satanjoker Satan Joker

Mesmo sem estar com Hitoshi, Midoriya já sabia qual textura ele tinha. Sabia o cheiro, o sabor, poderia dizer até mesmo a cor que o rodeava e se ver em alguma paisagem completa com o azulado. E numa situação como essas, Izuku poderia apenas se permitir que este lhe oferecesse todos os sentidos possíveis.


Fanfiction Sólo para mayores de 18.

#Boku-No-Hero-Academia-My-Hero-Academia #MidoShin #shindeku #Sinestesia #lgbtq #yaoi #slash
Cuento corto
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O tom arbóreo do seu gosto de lavanda

Era impossível, incapaz, incabível; jamais poderia ser explicado ou cogitado que alguém dissesse poder ver a cor de um perfume de almíscar, e nem mesmo sentir o cheiro das camélias de uma sinfonia. Ao menos era isso que o senso comum relatava ao óbvio, porém o garoto simplório e sem individualidades cujo nome era Midoriya Izuku, este que nascera sem os dons telepáticos de sua mãe, muito menos com a habilidade de cuspir fogo de seu pai, havia nascido com esse dom tão raro. Algo velado de sua real natureza após vir ao mundo sem nada que o auxiliaria como um herói.

E com muito pesar era difícil explicar de forma simplória o misto de sensações múltiplas e simultâneas que ocorriam, quem dirá conseguir as respostas para as perguntas que vinham acerca de sua condição: Por quê? Como? Pois tudo que o esverdeado preferia fazer era manter em segredo, sempre escolhendo não contar a ninguém sobre qual cor e essência tinha o som da voz do indivíduo que se aproximasse dele.

Teria sido pior se Katsuki soubesse que Izuku poderia enxergar as ondas azuis e calmas até mesmo das palavras de ódio que este proferia a ele? Talvez, todavia provavelmente este fora um dos principais motivos pelo qual continuou a segui-lo mesmo quando este passou a maltratá-lo de forma recorrente, sendo reconfortante demais dançar entre os sons azuis de cada palavra — ou berros, como seus colegas gostaram de chamar — que saíam de sua boca.

Não obstante, melhor do ver a cor de uma voz, havia sido ouvir o som das gaivotas de um oceano azul quando estes haviam trocado não apenas socos, mas beijos. Oh, não, seria um engano terrível se acaso tivesse se prendido a esse sentimento de maresia e de calmaria que o azul do mar do Caribe o rodeava quando este lhe falava algo ou o tocava. Bakugou não era seu e nem deveria ter sido algum dia, já que assim que se redescobriram tanto em personalidade quanto em sentimentos souberam na mesma hora o erro que haviam cometido e em seguida o solucionado.

Afinal, suas sensações mistas e confusas já tinham um dono verdadeiro.

O cheiro inconfundível de lavanda de suas palavras, o tom arbóreo e esverdeado de um campo aberto das mesmas lavandas que inspirara apenas de escutar o som de sua voz; a entonação das cordas vocais mais perigosas que já houvera presenciado. Shinsou Hitoshi era uma mistura intrigante de um campo aberto com um vento turbulento de um furacão.

Furacão Hitoshi, esse deveria ser seu nome. Desde que aparecera tinha levado-o a loucura e o caos que somente o inferno poderia providenciar, ao mesmo tempo o instigado naquele campo florido ao qual passaria deitado relaxando, apenas aproveitando a tranquilidade e o perfume das flores.

Por que Izuku o definia de forma tão contrastante?

O Festival de Jogos da UA havia definido muita coisa em sua vida, desde o momento que o conhecera até como seu único confidente para com as aturdidas linhas em revelia de desespero que vieram assim que a luta contra a Yakuza se iniciara. E como se não bastasse, o fato de ter a sinestesia¹ enraizada em seu mais profundo ser apenas enfatizara ainda mais o quanto se sentia inutilizado naquela batalha.

Primeiro que quando se deparou com Eri naquele beco já havia se sentido tão frustrado e irritado por conta da sensação vulcânica que ela lhe passava, sempre como se estivesse prestes a explodir — algo que ele jamais desejaria à uma menina pequena como ela, ou a ninguém.

Outrossim se sucedia a consternação tirânica e defasada das cores que o aturdira assim que Chisaki falara pela primeira vez naquela viela. Nem mesmo quando enfrentara a liga dos vilões o cinza opaco e insensibilizado de Shigaraki lhe tinha afligido tanto.

Estaria aí o motivo que o aproximara mesmo que sem querer do dono de orbes roxas e com os cabelos mais bem “arrumados” dos quais já tivera conhecido em toda a sua vida. Com as linhas fundas em baixo dos olhos que apenas realçavam ainda mais o sabor doce ao vê-lo.

Mas afinal, se Shinsou lhe proporcionava sensações tão agradáveis, por que chamá-lo de seu furacão particular? Pois era exatamente por estar ao seu lado, com seu jeito discreto e gentil, amoroso e acanhado que trouxera à Midoriya a sua pior faceta: o covarde.

