boaswain uanine oliveira

Min Yoongi e Kim Taehyung eram jovens cheios de problemas sociais e familiares, mas que buscavam sempre enfrentar isso de cabeça erguida para poderem ter paz quando estavam juntos, mesmo que juntos significasse conectados online através de suas webcams.


Fanfiction Bandas/Cantantes Sólo para mayores de 18.

#bts #bangtan-boys #taegi #drama #webnamoro #romance #bullying #violência
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Como estrelas se escondendo

— Oi, Tae — Yoongi sorriu, mesmo que estivesse com a boca cheia de salgadinhos, ao ver o rosto do namorado. — Como foi seu dia?

Taehyung suspirou, passando a mão nos cabelos e apoiando o queixo na sua palma, olhando diretamente para a face branquinha e brilhosa do baixinho loiro. Apesar de ter várias coisas para dizer a Yoongi, desde quando acordara e o pai estava dormindo no chão da sala até quando quebrara um recipiente da loja na qual trabalhava e precisaria pagar, mas apenas sorriu amarelo e perdeu-se completamente na beleza do outro.

— Comum — deu de ombros, mostrando a CPU aberta para o moreninho. — Coisas chata do trabalho; e o seu?

— Minha mãe saiu para fazer as unhas, temos muito tempo para nós dois agora — intensificou o sorriso gengival, aproximando a mão da webcam para que Taehyung fizesse o mesmo e então sorriram, envergonhados. Notou certos tons coloridos no fundo do cômodo, chamando sua atenção. — Você fez alguma coisa no porão?

— Ah, sim — Taehyung finalmente despertou do transe em que se encontrava diante da beleza de Yoongi, levantando-se e afastando-se do notebook para que o namorado pudesse ver seu corpo todo, então pegou as telas no fundo do cômodo, andando com elas para perto da webcam outra vez. — Eu pintei essas e pendurei aqui para não ficar muito solitário.

O Min estreitou os olhos, tentando identificar as imagens pintadas com tanta delicadeza através da péssima qualidade de imagem, podia ver mãos dadas e olhos com estrelas, além disso, havia um beijo e tinta caindo sobre...

— São meus ombros, eu tentei desenhá-los, mas não sei se ficou parecido — riu o mais novo, escondendo as pinturas outra vez. — Gostou delas?

— Claro, você é muito talentoso.

— Quando morarmos juntos, eu vou encher nossa casa de pinturas suas. Você é tão bonito.

Yoongi corou e desviou o olhar porque mesmo através de uma tela, Taehyung o deixava desconcertado. Haviam se conhecido em um chat online, assim, por acaso, o Min postando suas fotos super editadas e um pouco góticas compartilhando de suas frases depressivamente poéticas e o Kim mostrando seus desenhos amadores e discursando sobre estrelas, já que amava astronomia; nunca tinha dito a si mesmo que era gay até se interessar pelo emozinho do grupo. Foi então que passaram para o Skype, o que permitiu Taehyung descobrir que de trevoso, o mais velho não tinha nada: era um pedaço de toda a fofura do mundo, um conjunto de sorrisos doces e uma voz encantadora de derreter qualquer. O Kim puxava assunto com Yoongi sempre que tinha tempo livre, o que acontecia poucas vezes já que ele trabalhava pela manhã em uma loja de informática e pela tarde em uma loja de conveniências (tinha abandonado a escola), e quando chegava em casa sempre tinha que aturar o pai alcoólatra gritando com ele, usava o notebook — que havia comprado depois de alguns meses juntando suas economias — no porão, escondido, sabia que o pai iria querer vendê-lo se descobrisse, e iria querer matá-lo se descobrisse Yoongi.

Já o moreno, parava tudo que estivesse fazendo para responder as perguntas bobas e dissertar sobre as estrelas bobas de Taehyung, porque quando era sobre o outro, tudo ficava super interessante. Yoongi sempre soubera que era gay, mas nunca tinha se sentido assim por nenhum garoto antes. Apesar de não se assumir — até porque sua mãe surtaria e o expulsaria de casa, e os garotos da escola apenas ficariam mais agressivos com suas brincadeirinhas violentas —, deixava bem claro que sabia o que queria: queria o menino de sorriso fácil e voz rouca que morava do outro lado da cidade. Isso, os dois eram de Daegu, mas nunca haviam sequer chegado perto de se esbarrar, já que Taehyung morava mais para o norte, na divisa da Gyoengsong de cima. Entretanto, quando o sentimento ficou demais para guardar entre mensagens, e os dois já não conseguiam fazer mais do que mandar cantadas horríveis um para o outro e emojis aleatórios em madrugadas desmanteladas regadas de provocações e áudios, passaram a se ligar. Yoongi ligava da escola, com Taehyung no trabalho, Taehyung ligava do trabalho, para o telefone fixo da casa de Yoongi, os dois passavam noites no telefone e foi assim por um bom tempo, até tudo que podiam fazer era suspirar e rir um do outro, então passaram a se ver por chamadas de vídeo. Não era a primeira vez que viam o rosto um do outro, mas de alguma forma, saber que se viam ao mesmo tempo aqueceu o coração deles dois e Yoongi pediu o mais novo em namoro, assim, entre risadas.

Taehyung aceitou.

Não havia se arrependido até hoje. Não trocavam beijos, não se tocavam e não podiam sentir a respiração um do outro, mas se amavam bem mais do que alguns casais por aí, desses que se agarram nas ruas. Estavam sempre criando planos para se encontrarem de uma vez e fugir da realidade assustadora que viviam. Yoongi estava sempre a lamentar a mãe preconceituosa, o bullying pesado e a falta de esperança em uma mudança, chorando e borrando sua maquiagem em sua maioria escura, e escutava atento quando Taehyung reclamava da imprudência do pai e de sua violência, e quando o mais novo se perdia em seus sonhos com o cosmos, sempre dizendo que os dois eram como estrelas queimando na clandestinidade.

— Então... a CPU?

— Ah — o Kim piscou, voltando a sua realidade. — O problema é o cooler, eu vou trocar, tenho um aqui no porão, e ver se assim funciona.

Taehyung se esticou um pouco para alcançar seus equipamentos na prateleira a sua direita (a esquerda de Yoongi) quando o moreno percebeu, mesmo que com a luz baixa, uma marca mais escura na pele bronzeada do namorado. Umedeceu os lábios e limpou a garganta, hesitante.

— Ele bateu em você outra vez?

Institivamente, o Kim cobriu com a mão a marca em seu pescoço, olhando assustado para a imagem do namorado, sem saber o que dizer, odiava quando Yoongi o descobria. Quer dizer, não era como se permitisse que o pai fizesse aquilo, só não podia revidar; da mesma forma como o Min nunca revidara os garotos que tanto o importunavam na escola.

— Não foi nada demais — começou.

— Parece muita coisa — deu de ombros, deixando o salgadinho de lado. — Você deveria...

Foi interrompido por um barulho alto que soou abafado pelas suas caixas de som, assustando-o momentaneamente. Pareciam estar derrubando alguma coisa; Taehyung também virou-se, observando a porta do porão para ver se o pai entrava ou não. Por fim, apenas abaixou a cabeça e suspirou, ouvindo os gritos de ódio e ofensas voltadas a si, assim como o som de coisas quebrando e sendo atiradas ao chão, com certeza as garrafas das bebidas dele, esperando que o homem nos andares de cima desse uma pausa.

