Devido
à excepcionalidade do ensejo, o diálogo foi breve:
— Dona Eva, por favor...
— Eva Maria, sim?
— Certo. A minha dúvida
se refere ao motivo de a senhora ter aceito da serpente o fruto proibido. Foi
mesmo tentação arrebatadora?
— Claro que não!
Primeiro, se o fruto fosse desnecessário, não estaria ali ao nosso dispor.
Segundo, como recusar uma oferenda de Ouroboros? Comi e gostei.
— Aí, ofereceu a Adão.
— Adão José é o nome
dele. É óbvio. Que faria eu com uma vagina viva e um companheiro com um pênis
morto?
— E ele caiu no seu
papo...
— Ele quis cair no
meu...Como você disse?
— Papo.
— Isso. Preste atenção, Lira.
Conforme a lenda, fui feita de uma costela de Adão José. Ele é o macho, eu sou
a fêmea (uma classificação fútil, porque ambos somos criaturas semelhantes).
Por isso, sou mais capaz para certas tarefas do que ele, que, por sua vez, está
mais apto para outras atividades. Nada mais do que isso: parceria total... Mas
a lenda não se refere à minha supremacia e à minha importância. Sou eu, Lira...
Ou melhor, é toda mulher que cria o homem.
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