sollamentos rafa

Você está em uma sala escura. A luz do luar brilha pela janela. Há ouro em um canto, junto de uma pá e uma corda. Há uma porta ao leste. Comando?


Fanfiction Bandas/Cantantes Sólo para mayores de 21 (adultos).

#exo #sehun #lay #chanyeol #kris #kai #terror #halloween #anos80 #creepypasta #sexing
Cuento corto
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Lua pálida sorri abertamente



Meio-dia é o horário que minha universidade decide que podemos, finalmente, sair da sala depois de incansáveis quatro horas de professores falando de assuntos tão diferentes que, em certo ponto do dia, começam a se misturar e formar coisas sem sentido, para forrarmos o estômago. Minha barriga clama por um daqueles lanches submersos em óleo da semana passada só para depois eu reclamar de queimação comigo mesmo.


Prefiro frequentar a cantina, pois o refeitório é repleto de alunos indesejáveis cujos quais mal lembro os nomes, mas sei que não fazem o meu tipo. O grupo de patricinhas que precisam manter a boa fama de consumirem alimentos livres de carboidratos apenas para caberem mais um dia dentro dos jeans que as marcam da cintura para baixo. Os atletas ostentando jaquetas do time da universidade, as mesmas que lhes garantiram uma bolsa de estudos sem utilidade. Em volta, todas as pequenas tribos ditas como esquisitas pela camada mais popular.


Um ambiente um pouco hostil ao meu ver.


Não que eu tenha problemas para socializar; apenas gosto de amizades que me acrescentem algo. Além disso, lugares cheios me incomodam, ativam aquele senso de proteção meio animalesco escondido em cada um de nós. Fora que, se lambuzar com um bolinho frito enquanto ouço uma música relaxante no walkman me parece a companhia perfeita para me distrair da ferocidade estudantil.


Ser um estudante do curso que todos a sua volta olham com certo desdém ao passo que começam a cada vez mais consumir seus produtos soa como uma revolução de sofá. De verdade, não me importo de ser parte de uma geração que apanha dos valentões hoje para, futuramente, mudar o mundo, contanto que eu consiga chegar em casa são e salvo para jogar videogame ou observar as estrelas pelo telescópio.


Assim que recebi meu bolinho em mãos, caminhei até a mesa externa mais próxima, alcançando meus fones de ouvido quase que ao mesmo tempo quando outra presença é notada por mim. Entretanto, não me importei muito, visto que continuei a fazer o de antes.


- Sehun! - a voz de leve sotaque é o que me impede de cobrir as orelhas com os fones. Exclamou assim, como se quisesse me repreender por algo que eu desejei fazer desde a hora em que acordei.


- Yixing! - imitei a entonação do outro, ganhando uma língua em seguida. - Que foi, hein?


- Você realmente ia me ignorar? - fiz que sim com a cabeça quando me foi perguntado. - Babacão!


Yixing é um chinês que apenas conheço por pura coincidência. Estudamos, sim, na mesma universidade, mas não estamos no mesmo curso, nem ao menos chegamos a nos cruzar pelos corredores antes de finalmente nos esbarrarmos numa feira de garagem de jogos underground. Fiquei surpreso ao ver que ele tinha tais gostos, aquilo o fez subir no meu conceito, só que Yixing é muito extrovertido para meu gosto. É por isso que, às vezes, quero ignorá-lo de propósito.


- Você jogou o tal do Zelda? - questionou depois de me xingar em mandarim; supus que fossem xingamentos pelo modo em que ele os dizia. - Li numa revista especializada que foi lançado há um mês.


- Eu não tenho um Famicon, Yixing. - respondi antes de dar uma mordida no meu lanche e o chinês esperou pacientemente que eu terminasse de mastigar na esperança de me ouvir continuando a sentença. - Como posso ter jogado sem ao menos ter o console?


- Por que não disse antes!? - exclamou indignado.


- Por acaso você vai me dar um?


- Não, Sehun, como você é idiota! - Yixing alcançou um dos guardanapos que eu havia pego na cantina e, assim que formou uma pequena bola com ele, atirou-o em mim. Aquilo me fez rir, de certa forma. - É que vai ter um encontro do pessoal lá na casa do Chanyeol hoje e eu acho que ele tem.


- Chanyeol... - repeti comigo mesmo. Eu sabia muito bem quem era Park Chanyeol; só não tinha tanta certeza sobre ir até sua casa. - Será que vale a pena eu aguentar o Chanyeol só pra jogar no Famicon dele?


