O quarto estava um pouco escuro. A única luz era proveniente da televisão, ligada em um canal onde um Sci Fi passava. Não estavam mais assistindo desde a primeira hora, que foi quando dividiriam a cama do dormitório e magicamente o filme não pareceu mais interessante.
Era o último ano do colégio. As provas finais tinham encerrado e faltava pouco para que finalmente ganhassem a licença de heróis profissionais. Shiori estava animada. Passara com louvor em todas as matérias, até mesmo conquistara o primeiro lugar em algumas das provas práticas. Sentia orgulho de seu processo e ninguém poderia tirar aquilo dela. Após tanto estresse, nada poderia ajudá-la a se recuperar, exceto por ele.
Todoroki Shouto também estava orgulhoso, não só dele mesmo, como também de sua namorada. Ambos passaram por muita coisa naqueles três anos de curso. Foram situações ruins, incríveis e estressantes, mas sempre se mantiveram juntos, apoiando o outro. Naquele dia não era diferente. Queriam apenas descansar, esquecer da difícil semana e o mais importante de tudo: cuidar um do outro.
Shiori tinha um machucado no braço. Usava uma prótese mecânica, que substituía seu antebraço direito, que perdeu em um trágico acidente. Em um dos combates nas provas finais seu antebraço biônico fora arrancado com força, ferindo o final do úmero. Usava agora uma atadura e mal podia se deitar do lado direito de seu corpo. Todoroki preparou o quarto para recebê-la e encheu a cama de almofadas e cobertores para que ela pudesse ficar o mais confortável possível. Ele sabia bem o que ele passava quando não tinha um de seus braços presentes.
Ele se sentou ao lado dela, tinha acabado de sair do banho. Os cabelos bicolores gotejavam um pouco pelo carpete, mas logo ele os secou com uma toalha, bagunçando de um lado para outro os fios. Ele olhou para Shiori enquanto vestia a camisa, e notou que ela tinha um olhar zombeteiro no rosto.
— O que foi? —ele perguntou, curioso. Dividiu então a cama com ela, enfiando os pés gelados dentro do nó de cobertores e tocando a perna nua da garota. Ela exclamou e se afastou.
— Eiii!!!
Murmurando desculpas, Todoroki abriu um pequeno sorriso cheio de afeto. Fez um rápido controle de temperatura, tornando seu corpo um pouco mais confortável para o momento. Não era sempre que Shiori dividia a cama com ele pela noite inteira para que pudessem descansar juntos, e tornar tudo perfeito era uma prioridade no momento para o rapaz.
Shiori sabia o quanto ele estava se esforçando em todos os aspectos da vida, especialmente para com ela naquele instante. Sabia que ele esperava por aquele dia há tempos, afinal, nas últimas semanas de provas quase não tiveram tempo para ficar juntos, e o pouco tempo usavam para estudar e compartilhar o conhecimento que adquiriram com muito esforço. O afeto ficara um pouco para trás nesses tempos, o que tornou a necessidade de carinho e amor ainda maior. Era quase incontrolável.
— Quer alguma coisa? —ele perguntou, pronto para sair da cama para o que quer que Shiori necessitasse. Talvez ela estivesse com fome ou com dor, mas seu braço já estava melhor há dias. Ainda assim ele não conseguia deixar de se preocupar com ela.
Shiori negou, aconchegando o corpo para mais perto dele. Agora ele não estava mais frio, parecia mais aconchegante que os cobertores em volta dela. Com o braço direito abraçou o abdome do rapaz e deitou a bochecha em seu ombro. O gesto fez o que sempre fazia a Todoroki: causou uma sensação de queimação, não só nas maças do rosto, mas também no coração. Ele sorriu de seu jeito minimalista e pousou a mão sobre a dela. Adorava como a mão era pequenina e morna sob a sua. Há quanto tempo não andava de mãos dadas com ela? Tinha tanto tempo que pensar no vão de espaço em que dedicara sua atenção completa a Shiori causou um desconforto. O sorriso em seu rosto sumiu, quase que imperceptivelmente, mas a moça não deixou de notar.