Yoongi franziu os lábios, observando quietamente o rosto preocupado do namorado e sentindo uma pontada no coração por isso. Haviam comprado colares iguais para usarem e se sentirem mais próximos; naquele momento, agarraram os pingentes circulares na mesma hora, apertando-os fortemente.

— Preciso ir — Kim murmurou. — Desculpe por isso.

— Não, tudo bem — Yoongi fungou, segurando a vontade de chorar. — Fica bem, Tae.

— Amo você, certo?

O menor sorriu, abobalhado e assentiu, diminuído dentro de seu suéter preto.

— Também amo você.

Contrariado, Taehyung desligou a chamada em vídeo, tratando de abaixar, também, a tela do notebook e colocá-lo na caixa onde o escondia do pai. Respirou fundo, sorrindo minimamente ao lembrar do sorriso de Yoongi, mesmo com a resolução baixa, aquilo, cada vez mais, o motivava. Amava o baixinho emo como nunca havia amado ninguém antes, queria abraçá-lo e protegê-lo para sempre, e se sentia péssimo por não poder fazê-lo da maneira como gostaria. Levantou-se e se apressou em subir os degraus, saindo na cozinha e dando de cara com cacos de vidros bem na porta.

— Esse moleque não faz porra nenhuma mesmo, eu devia era te expulsar daqui — o homem esbravejou.

O Kim já se apressava em procurar uma vassoura e pá, ignorando a fala do mais velho. Enquanto o pai o xingava e o fendia, ele lavou a louça, catou do chão as garrafas secas, arrumou o estofado do sofá, fechou as cortinas, desligou a TV, trouxe cobertas para o Kim mais velho quando esse caiu no sono depois de já ter esgotado seu estoque de xingamentos pejorativos, jogou o lixo fora e ainda sobrou tempo para escovar os dentes antes de ir para a cama. Conectou o celular ao carregado na tomada e abriu em seu aplicativo de mensagens, não possuía muitos contatos, Yoongi era o único com quem conversava ali.

Ninguém os via, ninguém sabia, o namoro dos dois era um segredo bonito de ser admirado, algo que não precisava ser exposto, e assim era, assim seguiam, ficando longe dos outros para poderem ficar mais próximos um do outro.


[Eu]

Acordado?


[Gótico mais fofo do mundo <3]

Sim

Tudo bem por aí?


[Eu]

Ele já foi dormir

Amanhã eu vou pra casa da Seulgi pela tarde, você vai estar na escola?


[Gótico mais fofo do mundo <3]

Aula de Educação Física, eu posso te ligar *heart emoji*

Tenho que ir dormir, minha mãe vai desligar o wi-fi


[Eu]

Eu amo muito você, hyung

Boa noite


[Gótico mais fofo do mundo <3]

Vou sonhar que eu posso beijar você

Boa noite, Tae xD



Yoongi usava preto, não porque estava sempre triste, até porque seu sorriso por si só já iluminava todo o redor; não porque aquele era seu estilo, gostava mesmo era de jeans que combinava com qualquer coisa; mas porque o preto afastava as pessoas dele e o garoto nunca foi fã de pessoas, dessas que chegam na sua vida, gostam da mesmas coisas que você, te tratam bem e depois, só por não achar mais graça nenhuma, vão embora. Preferia ter apenas Taehyung, ele era o suficiente. O Min não tinha irmão, amigos, nem familiares, morava com sua mãe e quase não a suportava, era uma mulher preconceituosa por demais, por isso o menino preferia passar o dia no celular, quando não falando com o namorado, assistindo alguma série da Netflix.

Era a única pessoa em todo o corredor que usava coturnos pretos, uma jaqueta de couro preta, maquiagem preta e calça preta com correntes balançando em sua cintura, mas se sentia bem, o Kim sempre dizia que combinava com ele aquela marrentice toda nada característica do baixinho super fofo.

Contudo, Yoongi não conseguia parar de roer as unhas e observar o celular. Taehyung costuma o mandar mensagens de bom dia ou sempre avisar que estava indo ao trabalho, mas nada chegara em seu telefone naquela manhã. Pensava logo no pior — era o que a distância exagerada causava no menino, uma insegurança, medo, incerteza que não é possível se ter em relacionamentos casuais. Sabia que o sogro era agressivo e violento, e temia pela segurança de Taehyung, mas não podia fazer nada para protegê-lo corretamente, então apenas se preocupava bastante.

Para toda a escola, ele era uma piada — namoro virtual, coisa de idiotas que não conseguem ninguém de verdade que queira beijá-los. Uns tempos atrás, quando começara a namorar Taehyung, havia deixado isso escapar em um aula, já o importunavam sempre por ser baixinho, gay, gótico, um namoro virtual apenas agravou sua situação, mas para ele estava tudo bem, conseguia resistir aquilo com facilidade, já estava até acostumado. Naquele dia, porém, quando imaginava uma centena de razões horríveis para o namorado não o mandar mensagens, deixara de lado a discrição para demonstrar sua preocupação.

Então eles perceberam.

Lembrou que o menino havia o dito que iria para a casa de Seulgi, sua melhor amiga, pela tarde, que encaixava com o horário da aula de Educação Física de Yoongi; o moreninho aproveitou a situação já que ele não gostava e nem queria praticar nenhum esporte na quadra e se escondeu nos corredores, podendo, assim, discar os números do namorado.

— Atende, Tae — mordeu os lábios, falando de si para si.

— Seu namoradinho não te atende?

Yoongi franziu o cenho, virando-se para a voz e acabando por dar de cara com Hoseok, Namjoon e Seokjin. Não sabia do que a escola chamava aquele trio de garotos altos e fortes, mas ele os chamava de filhos da puta. Os meninos não o deixavam em paz um dia sequer, sempre o humilhando e o machucando de todas as formas possíveis. Yoongi pensou em correr, mas não havia para onde, eles estavam dentro de uma escola, logo logo acabariam se esbarrando mesmo. Suspirou pesadamente, abaixando o aparelho celular.

O pior deles era Hoseok, que sempre começava as piadinhas e agressões, depois dele vinha Seokjin, o mais velho não demonstrava emoção alguma ao humilhá-lo, Namjoon só era o último porque os outros dois anteriormente citados eram piores, mas o Kim mais novo podia ser taxado como igualmente sádico.

— Me deixem em paz — murmurou.

— Eu acho que ele desistiu de namorar você, o que foi que houve? Fizeram uma vídeo chamada ontem e ele viu essa sua cara feia? — Hoseok implicou, se impondo sobre o menorzinho, o assustando o que gerou risadas nos outros dois.

Taehyung o achava lindo, Yoongi sabia.

Mas aqueles outros meninos realmente o deixavam péssimo. O Min nunca se interessou por garotas, mas sentia uma inveja imensa de Seokjin quando este estava com sua namorada, Choi Keiko, aos beijos e carícias pelos corredores, porque não importava o quanto amasse Taehyung, e sabia que amava mais do que a Choi, que tinha coragem de trair o mais velho com o próprio Hoseok, nunca poderia ter aquele tipo de contato com o namorado. Era como se, mesmo que fizesse tudo certo, ainda não merecesse seu prêmio.