- Nesse ponto, você tem razão. - concordou e rimos juntos. - Mas talvez levem uns exemplares raros de jogos também.


Pela primeira vez no dia, Yixing conseguiu prender minha atenção. Como um bom colecionador, não poderia perder a oportunidade de aumentar seu valor adquirindo jogos consideráveis ruins pela “crítica especializada”. Quando uma revista sobre o assunto diz que tal jogo é horrível, sempre há de se questionar, afinal, quantas pessoas foram ouvidas para chegar a tal conclusão? Não confio em opiniões de um cara só, por este motivo eu dedico meu tempo livre barganhando nas feiras de garagem da cidade.


- Agora parece mais atrativo... - divaguei.


- Eu sabia que você aceitaria! - Yixing comemorou como se tivesse ganhado o maior prêmio de sua vida. - Vai ser depois da aula. Podemos ir juntos.


Não tive tempo de responder ao passo que o sinal do término do intervalo soava pela universidade toda. Despedi-me timidamente de Yixing e não o vi andando de volta para sua sala; apenas tive o trabalho de caminhar lentamente entre os outros estudantes e o falatório ensurdecedor que eles causavam, observando todos os detalhes do corredor que, em outros momentos, jamais me chamariam a atenção.


De qualquer forma, Yixing estará me esperando na frente do portão principal e não aceitará nenhum tipo de resposta que não seja um “sim”. E, bom, hoje é sexta-feira. Uma social no Chanyeol não pode ser tão ruim assim.


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O sinal anunciando o fim de mais um dia era como música para os meus ouvidos. Coloquei meus cadernos desajeitadamente dentro da mochila e andei um pouco mais rápido que o normal para evitar o congestionamento constante de alunos tentando sair da universidade ao mesmo tempo, apesar de já ter certa prática com essas situações. Simplesmente odeio ficar preso entra tanta gente.


Quando senti o ar mais fresco nos pulmões, conclui que estava perto do pátio. E, de onde estava, avistei Yixing segurando sua mochila despretensiosamente acima dos ombros e totalmente distraído. Não tive pressa de me aproximar, ainda mais que sei que ele é uma pessoa que se assusta fácil; era divertido chegar sorrateiro apenas para receber um soco no braço depois.


- Cheguei perto do ouvido do chinês e dei um leve sopro, me divertindo com a cena dele espantando um mosquito inexistente.


- Sehun! - exclamou assim que me viu e, como previ, me cumprimentou com um soco no braço. - Eu odeio quando você aparece assim!


- Desculpa, meu dia não é completo se eu não te assustar pelo menos uma vez. - brinquei, mas logo estranhei a sacola que ele segurava com a mão esquerda. - O que é isso aí?


- A sacola? - levantou o objeto no ar entre nós dois. Assenti. - Comprei uns petiscos pra levar no Chanyeol.


- Era obrigatório levar?


- Não, mas sabe como não gosto de aparecer de mãos vazias.


- Ainda bem, to zerado. - meti as mãos no bolso para exibi-los do avesso como prova de que eu estava realmente sem dinheiro.


- Mesmo que tivesse grana, você não levaria nada. - ofereceu a sacola para que eu a segurasse enquanto ajustava as alças da mochila. Devolvi-o depois que estava pronto.


Logo partimos. Yixing estava centímetros a minha frente, andando de um jeito que lhe fazia parecer caminhar por uma cama de plumas porque ele tem essa característica peculiar. E não perdia a leveza enquanto tagarelava sobre o tempo ou qualquer outro assunto trivial apenas para que não ficássemos num completo silêncio. Apesar de não ser o maior fã de pessoas comunicativas, ele tem esse tom de voz que me deixa calmo quando não está animado demais com alguma coisa ou simplesmente por sentir prazer em me irritar.


A casa de Chanyeol, segundo Yixing, não ficava tão longe de onde estudamos. Nunca fui até lá; aliás, nunca fui em nenhum desses encontros que envolvessem outras pessoas da universidade. Sempre vejo o Park pelo campus por ele ser tão – ou até mais – sociável que Yixing. Ambos fazem o mesmo curso e, quando fiquei sabendo que ele também era um entusiasta de jogos, me animei em conhecê-lo, mesmo com nossas personalidades tão distintas.


Paramos de frente a um prédio de estilo ocidental, de tijolos pequenos e vermelhos, esperando que meu amigo terminasse de comunicar nossa chegada através do interfone. Pelo que me foi dito, Chanyeol morava no quarto andar, o que me fez suspirar um pouco em desgosto por ter que subir alguns lances de escada. Ganhei uma bronca de Yixing por isso, dizendo que eu deveria praticar algum esporte, caso contrário morreria cedo, mas o som da minha respiração pesada e o desejo de chegar logo ao maldito apartamento falavam mais alto.


