Cuento corto
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Saturday Night

Não era segredo para ninguém o quão apaixonadinho Park Chanyeol era por Do Kyungsoo, o líder do clube de ocultismo, até se meteu a invocar demônios para ficar ainda mais perto do baixinho. Ele andava para cima e para baixo atrás do garoto rabugento com cara de poucos amigos e mesmo que vez ou outra ficasse com medinho do que o menor falava não conseguia diminuir nem um tiquinho sequer o abismo gigante que tinha.

Mas as coisas ficaram ainda mais esquisitas depois daquele halloween onde os dois ficaram presos na mansão dos Lee após o teste de coragem que o líder tinha proposto. Passaram a noite grudadinhos com a desculpa de que “estava frio demais” enquanto escutavam Oasis tocando baixinho no fone de ouvido. Não trocaram muitas palavras até os primeiros raios de sol começarem a despontar entre as frestas dos galhos e o resto do clube voltar para resgatar os garotos.

Na manhã de segunda-feira tudo parecia mais colorido para o gigante, o céu era mais azul, as flores mais cheirosas e até mesmo o cachorro implicante do andar de baixo parecia apenas um filhotinho adorável. Chanyeol também não se importou de pegar o ônibus cheio para a escola, tampouco com o inspetor Kim reclamando do seu tênis que ia contra o código de vestimenta, estava feliz demais para se importar com qualquer coisa.

Mas como Chanyeol tinha o dom de estragar tudo, foi só ver Kyungsoo atravessando a porta da sala de aula que se borrou todinho, tremendo dos pés à cabeça e zero capacidade de formular alguma coisa que prestasse.

– Bom dia, Chanyeol – Cumprimentou com um meneio de cabeça.

– B-b-bom d-dia, K-Kyung! – Gaguejou tanto que mal parecia estar falando em coreano.

Kyungsoo riu da cena e passou direto indo acomodar-se em sua carteira, deixando um Chanyeol completamente vermelho para trás. “Merda, merda, merda, merda!”, por que sempre ficava todo desconcertado quando estava na presença do menor? Era patético como se tremia todo e nada de inteligente saía da sua boca, como iria conseguir conquistá-lo daquele jeito? Enquanto sofria silenciosamente uma crise adolescente o professor entrou na sala dando início à aula de geografia.


– Vai se foder, eu não grito que nem uma menininha!

Na hora do almoço Jongdae estava com os ânimos alterados enquanto comia seu kimbap, Baekhyun dava língua como se fosse uma criança pequena e Sehun observava tudo sem demonstrar nada. Geralmente o clube de ocultismo não costumava se reunir para almoçar, mas naquela semana devido à aposta na casa mal-assombrada teriam de se encontrar para comprar a refeição dos ganhadores, a.k.a Chanyeol e Kyungsoo.

– Claro que não, só faltou se mijar todo lá dentro – Baekhyun soltava outra risada e o outro garoto se enfurecia.

– Como se você pudesse falar muita coisa, né? Acha mesmo que ninguém te ouviu chorando que nem uma criança?

Baekhyun ficou vermelho, primeiramente de vergonha, depois de raiva ao lembrar de Sehun sair correndo desesperadamente e ambos perderem o desafio. Jongdae sorriu sarcástico e a picuinha perdurou até o final do intervalo. Kyungsoo jejuava silenciosamente rindo vez ou outra das farpas trocadas, mas o mais chocante era Chanyeol quietinho na sua quando o normal era tagarelar até alguém tapar sua boca. E claro, não passou despercebido pelo líder do clube.

Quando o horário de almoço acabou e cada um seguia para suas salas, Sehun para o 2-A, Jongdae e Baekhyun para o 3-B e Kyungsoo e Chanyeol para o 3-D, mesmo enquanto os garotos discutiam animadamente o gigante manteve-se em silêncio. Quando entraram na sala e Chanyeol sentou-se na carteira, Kyungsoo foi ao seu encontro e quase provoca um infarto no pobre coração do Park ao aproximar os rostos.

– Qual o seu problema hoje, hein? – Sua voz saía baixinha, porém igualmente ameaçadora.

– N-nenhum...

Kyungsoo o analisou por alguns segundos num completo silêncio e o moreno orou para todos os deuses pedindo socorro para não morrer naquele instante. O baixinho soltou um suspiro cansado e voltou para sua carteira, deixando Chanyeol confuso e aliviado (muito mais aliviado).

A aula de história corria tranquilamente quando a professora decidiu que seria legal fazer um trabalho enorme e cansativo sobre a revolução francesa. Queria uma cartolina bem bonita para apresentar na frente de todo mundo valendo quatro pontos na média. Até aí tudo bem, o problema era que deveria ser feito em duplas, causando aquele desconforto básico em todo mundo, principalmente Chanyeol que não era lá muito sociável e não tinha amizade com ninguém da sala.