Na luz do sol, de dia, eles teriam que se esconder outra vez, para que aquilo não acontecesse.

— Vem cá, viadinho — Hoseok o puxou pelo casaco, empurrando-o contra os armários.

Ele, menorzinho e sem muita força, só caiu, deixando que o celular também deslizasse. Talvez tivesse trincado sua tele, mas ainda bem que havia ido para trás da lixeira, onde os três machões ali não podiam ver, e melhor ainda que eles nem ao menos perceberam. O Jung sorriu e acertou um chute na lateral do corpo do Min, conseguir machucar seus braços que tentaram proteger seu estômago. Namjoon riu, puxou-o pelos cabelos e o jogou no canto, batendo forte em seu rosto.

Doeu como o inferno, e sangrou pelo nariz do Min, que tossiu, sem ar pelo chute grave que levou no estômago, agora desprotegido. Seokjin tomou sua mochila e abriu o zíper, despejando todas as coisas no lixo. Yoongi quis gritar, mas sua garganta estava travada, ele se encolheu o que não impediu Hoseok de socar sua cabeça outra vez e empurrá-lo com o pé para mais afastado dali.

A saliva do Jung caiu sobre seu ombros descoberto, escorregando pela sua pele.

— Quantas vezes mais você vai precisar apanhar para deixar de ser tão... você?

Eu amo tudo o que te torna você, hyung. Lembrou da voz de Taehyung, a voz tão leve e despreocupada que sempre estava pronta para elogiar a maquiagem, a foto, o jeito como Yoongi respirava. Aquele dongsaeng era realmente um bobo. Mesmo que estivesse todo machucado e, ainda por cima, sangrando, sorriu. Deixaram-no ali, jogado, no chão frio do corredor e ele demorou a se recuperar da surra. Arrastou-se até a lata de lixo, catando a mochila e o celular, com duas chamadas perdidas e o canto esquerdo com um risco da queda. O sinal tocou e ele ainda estava ali, tentando recuperar as coisas da lixeira, fingindo que o sangue pelos lugares não era seu.

Ao terminar, jogou a mochila por cima do ombro e saiu dali mancando. Só queria ir para longe, para os braços de Taehyung, mais precisamente.

Depois dos muros da escola, na praça, sentou-se em um dos bancos, aproveitando a brisa fresquinha e fez o que pôde para limpar seu sangramento nasal, cobrindo o corte na bochecha e no nariz com esparadrapos. Catou o celular e a tela de bloqueio com a foto com um super zoom facial em Taehyung, então pôde a desbloquear para ligar para o Kim.

Dessa vez, o outro atendeu rapidamente.

— É o Yoon... Ai, para, noona — ele ditou, um pouco distante. — Oi, amor. Nem fala nada, é que meu pai não pagou a conta da energia na nossa casa e cortaram ontem à noite então meu celular nem carregou, só coloquei pra carregar quando cheguei na casa da Seulgi. Yoon? Tá me ouvindo?

Ele estava, mas cobriu a boca com as mãos porque começara a chorar e não queria soluçar e preocupar o mais novo Taehyung não podia ver seu estado e ele tirava proveito disso.

— Hyung? Tá aí?

— Tô — fungou. — Eu fiquei preocupado, só isso.

— Tá na escola? Só um minuto — disse e então ouviu ruídos na linha que o deixaram respirar livremente, limpando as lágrimas e borrando o lápis que contornava seus olhos. — Pronto, já me afastei daquela noona irritante. Agora me diz por que tá chorando.

Yoongi riu. O namorado era verdadeiramente único. Cruzou as pernas e se recostou na mochila, ficando sob a sombra gostosa da árvore na praça; era absurdamente satisfatório para si ver, através de atos românticos, que o namorado realmente o conhecia, como mais ninguém.

Por mais bobas que fossem as promessas que faziam, o Min estava extremamente feliz por acreditar que seria os dois juntos para sempre, nunca iria mudar.



Chegou em casa por volta das quatro da tarde, com marcas roxas muito mais visíveis no rosto; rezou para que a mãe tivesse saído, mas se impressionou ao vê-la parada já no quintal de casa, regando as plantas, e se arrependeu de não ter se demorado mais na ligação com o namorado. Tentou correr e se esconder, mas a mulher já tinha o visto.

— Yoongi! O que aconteceu com você?

Assustado, o moreno correr para dentro de casa, jogando sua mochila no sofá e se apressando a subir as escadas. Não queria ouvir o discurso de sua mãe sobre como ele era tão suscetível ao bullying, a apanhar, a como ele deveria pelo menos tentar cortar o cabelo para ver se a situação melhorava, por que não tinha amigos? Por que não arrumava uma namorada? Por que estava sempre no quarto ou no celular?

— Min Yoongi, me responda! — ela gritou, obrigando o menino a parar naquele degrau da escada, respirando pesadamente. — O que houve com o seu rosto?

Fechou os olhos e apertou o celular na mão com força, mas era besteira, debalde, não era como se aquele aparelhinho fosse o aproximar de Taehyung via fibra óptica, por mais que precisasse do Kim naquele momento. Na realidade, o Min estava sozinho na sua sala de estar, encarando a mais velha com os olhos já úmidos, o coração apertado, a garganta travada e incrivelmente deprimido.

— Omma! — gritou, fazendo seus dedos ficarem esbranquiçados pela força com que segurava o corrimão. — Me bateram na escola, não é óbvio pelos meus machucados?

A mulher se calou por uns instantes, hesitando ao observar o estado do filho. Um esparadrapo que mal cobria o corte acima do nariz, o roxo do olho, o sangue seco no canto da boca, os tons nada habituais de sua face machucada. Enquanto observava, fez-se silêncio. A culpa não era dela, não tinha sido suas mãos a machucarem tanto o menino, mas, mesmo assim, se martirizava internamente.

— Talvez se você... — gaguejou, com cuidado. — Se passasse a agir com mais masculinidade, talvez, os meninos parassem de implicar com você.

Yoongi soluçou, deixando o choro escorrer pela face, tentou encarar, com coragem, o rosto da mãe, mas a visão borrada não o permitiu, então só extravasou. Chutou a coluna da escada e gritou, tão alto que poderia explodir seus pulmões. Não aguentava aquilo, não era assim que queria viver, não era esse tipo de vida que achava que merecia.

A mãe com aqueles olhos baixos o julgando, reprovando suas vestes, sua maquiagem, seus gestos e sua fala, sempre encontrando alguma brecha para o reprimir, deprimir, nunca deixando um espaço para que o menino pudesse sorrir, se assumir. Filho gay, ele apanharia ainda mais, ou talvez ficasse sem teto. Não ganhava amor daquela mulher, estava perdido dentro da própria casa.

— Eu odeio você! — rosnou.

Correu para seu quarto e lá se trancou, chorando a alma fora. Só queria desaparecer e reaparecer do outro lado de Daegu, para ser confortado pela única pessoa que parecia realmente o amar no meio daquele caos constante que chamava de vida. Era insuportável sem Kim Taehyung; o mundo podia até desaparecer, Yoongi só desejava tê-lo perto.