- Chegamos. - Yixing se pronunciou ao pisar no último degrau. - Sehun, meu filho, parece que você correu uma maratona.


- Assim que eu vir Chanyeol, vou logo perguntar o porquê dele morar tão longe do chão. - suspirei ao cruzar a “linha de chegada”, me apoiando na parede logo em seguida e arrancando uma risada anasalada do chinês.


- Eu tenho alguns VHS da Kathy Smith, minha tia trouxe quando viajou para os Estados Unidos. Se quiser, eu te empresto. - debochou, ao mesmo tempo que tocava a campainha. Logo a figura alta de cabelos pretos e enrolados surgiu por detrás da porta.


 - E aí, Chanyeol!


- E aí, irmãozinho. - os dois trocaram um cumprimento de mão informal e Yixing, como o grande extrovertido que era, tratou de entrar na casa sem ao menos esperar uma permissão por parte do Park. - Fala, Sehun! - senti as mãos grandes me darem um tapa amigável nas costas. - Entra aí.


- Valeu... - agradeci baixinho e, diferente do meu amigo chinês, adentrei o cômodo aos poucos.


O apartamento de Chanyeol era um caos no sentido mais obscuro da palavra. Cortinas escuras e sempre fechadas, somado a Killing Moon, do Echo and the Bunnymen, tocando no volume mínimo e a maquiagem gótica do Park eram uma decoração de gosto mórbido ao lugar. O que me deixava ainda mais confuso, pois nada daquilo era um reflexo da sua real personalidade – a maioria das pessoas costumam correr dos góticos, mas Chanyeol era tão gente boa que, depois de meia dúzia de palavras trocadas, os efeitos da sua aparência eram anulados quase que automaticamente.


Só depois de alguns minutos percebi que Chanyeol já estava acompanhado antes da nossa chegada. Dois homens e uma garota, esta sentada no colo do menor em uma poltrona afastada do resto dos móveis da sala. Acenei com o corpo tão discretamente que não foi visto por absolutamente ninguém, ainda mais que Yixing estava tapando parcialmente a visão do meu corpo.


- Sehun! - Yixing me chamou de supetão, o que me assustou um pouco; estava distraído observando cada detalhe. - Vou te apresentar o pessoal. Este é Yifan.


- Por favor, me chame de Kris. - o grandalhão complementou a fala do meu amigo, me estendendo a mão. - É o meu nome inglês, já que morei por muito tempo no Canadá.


- Prazer... - apertei de leve sua semelhante.


- Kris trabalhou na IBM. Mais precisamente, no projeto do Personal Computer. - Chanyeol surgiu de repente entre nós, dizendo aquilo de forma orgulhosa.


- Legal! - exclamei realmente surpreso. Para mim, aquilo equivalia a conversar com uma celebridade.


- Obrigado. - agradeceu com a voz rouca. - Hoje em dia, eu sou um programador por hobby. Arrisco a fazer alguns joguinhos.

- Trouxe algum pra gente? - meu amigo perguntou animado.


- Hoje não. - Kris respondeu, arrancando um bico decepcionado de Yixing. Olhou para o lado e eu acabei por acompanhá-lo; estávamos todos olhando para o casal que, até o presente momento, ainda não tinha sido introduzido. - Aqueles dois não se separam?


- Jongin! - Chanyeol gritou da mesma maneira que minha mãe faria comigo. - Quer parar de putaria e cumprimentar as visitas?


Quando aquele de nome Jongin se levantou num solavanco depois da bronca que acabara de receber, foi inevitável não rir da sua boca toda manchada pelo batom vermelho da garota. Após finalmente se recompor, ele se aproximou de nós e curvou-se como um pedido silencioso de desculpas, sendo acompanhado da namorada.


- Estes são Jongin e Soojung. - o Park quebrou o clima de forma descontraída, fazendo com que os dois ali aliviassem a postura.


Depois do alvoroço e de todos devidamente introduzidos uns aos outros, nos reunimos no centro da sala. Chanyeol me ofereceu uma cerveja e, ao comer os petiscos que Yixing havia trazido, me senti acolhido depois de uma semana inteira de estudos intensos. Também percebi que, depois de certo tempo, a bebida me ajudaria a tolerar mais as conversas paralelas que surgiam entre os presentes ali, e que eu tentaria desajeitadamente me incluir em todas. Descobri, desta forma, que Jongin, incrivemente, estuda conosco na mesma universidade e que Soojung estava se formando em medicina.


