pidão, todo lambuzado de uma substância amarela. Scully em pé com um creme verde no rosto, olhando furiosa pra ele.

SCULLY: - (IRRITADA) Como pôde fazer isso, Mulder? Foi a coisa mais egoísta que eu já vi!

MULDER: - ... Mas Scully, eu...

SCULLY: - (IRRITADA) Não tem direito de defesa, Mulder! Isso foi uma atitude hipócrita! Se não se comportar, vai voltar pro seu apartamento. Não me interessa se aquilo virou um chiqueiro de vez!!!

MULDER: - ... (IMPLORANDO PIEDADE COM OS OLHOS)

SCULLY: - Egoísta!

MULDER: - Scully, eu não fiz isso. Eu não comi seu mousse de maracujá...

Scully passa o dedo no rosto dele, lambuzado. Chupa o dedo.

SCULLY: - (IRRITADA) Vai dizer que está usando máscara de maracujá? Provas científicas, Mulder! Tem gosto de maracujá, leite condensado e creme de leite! Ou vai alegar que estamos lidando com um Arquivo X? (DEBOCHADA) O mistério do desaparecimento do mousse de maracujá da agente Scully...

MULDER: - (DEBOCHADO) Um ET entrou aqui e comeu tudo.

SCULLY: - (FURIOSA) Mulder! Admita se é homem!

MULDER: - Tá, eu comi.

SCULLY: - (EMBURRADA) Mas precisava comer tudo sozinho, Mulder? Eu fiz aquele mousse, nem cheguei a provar!

MULDER: - (DEBOCHADO) Provou agora...

SCULLY: - (IRRITADA) Mulder, isso não tem graça! É sério!

MULDER: - Scully, tava tão gostoso que eu me empolguei e quando vi... Não tinha mais nada.

SCULLY: - (IRRITADA) Tão simplista esse seu argumento, Mulder! Não tem desculpas! E de agora em diante, mantenha-se afastado da minha geladeira! Se tocar um dedo nela, eu atiro em você. Estou defendendo minha propriedade!

MULDER: - Posso pegar água?

SCULLY: - Não sem minha permissão.

Scully fica emburrada. Mulder abaixa a cabeça e começa a cantarolar uma música do filme Pulp Fiction.

MULDER: - (ROMÂNTICO) “ Girl... You’ll be a woman soon... Please, come take my hand...”

SCULLY: - (IRRITADA) Pára de cantar enquanto eu falo com você!

Mulder fica quietinho, olhando assustado pra ela, encolhendo-se na cadeira.

SCULLY: - (IRRITADA) E pára de entrar no banheiro quando estou depilando minhas axilas! Isso é degradante!

MULDER: - Scully, tem homens que se excitam com mulheres peludas... Eu me excito vendo você se depilar...

SCULLY: - Cala a boca, Mulder! Está no meu espaço, as regras aqui são as minhas.

MULDER: - ... Tá.

SCULLY: - ... Bárbaro! Você é um selvagem! Um comilão!

MULDER: - ... Scully, posso falar uma coisa?

SCULLY: - O que é, Mulder?

MULDER: - (DEBOCHADO) Estou louco pra sentir o gosto dessa máscara verde... É pepino?

SCULLY: - Não é pepino, Mulder. É lama. E você vai sentir o gosto da minha ira se não parar de me irritar.

MULDER: - Eu coloquei a toalha de rosto no lugar... Apertei delicadamente seu creme dental... estou me comportando... Até virei gente!

SCULLY: - Não, não está.

MULDER: - Scully... Sabe que adoro deixar você furiosa? Você fica sexy...

SCULLY: - Nem vem com esse papo, Mulder. Hoje estou com dor de cabeça.

MULDER: - Eu tenho uma resposta pra isso. Mas não vou falar, porque daí você vai me bater.

SCULLY: - Guarde suas respostas, Mulder. Só vem besteira dessa sua boca suja!

MULDER: - Boca suja? Você é que sabe todos os palavrões do mundo, em todas as línguas, e eu sou o boca suja? Scully, pára por aí, porque eu tenho outra resposta pra esse ‘boca suja’... E você também não iria querer ouvir.

SCULLY: - O que é, Mulder?

Mulder aproxima-se dela. Cochicha em seu ouvido. Scully arregala os olhos.

SCULLY: - Mulder, você é depravado!

Scully sai furiosa da cozinha.


8:31 P.M.

Scully entra na sala, com o rosto já limpo. Atira um lençol e um travesseiro na cara de Mulder que está sentado no sofá.

SCULLY: - E tem mais, Mulder. Sofá pra você hoje!

MULDER: - (VÍTIMA) ... Tá. Eu fico no sofá... Morrendo de frio, sozinho, carente...

SCULLY: - (IRRITADA) Mulder, pára de se fazer de vítima! (SEDUTORA) ... Quer companhia?

Mulder olha pra ela maliciosamente. Scully vai para o quarto. Volta com a raposa de pelúcia que ele lhe dera. Atira nele.

SCULLY: - (FURIOSA) Toma! Outro da sua escória!

MULDER: - Scully... Posso falar outra coisa?

SCULLY: - Se for besteira é melhor ficar quieto.

MULDER: - ...

SCULLY: - Boa-noite, Mulder.

Scully entra no quarto. Mulder senta-se no sofá. Pega a raposa no colo.

MULDER: - É, companheiro. Fomos expurgados do leito de Lady Godiva... E tudo por causa de um miserável mousse! Scully, você é má! Muito má!

Scully abre a porta do quarto.

SCULLY: - (FURIOSA) O que está reclamando, Mulder?

MULDER: - (MEDO) Nada. Estou falando sozinho.

SCULLY: - Típico.

Scully volta pro quarto. Mulder se deita no sofá. Scully volta pra sala.

SCULLY: - E tire os sapatos antes de deitar no meu sofá!

Mulder senta-se. Tira os sapatos. Deita-se.

SCULLY: - Vai dormir de roupa?

MULDER: - (DEBOCHADO) Esqueci minhas roupas em casa e hoje não tenho motivo pra ficar nu.

Scully entra no quarto e bate a porta. Mulder liga a TV.

SCULLY: - (GRITA) Abaixa isso, Mulder! Meus vizinhos são pessoas de classe! Isso é um prédio de respeito!

Mulder abaixa o volume.

MULDER: - Agora ela tá chamando meu prédio de cortiço?

Scully entra na sala.

SCULLY: - O que disse, Mulder?

MULDER: - (IRRITADO) Que eu não fui acostumado com essas besteiras de etiquetas. Eu sou um cara simples, não tenho frescuras como (IMITANDO A VOZ DELA) “tira os sapatos do sofá, tira essa roupa suja, abaixe o volume da TV, não sente nas almofadas, não espalhe migalhas de biscoitos pelo carpete, coloque a louça suja na pia, seca o banheiro, arruma a cama quando levantar, coloque um prato na mesa quando come sanduíche, prato fundo é pra sopa, raso é pra comida... xícara de café, xícara de chá, guardanapinhos... e bi-bi-bi, e bo-bo-bó”... Sabe o que é isso, Scully? Pompa! Coisa de gente besta! Frescura!

SCULLY: - Quer dormir na varanda?

Mulder fica quieto, cruza os braços, beiço enorme.

SCULLY: - E se comer sementes de girassol aí, vai se dar mal! Tive que aspirar todo o sofá!

MULDER: - (IRRITADO) Mulher, você é muito chata, sabia? Acho que vê ‘Friends’ demais e tá começando a se achar “Mônica”.

SCULLY: - Eu sou “Mônica”. Não é você quem limpa tudo depois.

MULDER: - (IRRITADO) Eu limpo se você parar de me criticar!

SCULLY: - Mulder, se eu deixar você fazer o que quer, minha casa vai virar a casa dos Simpsons! Porque eu vejo o Homer na minha frente! Mas não me tire pra Margie, eu não sou compreensiva!

MULDER: - (DEBOCHADO) Aposto que ficaria uma graça com aquele cabelo azul.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Você também está uma graça, Mulder. Sua barriga está ficando enorme! Bom, o que esperar quando se está próximo dos quarenta? Acho que isso se deve ao fato de você comer muito doce roubado da geladeira dos outros.

Mulder novamente cruza os braços e assiste TV, emburrado. Scully volta pro quarto.

MULDER: - (RESMUNGA) Chata!

Scully abre a porta. Mulder tapa os ouvidos.

SCULLY: - Outra coisa. Na conta do meu telefone, veio uma ligação pra um 0-800. Com certeza não é minha. Juro, que se tirar esse telefone do gancho, eu vou fazer você falar fino pro resto de sua vida!

Scully volta pro quarto. Mulder desliga a TV. Vira-se pra dormir.

MULDER: - Eu ainda vou mostrar pra ela quem é o homem por aqui.

SCULLY: - (GRITA) O que disse, Mulder?

MULDER: - Boa noite, docinho... (INSIGHT)... (SARCÁSTICO) Docinho? (SORRI DEBOCHADO) ... Ô, Docinho?

SCULLY: - ...

MULDER: - Docinho?