Por volta das cinco da tarde, o Kim estava arrumando a mochila com seus poucos pertences para ir embora da casa da melhor amiga. Kang Seulgi era uma loirinha baixinha de sorriso encantador e uma voz bem calma que havia estudado dois anos do ensino médio na mesma classe de Taehyung antes dele abandonar o colegial e ela o arrumar um emprego na loja de conveniências do avô. Eram amigos inseparáveis, todas as manhãs, a menina estava lá, balançando as pernas em cima do caixa, trançando o cabelo e tagarelando sobre o preço dos sorvetes na esquina e sobre o garoto que gostava.

O mais incrível era que ela também tinha virado amiga de Yoongi nesse intervalo de tempo, apoiava demais o namoro dos dois, e era a maior shippers do casal. No entanto, sempre que Taehyung vinha a importunar com perguntas íntimas, a mais velha ressalvava que era amiga dos dois iguais e não amiga de Yoongi por ser amiga de Taehyung. Sabia guardar segredo e diferenciar cada um do casal.

— Ah, Tae, eu esqueci de dizer — a menina apoiou o queixo nos braços cruzados em cima da grade do portão de sua casa, observando o melhor amigo fechá-lo com graça e delicadeza. — Ganhei um prêmio na Feira de Ciências da escola e vou mostrar meu projeto na convenção científica que vai ocorrer em Daegu Jeil High School.

— Noona, isso é — o garoto sorriu, animado, até que esbugalhou os olhos. Era aquela a escola de seu namorado. — Onde?

— É — murmurou, empolgada.

— Você é tão sortuda! Você vai conhecer ele, noona! Aish, eu preciso fazer algo, conseguir um presente, você leva, sim? — falou, agitado, tropeçando entra as palavras e rindo sem parar. — Yoongi deve ser absurdamente mais lindo na vida real. Queria ser você.

— Pode ir, se quiser — deu de ombros. — Eu cuido da loja.

Taehyung soltou um muxoxo de infelicidade, agarrando-se a grade e se balançando contra o peso leve da mochila. Mirou os céus e se entristeceu. Aquela era a única coisa que podia compartilhar com Yoongi — o mesmo pôr do sol.

— Não posso deixar ele sozinho.

— Na verdade, era o que você já devia ter feito — ela cutucou o nariz do maior.

Não era como se Taehyung já não tivesse cogitado a ideia de simplesmente fugir de casa, abandonar o pai, as agressões, a vida que marginalizada que levava. Queria estudar astronomia, desenvolver mais sua pintura, viajar, beijar Yoongi na boca, explorar o mundo e tudo o que ele se privava de experimentar desde sempre. O pai não iria o impedir para a eternidade, uma hora ou outra estaria livre, mas temia, porque por mais que fosse, de primeira vista, fácil sair de casa, seria ainda mais fácil para o Min, se assumir para a mãe e deixar o lar. E talvez o moreno nem quisesse mais o esperar.

Começou a trabalhar a mente, martelando para achar uma ideia boa de presente que a amiga pudesse mandar para o namorado. Ganhava pouco e do que ganhava, pouco sobrava, inclusive ele ia agora mesmo pagar a conta de energia, para poder recarregar o celular na madrugada e falar com o Min. O que poderia dar com pouco dinheiro para uma pessoa que merecia tudo? Ficava até envergonhado.

Mas, talvez, houvesse algo que pudesse fazer.

— Preciso ir — avisou, já andando para longe.

— Se cuida — Seulgi gritou, acenando.

Taehyung gostava de pintar, de estrelas e de Yoongi. Faria a mais bela e detalhada obra de sua vida, porque queria que, mesmo de longe, o outro pudesse senti-lo e sentir a dimensão do seu amor por si.



Aquele dia tinha sido corrido e, mesmo assim, aliviador para Yoongi; por conta da Feira Científica Anual, ele e Jeon Jeongguk haviam passado o dia inteiro cuidando da decoração do ginásio, sem aula, o verdadeiro paraíso. Hoseok e Namjoon andavam de um lado para o outro, ajudando Seokjin com o seu projeto, era uma folga para o Min. Ele suspirou e esperou, cansado, o tempo passar. Não pretendia assistir a feira, mas havia combinado com Kang Seulgi que ela passaria a noite na sua casa. Seu coração batia rápido, empolgado em conhecer a amiga. Ela era parte de Taehyung e aquilo animava o menor. Passava o dia todo planejando coisas para fazer, assuntos para falar, não queria parecer estranho, queria agradar a moça e causar boa impressão.

Foi liberado cedo, o que o permitiu ir para a casa e arrumar não só a si mesmo, mas também o quarto bagunçado. Nem mesmo avisara a mãe da visita, estava cada vez mais distante da Min mais velha; alguma hora ela saberia, procrastinava esse momento o quanto podia.

Estava se perfumando quando o namorado o mandou uma mensagem avisando que a Kang estava na frente de sua casa. Yoongi se apressou, respirando fundo para não surtar de ansiedade. Não era como se fosse conhecer o próprio Taehyung, mas, para ele significava que, talvez, um dia, ele pudesse estar cara a cara com o Kim.

— Yoongi-oppa, oi! — a loira sorriu abertamente, agarrando o moreno pelo pescoço. — Ah, é bom conhecer você. Seu cabelo é macio.

— Você tem presas — sorriu, mirando os dentes da pequena. — É legal. Vem, entra, eu cozinhei japchae, você gosta?

— Adoraria, estou faminta. Pode me ajudar com isso?

— Claro.

Yoongi deu de ombros e pegou a plataforma plana que Seulgi carregava nas costas, abrindo a porta para a loira. Assim que passaram, pegando as vasilhas já prontas, na cozinha, correram escadas acima, fechando a porta do quarto e sentando-se no carpete do quarto, bem protegidos da mãe do mais velho. O Min falou algo sobre o clima, a Kang concordou, ambos mandaram mensagens para Taehyung avisando que já estavam na presença um do outro. Yoongi colocou uma música suave para tocar.

— Como foi a feira?

— Terceiro lugar — ela exibiu a medalha, ajeitando o cabelo. — Im Jaebum em primeiro e Kim Seokjin em segundo.

— Credo — Yoongi reclamou.

— O que? — Seulgi riu. — O que há com esse oppa?

— Ele é um dos garotos que me persegue — explicou, cabisbaixo.

— Oh, não sabia — a loira justificou, escondendo uma mecha atrás do cabelo e comendo um pouco, assim como o Min, mas não ficou calada por muito tempo, arqueou as sobrancelhas, largando a vasilha e levantando-se para onde Yoongi havia guardado o quadro. — Isso é pra você, Yoongi-oppa, mas espere, eu preciso gravar isso.

Exasperada, a menor correr atrás do aparelho celular, desbloqueando-o e passando a filmar o rosto desentendido do Min. Ele nem entendi que realmente estava com a amiguinha virtual que tanto adorava conversar ou pedir dicas amorosas, não conseguiu associar que aquele grande embrulho era para si, mas levantou-se, ajudando a menina a mover o retângulo pesado.

— O que é isso?

— Um presente, adivinhe de quem!