Izuku tinha medo, medo de estragar a amizade bela que estava se formando, e acima de tudo ruir com os raros sorrisos envergonhados que Shinsou o dirigia. Sentia-se fraco e impotente por saber que aquele seu lado de há tantos anos atrás continuava vivo em si, e preso logo em seu coração.

E naquele final de tarde, exatamente como nos outros dias, ambos esverdeado e azulado se encontravam sentados na cama do dormitório para estudar algumas matérias básicas afim de preparar o amigo para que adentrasse no curso de heróis.

— Poderíamos colocar uma música para estudar? — questionou Hitoshi sentado com as pernas cruzadas, exibindo seu moletom cinza e escondendo o pijama de gatos por baixo dele. Estava frio naquela tarde, então ele utilizava touca mesmo estando em um lugar fechado como o quarto.

— Música? Elas não o distraem? — questionou Izuku em uma forma de evitar qualquer som que não fosse a voz do amigo.

— Na verdade, elas me ajudam a me concentrar — explicou franzindo as sobrancelhas violáceas, não compreendendo a pergunta.

— Ah, sim — murmurou se lembrando que somente ele poderia enxergar as ondas coloridas das músicas se mexerem em torno de si, para consequentemente se desconcentrar.

— Façamos assim: eu vou colocar uma música nova da qual eu gostei muito e se você achar que vai tirar seu foco, nós tiramos — Hitoshi era cuidadoso, de uma simplicidade invejável, e por isso, mesmo que suas palavras fossem rigorosas quando necessário, conseguiriam ser “quentes como um laranja de pôr do sol”, como Izuku gostava de expressar.

Apenas assentiu o vendo trazer para perto de si o celular e abrir na primeira música, ao qual notou estar com o a função “repetir” ligada. Parece que Hitoshi gostava mesmo daquela canção.

E como era esperado, assim que ela se iniciou a tocar, as nuvens de algodão contornaram a pele sardenta e rechearam o paladar de Midoriya com o mais gostoso dos bolos de morango e seus chantillys que deveriam ter sido batidos à mão, com muita suavidade. Ao menos jamais poderia negar que, a cada melodia ouvida, tornava-se um mundo de sensações novo.

— Ela tem gosto de chantilly — murmurou rindo, percebendo que a letra se tratava de um convite amoroso, tendo certeza com sua perspicácia natural de que se o azulado estava a ouvindo tanto, então deveria estar apaixonado.

— Gosto? — Hitoshi retirou a touca e bagunçou os cabelos com os dedos, atento a resposta do esverdeado.

— Eu disse gosto? Oh, não, que cabeça a minha, música não tem gosto… — tentou se desvencilhar da questão o mais rápido possível, mas se Izuku era esperto, tinha certeza que Shinsou poderia ser o dobro quando se tratava dele.

— Não, você disse gosto e especificou qual, ainda — se atentou ao detalhe do chantilly. Aquele tom de voz decidido a descobrir o que aquilo queria dizer apenas piorava as ondas que quase viraram linhas verdes e roxas, dançando pelo quarto, tornando Midoriya óbvio demais de que estava escondendo algo pois estava à mercê delas.

— Sim…

— Por acaso você é sinestésico?

— Acho que sim, Shinsou-kun.

— Acha? Hum. Bem, podemos descobrir isso — o azulado tratou de acalmar seus nervos e tentar não assustar Izuku com sua súbita euforia; já o considerava fantástico em tantos sentidos, e agora saber que ele possivelmente era um sinestésico aquecia seu peito ainda mais. Alguém cujo coração era tão nobre e heróico como os verdadeiros heróis eram. Izuku era seu ponto de referência, e todo esse tempo que havia passado ao seu lado só provava que estava perdidamente apaixonado por ele.

Não soubera como reagir a princípio quando soube do pequeno namorico que ele o garoto arrogante e soberbo da 1-A tinham tido, já que sentira um ciúmes claro como água e em seguida um rastro de sorte de que ele gostava de meninos, que ao menos já havia beijado um. Logo tendo uma motivação a mais para si, uma possível chance. Então tudo que poderia definir naquele instante era o quanto gostaria de beijar Midoriya.

— Eu não acho que seria muito bom. Quer dizer, tenho medo de saber que sou diferente até nisso.

— Você é único, Midoriya; único e belo. Não veja o diferente como uma coisa ruim. Olhe pra mim: tenho tudo para me tornar um vilão e aqui estou, seguindo meu sonho — não era de seu feitio ser tão otimista, ainda assim achou que deveria deixar suas palavras fluírem antes que perdesse a coragem para encorajá-lo. — O que exatamente você sente?

E lá estava a grande incógnita da questão, pois Izuku sentia muitas coisas, todas ao mesmo tempo e de formas diferentes.

— Tudo...? — vira o azulado soltar um riso baixo, sabendo que não era isso que ele estava se referindo e em seguida o fazendo rir em conjunto.

— Digo a algo específico — tocou a mão de Izuku como se o motivasse, até perceber o ato e se afastar ruborizado. — P-Por exemplo, quando você está comigo, como se sente?

