Me chamo Gabriel e o “bom” na minha vida, resume-se a esse nome angelical... A chuva é forte, fria, assustadora, a noite já beirava 20 h... Perdi a mãe aos cinco, convivi com meu pai até os oitos me culpando por isso, ano em que ele morreu... Daí vieram fome, frio, maus-tratos entre outras coisas na instituição onde vivi até a adolescência, esta, envolta em bullyings diários... Passei a acreditar ser a pior pessoa do mundo, um ser humano que deu errado…
Aos vinte não conhecia festas e aos trinta, sequer havia tido um relacionamento amoroso, nem um vizinho a perguntar se estava vivo... Não havia lugar neste mundo para mim, partir o quanto antes era o que me restava e, eis que tudo aconteceu...
Eu passava pela mansão do velho Gerhard e, insistente e gentil, a voz do idoso me chamava, desde a porta gigante: “- Ei… Amigo… Vai se resfriar nessa chuva… Venha, entre, espere a chuva passar!”
Ponderei por segundos: “- Diante da minha vida, que mal em ser convidado para entrar naquela mansão pelo próprio proprietário às 20 horas? Nada poderia ser pior do que minha vida!” Aceitei com um leve sorriso, nada mais tinha a perder...
Avancei, o idoso senhor gesticulava para que me apressasse, e enquanto seguia, eu ouvia... Vozes de crianças, brincando, rindo, se divertindo…
Adentrei a casa, o senhor me recebera com cordialidade, e sua senhora logo chegou, pegou me casaco, me levaram para perto da lareira, quentinha e gostosa... “- Sente-se...” Dizia a anfitriã... “- Em breve serviremos o jantar, ficamos felizes em tê-lo aqui!” Eu os olhava, uma família, talvez avós com seus netos, as crianças em idades variadas corriam, riam felizes, todos pareciam se amar…
“- Minha velha, como está o jantar, falta alguma coisa?” Dizia o marido à esposa e a senhora sorridente completa: “- Sim, apenas detalhes! O senhor fique à vontade, vamos apenas completar o jantar!” Os dois se afastam sorridentes, eu fico em pé para não ser descortês e assim que eles e as crianças desaparecem, começo a andar pela sala, olhando a decoração, o ambiente...
Passando a mão por sobre uma das estantes, tocando livros ali perfilados, noto que ao toque um deles desliza para dentro e a estante inteira desloca-se para a esquerda... Luzes acendem-se e mostram uma escadaria em espiral com grandes gravuras pelos dois lados... A primeira, algo abstrato com imagens distorcidas de animais devorando pessoas... O seguinte exibia dois seres quase sem expressão, segurando um homem minúsculo por uma corrente colocando-o em uma cela junto de outros... O terceiro apresentava uma cabeça gigante que usava sua língua como passarela e diversas pessoas adentravam sua bocarra garganta a dentro...
Sem dúvida aquelas imagens começaram a causar terrível mal estar, imediatamente pensei em recuar, porém, um grito terrível, um pancada violenta na nuca e tudo apagou... Não sei dizer quanto tempo se passara, não deveria ser muito, minha roupa ainda estava molhada, mas ao meu redor era assustador...
Uma sala escura ao extremo, iluminada por tochas e velas vermelhas... Diversos símbolos estranhos, imagens demoníacas assim como quadros iguais ao do corredor da escada... Eu podia inclusive enxerga-la, mesmo deitado e amarrado era possível vê-la... Somente então, estar naquela situação, me fez perceber que estava realmente em perigo...
Tentei me soltar, as chamas pareciam crepitar mais alto conforme eu tentava! O teto era como se fosse um céu, com estrelas vermelhas e escurecidas, as chamas recobriam o que no nosso céu víamos como noite... A lua parecia uma esfera vulcânica com pontos de expulsão de lava... Gritei, a mordaça impedia... Tentei me soltar, as amarras não deixavam...
Eis que escuto de novo o som das crianças, o idoso e sua esposa conversando, percebo que estão se aproximando, felizes, enquanto eu estava nu amarrado sobre algo que parecia uma mesa de jantar! Finalmente tudo silencia, cada um escolheu seu lugar na mesa e então era a idosa anfitriã quem falava agora:
“- Façamos nossas preces agradecendo ao alimento e por favor, podem remover a mordaça da refeição pois, desespero deixa a carne mais macia e suculenta!”
Meus gritos não poderiam ser ouvidos, na verdade, nada do que disse uma vida inteira foi, mas naquele momento, naquele instante em que sentia minha vida esvair-se, e tinha diversas partes do meu corpo dilaceradas por garras e presas, seja lá que forma de vida eram meus anfitriões, antes de deixar o mundo de vez como quis horas antes, arrependia-me amargamente enquanto bombardeava meus pensamentos:
“- Ter uma vida... Mesmo a minha vida... Era bem melhor...”
Gracias por leer!
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