Ninguém exceto... Balançou a cabeça descrente, nunca que iria convidar Kyungsoo para ser sua dupla, esperaria todos se formarem para então anunciar que estava sozinho e se juntar a algum grupo aleatório. O que não contava era com a figura pequena parada em frente à sua mesa e a voz grossa ressoando próximo demais ao seu ouvido:

– Sábado na minha casa após o meio dia, se você se atrasar eu coloco seu boneco de vodu numa fogueira.

E da mesma forma que chegou furtivo, Kyungsoo sumiu entre a leva de alunos voltando para suas casas.


Chanyeol suava mais que um porco pronto para o abate (pois era exatamente assim que estava se sentindo por dentro) parado em frente à casa dos Do. Estava mais ou menos há uns cinco minutos ponderando se batia na porta ou saía correndo e se enterrava o cobertor de ursinhos até a próxima reencarnação. Daí lembrou da ameaça de Kyungsoo e ficou ainda mais nervoso, ele não seria capaz de machucá-lo daquele jeito... Seria?

Passava a mão nos cabelos bagunçados pela milésima vez e ensaiava o que dizer, não poderia gaguejar que nem um idiota sempre que trocasse algumas palavras com Kyungsoo, iria passar a tarde inteira com ele! Imagina só o mártir que faria o baixinho passar? Tinha se preparado a semana inteira, ensaiado o que dizer e decidido abrir a boca apenas para falar o necessário para concluírem o trabalho. Se ficasse de conversinha mole com certeza iria soltar outra besteira, já não bastava aquela confissão toda atrapalhada no halloween.

Enquanto travava uma batalha interna sobre desaparecer ou não, a porta da casa fora abruptamente aberta revelando um Kyungsoo com a cara mais amarrada que nó de marinheiro.

– Você vai ficar aí tendo uma crise adolescente até que horas? Cinco minutos que poderiam ser usados fazendo a porcaria do trabalho.

Chanyeol gelou, abriu a boca várias e várias vezes, mas tudo que conseguia era gaguejar um pedido de desculpas bem frouxo, estava tão nervoso que sequer percebeu que Kyungsoo tinha acabado de confessar que estava lhe esperando do outro lado da residência, tampouco suas bochechas levemente rosadas.

Pediu licença e repassou mentalmente todas as falas que tinha memorizado, iria apenas responder o básico da forma mais monossilábica possível e então terminariam o trabalho rapidinho. Seguiu o baixinho pela casa, era uma residência hanok pequena e aconchegante, bem ao estilo clássico oriental, com portas de madeira que davam para um pequeno jardim e permitiam a circulação do vento.

Passaram pela sala e deram de cara com uma senhorinha de mais ou menos setenta anos, estava assistindo televisão tranquilamente acompanhada de uns biscoitinhos. Quando percebeu a movimentação pela casa, virou-se para os dois garotos e sorriu:

– Quem é esse rapaz bonito, querido? – Ela falou e o grandão ficou todo sem jeito.

– Vó, esse é meu amigo, Chanyeol, veio fazer um trabalho da escola.

– Ah, sim, por isso a faxina no quarto.

– V-vó! – Kyungsoo engasgou-se.

Chanyeol segurou uma risada, aquela era a primeira vez que via o baixinho tão sem graça e ele ficava adorável com o rosto vermelhinho daquele jeito que estava. Kyungsoo o segurou pelo pulso e o puxou em direção ao cômodo, deixando a velhinha risonha para trás (e causando mais outro ataque no coração do maior).

Diferente do que Chanyeol imaginava, o quarto de Kyungsoo era bastante simples. As janelas grandes davam para o jardim ao centro da casa, as paredes eram de madeira clara e o chão revestido com tapume azul, havia uma pequena estante lotada de livros – e mais um bocadinho de CD’s de várias bandas que o garoto não fazia nem ideia que existia – e prateleiras com pequenas decorações. Ao lado da cama de solteiro havia um criado mudo bastante pequeno suportando um abajur branco e um daqueles gatinhos dourados que balançava a patinha sempre que você mexia. Ao centro do quarto havia uma pequena mesinha de madeira clara com um rádio pequenininho onde tocava uma música bem baixinha.

No mais era um quarto simples como outro qualquer, o que chocou um tantinho o garoto que observava tudo meio embasbacado. Ao observar a expressão supresa de Chanyeol parado no meio do cômodo, Kyungsoo soltou uma risada e falou:

– O que você estava esperando? Um caixão e morcegos no teto?

Chanyeol ficou todo vermelho de vergonha por ter sido pego naquela situação e timidamente entrou na brincadeira.

– Isso era o de menos, na verdade estava esperando dar de cara com as vítimas que você mantém acorrentadas.

– Ah, mas a casa é grande, ainda tenho muitos cômodos para escondê-las, além do mais, lembra o que a minha avó disse? Fiz uma baita faxina aqui.