A certa altura, Jongin e sua namorada se trancaram em algum cômodo para terem um pouco mais de privacidade – e nos deixar menos constrangidos. Chanyeol e Yixing estavam aproveitando a companhia do novíssimo Famicon do mais alto quando o motivo de eu realmente estar ali surgiu.


- E aí, vocês não têm nenhuma raridade, não? - meu amigo perguntou sem tirar os olhos do Dragon Quest.


- O Kris trouxe um negócio aí... - Chanyeol respondeu, tão atento à tela da televisão quanto o outro. - Mostra aí pra eles!


Observei curioso Kris apanhando sua mochila e tirando algo de dentro dela, oferecendo para mim em seguida. Era um disquete com uma etiqueta velha com algumas palavras escritas, mas que estavam com a tinta tão desgastada que era praticamente impossível as ler.


- Encontrei isso numa venda de garagem. - Kris disse antes mesmo que eu pudesse formular a pergunta na minha mente. - Abri em casa, aparentemente é um jogo chamado Lua Pálida, mas é horrível até mesmo pros meus padrões.


- Eu gosto de coisas ruins. - senti que dei um sorriso meio torto, mas estava apenas dizendo a verdade. - Posso experimentar?


- É todo seu.


- O Kris ficou realmente bravo com esse jogo. - Chanyeol se pronunciou risonho. - Disse que é injogável.


- Mas é mesmo. - concordou, virando-se para mim logo depois. - Se descobrir como se passa de fase nisso, me avisa.


Substitui qualquer tipo de resposta possível por mais um gole da minha cerveja – que, a propósito, estava quente. Com o disquete ainda em mãos, fiquei pensativo. Não houve nada nesse mundo que fosse tão ruim que me fizesse parar de jogar na mesma hora, pois me considero perseverante. Se tenho uma tarefa, por pior que seja, eu vou cumpri-la. Isso se aplica a jogos, afinal, o que eu mais gosto de fazer ultimamente é jogar.


Olhei para a janela e senti que estava tarde, então chamei Yixing para ir embora, mas ele se recusou na mesma hora. O garoto tinha se apaixonado pelo Famicon de Chanyeol, nunca tinha visto algo tão tecnológico na sua vida. Por esse motivo, resolvi deixá-lo lá e dei no pé.


E, por alguma razão, eu estava ansioso para chegar em casa e testar Lua Pálida.


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Passavam das nove da noite quando encontrei-me de frente ao portão da minha residência. Meus pais estavam assistindo televisão na sala e ouvi algo sobre o jantar de hoje ser bolo de carne, mas com todos os petiscos que comi na casa de Chanyeol e todas as latinhas de cerveja que tomei, meu estômago estava inchado. Neguei ao chegar no último degrau da escada, fechando a porta do meu quarto logo em seguida.


Larguei a mochila na cama e arranquei a camiseta do corpo. Sentei na cadeira e, entre todos os meus materiais do curso e papéis de bala amassados, estava o disquete que Kris me dera horas atrás. Liguei meu computador e, depois de observar sua inicialização, introduzi o dispositivo, aguardando as próximas instruções.


Arqueei uma sobrancelha quando uma pequena tela preta fez-se presente. Por ser de noite, usar o computador me doía as vistas, então apanhei meus óculos que estavam perdidos pela mesa e li todas as palavrinhas brancas.


Você está em uma sala escura. Luz do luar brilha pela janela.

Há OURO no canto, junto de uma PÁ e uma CORDA.

Há uma PORTA ao LESTE.

Comando?


- Um jogo texto-aventura em pleno final de década? - perguntei para mim mesmo. - Interessante...


Jogos desse tipo foram muito populares durante um tempo, por serem simples. Basicamente, apresenta um texto contando uma narrativa e você tem alguns comandos que representam suas ações dentro do jogo e determinam seu final. Atualmente, o gênero tem perdido popularidade, pois, graças à Nintendo, esses jogos passaram a ser visuais.


Aquilo sim era uma verdadeira raridade.


Logo abaixo da última linha, encontrei as opções pegar ouro, pegar pá, pegar corda, abrir porta e ir ao leste. Era um pouco confuso, simplesmente porque não parecia fazer o menor sentido. Respirei fundo e li tudo, pelo menos, mais umas três ou quatro vezes e, sem entender absolutamente nada, escolhi qualquer opção.


Tal qual foi a minha surpresa, meu computador havia travado.


