A chuva castigava a cidade como se com cada trovão, um pedaço do céu caísse. Tão escura e fria era a noite, que mal enxergava-se a dois palmos de a sua frente e quando respirava-se, fumaça saía da boca de quem expelia o ar.
Quase ninguém usava cabines telefônicas de rua — bom, talvez, exceto por ele. Estava ensopado da cabeça aos pés e, quando andou da outra calçada até ali, enrolou-se em seu sobretudo preto — que fazia com que ele se camuflasse bem com a noite feita melaço negro. Tentara acender um cigarro, mas seus dedos congelados pelo frio não colaboravam — assim como a chuva forte que caía.
– Merda — ele diz, deixando seu isqueiro cromado cair no chão enquanto tenta se proteger dentro da cabine.
Aquela ligação não poderia esperar, ele não poderia esperar para que ela soubesse.
Para que ela soubesse que ele voltaria, que seu corpo estava melhor, dez anos depois… Que sua mente respondia a ele mesmo agora, que ele estava melhor. Estava pronto.
Mas não conseguia enxergar o isqueiro no chão sujo da cabine e tinha certeza que a chama não acenderia mais. Desistiu de tatear o chão, fedia demais. Até que sentiu seu pé encostar no isqueiro e o pegou em um movimento rápido que quase fez com que ele batesse a cabeça no telefone.
Observou então seu dedo pálido, de pele roída e unha até o talo, começar a discar o número que ele mesmo sabia tão bem que se tornava quase intuitivo. Dois… nove… um… um…
{inspo: fall out boy song, “the carpal tunnel of love”}
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