SCULLY: - (GRITA) O que é, Mulder?

MULDER: - (MALICIOSO) Estou com falta de açúcar no corpo novamente.

SCULLY: - (GRITA) Vou te dar um soco, Mulder...


Arquivos X – 8:01 A.M.

Mulder está lendo o jornal. Scully organiza algumas pastas nos arquivos. Mulder começa a rir.

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - Nada.

SCULLY: - Mulder, o que está lendo aí?

MULDER: - Quadrinhos.

SCULLY: - Que quadrinhos?

Scully aproxima-se curiosa. Olha pro jornal. Ergue as sobrancelhas.

SCULLY: - (INDIGNADA) Isso não são quadrinhos, Mulder! São anúncios de acompanhantes!

MULDER: - Mas estão dentro de quadrinhos!... Escuta essa: “Macho liberal, deseja conhecer homens... Se é liberal, não deve ser macho! ... E essa outra: Médica safada espera você para consultas... Scully, é você? (IMITANDO A VOZ DE YAKKO WARNER) Enfermeira!!!!!

Scully fica emburrada e continua a arrumar os arquivos.

SCULLY: - Isso é pra pegar otários, Mulder.

MULDER: - ... Scully, o que é estilo ‘mulherão’?

SCULLY: - (RINDO) Eu sei lá, Mulder. Uma mulher grande?

MULDER: - ... Deviam chamar isso de seção de piadas... Ouça essa: Por 20 dólares realizo todos os seus desejos... Por 20 dólares? Imagina o que deve ser!

Scully aproxima-se dele. Pega o jornal e o coloca no cesto do lixo.

MULDER: - Qual é, Scully?

SCULLY: - (SENSUAL) Levanta, Mulder.

Mulder se levanta da cadeira.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - (SENSUAL) Por 10 dólares eu faço uma coisa com a mão. Se me der 20, faço com as duas mãos. Por 30 dólares, faço com as duas mãos e a língua.

Mulder olha assustado pra ela. Scully senta-se na cadeira, olhando maliciosamente pra ele.

MULDER: - Scully, o que é isso? Alguma fantasia nova?

SCULLY: - ... Então, Mulder? Eu vou achar excitante. Nunca mais vou esquecer disso, prometo!

Mulder esfrega as mãos, empolgado. Coloca a mão no bolso e puxa a carteira. Olha maliciosamente pra Scully, que morde os lábios, segurando o riso. Mulder entrega 30 dólares pra ela. Scully pega o dinheiro e coloca dentro do sutiã. Levanta-se da cadeira, rebolando os quadris sensualmente. Mulder afrouxa a gravata, mais empolgado. Scully aproxima-se da porta. Olha sensualmente pra Mulder. Então põe as mãos nas orelhas e acena com elas pra ele, enquanto bota a língua pra fora, fazendo uma careta.

SCULLY: - Otário!

Scully sai da sala rindo. Mulder fica parado, indignado, sem acreditar no viu.

MULDER: - Que sacanagem, Scully! Não era isso que eu pensei que você fosse fazer com as mãos e a língua! Devolve o meu dinheiro! Não aprovei o serviço!

O telefone toca. Mulder atende.

MULDER: - Otário falando.... Não, Skinner, é que eu acabei de pagar o maior mico da minha vida, mas tudo bem, vai ter troco. Quem assusta é assustado....... Quando?.... Tá, eu vou subir.... Não, a Scully deve ter saído pra gastar os 30 dólares ganhos da maneira mais fácil em sua vida, com gelado de arroz integral sem gordura.


Hotel Fazenda McKee – Sheridan – Wyoming - 9:47 P.M.

[Som: Johnny Cash – A boy named “Sue”]

Uma enorme casa em estilo country, com varanda, rede e violão. Luzes acesas. Mulder estaciona o carro na frente do hotel. Desliga os faróis. Desce. Scully sai do carro. Estica as pernas.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - Você não podia ter parado um minuto na estrada?

MULDER: - Pra você fazer careta?

SCULLY: - Não. Pra fazer xixi, Mulder. Preciso de um banheiro urgentemente, ou vai acontecer um desastre por aqui! Não vê a careta que estou fazendo?

Os dois caminham em direção ao hotel. Entram. A recepção é uma sala enorme, decorada com cabeças de gado, rodas de carretas e essas coisas. Uma mulher loura e peituda vem recebê-los, em vestimentas de cowgirl.

LYNN: - Bem vindos ao Hotel Fazenda McKee. Sou a senhora Lynn McKee. Em que posso ajudá-los?

MULDER: - Primeiramente me diga onde é o banheiro, ou minha parceira vai me deixar constrangido.

Scully olha pra ele, indignada. Lynn sorri.

MULDER: - Somos os agentes Fox Mulder e Dana Scully do FBI.

LYNN: - Ah, meu marido os estava esperando. Venha, agente Scully, lhe mostro o banheiro.

Scully e Lynn saem da sala. Mulder fica olhando pra todo o lugar, debochado.

MULDER: - Yhaaaaa! Esqueci meu chapéu de John Wayne...

Um homem gordo e forte se aproxima, mais parecido com um paredão de tijolos, numa roupa de cowboy cheia de franjas.

BOB: - Agente Mulder? Sou Bob McKee.

Os dois trocam um aperto de mão. Bob aperta a mão de Mulder com muita força. Mulder fecha os olhos e tenta largar a mão de Bob. Mulder sacode a mão, não disfarçando a vontade de gritar de dor.

BOB: - Ainda bem que chegaram... Vi sua esposa com a minha mulher... Bonita potranca!

MULDER: - Ela não é minha esposa... É minha parceira.

BOB: - ... Azar o seu amigo. É uma bela potranca... Vamos conversar no meu escritório. Ou quer esperar por ela?

MULDER: - (DEBOCHADO) Não, tudo bem. A “potranca” se vira.

Os dois saem da sala. Scully e Lynn entram.

LYNN: - Vou pedir ao Rags que tire as malas do carro. Vou arranjar dois quartos bem confortáveis.

SCULLY: - Tem um estábulo? Acho que isso seria a ideia de confortável pro meu parceiro.

Lynn sorri. Mexe no computador.

LYNN: - Problemas?

SCULLY: - Bastante. Principalmente porque ele não parou o carro na estrada.

LYNN: - Ah, essa não! Agente Scully, estou com um problema. Tenho apenas um quarto vago. Mas tem duas camas... Isso é culpa do imbecil do meu marido, ele não entende nada de computador, já pedi para cuidar quando faz reservas... A única coisa que ele sabe fazer é treinar cavalos, cuidar de vacas e assistir musicais da Dolly Parton... Machista imprestável!

SCULLY: - ...

LYNN: - Se importa de dividir o quarto com seu parceiro?

SCULLY: - Tem duas camas?

LYNN: - Tem.

SCULLY: - Se ele me incomodar eu o mando pro estábulo, está certo?

LYNN: - Mando o Bob com ele.


Escritório de Bob – 10:21 P.M.

Scully entra. Mulder e Bob, sentados em poltronas, tomam um uísque enquanto conversam e riem. Param de rir quando a vêem. Bob se levanta.

BOB: - Sente-se, agente Scully. Quer uma bebida?

Scully olha atravessado pra Mulder.

SCULLY: - Não, obrigado. Eu não bebo em serviço.

Scully senta-se. Mulder olha pra ela, debochado.

BOB: - Bem, agora que você chegou, vou contar o que está acontecendo por aqui... Há alguns meses, tenho perdido muitos dos meus animais. Vacas, cavalos, potros... Eles somem de formas misteriosas.

SCULLY: - Algum vestígio dos animais depois disso?

BOB: - Não, nada. Sei o que está pensando, senhora Scully.

SCULLY: - Senhorita.

BOB: - Não foram roubados. Nunca peguei ninguém estranho aqui dentro. Os bichos começam a fazer um estardalhaço, eu saio com a minha Meg...

SCULLY: - Meg?

BOB: - É o apelido da minha espingarda.

Mulder segura um riso. Scully está séria e brava.

BOB: - Mas quando eu chego, sempre percebo que um dos animais desapareceu. Eu digo pra minha potranca, mas ela acha que são os vizinhos que roubam os animais...

SCULLY: - (CURIOSA) Potranca?

Mulder disfarça o riso, virando o rosto.

BOB: - A minha esposa.

SCULLY: - (INCRÉDULA/ IRRITADA) Ah!

MULDER: - Notou a presença de luzes estranhas quando isso acontece? Algum fenômeno misterioso...

BOB: - Nada. É como se eles desaparecessem no ar. Tenho cavalos premiados, as pessoas vem ao meu hotel para cavalgar, relaxar, fugir da vida da cidade. Isso vai prejudicar meus negócios, quando começarem a saber...

SCULLY: - Por que sua esposa desconfia dos vizinhos?

BOB: - Temos um negócio próspero por aqui, boas colheitas, animais que são bons reprodutores... Ela acha que é inveja, porque nos últimos anos as colheitas têm sido ruins para as pessoas que moram aqui. Mas eu sou o único da região que tem conseguido lucro.