Seu coração falhou uma batida e seu fôlego ficou preso na traqueia, não completando aquele ciclo que ele aprendera outra vez na semana passada, mas estava tudo bem, porque sua pele aquecera e um sorriso mansinho surgiu. Taehyung. Com calma, passou os dedos pela textura do tecido que cobria o quadro — ele sabia que era um quadro — e seus olhos encheram de lágrimas que quase não conseguiu segurar, era um chorão mesmo. Seulgi bateu no seu ombro, obrigando-o a mostrar sua reação para a câmera do celular. Segurou com força a lateral do objeto, puxando o pano com a outra, revelando a tela amarelada lentamente. Conforme rasgava o tecido, tons escuros misturados com sutis linhas brancas iam aparecendo e ele reconheceria aquele tipo de pintura em qualquer lugar, era a marca de Taehyung: usar da escuridão para acentuar os detalhas minimalistas que ele colocava. Yoongi nem era tão bom assim em astronomia, mas sabia que aqueles pontinhos luminosos presos entre a ponta de seu nariz e sua boca, era a constelação de Touro, e na parte de sua bochecha, a aldebarã. Mais para cima, em suas pálpebras fechadas, o cinturão de Órion. Sua pele, ao invés do habitual branco pálido, estava azul escura como uma noite estrelada, linda de se ver, e atrás, um brilho colorido bem claro surgia, destacando o anel que circundava sua cabeça inteira.

— Sou eu?

Parecia inacreditável. Correu as mãos pela textura das tintas, pelo contraste de cada uma delas, pelas formas que apareciam abaixo de seu tato; sentia-se especial, querido, amado, como nunca antes havia se sentido, se ver daquela maneira, importante, imponente, bonito, da forma como Taehyung havia o pintado, resgatou o coração do garoto das chamas torturantes nas quais estava preso. Sorriu e chorou ao mesmo tempo, não se conteve.

— Acho que ele deixou um bilhete, sim — Seulgi o avisou, virando suavemente o quadro.

E Yoongi, que já tinha quase todo o coração estourando de felicidade, achou que fosse morrer ao encontrar a letra cursiva de Taehyung. Nós poderíamos construir um universo aqui, o mundo todo poderia desaparecer, eu não notaria, eu não me importaria, só preciso sentir você perto de mim.

— Diga alguma coisa para o seu namorado, Yoongi! — a loira incentivou, dando um zoom na cara do mais velho que chorava quieto.

— Não consigo — sussurrou, escondendo o rosto, mas a menina puxou suas mãos, rindo da situação. Yoongi olhou para cima, tentando fazer com que as lágrimas parassem de cair. Taehyung iria o achar o idiota quando visse aquele vídeo, por isso suspirou alto e começou: — Eu não sou tão bonito assim — riu. — Mas é assim que me faz sentir, Tae, o seu amor me torna a pessoa mais iluminada e bonita do mundo, e essa é uma das razões pela qual amo você. Não importa o quão desmantelada seja a nossa relação, você sempre a torna melhor, obrigado.

Fungou controladamente, mas chorou outra vez, sendo acalentado pelos braços finos de Seulgi, com ela dizendo coisas bobas ao seu ouvido para o acalentar. Se aproximou do quadro como se ele fosse Taehyung e o tocou com a delicadeza que gostaria de ter ao tocar a pele de Taehyung e, no final daquele dia, contemplou a sua figura estampada no quadro com a mesma adoração que contemplava o rosto de Taehyung.

Fechou os olhos, já de pijamas, preto como sempre, segurando nos dedinhos de Seulgi que dormia confortável em sua cama enquanto ele, um cavalheiro, estava se esticando no carpete do quarto. O celular piscou no escuro, chamando sua atenção para a única pessoa que poderia o mandar mensagens naquela hora da noite, e o menor até se sentia um poser por rezar para que não fosse notificação do Youtube com o comeback de Pristin.


[Alma gêmea <3]

Oi, amor. Ei, eu me esforcei bastante e dei o meu melhor nessa pintura porque acho que você merece isso e muito mais. Yoongi, eu te amo com todo o meu coração, será que agora conseguiu ficar claro? É isso que você significa para mim: um universo inteiro, e eu entendo que às vezes eu não seja o cara impressionante e original que você almeja que eu seja, mas é esse idiota normal que te ama mais do que qualquer um, tenha certeza. Espero que tenha gostado.


[Eu]

Aish, seu moleque, não me faça chorar mais, a Seulgi já gravou um vídeo todo de mim chorando!


[Alma gêmea <3]

EU PRECISO ASSISTIR ISSO!!!


[Eu]

Idiota <3


[Alma gêmea <3]

A noona já dormiu?


[Eu]

Sim

Já está tarde, deveria ir dormir também

Você tem trabalho amanhã cedo


[Alma gêmea <3]

Queria dizer que eu te amo


[Eu]

Pode me ligar amanhã?


[Alma gêmea <3]

Em que horário?


[Eu]

Qualquer um, amanhã não tem aula :D

Eu adoro sua voz *shy emoji*


[Alma gêmea <3]

Eu te adoro todo

Boa noite, hyung


[Eu]

Te amo, minha vida <3


— Eu acho o amor de vocês tão bonito — Seulgi resmungou, a voz engraçada enquanto ela manchava o travesseiro do Min com sua baba. — E inspirador.

Yoongi corou; era a primeira vez que escutava aquilo.

— Eu tenho inveja de você — confessou, brincando com a ponta do cobertor. — Conhece ele melhor do que eu.

— Oppa — a menina riu, como se aquilo fosse alguma piada que só ela sabia o significado. — Você o conhece de verdade, melhor do que ninguém. Taehyung te ama.

O Min permitiu-se abrir um sorriso discreto e breve, entre os devaneios do coração apaixonado. Endireitou-se, virando de lado e cobrindo-se com o lençol fino, mas sabia que mesmo completamente coberto, não iria esconder o brilho dourado que rasgava seu peito como uma noite de Ano Novo, cheia de fogos de artifício, ou o meio-dia de um verão, com o sol escaldante, estava aceso de dentro para fora. Um dos privilégios do namoro virtual: o sorriso que brota nos lábios de repetente, fazendo-o lembrar que, apesar das dificuldades, o amor é real, verdadeiro.

E vale a pena.



A loja estava parada já que Seulgi só chegaria depois do meio dia, Taehyung tentava se concentrar nos pobres peixinhos presos dentro dos sacos plásticos, do barulho chato que o vento fazia quando passava por dentro do tapete de cilindros verticais na entrada da loja, no amontoado de jornais “vencidos” em cima do balcão, mas, na verdade, não tinha muito para se fazer. Dias de semana, poucas pessoas apareciam naquele horário e ele só ficava muito, muito, muito entediado. Pegou o celular do bolso do casaco, procurando se distrair com algo, quando viu os status recentes da Kang no instagram.

O seu moreninho estava presente na maioria das fotos que havia ali, o que fez um sorriso bobo brotar nos lábios de Taehyung. Lembrou de que o menino havia o permitido ligar em qualquer hora do dia e, bem, ele não estava muito ocupado e o Sr. Kang não iria matá-lo se desse só uma ligadinha. Antes disso, no entanto, foi assistir o vídeo que a menina tinha postado. Certo, tinha que admitir, a medalha de terceiro lugar combinava muito mais com Seulgi do que filmagem, pois a mais velha era péssima nisso, mas não tinha sido essa a primeira coisa a notar e, talvez, houvesse até agradecido aquele zoom horrível que tinha dado no rosto perfeito do Min, assim Taehyung podia visualizar todos os mínimos detalhes de sua face.