- Que droga! - exclamei sozinho, dando diversos cliques no mouse e não obtendo nenhuma resposta.


Meu último recurso era reiniciar a máquina e foi o que eu fiz. Bufei um pouco frustrado olhando para o céu lá fora enquanto esperava meu computador completar aquele processo. Recoloquei o disquete na entrada e lá estava a mesma tela preta com os dizeres de antes.


- Beleza, você está em uma sala escura, blá, blá, blá... - passei os olhos superficialmente pelo que eu já tinha lido. - Se não posso pegar o ouro, então talvez eu deva pegar a pá...?


Cliquei com receio na minha nova escolha e...


Computador travado novamente.


- Mas que caralho! - esbravejei, desligando a máquina por completo. - Amanhã eu tento essa porra com mais calma.


Tirei meus pertences de cima da cama e desliguei a luz. Talvez aquele jogo tenha algum tipo de enigma implícito e que não consigo captar por estar muito cansado ou com algum resquício de álcool no corpo. Jogos assim exigem paciência e, naquele momento, o que eu mais queria era descansar.


- Amanhã é sábado, posso tentar com mais calma... - foi a última coisa que eu disse antes de adormecer.


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- Sehun! Sehun, tá acordado?


Escutei a voz abafada por trás da porta e resmunguei algo que pareceu ser a permissão para que a pessoa entrasse. Enterrei o rosto no travesseiro quando percebi que já estava de manhã e meu corpo parecia ainda mais cansado que na noite anterior.


- Sehun, acorda! - senti o cobertor deixar meu corpo e o choque do ar exterior bater contra minha pele. Aquilo me fez acordar de ver e dar de cara com a minha mãe. - Combinamos de almoçar na sua avó, lembra?


- Ah, mãe! - exclamei em descontentamento. - Será que eu não posso ficar por aqui?


- Claro que não! Sua avó vai ficar triste.


- Mas eu tenho coisas pra estudar! - menti, mas tinha funcionado, pois ela parou no lugar na mesma hora.


- E o que você vai comer?


- Não sei, eu me viro. - sentei-me na cama espreguiçando o corpo. - Não se preocupa, mãe. Não é como se eu tivesse cinco anos de idade.


- Hum... - minha mãe ainda parecia relutante em me deixar sozinho, mas acabou dando de ombros. - Tudo bem. Se precisar de algo, basta ligar na sua avó.


- Pode deixar. - sorri pequeno, recebendo um beijo na testa como resposta. - Divirtam-se!


Assisti mamãe deixar meu quarto por completo para finalmente acordar da maneira correta, caminhando para o banheiro com a toalha em mãos. Tomar uma ducha poderia diminuir minhas dores no corpo e a leve ressaca que se fazia presente, então deixei a água escorrer livremente por todo meu comprimento. Esfreguei o rosto e logo o resto com sabão e fiquei por ali mais um pouco até me sentir completamente limpo.


Caminhei de volta para o quarto apenas com a toalha enrolada nos quadris quando avistei o disquete do jogo de longe. Suspirei ao lembrar que tinha uma meta pessoal a cumprir, então me vesti com qualquer roupa confortável o suficiente para ficar em casa e me dirigi rapidamente ao computador.


- Meio dia. - disse para mim mesmo olhando para o despertador na cabeceira da cama. - Se eu não resolver isso antes dos meus pais chegarem, eu não me chamo Oh Sehun.


Assim que a máquina estava ligada, enfiei o disquete com certa forma na entrada própria para ele e vi a mesma tela. Juntei os dedos em concha e os estalei os dedos na direção oposta ao meu corpo. Eu estava determinado em desvendar quaisquer mistérios que aquele jogo guardava.


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- Caralho, eu consegui!


Rapidamente, olhando pela janela, pude ver o sol se pondo. Não que fosse importante o fato de eu estar a mais de cinco horas na frente do computador – e sem estar usando meus óculos e eu sabia que aquilo me afetaria mais tarde -, eu finalmente tinha descoberto a chave para sair daquela fase e de outras que haviam aparecido. E, com tantas tentativas na bagagem, acabei descobrindo, também, que, a cada erro meu, o jogo fazia o computador congelar. Por isso, demorei esse bocado de tempo.


Claro que não fui burro a ponto de não anotar cada passo dado. Ao meu lado, jazia uma folha de caderno repleta de rabiscos um tanto incompreensíveis pela pressa que eu tive em transcrevê-los, mas era entendível o suficiente para caso eu quisesse desligar o computador e continuar no dia seguinte.