MULDER: - E atribui a quê tanta sorte?

BOB: - Boas sementes, bom solo. Está sendo sorte mesmo. Sabem que estamos no meio do caminho de tornados. Mas eles nunca arrasam minha fazenda. Eles podem passar raspando, mas nunca por aqui.

SCULLY: - Tem alguém que gostaria de prejudicá-lo?

BOB: - Não que eu saiba. Não acredito que sejam os vizinhos. Tem alguma coisa extraterrestre por aqui. Já ouvi sobre isso.

MULDER: - Geralmente casos que envolvem extraterrestres são sempre seguidos de mutilação dos animais. Há relatos raros de animais que são levados e que nunca retornam.

Scully olha para os dois, debochada.

BOB: - Ah, então sabe do que estou falando. Mulder, gostei de você. Acho que vai resolver o mistério. Acho melhor jantarem, descansarem e amanhã mostro a minha propriedade.

Bob levanta-se. Sai da sala. Mulder levanta-se, olhando pra Scully.

MULDER: - É um bom sujeito... Simples, na dele...

SCULLY: - (IRRITADA) Mulder, se me chamar de ‘potranca’ está ferrado!


BLOCO 2:

11:01 P.M.

Mulder, Scully, Bob e Lynn, estão sentados à mesa, numa bonita sala de jantar.

BOB: - Vocês são meus convidados, quero que se sintam à vontade... Mulher, traga a sobremesa pras nossas visitas.

Lynn levanta-se da mesa, servilmente.

MULDER: - (DEBOCHADO) Como consegue isso?

BOB: - Impondo respeito. Eu sou o homem por aqui. Ela sabe o lugar dela.

Scully fuzila Mulder com os olhos.

BOB: - Então, Vaqueiro? Entende alguma coisa de cavalos?

MULDER: - Sei que eles tem quatro patas.

BOB: - (RINDO) Essa é boa! Se tiver um tempinho, vou mostrar pra você como se doma uma égua selvagem.

Mulder disfarça o riso e olha pra Scully. Ela está furiosa.

MULDER: - Acho que preciso aprender a fazer isso.

Scully chuta a canela de Mulder por debaixo da mesa.

MULDER: - É, preciso urgentemente aprender como se faz isso.

Lynn entra com a sobremesa.

BOB: - Gosta de uma boa cerveja, Mulder? Vamos lá pra fora. Homens precisam de espaço pra conversar.

Mulder levanta-se. Scully está com uma fisionomia de ‘quero esganar esses dois’. Bob levanta-se e olha pra Lynn.

BOB: - Mulher, leve umas cervejas pra nós na varanda.

Mulder e Bob saem. Scully levanta-se.

SCULLY: - Como pode?

LYNN: - O quê?

SCULLY: - Como pode aguentar viver desse jeito? Ele não faz nada sozinho?

LYNN: - (RESIGNADA) Não. Se não estou por perto ele não acha nem as cuecas. Já nem ligo mais! São 17 anos de casamento. Ele não vai mudar nunca.

SCULLY: - Me desculpe, mas eu me irrito profundamente com essas coisas.

LYNN: - Você não viu nada. E quando ele resolve entrar de botas sujas no quarto? Tenho vontade de esganá-lo!

SCULLY: - Compreendo perfeitamente. Conheço bem esse tipo!

Lynn começa a recolher os pratos. Scully a ajuda.


12:13 A.M.

[Som: Johnny Cash – A boy named “Sue”]

Música country saindo de um velho rádio na varanda. Mulder sentado na cadeira de balanço. Bob, na rede. Mulder começa a rir, enquanto bebe uma cerveja.

MULDER: - Essa foi boa!

BOB: - Olha, FBI, acho que você devia ficar aqui por uns tempos. Aposto que esqueceria suas preocupações.

MULDER: - É, tenho tido muitas nos últimos tempos... Você é um sujeito divertido. Aposto que não tem muitas preocupações na vida.

BOB: - Tenho, mas... Adianta ficar me preocupando?

Mulder aspira fundo, fecha os olhos.

MULDER: - Ah, o ar do campo... Eu daria minha vida pra morar num lugar como esse!

BOB: - É um bom lugar... Posso me considerar um cara de sorte. Tenho uma mulher maravilhosa, minha Meg, uma pick-up, os discos da Dolly Parton... Esse céu estrelado toda a noite... Isso é que é vida!

MULDER: - Concordo com você, Bob. Isso é que é vida!

Mulder fica olhando pro céu. Bob também.

BOB: - E aí, sabe usar um laço?

MULDER: - Não, nunca fui vaqueiro. Só em brincadeiras de criança...

BOB: - Não estou falando disso... Estou falando em laçar aquela mulher.

MULDER: - A Scully?

BOB: - Ora, Vaqueiro, há algo mais entre vocês do que duas credenciais federais... Ela gosta de você. E você gosta dela.

MULDER: - (RINDO) Eu não sou o homem dos sonhos dela.

BOB: - E acha que eu, gordo, feio e burro, sou o homem dos sonhos da minha mulher?

Os dois riem.

MULDER: - (DESCONSOLADO) Não sou bom com as mulheres. Eu sempre as deixo irritadas. É um dom natural.

BOB: - Mulheres gostam de ficar irritadas. Enquanto estão irritadas com você é sinal de que gostam de você. Eu sou machista, nunca neguei. Sou um bagunceiro por natureza. A Lynn fica maluca comigo. Mas eu sei o jeitinho certo de conquistá-la. Precisa aprender a observar sua mulher. Vai descobrir a maneira certa de pegá-la.

MULDER: - Isso funciona?

BOB: - Comigo funcionou. Isso varia de mulher pra mulher. Algumas ficam caídas com seu jeito desleixado, outras com a forma como olha para elas, outras com uma rosa... Sempre há um jeito de pegá-las, Vaqueiro. Mulheres são como bons cavalos de raça. Só funcionam no carinho. Se ficar dando chicotadas, vai ter um animal revoltado do seu lado. E nenhum homem gosta de uma mulher revoltada. Mulher revoltada é como o diabo. Se virar as costas...

MULDER: - Ela não se ofende por chamá-la dessas coisas?

BOB: - Ela gosta. Fica fazendo charme, mas no fundo ela gosta... Na verdade, ela tem estudo, eu não tenho. Fui criado no meio de cavalos a vida toda. É a maneira que tenho de falar, que tenho pra expressar meus sentimentos. Ela sabe que minha paixão são os cavalos. Então sabe que quando a chamo de potranca, é um elogio.

MULDER: - ... Aposto que a Scully odiaria se eu a chamasse de ‘minha etêzinha’...

BOB: - Laça essa mulher, FBI. Se perder pode não achar outra de boa raça. Se tiver jeito, vai colocar arreios nela e ela ainda vai achar maravilhoso...

MULDER: - Não, não a Scully. Ela não gosta de arreios.

BOB: - Vai por mim, Vaqueiro, toda a mulher gosta.


12:33 A.M.

Mulder entra no quarto. Scully está deitada numa cama, ainda vestida de saia e blusa, lendo um livro. Mulder fecha a porta. Tira o paletó e os sapatos. Atira-se na outra cama. Fecha os olhos.

MULDER: - (CURIOSO) Uma coisa me perturba. O que fez com aqueles 30 dólares?

SCULLY: - (SEM DESGRUDAR OS OLHOS DO LIVRO) Paguei uma faxineira pra arrumar seu apartamento.

MULDER: - Scully, o que considera um bom homem pra você?

SCULLY: - (OLHA PRA ELE) Que tipo de pergunta é essa, Mulder?

MULDER: - Me responda.

SCULLY: - (OLHOS NO LIVRO) Você. Você é um bom homem pra mim.

MULDER: - Mas eu não sou o homem dos seus sonhos.

SCULLY: - Não vivo de sonhos, Mulder. Vivo de realidade.

Mulder vira-se pra ela. Scully continua a ler o livro, sem olhar pra ele.

MULDER: - O que mudaria em mim se pudesse?

SCULLY: - Nada.

MULDER: - Nada? Nem minhas maneiras?

SCULLY: - Nada. Gosto de você como você é: bagunceiro, comilão, crianção, curioso, pervertido, bobo...

Mulder deita-se. Sorri. Scully continua lendo. Mulder levanta-se. Caminha até a janela. Olha pra fora, vê o celeiro, as árvores.

MULDER: - Não gostaria de passar a vida toda num lugar desses?

SCULLY: - Não sei, Mulder... Fui criada na cidade...

MULDER: - (INTERROMPENDO) Scully, tem alguém entrando no celeiro!

Scully pula da cama. Põe os sapatos. Mulder pega a arma.


12:46 P.M.

Mulder e Scully entram no celeiro, com lanternas acesas e armas em punho. Caminham lentamente, um pra cada lado, revirando o local. Os animais estão agitados. Mulder vê uma lanterna de camping num canto. Acende-a, iluminando mais o local.

SCULLY: - Não tem nada aqui, Mulder.

MULDER: - Vi alguém entrando, Scully.

SCULLY: - Aqui só tem vacas, Mulder.