Sentiu vontade de chorar junto ao moreno, amava-o tanto que chegava a doer e segurando o celular com força por ambas as mãos, achava que estava segurando o próprio Yoongi. Depois de dois toques, o outro atendeu.

— Bom dia, vida — murmurou, enrubescendo ao chamá-lo daquela forma.

— Bom dia, bebê — Yoongi riu pela linha.

— Como foi? Vocês se divertiram?

— Sim, Seulgi é muito comunicativa.

— Aigoo — Taehyung resmungou. — Não diga isso ou ela vai ficar se achando.

Abriu a portinha do caixa, passando por ela e deixando o pano de limpeza sobre para que pudesse caminhar até o fundo da loja, onde o barulho do trânsito não podia ser ouvido. Queria focar apenas na bela voz de Yoongi, pela qual era apaixonado.

— Também gostei do presente.

— Hyung — riu. — Eu vi o vídeo; tão fofo.

— Credo, não sou fofo, sou gótico — brincou. — A loja tá parada?

— Claro, a loja não anda — rebateu, rindo e escutando a provocação do namorado do outro lado da linha. — Eu vi todas suas fotos, fiquei com inveja e ciúme, tá? Eu gostaria de ser a pessoa com você, nem que fosse por apenas um único minuto, estaria bom para mim apenas olhar para você.

— Aish — Yoongi suspirou, contrariado. — Não mesmo, só olhar? Que idiotice. Eu quero beijar você, mexer no seu cabelo, tocar você, tudo o que eu tenho direito.

— Que hyung indecente!

— Kim Taehyung, você é um malicioso incorrigível. Preciso conversar com você, aliás.

— Odeio quando diz isso — fez um bico e riu de sua estupidez, já que Yoongi nem ao menos podia vê-lo. — Parece que só precisa falar comigo quando algo importante rola, e, sabe, quero falar com você a todo momento. A gente ainda vai se encontrar, comprar uma casa, uma cama e viver felizes assim, dormindo juntos e comendo hambúrgueres nas esquinas de Daegu. Ah, e eu te amo, vou te deixar falar agora, amor.

— É sobre a sua pintura...

— Eu sei, as tintas não foram adequadas...

— Por Deus — foi interrompido por um grito grave bem em seus tímpanos. — Deixe-me falar? As tintas estão ótimas, mesmo que eu seja um puto leigo quanto a isso, mas, mesmo assim, eu quero dizer, além do vídeo que assistiu, eu adorei e você me inspirou. Nunca entendi sua paixão pelo cosmos, mas veja só, é uma característica sua, não é? Se apaixonar por coisas distantes; as estrelas, eu.

— E observar ambos com tanta devoção.

— Vamos combinar uma coisa?

— O que?

— Quando nos conhecermos, e eu passar a te importunar todos os dias com minha voz irritante, não deixe de me amar, combinado?

— Você é tão idiota — riu, balançando os pés para fora do balcão. Estava, agora, no frigorífico da loja, sobre o balcão de carnes, observando se alguém passava pela porta e fazia soar o sininho. Olhou para cima, mirando alguma parte de peixe ali grudada. — Meu refúgio é nos seus braços, Yoongi. Quando o mundo traz fardos pesados, meu pai, o trabalho, eu posso suportar umas mil vezes, apoiado no seu ombro. Eu posso alcançar o céu infinito, com você.

A linha ficou muda por um tempo, até achou que a área tivesse caído e ligação tivesse sido encerrada por conta disso, mas observou a tela do celular bem acesa e funcional contra a sua orelha.

— Yoongi?

Nós poderíamos construir um universo aqui, o mundo todo poderia desaparecer, eu não notaria, eu não me importaria, só preciso sentir você perto de mim — disse, recitando as palavras poéticas que o outro havia escrito contra o quadro. — Ei, amor, eu tenho uma coisa para fazer, mas logo, logo volto para você. Me espera?

— Sempre, minha vida — murmurou, esperando, pacientemente que o outro desligasse.

Yoongi sentou-se na cama, observando seu reflexo no espelho bem na sua frente. A pintura estava ao seu lado. Ainda não tinha se levantado, mesmo que não tivesse conseguido dormir bem, sempre se acordando e pegando a loira escapando bem silenciosa pela manhã, amassando o bilhete e dizendo não ser mais necessário ao dar-lhe um beijo na testa e partir. Seu cabelo estava bagunçado, seu hálito, podre, e seus olhos, sonolentos, e havia começado o dia com uma ligação da pessoa que amava. Que era um garoto e morava do outro lado da cidade, e que nunca nem ao menos tinha visto, tocado, beijado, falado pessoalmente.

Era uma enrascada porque Yoongi o amava e tinha a plena certeza de que o amava, sem mais conversas, agora fazer as coisas darem certo era um pouco mais complicado. O primeiro, e mais difícil item da lista, era se assumir para a mãe preconceituosa, e isso Yoongi nem sonhava em ter coragem para fazer, era medroso, fraco, e nem ao menos tinha terminado os estudos ainda, mas odiava se esconder, e chorava por isso constantemente, queria se revelar, queria que todos soubessem do amor dos dois e admirassem como Seulgi fazia.

Os dedos dos pés estralaram, assim como os ossos das costas, tinha medo, tanto medo. Tinha medo de desistir na metade do caminho, de tudo dar errado, mas a coisa que mais queria era estar junto de Taehyung, abraçando-o e chorando no seu colo, sendo protegido pelos braços de quem realmente o amava. Por isso, impulsionado pelo namorado, mesmo que este fizesse isso inconscientemente, arrumou sua mochila com tudo que gostaria de levar em uma longa viagem. Seus livros, adesivos, roupas, agasalhos, tênis e perfumes. Ligou para a escola, fez uma voz feminina, fácil, encomendou a carta de transferência para a Daegu International School e respirou fundo.

Não aguentava mais os tons escuros por cima de si, que o sufocavam quando tinha que deixar para ser a pessoa que realmente era quando estivesse sozinho, ninguém estava vivo para ser repreendido, julgado, excluído. Min Yoongi já havia chorado demais, agora ele queria apenas respirar fundo, de alívio e ir atrás do que queria.

Jogou a mochila sobre o ombro, colocando os fones de ouvido e o quadro nas costas, descendo, correndo, as escadas. Bateu no quarto da mãe, rapidamente, indo até a sala e estralando os dedos, sairia logo de uma vez, não podia retardar aquele acontecimento.

Logo que a mais velha apareceu no topo da escadaria, colocando o cabelo curto atrás da orelha, seus lábios tremendo em um bico choroso que ele tratou de substituir por uma carranca determinada. Já tinha aguentado demais, era medíocre desistir logo agora.

— Omma, eu... — falhou na primeira vez, mas recusou-se a simplesmente parar. Não abaixou a cabeça, não desviou o olhar. — Eu estou saindo de casa, porque eu sei que a senhora odeia garotos que gostam de garotos e eu sinto muito em tê-la decepcionado, mas eu sou gay.

