izarodrigues Izabelly Rodrigues

Nós nunca saberemos o que se passa na mente e no coração das pessoas, mesmo quando acordamos ao seu lado. Todo mundo carrega dentro de si trevas e luz, algumas decidem que o melhor caminho é a luz, outros caminham em direção as trevas... Muitas vezes precisam de ajuda, em outras rejeitam o socorro.


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#drama #amor #triste #infeliz #filho #culpa #lágrimas
Cuento corto
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Capítulo Único

Ela desistiu da vida, desistiu de mim e de nosso filho.

Eu sabia pelo que ela enfrentava sozinha quando a conheci, mas nunca pensei que ela fosse se entregar desta forma. Que este seria o seu fim.

Me comprometi cuidar dela e sabia de seus problemas, seus medos, seus pesadelos e quando a pedi em casamento, tomei seus problemas como meus e assim jurei ajudar a solucioná-los.

Fiz tudo o que estava ao meu alcance, mas não foi o suficiente...

Fazia tempo que ela sorria o tempo todo, ela fazia piadas e gargalhava das próprias bobeiras, fazendo todo mundo acreditar que estava bem. Até mesmo eu comecei a acreditar que ela finalmente estava bem, que aquele mal que a atormentava estava deixando-a viver. Mal sabia eu quê, o que ela sentia era resumido a dor. Uma dor que ela achou melhor guardar para si mesma.

Aquele sorriso falso caracterizava o monstro que crescia dentro dela, destruindo sua felicidade e roubando seus sonhos.

Ela não me deixou enfrenta-los também.

Havia um tempo que seu humor estava mudando drasticamente. Ela se irritava por qualquer coisa e com todos ao seu redor, descontava seus desgostos em nosso filho, mas em outros era a mulher incrível que conheci. Suas piadas, suas conversas intelectuais, seus hobbies que ainda fazia de vez em quando.

Arrumamos algumas brigas como todo casal, por conta dessas variações de humor. Acreditei ser apenas estresse do trabalho, uma vez que ela dizia que estava sempre bem. Ela não gostava do lugar, não gostava das pessoas, não gostava do que fazia, não gostava da administração, não gostava do ambiente de trabalho, mas não queria ser dona de casa. Acho que era um refúgio, talvez.

Após longas conversas sobre como estava afetando nossas vidas, ela resolveu de uma vez ficar em casa. Eu disse que não precisava ser assim, mas ela quis sair do trabalho e se dedicar ao nosso filho. Eu não a impedi.

Foi em uma tarde de sexta-feira. Eu estava no trabalho, e como de costume liguei para saber como minha família estava. Meu filho atendeu o telefone, como sempre. Estávamos tentando ensiná-lo a não atender o telefone, mas sabe como são as crianças na fase da descoberta, elas mexem em tudo no que não pode.

Briguei com ele de uma forma sutil e sem expressar negatividade, apenas o meu descontentamento em saber que novamente ele estava atendendo o telefone sem permissão da mãe.

Por mais que a ideia de telefone não fosse algo para crianças, eu amava ouvir sua vozinha, aquelas pequenas palavras e poucas frases ainda malformadas, deixava meu dia muito melhor. Meu filho é um menino curioso e tenho orgulho disso.

Achei engraçado ele protestar em sua defesa ao atender o telefone.

Ele começou a reclamar que a mamãe não estava lhe dando atenção. Imaginei que ela estivesse fazendo os afazeres de casa e ele querendo colo. Ela sempre o mimou bastante, depois reclamava que ele não a deixava fazer as coisas. Não foi por falta de aviso.

Eu perguntei onde sua mãe estava, e ele disse que estava dormindo no quarto e não queria acordar. Ele estava com fome e não tinha comido nada ainda.

Achei estranho. Imaginei que ele quisesse a sobremesa antes do almoço, pois minha esposa não era do tipo que dormia antes do lanche das 17h, a não ser que ela estivesse passando mal. Pedi ao meu filho que acordasse sua mãe e levasse o telefone até ela e eu pude ouvir sua tentativa de acorda-la. Não havia nenhum resmungo ou reclamação vindo dela. Somente a frustração do menino, pelo tom de sua voz.