MULDER: - Vacas não caminham sobre duas pernas...

Mulder levanta a lanterna. Vê uma escada de madeira. Sinaliza pra Scully. Scully mira a arma pra cima. Mulder sobe na escada. Chega lá em cima.

MULDER: - Scully, sobe aqui.

Scully sobe a escadinha. Vê Mulder agachado.

SCULLY: - O que achou?

MULDER: - Veja isto.

SCULLY: - (APROXIMANDO-SE) O que é?

MULDER: - Palha.

SCULLY: - Mulder, se não percebeu há pilhas de feno aqui em cima!

MULDER: - Mas não tão envelhecido.

Scully pega uma amostra. Observa-a contra a lanterna.

SCULLY: - Tem razão, Mulder.

Mulder levanta-se. Há uma janelinha aberta. Ele olha lá pra baixo, não vê nada.

MULDER: - Seja quem for, Scully, deve ter fugido por aqui.

SCULLY: - Mulder, ninguém pularia numa altura dessas!

MULDER: - Então como explica que desapareceu quando chegamos?

SCULLY: - E deixou feno como pista? Mulder, não está sugerindo que a “Vacaláctica” esteve aqui para abduzir suas companheiras e saiu voando pela janela!

MULDER: - Scully, não acredito que essa besteira saiu da sua boca!

SCULLY: - Mulder, vamos voltar pro quarto.

Mulder atira-se numa pilha de feno.

SCULLY: - O que vai fazer? Mulder, eu não acredito que vai ficar aqui a noite toda trabalhando como segurança de uma pilha de hambúrgueres vivos!

MULDER: - Nossa, Scully, como você é insensível com as vaquinhas...

SCULLY: - Tá bom, Mulder, tá bom... Eu não acredito que vou dormir no meio de palhas e cheirar estrume de vaca a noite toda!

MULDER: - Não pedi pra ficar.

SCULLY: - Droga, Mulder!

Mulder pendura a lanterna num prego.

MULDER: - Achei algo pra você fazer.

Mulder pega uma revista de palavras cruzadas, atirada num canto, com uma caneta, e várias pilhas de jornais.

MULDER: - Toma, vá se divertir, enquanto eu cuido das vaquinhas.

SCULLY: - Como conseguiu isso?

MULDER: - Acho que o Bob deve se esconder aqui quando a ‘potranca’ está furiosa.

Scully tira os sapatos. Levanta a saia. Começa a tirar as meias de nylon.

MULDER: - (EMPOLGADO) O que está fazendo?

SCULLY: - Não acha que vou desfiar minhas meias caras nesse monte de palha aí.

Mulder fica desanimado. Scully coloca os sapatos novamente. Põe as meias num canto. Senta-se no feno. Pega o livrinho e a caneta. Mulder escora-se numa amurada de madeira e observa as vacas lá embaixo.

MULDER: - Sabe, Scully, acho as vacas interessantes. Só não gosto quando caem em cima de mim.

SCULLY: - Vacas não são animais interessantes, Mulder.

MULDER: - Ingrata! As vaquinhas, pobrezinhas, nos alimentam desde pequenos... São animais perfeitos na natureza.

SCULLY: - ... (CONCENTRADA)

MULDER: - São passivas... tolerantes... Pobres vaquinhas...

SCULLY: - ... Composição poética ligeira... Tem cinco letras, a segunda é ‘ R ‘...

MULDER: - ... Trova?

SCULLY: - ... É.

Mulder deita-se no feno. Coloca um galho na boca e começa a triturar com os dentes. Fica olhando para as vacas lá embaixo.

SCULLY: - Ator de Máquina Mortífera...

MULDER: - Gibson?

SCULLY: - Não, o outro.

MULDER: - Danny Glover.

SCULLY: - Isso...

Mulder desvia sua atenção pra Scully. Scully está sentada, de costas pra ele. Mulder a observa, com desejo. Ergue-se. Aproxima-se de joelhos por trás dela. Cheira seu cabelo. Fecha os olhos.

SCULLY: - Substância obtida da destilação da hulha. Quatro letras.

Mulder coloca as mãos na cintura dela e começa a beijar-lhe os ombros. Scully se afasta.

SCULLY: - Pára com isso! Já disse que você está de castigo! Não vai ter nada de mim!

MULDER: - Por quanto tempo?

SCULLY: - Um mês! E se me irritar vai pra dois!

Mulder senta-se, emburrado.

MULDER: - Tudo por causa de um mousse?

SCULLY: - ... Fala, vai. Qual é a substância?

MULDER: - Breu.

SCULLY: - É mesmo!

Mulder deita-se, com a cabeça perto das pernas dela. Scully está concentrada. Mulder olha pro rosto dela, para os peitos dela. Começa a passar uma palha pela perna dela. Scully olha pra ele.

SCULLY: - Pára! Você nunca aprendeu o significado da palavra não?

MULDER: - Não.

Mulder fita as canelas dela. Olha para os sapatos altos e pretos. Ela continua compenetrada nas palavras cruzadas.

MULDER: - Você tem pernas lindas, sabia? São sexys, perfeitas. Não são finas, odeio mulheres de pernas finas...

SCULLY: - ... Satisfação sexual com seis letras.

MULDER: - S-C-U-L-L-Y.

Scully olha pra Mulder, séria. Mulder chupa os tornozelos dela.

SCULLY: - Pára com isso, Mulder!

Mulder vai subindo pelas pernas dela, enquanto as acaricia com as mãos. Scully dá com a revista na cabeça dele. Ele pára. Senta-se emburrado.

SCULLY: - Que coisa, Mulder! Está ficando surdo?

MULDER: - Não. Estou ficando excitado.

SCULLY: - Vai, me diz a palavra.

MULDER: - Que palavra?

SCULLY: - Satisfação sexual com seis letras.

MULDER: - P-R-A-Z-E-R... Scully, por que está me evitando? Por que faz isso comigo?

SCULLY: - Não estou fazendo nada com você, Mulder.

MULDER: - É esse o problema. Estamos sozinhos aqui, eu você, o feno...

SCULLY: - E um monte de vacas...

MULDER: - Elas estão lá embaixo, Scully. Não vão ver nada.

SCULLY: - Não me importo com as vacas, Mulder. Você é o problema!

MULDER: - (DESESPERADO) ... Scully, por favor... Eu estou... estou explodindo de tesão!

SCULLY: - Pois vai explodir. Hoje não! Nem amanhã, nem depois!

Scully fecha a revista.

SCULLY: - Você me deixa perturbada, estou errando coisas que não erraria!

MULDER: - (INDIGNADO) Ah, quer saber de uma coisa? Quem não quer nada com você sou eu! Vá dormir e me deixe em paz com as minhas vaquinhas! Você não vai suportar ficar longe de mim tanto tempo, Scully! Você é uma tarada! Mas pense duas vezes antes de implorar. Porque eu vou dizer não! E eu consigo! Não tenha dúvida!


8:21 A.M.

Mulder, Scully e Bob aproximam-se dos estábulos. Um rapaz escova o pêlo de um cavalo.

BOB: - Quero apresentar pra vocês o Rags.

O rapaz tira o chapéu pra cumprimentar Scully.

BOB: - Rags, traga bons cavalos. Vou mostrar a fazenda pros meus amigos.

O rapaz entra no estábulo.

MULDER: - Quem é ele?

BOB: - Uma história triste. Foi preso por roubar comida. Apareceu aqui pedindo um emprego. Sabe como é, as pessoas têm preconceitos com ex-presidiários. Ele demonstrou ser muito amável com os animais. Está na fazenda há uns 2 anos. É um bom rapaz. Fala pouco, sai pouco. Acho que não gosta muito de pessoas, prefere a companhia dos bichos.

SCULLY: - Verificou a ficha dele?

BOB: - Não, nunca me importei com isso. Como eu disse, as pessoas precisam de uma segunda chance. Errar é humano.

Scully olha pra Mulder. Rags conduz três cavalos pelas rédeas.

BOB: - Sabem montar?

Mulder olha pra Scully, debochado. Scully devolve o mesmo olhar, enquanto sobe num dos cavalos, sem problemas.

SCULLY: - Vamos, Mulder?

MULDER: - (MEDROSO) Não podemos ir à pé?

BOB: - Vamos lá, Vaqueiro. Vai conseguir.

Mulder tenta, tenta e não consegue. Bob o empurra. Mulder resvala na cela e cai do outro lado do cavalo. Scully começa a rir.

MULDER: - Muito engraçado, Scully. Estou morrendo de rir. Ai!


BLOCO 3:

10:01 A.M.

Em frente ao estábulo, Rags ajuda Mulder a descer do cavalo.

BOB: - Então, Vaqueiro? Preparado pra caçar bandidos como no Velho Oeste?

MULDER: - Faço isso melhor à pé!

Scully desmonta. Faz carinhos no cavalo.

SCULLY: - É um animal muito dócil... Muito bonito.

BOB: - Eles são acostumados com as pessoas.

Rags põe a mão no bolso. Entrega dois torrões de açúcar pra Scully. Scully sorri. Coloca na boca do cavalo.