A Min não expressou reação, continuou encarando o filho do começo da escada, segurando o corrimão com força, e então seu rosto foi, como porcelana, quebrando aos poucos. A morena franziu os lábios e fechou os olhos, deixando rugas aparecerem na testa e então começou a chorar ruidosamente, caindo de joelhos nos degraus a sua frente.

— Ah! Seu desgraçado! Por que fez isso comigo? Você me odeia! — berrou, revoltada e inconformada.

— Omma! — Yoongi gritou ainda mais alto, sua sensibilidade falando mais alto e fazendo lágrimas rolarem de seus olhos também. — Omma, por favor.

— Pense no que está fazendo, Yoongi — ela murmurou, olhando-o de baixo com desprezo e pouca fé. Estava encolhida no canto, abraçando a si mesma enquanto a face avermelhada e os olhos raivosos denunciavam seus sentimentos. — Você não será mais meu filho se levar isso a frente. Faça a coisa certa.

Naquela hora, com aquelas palavras, pensou em voltar atrás. Tinha casa, escola, pertences, estabilidades, mesmo que não fossem luxuosidades, mas coisas a quais já estava habituado, eram parte da sua rotina — o papel de parede rasgado na sala de estar, a pia da cozinha arranhada pelas facas, a quina da mesa faltando um pedaço, a cortina do banheiro, os riscos no teto, coisas com que convivera a vida inteira, teria que abrir mão delas para poder agarrar uma nova oportunidade: de ser feliz, pelo menos uma vez.

— Já estou fazendo.

Pensou que, pelos segundos que ainda permaneceu dentro da casa, a mulher pudesse relevar o que dizia e o aceitar como era, mas a mesma só virou o rosto, repudiando a sexualidade do seu filho, a educação que lhe dera, o amor com qual o criara, os laços afetivos que eles deveriam ter, a família que deveriam ser, o que fez Yoongi lhe dar as costas e bater a porta para dar de cara com o ar livre da manhã que, naquele momento, era a única coisa com a qual devia se apegar. Conectou os fones de ouvido no celular e deu o play, Uncover, Zara Larsson. Precisava encontrar Taehyung.



Yoongi havia guardado a carta de transferência no bolso traseiro de sua calça jeans, pois as mãos suavam bastante debaixo do sol fresco de final de tarde. Estava contando — já faziam três horas desde que estava apoiado no poste, esperando que algum carro parasse para ele e o levasse de lá para seu amado, mas ninguém era tão corajoso ou bondoso para parar diante um adolescente baixinho inteiramente de preto, com um enorme quadro ao seu lado, ele até que meio que entendia. Já havia contado seus trocados, não tinha o suficiente para ir de ônibus, muito menos pagar uma passagem de trem, e, bem, nas três horas parado ali, nem um táxi sequer havia passado.

Mesmo assim, estava longe de desistir. Tirou o boné, pois seu couro cabeludo coçava sob o calor, e pôs o quadro entre as pernas, a mochila ao seu lado, mirando sempre o estrada pouco movimentada, esperando que alguém aparecesse para lhe ajudar.

Fechou os olhos apenas por um instante, suspirando. Não tinha sinal de internet, não podia ao menos se distrair com alguma coisa no celular que não fosse seu bloco de notas. Um poeirinha de nada entrou pelas suas narinas, fazendo-o espirrar e quase derrubar o quadro no chão, mas, rápido, Yoongi o segurou, relaxando, aliviado, mirando também o veículo que se aproximava. Cuidadosamente, andou até a beira da pista e ergue os braços, balançando-os e saltitando para chamar atenção. Tinha que tentar, as vezes que fossem necessárias. Quase urrou de felicidade ao ver o carro parando na sua frente.

Ele se aproximou devagar, vendo os vidros do carro de abaixarem e revelarem uma mulher de cabelos morenos, ao lado de um homem de cabelos castanhos, ao volante.

— Precisa de carona? — perguntou o motorista.

— Sim, eu quero chegar em Dong-Gu — explicou.

— Estamos indo especificamente para lá — ele disse, sorrindo, acompanhado da morena que mascava chiclete. — Entra.

— Mas eu... Preciso levar um quadro.

— Um quadro?

— Sim.

— Será que tem espaço no porta-malas, amor? — perguntou, referindo-se a morena que deveria ser sua namorada ou esposa, já que tinham alianças nos dedos.

— É aquele? — ela questionou, apontando para o quadro na beira da estrada, tendo o Min assentindo. — Cabe — deu de ombros.

— Eu ajudo você — o homem disse, saindo do carro e correndo ao Min para pegar o quadro nos braços enquanto esse colocava a mochila nos ombros. — É lindo, você, certo? Quem pintou?

— Meu namorado — disse, tímido.

— Ele é muito talentoso — observou. — Amor, abre aqui atrás — pediu, e a mulher o fez. Ele mexeu nas malas aqui e ali, encaixando o quadro da maneira como podia. — Pronto. Pode entrar.

— Obrigado — Yoongi sorriu, entrando e dando de cara com um bebê dormindo pacificamente na cadeirinha. Aumento o sorriso, era tão fofa. — Eu sou Min Yoongi — sussurrou.

— Park Yebin — disse a mulher. — Ele é meu marido, Park Jimin, e essa é a nossa pequena Sooyoung. O que está indo fazer em Dong-Gu?

— Ser feliz — respondeu, simplista, ajustando a respiração por, enfim, sair do calor e sentir o ar-condicionado leve em sua pele.

— Sinto cheiro de romance no ar — riu, apertando a mão de Yebin. — Enfim, pode ficar tranquilo e tirar um cochilo, Yoongi, a viagem é um pouco longa.

O Min, tímido, apenas assentiu e colocou os fones em um volume bem baixinho para não incomodar os mais velhos e nem a mais pequena, e, também, para poder responder a algo que o casal quisesse o perguntar. Eles pareciam felizes e satisfeitos com suas vidas, uma família de verdade, como ele e Taehyung seriam um dia. Jimin era psiquiatra, Yebin era professora de dança, mas tinha largado a profissão por um tempo para cuidar da filha e os dois estavam se mudando justamente por isso, para ter calmaria já que vinham de Busan, uma cidade agitada. Dong-Gu era perfeita então — para descansar, ter paz. Pelo menos era o que Yoongi achava.

Também confessou ao casal um pouco de sua história, e a morena repreendeu o marido quando este começou a agir como um psiquiatra, acabando por rirem. No final, achavam a história de Yoongi inspiradora, assim como Seulgi. Seu plano era permanecer acordado a viagem inteira, mas logo escureceu e ele estava bocejando. O moreninho acabou dando um cochilo mesmo, embalado por uma música suave que Taehyung tinha o mostrado. Os dedos formigavam, o estômago chacoalhava e o coração não se aquietava — mas precisava chegar vivo.

— Yoongi? — Jimin o chamou, enquanto Yebin o cutucava.

— Ah, perdão — disse, acordando-se e sendo alvejado por uma incidência enorme de raios solares.

— Tudo bem — sorriu, pelo retrovisor. — Já estamos em Dong-Gu, onde quer que deixemos você?