Comecei a ficar preocupado.

Ele voltou a falar comigo no telefone. Pedi que ficasse na sala vendo TV, e que eu estaria indo para a casa e chegaria logo para vê-lo. Queria saber o que estava acontecendo. Sai mais cedo e cheguei o mais rápido que pude.

A casa estava em perfeito estado como sempre, com a exceção da sala onde tinha todos os brinquedos do meu garoto espalhado. Preparei uma tigela de cereal para ele, pois ainda reclamava de fome e o deixei distraído vendo desenhos.

Entrei no quarto e estava escuro, a janela e cortina fechadas. Ela ainda estava vestida com seu pijama de flanela azul, deitada de lado, os cabelos negros cobrindo uma pequena parte de seu rosto, o lençol cobrindo até a cintura, o frasco do antidepressivo vazio sobre o meu travesseiro, a jarra de água estava quase vazia no criado-mudo ao lado da cama.

Eu não queria acreditar, mas acho que já sabia o que tinha acontecido. Seu corpo não estava frio, mas estava completamente sem pulso, o rosto pálido, a boca roxa, deduzi que não tinha acontecido a tanto tempo. Chamei a ambulância e os deixei trabalhar enquanto eu brincava com o meu filho na sala para distrai-lo. Alguma coisa me dizia que nada poderia ser feito àquela altura.

O pobre menino não entendeu nada, com tantas pessoas entrando e saindo de casa. Duro foi explicar para ele que sua mãe desistiu.

Eu não sei o que aconteceu de verdade. Acreditava que estava indo bem, ela estava passando no psicólogo regularmente, estava tomando os medicamentos corretamente, suas crises estavam diminuindo, ela tinha meu total apoio e eu deixei isso muito bem explicado. Eu a amava de mais.

Nunca teve pensamentos suicidas, não que eu soubesse, nunca deixou aparentar tristeza. Conversávamos sobre tudo, nosso sexo estava perfeito e regular, amava nosso filho de todo coração.

Eu não sei o que aconteceu. Deixei passar alguma coisa. Sinto essa culpa me corroendo, eu deixei meu filho sem a mãe, por um descuido.

Senti as lágrimas descer pela primeira vez quando a velei. Somente neste momento eu percebi que não a veria mais. Acredito que meu estado de choque foi tão intenso que acreditava ser um pesadelo. As pessoas começam a questionar se eu a amava de fato, por não ter chorado para ninguém, mas o que eles queriam?

Somente quando a vi no caixão fechado descendo naquele enorme buraco, e a cova sendo coberta pela terra, é que me dei conta do que realmente tinha acontecido. Tudo o que eu tinha preso se soltou, e eu chorei como um condenado, acho que nunca senti tanta dor quanto estava sentindo aquele momento.

Meu filho ainda pergunta pela mãe, já tentei contar, mas ele não parece acreditar na história da estrela, ou alguém especial no céu. Acho que ele busca a verdade. O problema é que eu conto a verdade, fantasiada de alegria parecendo que a morte é festa e balões coloridos, tudo para evitar que ele sinta a dor que eu estou sentindo.

12 de Abril de 2018 a las 20:41 2 Reporte Insertar Seguir historia
1
Fin

Conoce al autor

Izabelly Rodrigues Eu amo ler fic e originais. Amo escrever e soltar a imaginação. Escrevo desde criança e aprendi a deixar minha mente voar através das palavras.

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Mandy Mandy
Eu tô muito impactada socorro como faz pra respirar?
May 25, 2018, 12:44

  • Izabelly Rodrigues Izabelly Rodrigues
    Tente sugar o ar com o nariz, se não der certo use a boca, e vai soltando devagar. rsrs Brinks, mas espero que tenha gostado. É o primeiro drama que eu escrevo e estou tentando me aperfeiçoar nele. Obrigada por comentar. May 26, 2018, 19:14
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