BOB: - Viu, ele não morde. É um bicho muito mansinho.

Mulder entra no estábulo. Rags fica observando-o. Scully está distraída com o cavalo. Mulder caminha pelo estábulo. Olha por tudo. Agacha-se, pegando um pouco de feno do chão. São palhas velhas demais. Mulder as coloca no bolso.


Quarto de Mulder e Scully - 5:46 P.M.

Scully, sentada na cama, lê alguns registros no laptop.

SCULLY: - Bernard Rags... Cumpriu pena por assalto à mão armada num supermercado... Foi abandonado pelos pais quando era criança... Mulder, Rags não mentiu.

MULDER: - Tem alguma coisa estranha por aqui, Scully.

SCULLY: - Que motivos o rapaz teria pra roubar animais de quem lhe deu uma chance na vida? Mulder, isso não faz sentido. Ele é tratado como se fosse da família!

MULDER: - Enviei as duas amostras de feno pro FBI. Conversei com os vizinhos... O que descobriu, Scully?

SCULLY: - Bem, conversei com algumas pessoas e realmente, Mulder, a única fazenda que tem algo a colher por aqui é a do senhor McKee.

MULDER: - As pessoas estão com medo, Scully. Dizem que há um espírito que ronda estas terras e que ele está protegendo a colheita dos McKee.

SCULLY: - Espírito?

Mulder senta-se na cama de Scully.

MULDER: - Conversei com um velho senhor, que mora há alguns quilômetros daqui... Perguntou se eu conhecia a lenda do Velho Espantalho.

SCULLY: - (INDIGNADA) Ah, por favor, Mulder! Não vai dizer que um espantalho está roubando vacas e ao mesmo tempo protegendo a colheita!

MULDER: - O que fazem os espantalhos, Scully? Não protegem as colheitas?

SCULLY: - Protegem dos corvos, Mulder! Não de tornados e fenômenos da natureza!

MULDER: - A lenda diz que havia um viajante pobre que usava um casaco de retalhos. Andava sem rumo de fazenda em fazenda pedindo pão para matar sua fome, mas como as colheitas estavam prejudicadas, nenhum dos fazendeiros deu nada ao andarilho, até que ele chegou na última fazenda que havia.

SCULLY: - ...

MULDER: - O dono da fazenda, um senhor com vários filhos, mesmo não tendo muito a oferecer como os outros, matou a única vaca que restava e pediu à esposa que pegasse o pouco de trigo que tinham e preparasse alguns pães. Deu pão e carne ao andarilho e também lhe deu uma cama para dormir. No outro dia, cedo da manhã, quando o fazendeiro foi acordar o andarilho, ele havia desaparecido, restando apenas palhas de feno envelhecido sobre a cama.

SCULLY: - (ATENTA) ...

MULDER: - O fazendeiro achou que ele havia partido. Então quando saiu de sua casa percebeu que um milagre havia se realizado. Misteriosamente o campo, que antes era terra seca, estava repleto de trigo e pés de milho com espigas enormes e viçosas... E no meio da plantação, a protegendo de braços abertos, estava um espantalho vestindo o casaco de retalhos do andarilho.

SCULLY: - Mulder, boa noite. Não estou interessada no folclore regional.

Scully volta a atenção para o laptop.


Varanda do Hotel – 7:17 P.M.

Bob, sentado na cadeira de balanço, com uma cerveja, começa a rir. Mulder bebe cerveja também. Scully se aproxima.

BOB: - FBI, acho que já bebeu demais. Ou o tombo do cavalo tirou seus miolos do lugar! Não dê ouvidos à essa gente, eles são supersticiosos.

MULDER: - Mas conhece a lenda do espantalho, não conhece?

Scully senta-se na rede, observando Bob.

BOB: - Claro que conheço. Mas conheço a segunda versão não muito divulgada. O povo daqui acredita que há muitos anos, um fazendeiro vendeu sua alma ao diabo, em troca de uma colheita próspera. Para isso, o diabo encarnou-se num espantalho. Quem invocar o espantalho, terá proteção em sua colheita. Mas terá uma morte trágica em troca.

MULDER: - E sabe onde está este espantalho?

BOB: - Ora, ninguém nunca o viu! É uma lenda, Vaqueiro do FBI. Uma lenda. Coisa pra assustar crianças.

MULDER: - Achei palha muito velha em seu estábulos e no celeiro.

BOB: - Há palha velha por todo o canto. Há espantalhos nas minhas lavouras. Se quiser vê-los, peço ao Rags para acompanhá-lo.

Scully olha pra Mulder, incrédula.


8:11 P.M.

No meio de uma plantação de milho, Scully e Mulder observam um espantalho.

SCULLY: - Mulder, acho que você assistiu todas as reprises do filme Colheita Maldita, não?

MULDER: - ... É um dos meus filmes preferidos de terror.

SCULLY: - Mulder, não vai ficar a noite toda sentado aí olhando pra esse espantalho! Você é patético, Mulder!

MULDER: - (DEBOCHADO) É claro que sim, meu docinho de maracujá, que tende a ter um lado doce mas o sabor azedo predomina.

SCULLY: - Pois vai ficar aí sozinho. Eu vou voltar pro meu quarto. E se o Bob reclamar que andaram ‘atacando’ as vacas dele durante a noite, você pode se considerar um homem morto!

MULDER: - (DEBOCHADO) Nossa, Scully, que maldade! Eu gosto de sexo animal, não de sexo com animais! E se você ficasse aqui, as vaquinhas ficariam seguras.

Scully dá as costas pra Mulder e sai irritada. Mulder vai atrás dela.

MULDER: - Ei, você não vai me deixar sozinho aqui, Scully! E se acontecer alguma coisa comigo?

SCULLY: - Problema seu, Mulder.

MULDER: - E se o espantalho me atacar?

SCULLY: - Mulder, tem dois espantalhos nesta fazenda. Um pendurado no meio desse milharal, outro andando como um pateta atrás de mim.


Quarto de Mulder e Scully - 10:14 P.M.

[Som: Elvis Presley – Blue Suede Shoes]

Mulder está deitado, com fisionomia de pânico. Scully anda de um lado para outro, irritada.

SCULLY: - Por que não pode simplesmente achar que é um ladrão? Não, Mulder, você tem que acreditar que é um espantalho demoníaco e ladrão! Você tem mania de ver chifre em cabeça de cavalo!

MULDER: - ... Cavalos não têm chifres, Scully. Unicórnios têm.

Scully entra no banheiro e bate a porta na cara dele. Mulder fecha os olhos.

MULDER: - (INDIGNADO) Mulheres... Minha paciência tá se esgotando com você, Scully! Não acredito que está fazendo tudo isso por causa de um mousse de maracujá, que nem estava tão bom assim!

Scully abre a porta do banheiro. Olha furiosa pra ele.

SCULLY: - Então por que você comeu?

MULDER: - A-ha!!!! É por causa do mousse mesmo! Scully, você que é egoísta! E é doida, sabia? Ficar brigando por uma coisa dessas? Pois quando voltarmos pra Washington, vou encher sua geladeira de mousse de maracujá! Quero ver você comer até explodir! E o pior de tudo: Você é mentirosa! Se está de dieta, por que fez mousse de maracujá?

SCULLY: - ... (CONSTRANGIDA) B-bem...

MULDER: - Confessa: Você fez aquele mousse pra mim!

SCULLY: - (NERVOSA) N-Não, não fiz. Fiz pra mim! Acha que iria fazer alguma coisa pra te agradar, Mulder? Acha que eu iria cozinhar especialmente pra você, seu egocêntrico machista?! Eu não sou dessas mulheres que levam cerveja e trazem a sobremesa!

MULDER: - Mas não está sempre de dieta?

SCULLY: - E daí?

MULDER: - Se continuar a fazer dieta, Scully, vai desaparecer!

Scully volta pro banheiro batendo a porta.

MULDER: - (INDIGNADO) Eu não entendo as mulheres! Acho que o Bob tem razão. A coisa funciona na porrada! Esse negócio de ficar quieto, recebendo ordens é pra frouxos! Vou ensinar pra você qual é o seu lugar, mulher! De hoje em diante vai esquentar a barriga no fogão e esfriar no tanque!

Scully sai do banheiro, com a escova de cabelo nas mãos.

SCULLY: - (IRRITADA) O que disse, Mulder?

MULDER: - ... Nada.

SCULLY: - Você anda ouvindo o que aquele machista hipócrita diz?

MULDER: - (IRRITADO) Vocês mulheres gostam de homens que as coloquem em seus devidos lugares! Eu sou frouxo, por isso a coisa nunca anda!

SCULLY: - Mulder, está pra nascer o homem que vai mandar em mim!

Mulder levanta-se. Olha pra ela furioso. Aproxima-se e a encara.

MULDER: - O que disse, mulher? Pois acho que já está na hora de parar com essas besteiras e ir dormir! Vá já para a cama! E eu quero uma massagem nas costas!

Scully acerta a escova na testa dele.

MULDER: - (RESSENTIDO) Ai, você bateu em mim!