Seus olhos de águia, amarelos e predatórios prestavam atenção em tudo. Ela não deixara de notar a repentina mudança no semblante do namorado, e desejou ter o outro braço por pelo menos alguns minutos para abraçá-lo e confortar um pouco aquela culpa que ele provavelmente sentia. Todoroki era muito crítico consigo mesmo, não queria que por algum motivo se tornasse igual seu pai, alguém que não lhe deu amor suficiente nem aos seus semelhantes. O rapaz não queria ser apenas o melhor herói, queria ser o melhor companheiro, melhor amigo, melhor pessoa com quem todos ao seu redor poderiam contar.
— Shouto... —ela o chamou, a voz levemente grave para a idade se sobressaindo as vozes dos personagens do filme. Os olhos bicolores fitaram o rosto dela, anguloso e bonito. Algo em seu rosto conseguia hipnotizá-lo completamente, e ele gostava disso tanto que poderia olhar para ela para sempre, sem se cansar. E quando ela abriu aquele sorriso lindo e encantador, Shouto quase derreteu. — Me beija.
Não foi uma ordem, foi um pedido delicado e cheio de manha. Shiori tinha uma forma de falar que conseguia prender todas as pessoas a sua volta. Era uma verdadeira contadora de história, artista de canções que poderiam encantar todos os ouvidos. O pedido causou um arrepio quase instantâneo no rapaz, e ele não demorou nem mais um segundo para dar o que ela queria.
Os beijos de Todoroki pareciam sempre contidos, mas eram puramente carinhosos demais. Ele tinha uma mania de começar devagar, saboreando cada milímetro dos lábios de Shiori até finalmente pedir espaço para unir realmente as línguas. Aquilo causava na garota uma sensação de antecipação, onde parecia ter que implorar para que Shouto a devorasse. Gemia bem baixinho entre os lábios dele, segurava a gola da camiseta, puxando-o praticamente para cima de si. O rapaz sorriu entre os lábios dela e continuou mantendo a calma, aproveitando cada segundo daquele momento.
O quarto não estava quente, mas debaixo daqueles cobertores parecia nascer uma chama transparente, surgindo no momento em que Todoroki enfiou a língua entre os dentes de Shiori, parecendo puxá-la para a superfície, e ela gemeu novamente. O som arrepiou todos os pelos do corpo de Todoroki, e ele finalmente sabia que aquele momento se tornara mais especial do que já era.
Eles pararam para respirar, apenas o suficiente para se entreolharem, cheios de carinho um pelo outro e esperança. Ele se afastou da moça, apenas o suficiente para deitar ao seu lado, encarando aquele rosto que ele tanto amava, fixando cada detalhe em sua memória como se fosse possível algum dia esquecer.
— Por que tá me olhando assim? —ela perguntou, soltando uma risada curta. Virou-se um pouco mais e pousou a mão no rosto dele, acariciando levemente a pele, da bochecha até a cicatriz da queimadura no olho esquerdo. Aquilo sempre deixava Todoroki confortável.
— Você é linda, Shiori —ele disse, o rosto assumindo um tom sério e cheio de uma adoração silenciosa. O braço envolveu a cintura e então a puxou para mais perto, unindo seus quadris de uma forma que quase inconscientemente as pernas se entrelaçaram.
Quando Todoroki agia com uma certa dominância daquela forma, Shiori sempre acabava se derretendo. Após aquele elogio tão sincero, ela se sentiu corar e soltou sua risada envolvente uma outra vez. Abaixou a cabeça para esconder e encostou a testa no queixo do namorado. Deixara a mão sobre o peito dele, sentindo os batimentos levemente agitados pelas digitais. Poderia dormir facilmente daquela forma. Não que quisesse cerrar os olhos por muito tempo e deixar de apreciar aquele momento.
Não era apenas uma noite qualquer, onde poderiam assistir um filme de ação ou comédia por algum tempo e morrer de beijos até a madrugada. Era muito mais do que aquilo. Foi especial como foi, mesmo em toda a simplicidade de um momento juntos. Há tanto tempo que aquilo nem mesmo acontecia... que a cada segundo era como se o amor deles aumentasse. Não era como um Sci Fi que deixaram de assistir.
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