Descobri que Lua Pálida ficava cada vez mais misterioso a cada tela resolvida, mas os comandos permitidos para o jogador eram sempre os mesmos, o que me deixava ainda mais perturbado. Era compreensível que outras pessoas desistissem assim que seu computador travasse pela quinta ou sexta vez, mas, dentro de mim, algo pedia para resolver aquele jogo de uma vez por todas.


Naquele momento em que meu relógio batia no horário das cinco e meia da tarde, a tela preta me mostrava a seguinte mensagem:


LUA PÁLIDA SORRI ABERTAMENTE.

Não há caminhos.

LUA PÁLIDA SORRI ABERTAMENTE.

O chão é macio.

LUA PÁLIDA SORRI ABERTAMENTE.

Aqui.

Comando?


- Sehun? - a voz da minha mãe me chamava no cômodo de baixo. - Sehun, chegamos!


- Já vou! - gritei desligando o computador, correndo pelos degraus logo depois. - Bem-vindos de volta.


- Como foi seu dia, querido? - ela me cumprimentou bagunçando meus cabelos.


- Fiquei estudando. - menti mais uma vez.


- E comeu direitinho?


- Belisquei alguma coisa... - e mais uma vez. - Como foi na vovó?


Mamãe e papai foram contando as novidades enquanto íamos todos para a cozinha, mas eu não conseguia me desviar do fato de que aquele jogo esteve me consumindo a tarde inteira e eu precisava saber o que tinha no final a qualquer custo – caso contrário, eu não descansaria. Torci para que a janta ficasse pronta logo apenas para comer e ter todo o tempo do mundo para testar as outras infinitas combinações que ainda me aguardavam.


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Desvendar os segredos de Lua Pálida me custaram mais algumas horas daquele dia. Terminei de descartar mais uma das várias tentativas na minha folha de caderno enquanto esperava o computador reiniciar. Estava com dores de cabeça e meu corpo ansiava por um descanso, mas alguma coisa me dizia que eu ainda terminaria tudo isso hoje. Decidi, então, insistir.


Após escolher todas as opções previamente descobertas por mim, eu estava diante daquela tela que me dizia que a lua pálida sorria. Estiquei os braços acima da minha cabeça, sentindo cada músculo aquecer-se com o movimento e cada osso voltar para seu devido lugar antes de concluir que me restava apenas uma escolha dentre as cinco que o jogo sempre me dava.


Dei um pequeno pulo na cadeira ao ver o que parecia ser o fim daquele jogo maldito.


- Eu não acredito... - deixei as expressões de alívio para depois apenas para ler o que estava escrito na tela preta.


--- Parabéns ---

40.24248

121.4434


- O que diabo será isso...? - me perguntei, mas não deixaria de anotar os números na folha apenas por precaução. - É assim que essa merda acaba?


Era um pouco impossível pedir para que eu não sentisse uma pontada de decepção ao me deparar com um final tão tosco e sem sentido quanto o jogo todo, mas era satisfatório ter terminado algo que nenhuma outra pessoa teve a devida paciência para fazer. Da próxima vez que eu visse Kris, confirmaria o que ele havia dito sobre o jogo.


Não sabia que horas eram, apenas deduzi que fosse tarde. Então, apaguei a luz e deitei a cabeça no travesseiro sentindo o sono me abraçar aos poucos; eu estava mentalmente cansado e não demorou muito para que eu pegasse no sono.


É muito difícil para eu lembrar dos meus sonhos, mas, naquela noite em específico, por influência desse meu fim de semana atípico ou não, eu sonhei que estava caminhando por uma floresta escura. Os poucos pontos de luz que haviam por ali provinham da luz da lua, que estava maior e mais amarelada do que normalmente é. Ao fundo, o vinil que ouvi na casa de Chanyeol tocava, mas não parecia estar no volume baixo, era mais como um som abafado.


Tinha algo a minha frente que parecia fora do lugar. Possuía um brilho especial, diferente de tudo o que havia ali e, quando notei sua presença, resolvi correr, porém não adiantou muito. Quanto mais eu corria, mais longe aquilo parecia estar e, cada vez mais, a música parecia estar tocando dentro da minha mente, expandindo-se gradativamente e me deixando surdo.


Acordei ofegante e suando em bicas, precisei me sentar na cama para recuperar todo meu fôlego, ao mesmo tempo que assimilava o que era ou não real. Somente depois de alguns segundos tomei consciência de que estava no meu quarto, iluminado por alguns pequenos feixes de luz solar vindos da janela. Olhei para o despertador apenas para ter certeza do horário; eram dez da manhã.