SCULLY: - (GRITA) Está pedindo pra apanhar! Vá dormir você! E saia já da minha frente! Mulder, não me teste, não vai gostar da minha reação!!!!

Mulder volta pra cama, emburrado. Scully volta pro banheiro, batendo a porta.

MULDER: - Já me roubou 30 dólares! Não se vingou ainda?

Scully sai do banheiro. Aponta a escova pra ele.

SCULLY: - Quer mais?

MULDER: - (EMBURRADO) Não. Já estou servido!

Scully deita-se na cama.

SCULLY: - Boa noite.

MULDER: - Péssima noite! Espero que sonhe comigo, comendo todos os mousses de maracujá do mundo!

Mulder levanta-se furioso. Entra no banheiro e bate a porta. Scully vira-se na cama e fecha os olhos.


6:21 A.M.

Mulder caminha pela plantação de milho. Vê o espantalho ao longe. Aproxima-se. Observa o espantalho. Puxa algumas palhas que saem do casaco rasgado.

MULDER: - Palhas novas...

Mulder caminha entre o milharal. O vento agita as plantas. Mulder sai do milharal. Vê o estábulo ao longe. Atravessa um enorme terreno não lavrado, mas com um suporte de espantalho. Mulder aproxima-se. Vê o suporte vazio.


7:11 A.M.

Bob está na varanda, tomando café.

BOB: - E aí, FBI? Acordou cedo hoje!

MULDER: - O que estava plantado naquele pedaço de terra, atrás do estábulo?

BOB: - Lá? Havia uma plantação de milho. O milho é uma cultura que desgasta muito o solo. Preciso trocar os locais de plantio até restaurar a terra.

MULDER: - O que fez com o espantalho?

BOB: - Que espantalho?

MULDER: - Havia um espantalho. O suporte ainda está lá.

BOB: - Rags o queimou, estava velho demais. Ah, Vaqueiro, ainda está com essa história na cabeça?

MULDER: - Acho que tem um espantalho protegendo sua fazenda.

BOB: - E matando o meu gado? Meus cavalos?

MULDER: - Não. Alguém está fazendo uma oferenda pra ele, em troca de proteção.

BOB: - Não está dizendo que eu tenho algo a ver com isso.

MULDER: - Não. Mas desconfio do seu amigo Rags.

BOB: - O Rags não faria mal aos animais!

MULDER: - Nem pra ajudar você, como retribuição do que fez por ele?

BOB: - FBI, vou te dizer uma coisa. Senta aí, toma um café comigo.

Mulder puxa a cadeira e senta-se.

BOB: - (GRITA) Mulher, traga uma xícara para o Vaqueiro!

MULDER: - ...

BOB: - Acho que ficou cismado com a ideia do espantalho porque quer afastar pensamentos diabólicos da cabeça.

MULDER: - Que pensamentos?

BOB: - Você está com a chance e não tem a coragem. Estão no mesmo quarto.

Lynn entra. Põe a xícara pra Mulder. Vai servir o café. Mulder a impede.

MULDER: - Pode deixar, eu faço isso.

Lynn sorri e sai. Bob olha atravessado pra ele.

BOB: - Esse é o seu problema! Tem que mostrar pra ela que tem força de vontade.

MULDER: - ... Eu tenho um caso com ela.

BOB: - Ah, eu sabia! ... Então? O que está errado?

MULDER: - Ela está brigando comigo por causa de um mousse de maracujá!

BOB: - Besteira. Deve ter outro motivo. Ela está dando coices em você...

MULDER: - Eu não fiz nada de errado! A não ser que seja a bagunça... Acho mais plausível que ela brigue por isso do que por um maldito mousse!

BOB: - Em que pé está a situação?

MULDER: - Como assim?

BOB: - Discussões?

MULDER: - Não, eu não discuto com ela, a não ser em questões profissionais... Ela me bateu com a escova de cabelo. Me mandou dormir na outra cama.

BOB: - É sério, FBI. Quando elas fazem esse tipo de greve, é sério. Você a traiu, deixou furo?

MULDER: - Não!

BOB: - ... Então, precisa domar essa potranca.

MULDER: - Pra levar outro coice? Não, obrigado!


9:21 P.M.

Mulder e Scully estão no celeiro. Mulder observa o estábulo ao longe, pela janela.

MULDER: - Havia um espantalho naquele lugar. Bob disse que Rags o queimou. Eu não acredito. Acho que Rags está fazendo isso tudo.

SCULLY: - Matando os animais?

MULDER: - Precisamos ficar de olho nele. Eu vou ficar escondido e observá-lo durante essa noite.

SCULLY: - Mulder, se estiver certo, por que o Rags? Por que não o Bob ou a Lynn?

MULDER: - Intuição, Scully. Intuição.

SCULLY: - ... Ficarei com você.

MULDER: - Não, pode ir dormir. Eu estou bem.

SCULLY: - Não estou preocupada com você, Mulder. Quero apenas justificar o meu salário.

MULDER: - (IRRITADO) Tá, tá legal, essa doeu, sabia? Doeu mesmo!

SCULLY: - ...

MULDER: - Está assim porque estou morando com você! Invadi seu espaço! E não tem coragem de me mandar embora!

SCULLY: - Mulder, como pode pensar isso?

MULDER: - E o que deveria pensar? No mousse? Ora, Scully, depois eu é que sou criança!

Scully dá as costas e desce a escada. Mulder senta-se na pilha de feno.


2:21 A.M.

No escuro, Mulder, sentado no feno, observa o estábulo com um binóculo, pela janelinha do celeiro. Escuta a porta lá embaixo se abrindo. As vacas ficam inquietas. Mulder levanta-se, com medo. Pega a arma. Fica em silêncio. Percebe que alguém se aproxima, subindo pela escada.

SCULLY: - Mulder?

Mulder abaixa a arma, soltando a respiração. Scully acende a lanterna. Está com um cobertor nas mãos.

SCULLY: - Está frio, achei que...

MULDER: - (DEBOCHADO) Uau! Está se importando comigo? Milagres acontecem!

SCULLY: - (IRRITADA) Como se eu não me importasse com você!

Scully atira o cobertor nele. Senta-se no feno, ao seu lado.

SCULLY: - Viu alguma coisa?

MULDER: - Nada. Rags não saiu de lá. Nem o espantalho. Muito menos o Homem-de-Lata e o Leão-Covarde.

SCULLY: - (SEGURA O RISO) Rags ainda não foi dormir?

MULDER: - Não. Desci, fui espiar por lá, mas ele está cuidando dos cavalos... O que veio fazer aqui?

SCULLY: - Troca de turno.

MULDER: - Não, eu fico. Gosto da companhia das vaquinhas. Estávamos discutindo sobre a questão da insanidade. Elas perguntaram se eu, um psicólogo, não estaria interessado em ganhar um extra, como terapeuta de ‘vaca louca’.

Scully começa a rir.

SCULLY: - Mulder, eu não sei de onde tira tantas piadas! ... Hum, gostei dessa.

MULDER: - ... Se veio até aqui, não precisava trazer o cobertor pra me esquentar. Muito menos usar a desculpa das piadas...

SCULLY: - ... Estava sentindo falta das suas piadas.

MULDER: - Das piadas ou de mim?

Scully aproxima-se dele. Ajoelha-se por entre as pernas de Mulder.

SCULLY: - De você.

MULDER: - E o mousse?

SCULLY: - Esquece o mousse, Mulder. Quero você.

MULDER: - Então pede com carinho.

SCULLY: - Mulder, quero fazer amor com você.

Mulder a agarra furiosamente pela cintura. Beijos pelo pescoço dela. Scully começa a se entregar. Está ficando empolgada. Mulder percebe. A empurra. Ela cai deitada no feno.

MULDER: - (CÍNICO) Ah, não dá, Scully. Hoje ‘estou com dor de cabeça’.

Scully olha furiosa pra ele.

SCULLY: - (IRRITADA) Mulder, vai ficar de birra comigo? Sei que quer tanto quanto eu!

MULDER: - (DEBOCHADO) E o ‘um mês de castigo’?

SCULLY: - (GRITA) Agora são dois meses!

Scully se levanta furiosa. Desce as escadas.

MULDER: - Querer eu queria. Mas minha teimosia manda mais no meu corpo! (GRITA) Como diria o Bob, ‘lavei a égua’!

SCULLY: - (GRITA) Mulder, não fala mais comigo!

MULDER: - (GRITA) Não pretendo mesmo! Vá pra cama, ficar se rolando a noite toda, doidinha, subindo pelas paredes, suando frio! Vai ver o que eu passo! Depois me diga como é a sensação, Bruxa Malvada do Oeste!

SCULLY: - (GRITA) Três meses pra você, Mulder!

Mulder atira o cobertor lá de cima.

MULDER: - (GRITA) E leve seu maldito cobertor! Vai precisar dele!

SCULLY: - (GRITA) Quatro meses!

MULDER: - (GRITA) Por que não diz um ano? Afinal fiquei sete anos num chove e não molha! Um ano de abstinência é fichinha!