Checou o horário no celular, passava das oito da manhã, era uma sexta-feira. Taehyung devia estar na loja do Sr. Kang, percebeu que não falava com ele a mais de um dia. Devia ter deixá-lo preocupado, mas nunca mais iria preocupá-lo outra vez, ficariam juntos agora.

— Se não for incomodar, nessa rua — mostrou o celular para o motorista, informando o endereço.

— Claro — Jimin disse, programando o GPS. — Não vai demorar.

Yoongi respirou fundo e pôs a mão sobre o coração para tentar se controlar — queria dar gritinhos de vitória e paixão. Nem podia acreditar, olhou para a pequena Sooyoung, agora acordada e brincando com seu mordedor, e praguejou se aquilo fosse um sonho. Precisava, pela primeira vez na vida, de algo real. Não virtual ou ilusório. Só queria ter o que achava que merecia: amor de verdade, daqueles que pode se deitar sem inseguranças apenas por ser amado e ter a certeza de que acordara no próximo dia tão amado quando fora dormir. E, desta vez, acordar ao lado de Taehyung.

Seu celular já estava com sinal e, aos poucos, fora se enchendo de mensagens do dito cujo, como preverá, preocupado com o sumiço do moreno que estava vinte e quatro horas por dia online. Yoongi riu e fungou, constatando lágrimas salgadas no canto dos olhos e um gosto adocicado na ponta da língua. Sua barriga roncava e seu corpo doía por ter dormido no carro, mas ignorou todos esses pequenos detalhes quando o carro estacionou na esquina daquela rua, que, na ponta, ficava uma lojinha de conveniências onde o cara mais bonito do mundo trabalhava no caixa, sorrindo para os clientes e entretido no celular.

— Última parada — a moça sorriu, virando-se não só para ver a filha, mas também para se despedir de Yoongi.

— Obrigado — murmurou, puxando a mochila e tirando algumas notas para estender para Yebin.

— Não precisa, querido — ela sorriu, negando. — Vamos saindo? Você já esperou tempo demais.

Os três saíram do carro, Yoongi tentava parecer calmo, mas estava surtando.

— Estou nervoso — mexeu nos dedos, sendo puxado para um abraço pela mais velha.

— Não fique, faça o que seu coração manda — aconselhou.

— Aqui seu quadro, diga a ele o quanto é bom nisso — Jimin instruiu.

— Direi.

— E seja feliz, Yoongi, você merece — o Park concluiu, apertando a mão do menor. — Agora abraço triplo!

Foi abraçado pelo casal e os deixou com sorrisos e desejos de felicidade, rumando em direção aquela pequena e confortável lojinha de conveniência, na calçada, atrapalhando a passagem das pessoas com aquele enorme quadro com o qual tinha um imenso cuidado, porque talvez tivesse sido aquela pintura delicada que houvesse o impulsionado a sair de casa, se assumir e ir atrás de seus sonhos.

Estava nervoso para um caralho — as palmas suavam, o coração batia descompassado, o ar faltava e ele só sentia vontade de rir e chorar ao mesmo tempo. Taehyung, só conseguia pensar em Taehyung, que o queria muito, mais do que tudo nesse mundo, que desejava que aquele altão bobão fosse seu pelo resto da vida, que andassem de mãos dadas e dessem beijinhos a toda hora, que se abraçassem no frio e batessem um no outro se falassem coisas estúpidas. Mirou a faixada da loja do outro lado da calçada. Não dava para ver seu namorado, mas dava para ver uma loirinha saindo de lá, com uma bolsa rosa balançando em seu ombro enquanto mexia no celular. Dobrou a esquina nem notando o baixinho gótico ali, e Yoongi riu. Seria só ele e Taehyung, in real life, sem segredos.

Temeu deixar o quadro dando bobeira ali fora, então, mesmo que a portinha fosse estreita, entrou com ele, desajeitado, fazendo um sininho soar ao passar pela porta. Olhou para cima, apenas porque estava com um puta medo de olhar na direção do caixa, mas depois de finalmente colocar sua pintura no chão que pôde jogar o olhar sobre aquele atendente de boca aberta e olhos espantados, com uma marca feia de corte no supercílio, mas, ainda sim, incrivelmente bonito.

Yebin havia o dito para fazer o que o coração mandava, mas o desgraçado estava mudo, assim como o próprio Yoongi que só estalou de si para si a realidades alguns segundos depois de ter perdido completamente o fôlego. Suas pernas tremeram, mas logo correram em direção àquilo que o Min mais almejava para si.

Correu aquela pouca distância que um dia foram quilômetros, mas hoje eram metros que o separavam dos lábios desejados. E não importava se devia ter calma, não importava que o próprio namorado ainda não tivesse se dado conta da realidade que os cercava, pulou sobre o balcão, escorregando para o lado de Taehyung e pôs-se na ponta dos pés, puxando o mais alto para um beijo.

O beijo desesperado, apaixonado e necessitado que sabia que daria no mais novo assim que o visse, saboreando os lábios que tanto queria provar e agora sabia que eram doces e macios, uma língua quente rápida, as mãos fortes e grandes quando se puseram no rosto do menor e a pele suave ao esbarrar várias partes de seu corpo em si. Yoongi deixou-se arfar pelo contato, não quis separar-se do namorado, queria o beijar para sempre, o tocar para sempre, prendê-lo em si e amá-lo eternamente, mas precisava respirar, por isso se afastou apenas milímetros, deixando seus selares carinhosos nos lábios do Kim, extasiado, assustado e surpreso.

— Você é real — disse ele, observando com atenção e devoção cada detalhe do rosto de Yoongi, tocando-o tão firmemente para ter certeza de que era real. Real, real.

O menor beijou-o outra vez não podendo se aguentar, entrelaçando seus dedos nos do Kim para deixá-lo mais próximo de si, até que fossem um só. O mais novo, finalmente acertado pela consciência e realidade, puxou o menor para seu corpo e levantou-o pela cintura, fazendo com que seu boné caísse e mostrasse os cabelos pretos como o céu noturno.

— Eu amo você, Taehyung. Eu amo você, eu amo você — repetiu tantas e tantas vezes, beijando-o entre uma e outra, viciado nos lábios do outro.

Taehyung suspirou apaixonado, colando sua testa na do namorado e sorrindo, como nunca antes havia sorrido. Yoongi passou o dedo sobre seu machucado e a marca ainda viva do machucado da semana passada e aquela cicatriz que tinha na mandíbula do machucado de meses atrás e sorriu também porque iria protegê-lo dali em diante. Taehyung com suas estrelas e tintas, Yoongi com os fones de ouvido e as fotos com filtros exagerados, os dois extremamente diferentes e se unindo à única coisa que compartilhavam: o amor que sentiam.

Agora eram vistos, agora todos iriam saber. Não precisavam mais ser um segredo, não precisam mais se esconder, assim era e assim seria, para sempre perto um do outro. Tinham, finalmente, se revelado. 

5 de Julio de 2018 a las 21:06 2 Reporte Insertar Seguir historia
8
Fin

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uanine oliveira i was a little bit lost, but i'm not anymore

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Aline Santos Aline Santos
mds. eu tô chorosa!
July 06, 2018, 14:34

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