Suspirei aliviado, sentindo meu corpo tremer por inteiro. Enquanto caminhava para o banheiro para lavar o rosto, pensei em todas as vezes que reclamei sobre nunca lembrar do que havia sonhado na noite anterior e como me arrependia disso. Era uma sensação horrível.


Voltei para o quarto e acabei dando de cara com a minha folha de anotações sobre o jogo. Lá estava, entre dezenas de rabiscos, os números dados na última fase. E, não sei direito o porquê, mas olhá-los teletransportou meus pensamentos para o cenário do meu pesadelo de horas antes: a floresta. Peguei o papel intrigado, buscando alguma conexão sobrenatural entre os dois acontecimentos, alguma coisa que fizesse sentido dentro daquele jogo maluco que consumiu meu final de semana.


- Floresta, floresta... O que quer dizer essa floresta...? - me perguntei quando, de repente, senti como se uma lâmpada tivesse se acendido acima da minha cabeça.


Saí em disparada pela casa e só parei quando cheguei na cozinha. Meus pais estavam lá, como sempre, tomando café juntos enquanto o rádio estava sintonizado em alguma estação de notícias. Encostei o corpo no batente da porta e me deixei descansar enquanto observava desatento os olhares espantados dos mais velhos. Meu pai me olhava por cima dos óculos e mamãe cortou a mastigação de um pedaço de torrada pela metade.


- Filho? Sehun? - papai dobrou o jornal em dois e o deixou de lado apenas para me chamar. - Por que acordou tão cedo no domingo?


- Pai... - ignorei a pergunta sem sair do lugar. - Onde tá aquele seu mapa da cidade?


- O mapa...? - ele pareceu meio confuso com o que tinha acabado de ouvir. - Acho que tá no quarto dos fundos, mas pra que voc-


- Obrigado. - agradeci da forma mais rápida que consegui e voltei a correr até o local indicado pelo meu pai.


Os fundos da nossa casa não têm muita utilidade que não seja para abrigar um tanque de roupas sujas e um quarto repleto de caixas que guardam coisas que não usamos mais, além de lembranças de anos anteriores. Abri a porta do cômodo e fui tomado pelo cheiro de mofo e poeira que ficam trancafiados dia e noite, me fazendo tossir um pouco.


Decidi procurar na estante que estava a minha esquerda e continha uma pilha de jornais velhos e listas telefônicas. Peguei uma delas e folheei rapidamente em busca do mapa perdido; não demorou muito mais que três para encontrar meu objeto de desejo naquele momento.


Abri-o no chão mesmo. Estava começando a esfarelar por conta do tempo de uso, alguns locais estavam apagados ou até mesmo poderiam ter deixado de existir. Alcancei minhas anotações e comecei a procurar pelos números que, talvez, responderiam boa parte do mistério que aquele jogo guardava.


Foi quando eu encontrei.


- Esses números... - balbuciei para mim mesmo, incrédulo com a minha descoberta. - Esses números são coordenadas.


- Sehun! - minha mãe surgiu preocupada na porta do quarto. - Sehun, a senhora Zhang ligou preocupada-


- Mãe, eu preciso de uma pá e uma corda! - interompi, fazendo com que ela levantasse uma sobrancelha em dúvida. - Por favor!


- D-Deve estar em alguma dessas caixas. Mas, Sehun, o que foi que deu em você nessa manhã?


- Quando eu voltar, eu explico. - respondi assim que encontrei o que precisava. - Prometo.


Antes de sair de casa, ainda escutei minha mãe dizer alguma coisa, mas decidi ignorar. Apenas apanhei uma mochila que estava pelo meio do caminho e dei um jeito de colocar todos os meus pertences dentro. Se Lua Pálida me deu coordenadas de algum lugar, é porque existia um tesouro perdido.


E eu estava disposto a escavá-lo.


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Foram, mais ou menos, quarenta minutos de caminhada até o local apontado pelo mapa do meu pai. Durante o percurso, percebi que estava cada vez mais afastado do centro da cidade, restando apenas algumas residências e pouquíssimos comércios. O tempo naquela manhã estava frio e o sol brilhava cada vez mais tímido entre as nuvens.


Parei de andar quando me deparei com um enorme conjunto de árvores silvestres cobertas de cerração no topo. Era uma floresta, como eu já havia previsto, mas não parecia tão grande quanto no meu sonho. Olhei para os lados e não encontrei ninguém por ali, o que dava um ar mais sinistro para tudo.