Scully sai caminhando por entre as vacas.

SCULLY: - (GRITA) Um ano!

MULDER: - (GRITA) Isso aí, Scully. Se você aguentar, porque eu vou procurar em outro lugar!

Scully pára. Vira-se pra ele. Mulder olha assustado pra ela. Ela mira a lanterna na cara dele.

SCULLY: - E acha que eu não vou?

MULDER: - Acha que me importo? Vai. Quero ver se vai achar outro otário que te exorcize como eu faço! Xô, Satanás!

SCULLY: - Vou achar alguém pra dar meu mousse de maracujá... Sabe as vaquinhas, Mulder? Observe as cabeças delas.

MULDER: - (RINDO/ PROVOCANDO) Observe você também. Vai completar a altura que queria. Baixinha! Acha que é a perfeita? A gostosa? Você nunca viu Baywatch!

Scully volta. Mulder treme. Scully pára embaixo da escada e olha pra cima. Mulder, escorado atrás da amurada, só com a cabeça pra fora, morrendo de medo, espia pra ela.

SCULLY: - Acha que é homem pra uma mulher daquelas? Você não dá conta do recado, Mulder! Da próxima vez, vá investigar uma fábrica de silicone. Já que gosta de coisas artificiais! Eu vou investigar uma praia de nudismo. Sou naturalista!

MULDER: - Muito engraçado, Scully. Mas não interessa se é natural ou não. Importa o tamanho!

SCULLY: - (DEBOCHADA) É verdade, Mulder. Você tem razão. Por exemplo, seu nariz é maior do que o seu... Ah, deixa assim. Nada é proporcional em você mesmo.

Scully sai do celeiro. Mulder fica emburrado. Volta pra janela e pega o binóculo.

MULDER: - (RESMUNGANDO) Muito bem, mulher. Você pediu! Vou te mostrar quem não dá conta do recado. Vou mostrar o que não é proporcional...


BLOCO 4:

4:21 A.M.

Mulder boceja. Continua olhando pela janela. Fecha os olhos. Pende a cabeça pra frente. Se acorda. Nenhum movimento no estábulo. Mulder pega o binóculo. Olha por ele. Vê Rags, dormindo numa rede. Mulder continua bocejando. Larga o binóculo. Encosta-se na parede. Olha pro relógio. Levanta-se. Acende a lanterna. Desce a escada. Passa pelas vacas, abre a porta. Pára. Vira-se pras vacas. Olha estranhamente pra elas.

MULDER: - Uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito... Cadê a número nove?

Mulder começa a procurar, entre as vacas.

MULDER: - Ei, alguma de vocês saiu pra algum encontro esta noite sem me avisar? Meninas, pedi pra deixarem um recado na porta da geladeira! Há um serial killer à solta! Não podem sair sozinhas por aí!

Mulder conta novamente. Uma das vacas sumiu.


Quarto de Mulder e Scully – 4:39 A.M.

Scully sente uma mão tocar em seu ombro. Acorda assustada, sentando-se na cama.

SCULLY: - Você não aprende né? Quer outra cotovelada no olho? Mulder, não adianta...

MULDER: - Uma das vaquinhas sumiu, Scully.

SCULLY: - Como assim?

MULDER: - Desapareceu. Eu estava com sono, mas não cochilei. Não ouvi barulho, nada. Simplesmente desapareceu.

SCULLY: - Procurou...

MULDER: - Procurei até do lado de fora. Nada. Sumiu.

SCULLY: - Mulder, vacas enormes não somem no nada!

Mulder abaixa a cabeça.

MULDER: - (TRISTE) Tadinha da vaquinha!

SCULLY: - Mulder, fala como se fosse um vegetariano! Se algo não a devorasse ou sumisse com ela, ela iria parar na sua mesa!

MULDER: - (IRRITADO) Argh, que crueldade, Scully! Eu não sei a procedência do meu bife e nem quero saber! ... (TRISTE) Mas me apeguei nessas vaquinhas... (CULPADO) Sou um imprestável mesmo. Prometi tomar conta das vaquinhas e... deixei que levassem a irmãzinha delas.

Scully tem um acesso de riso.

SCULLY: - Mulder, eu não sabia que gostava tanto de animais! Por que não gosta de cavalos?

MULDER: - Eles são traiçoeiros!

SCULLY: - Ah, Mulder... Não se sinta culpado. Era só uma vaca!

MULDER: - E daí? Era um ser vivo.

SCULLY: - Mulder, acho que está com sono, nem sabe o que está dizendo!

Mulder vai pra sua cama. Senta-se.

MULDER: - Não foi o Rags. Ele não saiu de lá a noite toda.

SCULLY: - Foi um... (RINDO) disco voador? (ERGUE AS SOBRANCELHAS) Quem sabe os marcianos estão montando um franchising do McDonald’s?

MULDER: - Isso é sério, Scully!

SCULLY: - Então acha que foi quem? Já pensou no Bob?

MULDER: - Ele não faria isso. Ele gosta das vaquinhas. Talvez a mulher dele... Ou você, que está com ciúmes delas!

SCULLY: - Confesso, você zela mais por aquelas vacas do que por mim! Mas eu não roubaria uma vaca, Mulder. Onde a esconderia?

MULDER: - É isso! ... Scully, e se eu estiver errado e alguém esteja roubando as vacas? Onde esconderiam?

SCULLY: - Num “vacão de trem”?

Mulder olha com desprezo pra Scully.

MULDER: - (INDIGNADO) Você consegue fazer piadas mais bestas do que eu. Parabéns!

Mulder deita-se.


8:21 A.M.

Mulder acorda-se com o barulho de algo se quebrando. Levanta-se, vestido apenas com as calças, e vai até a janela. Vê a colheitadeira no campo de trigo. Scully sai do banheiro, enrolada numa toalha, irritada.

SCULLY: - Quebrei meu vidro de perfume.

MULDER: - Aposto que o culpado sou eu.

SCULLY: - ....

MULDER: - Nossa! Que maldito mau humor! Se nos casarmos vai fazer essa cara todas as manhãs?

Mulder entra no banheiro. Scully abre o guarda-roupas. Tira a mala e começa a colocar as roupas nela. Senta-se na cama, furiosa. Mulder a espia pela porta, escovando os dentes.

MULDER: - O que está acontecendo?

SCULLY: - Cala a boca, Mulder!

MULDER: - Vai embora?

SCULLY: - Você é o senhor da razão. Pode desvendar o mistério sem a minha presença. Você está sempre certo, não foi o que disse?

Mulder volta pro banheiro. Scully pega uma camiseta. Entra no banheiro e o empurra pra fora. Mulder, com a escova de dentes na boca, fica olhando pra ela, assustado. Scully fecha a porta na cara dele.

Mulder olha pela janela e continua escovando os dentes. Scully abre a porta e sai vestida apenas de camiseta.

SCULLY: - Droga!

Mulder entra no banheiro. Scully abre a mala.

SCULLY: - Você me irrita tanto que esqueci o principal...

Scully revira a mala. Mulder sai do banheiro, secando a boca na toalha. Observa Scully, revirando a mala. Mulder fica olhando pras pernas dela, pro traseiro dela, com cara de tarado.

MULDER: - O que está procurando?

SCULLY: - Adivinha?

Mulder entra no banheiro. Volta, sacudindo uma calcinha.

MULDER: - Ô, Scully...

SCULLY: - Não me perturbe!

MULDER: - Tá procurando por isso?

Scully vira-se pra ele. Olha-o furiosa. Estende a mão pra pegar a calcinha, mas Mulder atira a calcinha pra dentro da mala.

SCULLY: - (IRRITADA) Por que fez isso?

MULDER: - Estou treinando basquete.

SCULLY: - Com a minha calcinha?

Mulder aproxima-se da cama. Fecha a mala e senta-se em cima. Scully olha irritada pra ele.

SCULLY: - Mulder, sai daí!

MULDER: - ...

SCULLY: - Quer apanhar?

Mulder ergue os ombros. Scully entra no banheiro. Volta com a escova de cabelos.

Mulder levanta-se. Pega a mala e atira do outro lado do quarto, furioso. As roupas dela se espalham pelo chão.

SCULLY: - Ora seu cretino! Mulder, você é estúpido!

Mulder aproxima-se dela. Scully ergue a escova. Mulder puxa a escova das mãos dela e atira longe.

[Som: Elvis Presley – Blue Suede Shoes]

Scully começa a bater no peito dele. Mulder a agarra. Os dois começam a brigar, corpo a corpo, e é óbvio que ela está perdendo. Mulder a encosta na parede, erguendo-a pelo bumbum, beijando-a. Scully tenta se desvencilhar dele.

SCULLY: - Me solta, Mulder! Me larga!... Pára, Mulder!

MULDER: - ...

SCULLY: - Mulder, está me machucando! Me põe no chão!

MULDER: - ...

SCULLY: - Mulder! Eu vou começar a gritar! Vou chamar a atenção do hotel todo!

MULDER: - ...