Os dois riram como os bobos que eram e o grandão sequer percebeu que tinha soltado uma piadinha com tamanha fluidez, esquecendo o nervosismo de estar no quarto de Kyungsoo completamente sozinho com ele. Sentaram-se na mesinha e enquanto o anfitrião buscava o livro de história, Chanyeol tirava o material da mochila para confeccionarem o trabalho.

O resto da tarde passou sem muitos empecilhos e após duas horas resolveram dar uma pequena pausa para descansar e depois retomariam. Chanyeol estava tão centrado no trabalho que sequer percebeu o quão relaxado conseguiu ficar durante todo aquele tempo, não gaguejou e tampouco falou alguma besteira, estava sendo ele mesmo sem precisar ficar se policiando sobre o como agir. E Kyungsoo o achava lindo tão espontâneo daquele jeito, tanto que se perdeu na boquinha rosinha várias vezes ao longo daquela tarde e a ruguinha de concentração que se formava quando ele procurava informações no livro de história.

Mas então quando o assunto do trabalho encerrou e eles podiam conversar sobre trivialidades, Chanyeol congelou mais uma vez. O que tinha ensaiado mesmo? De repente as frases tão bem articuladas pareceram sumir e ele estava nervoso demais para puxar qualquer conversa que fosse. Seria muito chato ficar em silêncio? Talvez não, né? Kyungsoo era um cara de poucas palavras, talvez gostasse do ambiente calmo. Mas acontece que o grandão tinha tanta coisa para dizer, queria ter a capacidade de manter uma conversa amigável como tinha com Jongdae ou Baekhyun, mas ambos eram extrovertidos, então não precisava ficar se forçando.

Já a história com Kyungsoo era outra, além do mais, depois do que rolou no halloween ele sequer tinha se pronunciado mais sobre aquilo, então tinha dado como assunto encerrado, sequer tivera a oportunidade de receber uma rejeição. Era melhor deixar para lá, talvez tivesse agido muito precipitadamente e sempre que lembrava das palavras escapulindo pela boca voltava a ficar nervoso. Talvez Kyungsoo sequer gostasse de garotos, na verdade ele não parecia gostar de pessoas, no geral, mas enfim... Oh céus, precisava aprender a lidar com seus sentimentos.

Enquanto Chanyeol encarava o nada e fazia um tremendo esforço para se manter neutro, a voz de Kyungsoo cortou o silêncio:

– Qual o seu problema essa semana?

O grandão piscou os olhos assustado, estava tão na cara seu nervosismo?

– D-do que você está f-falando?

– Ah, me poupe desse teatrinho, Chanyeol, desembucha logo ou vou ter que fazer você falar a pulso, por que esse seu comportamento está mais esquisito que o normal – O baixinho cruzou os braços e lhe encarou sério.

Chanyeol só via duas opções viáveis naquele momento:

1. Fazer a egípcia e continuar se fingindo de doido

2. Sair correndo como se não houvesse amanhã e passar o resto de sua vida trancafiado no quarto (O que parecia uma opção bastante válida)

Ou talvez só precisasse mandar a real que estava confuso com o que (não) rolou naquela noite e sempre se sentia nervoso na presença do baixinho por que gostava dele mais que o normal.

– A-ah e-eu... É-é q-qu–

Antes que pudesse formar alguma frase com sentido, Kyungsoo o puxou para perto e grudou os lábios num selinho demorado. Chanyeol sentiu correntes elétricas percorrendo todo seu corpo e milhares de fogos de artifício explodindo em seu peito. Aquilo era um sonho? Kyungsoo estava mesmo beijando-o?

Ao se separarem, o baixinho estava três vezes mais vermelho que o normal e a respiração toda desregulada, lambeu a boquinha rosada e falou:

– Eu disse para você falar por bem.

O moreno estava atônito, sequer piscava os olhos enquanto Kyungsoo desviava o rosto visivelmente constrangido com toda aquela cena. Sentiu as palavras deslizando pela língua de forma desenfreada e antes que pudesse se controlar acabou soltando:

– Eu gosto de você.

Kyungsoo levantou os olhos em sua direção e ele nunca parecera tão lindo com aqueles lábios carnudos formando um coração enquanto sorria verdadeiro. Ah, como Chanyeol estava apaixonado...

O menor aproximou-se lentamente e antes que o Park pudesse fazer qualquer coisa, ele disse:

– Também gosto de você.

E a produtividade daquela tarde acabou tomando outro foco, este cheio de beijinhos estalados e palavras de amor sussurradas bem ao pé do ouvido.

1 de Noviembre de 2018 a las 02:35 0 Reporte Insertar Seguir historia
3
Fin

Conoce al autor

Amanda Rocha Eu gosto de doces e gatos; gosto do crepúsculo das 17:00 e de música clássica; gosto de animes e do barulho que as pessoas fazem quando comem algo crocante. Sinta-se a vontade para conversar comigo :)

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