Hitoshi parecia nervoso com algo, o que não passou despercebido pelos olhos esmeraldinos, já que normalmente ele era bem mais silencioso do que estava sendo naquela tarde, como se tivesse algo para falar com ele.

Diferente do usual a resposta não era de seu desconhecimento, pois sabia muito bem — até mais que o normal — descrever as sensações que iam e vinham na presença deste à sua frente.

— Você... Quando você fala, eu…

— Tudo bem se não quiser dizer, Izuku — chamou-o pelo nome enquanto este poderia visualizar as ondas agora grossas que o som de sua voz fazia, contornando-o com o mais límpido dos tons verdes mesclados com o violeta. Chegava a ser uma piada de sua própria mente colocar lado a lado tons tão opostos e com significados tão ambíguos.

— Sua voz tem duas cores principais, que se fundem gradativamente. Às vezes elas podem fazer ondas bastantes circulares, mas quando você utiliza sua individualidade elas saem em linha reta. M-Mas no final as cores sempre ficam lado a lado.

— Quais cores são essas?

— Verde e roxo. Sabe, eu também posso sentir e ouvir um campo de lavandas tão belo e tranquilo. Por vezes até consigo jurar que senti o gosto de macaron² e possivelmente um leve sabor de uva e framboesas. Eu amo framboesas, e você é sempre tão perfeito em todas as sensações que me proporciona... — constatou percebendo então que havia se empolgado nas palavras, ficando tímido e corado por causa daquela sua face covarde.

— V-Você me dizendo coisas assim... Eu... ainda não consigo tentar tomar coragem — exasperou soltando o ar de seus pulmões, para logo puxá-lo com força novamente. — Izuku…

Midoriya precisava se livrar disso, colocar para fora seus sentimentos por Shinsou, ali e naquele instante. Já havia contado um segredo para ele, por que não rumar ao seu mais íntimo? Ao menos se dissesse algo poderia saber que sua consciência estaria livre, livre do fardo de sua própria teratia³.

— Eu gosto de você, Shinsou-kun. Não, claramente eu gosto de você… mas não é nesse sentido. Digo, eu gosto de você no sentido de que quero beijá-lo, andar de mãos dadas e agir como um casal. Isso provavelmente não foi muito bom de se dizer porque agora você pode ficar com medo de mim, e talvez eu tenha estragado nossa amizade e... — o esverdeado havia entrado em seu total estado de murmúrios insensatos, pois pensava demais e por isso nem chegou a ver o rosto sorridente de Hitoshi que baixou os olhos e pareceu comemorar internamente, provando que era disso que estava querendo falar na sentença anterior.

— Midoriya — chamou a atenção do menor, mas este ainda estava frenético achando que tinha estragado tudo. — Midoriya Izuku, olhe para mim — utilizou sua individualidade para chamar sua atenção, para libertá-lo logo em seguida de sua prisão mental. — E-Eu também gosto de você, nesse sentido.

— Oh — foi tudo que conseguiu pronunciar, até porque assim que Hitoshi dissera que também gostava dele as ondas tomaram formas ornamentais ainda mais circulares e cheia de desenhos, tanto os tons verde e violetas chegando a lhe tocar a pele, transmitindo um calor aconchegante de pôr do sol. — Isso foi bonito...

Se pudesse descrever o gosto que aquelas palavras tinham certamente diria que elas lhe pareciam ter o sabor de uma comida bem temperada, porém na medida certa, fugindo das típicas framboesas por conta do sentimento impregnado em cada sílaba.

— Dizer que gosto de você? — e apesar de ter ficado tão tímido na primeira vez, Hitoshi não ficara ao dizer pela segunda — Eu gosto de você —, nem pela terceira.

— Sim, as ondas ficaram tão redondas — Shinsou sorriu ao saber que com simples palavras poderia transformar tudo e muito mais na vida de Izuku, palavras que para ele já eram tão importantes, como se fossem feitos um para o outro.

— E se eu disser que quero te beijar? — as linhas ganharam formas leitosas e vermelhas e saíam do azulado a sua frente como ondas cardíacas, confundindo o esverdeado se elas se faziam por causa das palavras ou porque seu próprio coração batia fortemente.

E apesar da confusão Midoriya só conseguia sorrir, tocando nos dedos do azulado da mão que há pouco havia tocado a sua, entrelaçando as falanges às suas e assim sentindo o cheiro de framboesas por causa do toque. Dessa forma Hitoshi entendeu ser uma resposta positiva a sua pergunta, e tratou de colar aqueles lábios de encontro com os seus.

Aquele vasto campo de lavandas cintilou em todas as sensações que emergiram. A tempestade Hitoshi havia o trazido até ali, provando não ser ruim, o fazendo superar talvez completamente o seu lado cheio de dúvidas e medo.

Aquele era seu campo florido, o seu próprio furacão o levando para aquele mundo mágico que se encontrava em uma sequência de cores verde e púrpura, ao qual aproveitaria com muito regozijo todos os sabores, cores e sons que este poderia o proporcionar.

4 de Marzo de 2018 a las 21:45 0 Reporte Insertar Seguir historia
2
Fin

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