Scully pára de bater em Mulder. Agarra-se nele, desesperada. Envolve as pernas na cintura dele. Os dois trocam beijos enlouquecidos, agarrados, empurrando-se contra os móveis e deixando os objetos caírem no chão. Scully desce as mãos pelo corpo de Mulder e abre as calças dele.


11:37 A.M.

Scully, vestindo uma calça e uma blusa, olha pela janela. Levanta o vidro e respira fundo. Mulder está no banheiro, fazendo a barba.

MULDER: - (DEBOCHADO) Tá mais calma?

SCULLY: - (NAS NUVENS) Hum... Tô... Agora tô bem calminha...

Scully olha pela janela. Percebe que Bob entra correndo na plantação de trigo. A colheitadeira está parada. Alguns peões correm atrás de Bob.

SCULLY: - Mulder, aconteceu alguma coisa.

MULDER: - O que foi?

Scully coloca os sapatos. Mulder sai do banheiro. Scully sai correndo porta à fora. Mulder enfia a camisa pra dentro das calças e sai atrás dela.

 

Corta para o campo de trigo.

Scully aproxima-se da colheitadeira. Pessoas ao redor de algo que está no chão. Mulder vem atrás de Scully. Scully passa por entre os peões.

O corpo de Rags, estilhaçado pela colheitadeira.

Bob, agachado ao lado de Rags, enche os olhos de lágrimas, olhando pra Scully.

Scully respira fundo. Agacha-se e olha pra Rags. O corpo mutilado, inerte. Scully percebe uma mecha de feno envelhecida nas mãos de Rags.

Mulder ao ver a cena, vira o rosto.

Scully pega a mecha de feno das mãos de Rags. Coloca a mão sobre os olhos dele e os fecha, delicadamente. Levanta-se. Vai até Mulder.

MULDER: - Ele está morto?

SCULLY: - Está.

Bob aproxima-se dos dois. Olhos cheios de lágrimas, perplexo.

BOB: - Eu... Eu cheguei tarde. Só ouvi os gritos... Não posso entender... Como isso foi acontecer? Ele desceu da máquina, a desligou... A máquina não andaria sozinha...

Scully entrega a mecha de feno pra Mulder.

MULDER: - ... Em troca, uma morte trágica...

SCULLY: - Mulder, alguém poderia tê-lo matado e colocado o feno na mão dele! É obvio demais! Bob viu tudo, não suspeita dele?

BOB: - Acha que eu mataria o Rags, agente Scully?

Bob sai cabisbaixo, ainda com lágrimas nos olhos. Mulder olha pra Scully.

MULDER: - Não desconte sua ira nele. É comigo que está furiosa.

Mulder deixa-a ali. Sai caminhando. Scully vai atrás dele.

SCULLY: - Mulder, você acredita realmente na teoria do espantalho?

MULDER: - ... Deixa pra lá. Tenho minhas crenças e você as suas.

SCULLY: - Mulder...

Mulder vira-se pra ela, furioso.

MULDER: - Você sabe, bem no fundo, que eu sempre estou certo! Isso é um Arquivo X!

Mulder continua caminhando. Scully atrás dele.


2:36 P.M.

Bob está na varanda tomando um uísque. Mulder aproxima-se.

MULDER: - Sinto muito pelo Rags.

BOB: - (TRISTE) Sente-se aí, Vaqueiro do FBI. Beba em homenagem ao Rags.

MULDER: - Bob, no meu trabalho, denominamos isso como um Arquivo X, algo inexplicável.

Bob entrega um pedaço de pano envelhecido pra Mulder.

BOB: - Os rapazes acharam isso no estábulo. Acho que tinha razão, FBI. Talvez Rags fez um pacto com o espantalho. E ele veio cobrar. Pensei no que me disse. Considerei sorte ter o Rags aqui. Desde que ele apareceu, as coisas melhoraram pra mim. Ele foi o maior amigo que já tive. Pra ver a minha felicidade, deu sua vida, como forma de agradecer o que fiz por ele. Mas eu preferia tê-lo vivo a ter toda essa colheita.

MULDER: - ...

BOB: - E as vacas? Acha que ele as sacrificou? Até pode ser, mas por que sacrificaria os cavalos? Ele era apegado neles.

MULDER: - Não faz sentido, mas como eu disse, estou sem provas, de mãos vazias...

Mulder levanta-se. Bob continua bebendo.


4:31 P.M.

Mulder entra no quarto. Scully fecha a mala dele.

SCULLY: - Arrumei sua mala.

MULDER: - ... Por que fez isso?

SCULLY: - ... Não sei. Apenas fiz.

MULDER: - Desculpe pelo mousse, pela invasão da sua privacidade...

SCULLY: - Desculpe pelo meu humor. Não sei porquê estava daquele jeito... Às vezes sou incontrolável.

Scully aproxima-se de Mulder. Abraça-o.

SCULLY: - Está triste pelo Rags?

MULDER: - É. Mas estou confuso com esse caso. E isso me deixa irritado. Não gosto quando isso acontece.

Scully desabotoa a camisa dele.

MULDER: - O que está fazendo?

SCULLY: - Preciso me acalmar... Estou ficando mal humorada de novo...

MULDER: - (OFEGANTE) Scully, não provoca... Estou à flor da pele... E posso ficar selvagem se ouvir um não.

SCULLY: - Adorei seu lado selvagem... (TIRANDO A CAMISA DELE) ... Hum, Mulder, você tinha razão...

Scully abre a calça dele.

SCULLY: - Eu gosto que você mostre quem é o homem por aqui... Mas só entre quatro paredes...

Scully encosta-se na parede. Abre a blusa.

SCULLY: - Vem aqui, vem... Seu... Selvagem! ... Vou te deixar mais maluco do que já é...

MULDER: - Vai se arrepender, Scully...

SCULLY: - Vou maltratar você, Mulder. Sem piedade!

[Som: Elvis Presley – Blue Suede Shoes]

Os dois se agarram aos beijos. Rolam pelas paredes, enlouquecidos. Scully o encosta na janela. Mas não percebe que o vidro estava aberto. Mulder cai pela janela, dando um grito. Scully olha pra baixo. Põe as mãos na cabeça.

SCULLY: - Mulder? Mulder! Ah, meu Deus, o que foi que eu fiz?


6:47 P.M.

Scully entra no carro, no lado do motorista. Liga o carro. Mulder, sentado no banco de trás, escorando-se no vidro lateral, acena pra Bob. Scully dá a partida. Chega ao portão da fazenda e pára o carro.

SCULLY: - Está confortável aí?

MULDER: - Acho que estou.

Close na perna engessada de Mulder.

MULDER: - Eu achei que estava brincando quando disse que ia me maltratar... Você é muito maluquinha no que tange a sexo!

SCULLY: - Teve sorte, poderia ter fraturado a coluna na queda. Mulder, me desculpe... Eu esqueci que a janela estava aberta, e você me deixa arrepiada, sem razão... Prometo que vou fazer um mousse pra me desculpar.

MULDER: - Faça dois, Scully. Não quero brigas novamente.

Scully dirige. Entra na rodovia.

MULDER: - Scully, siga a estrada de tijolos amarelos... Sabe o que o Bob falou?

SCULLY: - Sobre o quê?

MULDER: - Disse que eu não tenho futuro como domador de éguas. Eu sempre caio da cela... Nasci pra ser domado.

SCULLY: - ... (RINDO)

MULDER: - ... Scully, tem uma coisa me intrigando. Qual a relação dos animais e do espantalho? Ninguém falou sobre sacrifício. O sacrifício era a morte do invocador. Não havia oferendas no ritual.

SCULLY: - Esqueça o espantalho, Mulder. Esqueça as ‘vaquinhas’... Talvez não haja ligação alguma...

MULDER: - Acho que está errada, Scully. Acredito que as vaquinhas foram sacrificadas pelo espantalho, ou ofertadas a ele. Há alguma ligação aqui que eu não consigo perceber...

SCULLY: - (IRÔNICA) Você está sempre certo, Mulder. Nem vou discutir...


Hotel Fazenda McKee - 10:46 P.M.

[Som: Johnny Cash – A boy named “Sue”]

Bob fecha o estábulo. Sai cabisbaixo, triste. (passando ao lado da câmera, que mantém o foco no estábulo).

Barulho apenas dos grilos.

Foco vai para o terreno vazio.

Câmera de aproximação lenta até o suporte do espantalho.

Há um espantalho velho, roupas carcomidas pelo tempo, de chapéu, preso no suporte. O espantalho move lentamente a cabeça para baixo, sem mostrar a face. As palhas que formam suas mãos simulam um movimento de mãos que se estendem.

Um corvo pousa no braço dele. Sai voando.

O foco sobe para o céu estrelado, simulando o voo do corvo.

Continuar a simulação de voo por sobre a fazenda. Estranhas esferas de luzes sobrevoam a plantação de trigo, formando figuras estranhas. Uma das esferas paira sobre o celeiro. Som de mugidos de vacas.

Fade out.


13/01/2000


22 de Noviembre de 2018 a las 06:49 0 Reporte Insertar Seguir historia
1
Fin

Conoce al autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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