giucorreias Last Rose Of Summer

Lemnos sabia que não voltaria a ver seu humano.


Cuento Todo público. © CC BY-NC 4.0

#LGBT+ #Tritão #M/M #Boys Love
Cuento corto
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havia uma torre acizentada no mar

Lemnos encarou a enorme torre de pedra que marcava a borda da área permitida. Ele sempre a achara fascinante, como uma espécie de portal para o mundo da superfície. Era antiga, estava ali desde que se entendia por gente, e as histórias contavam que afundara junto de Atlântida, por causa de uma guerra travada há muito, muito tempo. Fora uma guerra importante, que definira as leis sob as quais ele vivia agora, mas ainda assim era história e tão distante quanto a origem de sua própria espécie.


Ele lançou um olhar por sobre o seu ombro para ter certeza de que não havia ninguém olhando e então nadou até ela. As águas em volta dela estavam paradas, e não havia um único peixe ou planta crescendo por perto. Era uma visão linda ao mesmo tempo em que era muito, muito triste. Lemnos costumava imaginar qual era a história daquela construção e, em sua mente, era sempre muito melancólica. Fora construída para impressionar e agora estava ali, no fundo do oceano, envelhecendo sozinha e vazia, toda a glória de outrora como apenas um sonho.


Ele nadou até o topo, e então subiu mais um pouco, para a superfície. O tempo estava nublado, já que Lemnos nunca se atrevia a subir quando estava ensolarado, e o cinzento das nuvens ameaçava uma chuva. Ele pulou — seu corpo abandonou a água totalmente por alguns instantes e a sensação do vento e do nada era tão, tão boa, e a adrenalina correndo em suas veias fez o seu coração se acelerar ainda mais e Lemnos sorriu — e jogou água para todos os lados, o que não fazia muita diferença, já que estava no meio do oceano e a única terra por perto era uma pequena ilha cheia de cavernas.


E, embora soubesse que era perigoso e proibido para seu povo, Lemnos nadou até ela.


Ele tentava se manter debaixo d’água enquanto nadava, porque sabia que ficar na superfície por muito tempo, mesmo quando estava nublado, deixaria sua pele normalmente pálida num tom ligeiramente avermelhado, o que levantaria perguntas desconfortáveis. Ele já não era o garotinho e já não lhe eram permitidas as mesmas liberdades de antes. A desculpa da curiosidade juvenil não seria mais facilmente aceita, e as pessoas olhariam para ele atravessado.


Se descobrissem o que ele fazia lá em cima, mais que olhares, provavelmente receberia um exílio. Lemnos não sabia se se importava, porém. Desde que era uma criança e desde que descobrira a ilha e suas cavernas, e desde que descobrira o Humano, ele deixara de se importar com o fato de que não parecia se encaixar muito bem na sociedade submarina em que vivia. Não, ele gostava do sol e do seco e da sensação de vento nos cabelos.


Mesmo que soubesse que aquela não era a sua realidade — nem nunca seria.




Ele estava lá. Sempre que estava nublado, ele estava lá. Lemnos o achava deslumbrante com seu cabelo negro e curto, com seu rosto exótico e, principalmente, com suas duas pernas. Frequentemente, se imaginava vivendo como ele, na superfície, sob a luz do sol e acima da terra. Andando e correndo e dançando em vez de nadando, e feliz em uma sociedade que não te obriga a casar.


Sim, claro, ele adorava Sinann, mas não sentia nada por ela além de amizade. Provavelmente não se importaria em ter que casar com ela — não fosse, é claro, o misterioso Humano da superfície e as longas horas passadas com ele. Longas horas de brincadeiras nas águas rasas das cavernas proibidas e, então, longas horas de conversas sobre as frustrações com seu próprio povo acima das pedras na adolescência e, por fim, os beijos roubados e tímidos na calada das poucas noites em que ele se atrevera a ir para lá.


Lemnos tirou a cabeça da água e o Humano sorriu diante da visão de seu rosto. Ele demonstrava uma animação quase infantil diante de sua presença, e Lemnos adorava vê-lo sorrir. De certa forma, era um sorriso diferente do sorriso das pessoas que viviam no fundo do mar. Talvez fosse diferente do sorriso das pessoas que viviam na tribo dele, também, mas Lemnos não podia saber porque nunca as vira. Talvez seu sorriso fosse único.


— Oi! — O Humano foi até ele e o ajudou a sair da água. Sentar nas pedras era desconfortável, mas ele gostava da sensação de não estar na água o tempo inteiro, então sentava mesmo assim. Não tinha as pernas para ajudá-lo, mas tinha braços fortes e, geralmente, a ajuda do outro. — Eu não tinha certeza de que você viria.


— Nem eu. — Lemnos sorriu. Era verdade. Lemnos conseguira a vaga de centurião, no exército, e estava de casamento marcado. Era uma vida perfeita, mesmo que, às vezes, parecesse a vida de outra pessoa, e ele não podia se dar ao luxo de desaparecer mais com tanta frequência. Ele sabia que uma hora ou outra teria que parar de ir para a superfície e começar a viver sua vida no fundo do mar, com seu povo. Ele lançou um olhar para o rosto do Humano, que parecia pensativo e, por um instante, muito, muito triste.


— Então! — A tristeza sumiu, e Lemnos se perguntou se fora apenas impressão. — Me conta, como é ser centurião?


E Lemnos contou. Era a profissão de seus sonhos, algo que ele sonhava em ser desde criança, quando os via marchando pela cidade, prontos para defender o povo. O Humano sabia disso, é claro que sabia. Não havia nada sobre ele que o Humano não soubesse, mesmo que a recíproca não fosse verdadeira. Enquanto Lemnos era um livro aberto, o Humano era um cara misterioso que não dizia nem mesmo seu nome verdadeiro.


Ele se prometera que ficaria só uma hora, mas uma hora virou duas e duas viraram três até que a luz começou a desaparecer e Lemnos percebeu que já era quase noite. Não havia mais como ficar, ou ele estaria em sérios apuros. Ele suspirou, lançou um olhar para a água e então para o Humano.


— Eu realmente preciso ir — ele comentou. O Humano assentiu, e o ajudou a descer novamente para a água. Antes que ele mergulhasse, porém, segurou o rosto dele e beijou seus lábios.


— Até outro dia, Lemnos. — E as palavras foram amargas de se ouvir (e dizer). De alguma forma, os dois sabiam que não haveria outro dia, e que aquela era a última vez que se encontravam ali.


Lemnos mergulhou e afundou, sabendo que não voltaria a sentir o vento no rosto — ou os lábios do Humano. Viveria a sua vida como aquela torre, fazendo o que fora feito para fazer porque não tinha escolha, mas morrendo de saudades dos velhos tempos.

26 de Febrero de 2018 a las 00:22 0 Reporte Insertar Seguir historia
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Fin

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Last Rose Of Summer quoth the raven

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