alexandrerassis Alexandre R. Assis

Um aventureiro se vê obrigado a mudar o rumo de sua vida após receber uma trágica notícia.


Cuento Todo público.

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A Busca

O diagnóstico me obrigou a fazer algo impensável. Após três décadas de busca, finalmente eu estava voltando para casa. Enquanto dirigia só pela estrada sombreada, a tristeza foi aos poucos se transformando em conforto. Aquele frescor, o ruído da trilha de cascalho sob os pneus, o canto das cigarras, os raios solares que atravessavam a copa das árvores — tudo parecia se combinar em uma substância única, indefinida, capaz de perfurar a densa nuvem de incerteza que se abateu sobre mim desde que eu recebera a notícia.


Era hora de parar. Nunca imaginei que esse dia chegaria antes que eu pudesse encontrar o que tanto havia procurado. Percorri todos os cantos do mundo, pesquisei línguas esquecidas, manuseei pergaminhos e papiros carcomidos, mergulhei em mares insondáveis, explorei cavernas e montanhas, conversei com sábios de barba branca que me instruíram sobre que caminhos seguir (embora as dicas mais valiosas eu tenha obtido da boca de crianças inocentes). Não constituí família nem me empenhei por uma carreira. Sacrifiquei tudo nessa busca que agora me via obrigado a encerrar.


Seguia absorto nesses pensamentos quando cheguei na clareira onde se situava meu velho chalé. O filho do antigo jardineiro o havia mantido em boas condições. Parecia tudo tal como eu deixara anos antes. Igual, mas mesmo assim diferente. Desci do carro com um pouco de dificuldade devido à saúde debilitada, carregando apenas uma mala de mão. Nada trouxe de minhas andanças, exceto algumas fotos e muitas anotações.


Fui direto para a biblioteca e espalhei o conteúdo de minha bagagem sobre mesa de centro. O diário de viagem se abriu em uma página que continha coordenadas registradas quase no início das minhas buscas, feitas ainda quando pela primeira vez tomei conhecimento existência da lenda sobre "o tesouro escondido", um do tipo que, segundo se dizia, poderia mudar para sempre a vida da pessoa que o encontrasse.


Sim, era minha letra, mas mal podia me lembrar de ter escrito aquilo. A visão de tais números destravou uma, depois outra memória, e assim sucessivamente. Notas antigas passaram a fazer sentido quando associadas a apontamentos mais recentes. Pistas vagas ganharam robustez e, de forma assustadora, começaram a se tornar compreensíveis. As horas foram se passando enquanto eu folheava meu diário e consultava rabiscos, notas, fac-símiles, ilustrações e os comparava com textos seculares registrados em códices bolorentos.


Já era noite fechada quando acreditei ter feito todos os encadeamentos possíveis. Faltava uma única coisa. Cambaleei até um canto escuro do cômodo e, entre acessos de tosse, estendi a mão vacilante para um enorme jarro de cerâmica contendo dúzias de cilindros. Depois de desenrolar vários deles e lançá-los de lado, por fim achei o que estava procurando: o mapa da minha região. Abri-o sobre a mesa de trabalho e, com o auxílio de um kit de geometria, cuidadosamente tracei a rota que me levaria à tão ansiada recompensa. Seria possível? Agora, quando já havia desistido?


Trêmulo, deslizei a ponta da caneta vermelha sobre a régua, conforme meu cálculos. Tinha que estar certo. O final indicaria o local do tesouro. Risquei um "X" no fim da linha reta, mas não pude ter certeza da localização por causa da vista fraca. Pus meu óculos e, com as mãos crispadas pela emoção, procurei posicionar o mapa debaixo da luz artificial. Agora não havia dúvidas. A linha vermelha passava exatamente sobre uma estrada, ladeada de árvores e apontava para uma clareira no mapa. Em um pequeno espaço quase vazio estava o "X" recém-desenhado.


Junto havia uma antiga inscrição a caneta, redigida em uma caligrafia que não tive dúvidas em reconhecer como sendo minha, na qual se lia "minha casa". Meu peito ardeu e o ar me faltou. Então era isso. O tesouro... estava aqui... todo... o tempo. Meus olhos se voltaram para um envelope sobre a mesa de centro. Reconheci a letra. Era a carta com a notícia fatídica na qual meu médico lamentava informar que os exames eram definitivos e que não havia mais a ser feito. Eu teria cerca de um mês de vida. Faz trinta dias que ele me enviou. Meu último pensamento foi "eu encontrei" e desfaleci.


Alexandre R. Assis


Nota: Texto criado em 7 de fevereiro de 2023 como exercício de escrita criativa proposto pelo perfil de uma editora nas redes sociais, com alterações posteriores. Eternamente sujeito a revisões.

1 de Junio de 2023 a las 14:55 0 Reporte Insertar Seguir historia
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Fin

Conoce al autor

Alexandre R. Assis 47 anos, casado, funcionário público. Fã de literatura clássica (não li tanto quanto gostaria) e de cultura pop (desatualizado há duas ou três décadas). Não aspiro ser escritor profissional. Pratico o que chamo de survival writing porque é isso que a escrita faz por mim: me ajuda a permanecer vivo.

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