Engoli a seco antes de me embrenhar no meio dos pinheiros, com medo do que poderia estar me aguardando no fim daquilo tudo, mas com curiosidade o suficiente para mergulhar de vez na história desse jogo tão oculto. A floresta não tinha uma trilha natural por conta das árvores estarem muito próximas umas das outras. Tive certa dificuldade para me locomover.


Demorou, aproximadamente, uns quinze minutos até eu chegar num pequeno espaço da floresta onde eu pudesse esticar o corpo por inteiro. Larguei a mochila no chão e me espreguicei, até perceber que eu estava totalmente submerso dentro daquele lugar. Estremeci; não sabia se eu deveria voltar para casa e deixar tudo isso de lado ou continuar com a minha missão.


Notei um pequeno monte de terra ao meu lado, como se tivesse sido remexida recentemente.


- O que é isso? - cheguei mais perto para analisar, mas lembrei que estava com uma pá. Peguei o objeto na mochila e comecei a escavar até encontrar algo mais duro enterrado ali. - Será que é o tesour-


O grito de horror que escapou dos meus lábios foi indescritível, algo que eu jamais senti durante a minha vida toda. Senti meu corpo convalescer, estava perdendo o equilíbrio aos poucos até baquear no chão. Lua Pálida não queria que eu descobrisse um tesouro perdido, tampouco seria motivo de orgulho dizer o que é que tinha ali.


- C-Caralho! O que eu faço, o que eu faço? - me perguntei com a voz embargada e as mãos na cabeça, andando em círculos. Minhas anotações estavam jogadas no chão, peguei-as com as mãos trêmulas. - Há uma porta ao leste... Uma porta...


Assim que terminei meu raciocício, apanhei todos os meus pertences e corri. Corri como se não houvesse amanhã, como se minha vida dependesse daquilo. Corri até o ar dos meus pulmões falhares, até arfar de desespero em chegar no topo.


Até encontrar uma cabine telefônica.


- Departamento de Polícia de Gangnam.


- B-Bom dia, meu nome é Oh Sehun e eu acabei de encontrar uma coisa aqui na floresta da divisa. Por favor, venham! Venham! - foi tudo o que eu disse para a pessoa do outro lado da linha antes de desligar e permanecer ali, sem chão, sentindo as lágrimas quentes escorrerem pelo meu rosto como um rio selvagem.


Lua Pálida me trouxe até esse lugar para que eu relatasse à polícia o seu segredo.


Uma cabeça. Pálida, com os lábios cortados nas extremidades.


Não há caminhos.

O chão é macio.

Lua pálida sorri abertamente.


Yixing estava morto.


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Zhang Yixing, de 20 anos, desaparecido desde sexta-feira, foi encontrado sem vida hoje pela manhã graças a uma denúncia de um amigo próximo que preferiu não se identificar. Segundo fontes, este amigo relatou que a descoberta só foi possível por conta de um jogo que havia jogado durante o final de semana, Lua Pálida, e que supostamente ofereceu pistas que o levaram a encontrar a cabeça do jovem. As autoridades já confiscaram o disquete que contém o jogo e este será levado a análise.


Além disso, outra testemunha foi até a delegacia para confessar fazer parte do crime. Park Chanyeol era colega de Zhang Yixing e confessou ter participado do plano para assassinar o jovem na noite da última sexta-feira. Ele deu nomes de outros dois comparsas que ainda não foram divulgados, sendo um deles um programador amador de jogos.


Ainda não há pistas sobre o paradeiro do resto do corpo de Zhang Yixing.


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29 de Junio de 2018 a las 00:42 4 Reporte Insertar Seguir historia
4
Fin

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rafa i'm running into your heart

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Park Yooda Park Yooda
Eu não sei nem o que dizer dessa fanfic. Eu to desestruturada. Que delícia fic do Exo nessa vibe, é tão difícil de achar! Aaaaa Cara eu amei demais. Que escrita meus amigos. E que plot originalissimamente maravilhoso. Eu to apaixonada Parabéns manx, uma fic dessas devia ter todos os oscars e globos de ouro do mundo eh isto
June 29, 2018, 03:00

  • rafa      rafa
    ai que comentário lindo <33 meu ego foi lá no teto KJHSADJKHSDAKJ obrigada pelo carinho amor June 29, 2018, 22:16
nana nana
bicho, eu li no spirit e reli agr, mas continuo me arrepiando com esse final kj esse terror/suspense ficou maravilhoso <3
June 29, 2018, 01:13

  • rafa      rafa
    obrigada por dar uma chance aqui tbm fada <3 June 29, 2018, 22:13
~